terça-feira, 31 de dezembro de 2019

O RÉVEILLON DE 1974


A última passagem de ano que fiz em Lourenço Marques foi a de 1974, tinha então 25 anos. Nos meses anteriores, a cidade tinha vivido dois momentos de tragédia.

Primeiro, a tentativa de secessão branca de 7 de Setembro de 1974, o sábado em que foi assinado o Acordo de Lusaka, documento que definiu os termos e condições da independência de Moçambique.

Nessa tarde, um grupo de antigos colonos reunidos no denominado Movimento de Moçambique Livre ocupou as instalações do Rádio Clube e fechou o aeroporto da cidade. Depressa percebi que a situação era muito grave: milhares de pessoas na rua, invasão da cadeia central para libertar os pides, jornais pró-independência (como o Notícias e A Tribuna) tomados de assalto, Associação Académica incendiada, amigos refugiados em locais improváveis, etc. Durante quatro dias, a situação ficou fora de controlo. O MML contava com o apoio de Spínola, mas o general não abriu a boca. Na tarde do dia 10, uma companhia de Comandos, oriunda do Niassa, reabriu o aeroporto e desocupou o Rádio Clube. Nas 48 horas que se seguiram, as autoridades da África do Sul e da Suazilândia facilitaram a passagem de mais de cinquenta mil brancos. No dia 12 chegou o almirante Vítor Crespo, investido pelo MFA como alto-comissário português. No dia 20, nove meses antes da independência, tomou posse o Governo de transição. A tranquibérnia teve como saldo centenas de mortos.

Seis semanas passadas, o fatídico 21 de Outubro, acção de agitprop pensada ao milímetro. Nesse dia, a partir do anoitecer, um vento de insânia varreu os bairros da periferia e todas as povoações num raio de vinte quilómetros. Por vento de insânia entenda-se casas pilhadas e incendiadas, mulheres violadas, crianças brancas penduradas em ganchos de talho, negros esquartejados, corpos decapitados, etc. Nos bairros burgueses da Maxaquene, Ponta Vermelha, Polana e Sommerschield, nada sucedeu. O aeroporto foi encerrado, mas as fronteiras com a África do Sul e a Suazilândia mantiveram-se abertas durante toda a noite. O número de mortos nunca foi oficialmente divulgado. A imprensa afecta à Frelimo falou de cem. Médicos e enfermeiros terão identificado para cima de dois mil.

Face a tudo isto, não admira que o réveillon fosse encarado com todas as precauções. Foi então que um amigo, o Américo Rola Pereira, decidiu organizar uma passagem de ano a bordo de um dos ferry boats que faziam a ligação com a Katembe. Fretou-o, e o barco partiu do cais da Fazenda às oito da noite, ficando a vogar na baía até à manhã seguinte. Quem quisesse regressar a casa mais cedo podia fazê-lo num gasolina destinado para o efeito.

Não sei se foi o último baile do Império, mas foi assaz divertido. Duas “orquestras” revezaram-se, o catering era bom e todos nós, embora conscientes da débâcle, estivemos distendidos nessa noite esplêndida.

O réveillon de 1975 já foi no Estoril.

Na imagem, Lourenço Marques vista da praia da Katembe. Clique.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

CONTO DE NATAL


Escrevi este conto de Natal em 2008, para o volume colectivo Um Natal Assim. Transcrevo alguns breves excertos:

«João Pedro tinha apenas doze anos mas sabia exactamente o que queria. E o que queria era passar o Natal longe do pai. O pai nunca lhe tinha feito mal. Pelo contrário. Quando estava em casa dele, o que sempre acontecia no início das férias grandes, logo a seguir aos exames, o pai até o deixava assistir aos treinos de esgrima. E uma das coisas de que João Pedro gostava era de brincar sozinho com os floretes. Vestia a elegante jaqueta acolchoada que lhe ficava a dançar no corpo, punha a máscara metálica (que bem se via através dela) e zurzia o ar. Um dia, apanhado em flagrante pelo Mustafá, golpeou a bonita otomana forrada de chintz que ocupava o canto poente do escritório. Mas o ajudante de motorista fez de conta. Entrou e saiu calado, sorriso enigmático nos lábios, depois de recolher um dossier em pele de crocodilo que o pai deixara esquecido em cima do tampo da secretária. [...]

Repetir a experiência do último Natal com o pai era o que menos lhe interessava. Dessa vez, para impressionar uns suíços de visita à plantação, o pai tinha organizado um safari numa reserva selvagem que a companhia mantinha, em regime de coutada privada, trezentos quilómetros a norte. As avionetas andaram toda a manhã num corrupio entre a plantação e Mokaputa. João Pedro não tinha memória de um Natal tão quente. As ventoinhas de pá dos bungalows e do pavilhão principal de nada valiam. Um bafo pegajoso tomava conta de tudo. João Pedro lembrava-se de ver os jarros cheios de mazagrã a embaciarem em cima dos sideboards de pau-rosa e latão.

Mokaputa estava preparada para receber convidados. Em número de seis, os bungalows alinhavam-se cerca de cem metros à esquerda do pavilhão principal, uma construção maciça dominada pelo imponente tecto de colmo. Era lá que ficava o escritório da administração e a casa-forte das armas, instalada na pequena cave equipada com transmissores de rádio. No outro extremo do piso térreo ficava a cozinha, a copa, três despensas e a garrafeira. O átrio que separava o escritório da administração dessa área de serviço tinha o pé-direito alto e uma escada de madeira que levava ao mezanino. Tal como João Pedro sempre o conhecera, era igual a muitas salas de leilão: tapetes, duas estantes, sofás, cadeirões, banquetas, mesinhas, candeeiros, vasos de porcelana chinesa, tudo desirmanado, numa desordem não isenta de conforto. João Pedro gostava especialmente de uma cadeira em aço e pele, com as costas inclinadas, onde costumava sentar-se a olhar o tecto e a sonhar com trapezistas. No mezanino ficava o bar e a varanda interior utilizada para almoços e jantares.

O pequeno-almoço era servido muito cedo, ao ar livre. Para obviar ao cacimbo, a mesa era posta debaixo de um grande toldo de lona. João Pedro lembrava-se como se tivesse sido na véspera: o grito irrepetível de Cosima Fürchtegott quando vira surgir da vegetação uma leoa rugindo sottovoce. O enfado da bicha era evidente, mas, com o imprevisto e o susto, por um triz João Pedro não cuspiu o porridge. Hieráticos, Mauser em riste, dois sipaios zelavam no corredor de gravilha que os separava da orla do mato onde o animal ensaiava uma coreografia de volteios. O pai riu-se. Tinha conseguido o efeito desejado. Quando regressassem à casa de Stresa, os Fürchtegott teriam muito que contar. João Pedro não achou graça ao episódio. E estava decidido a impedir que se repetisse. [...]»

Eduardo Pitta, O estratagema, in UM NATAL ASSIM, Lisboa: QuidNovi, 2008.

INTERCAMPUS


Se as eleições fossem hoje... Estudo da Intercampus para o Negócios e o Correio da Manhã.

As dezenas de candidatos a líderes do CDS têm pela frente a tarefa de decidir se o partido terá formato Uber ou MyTaxi. A alternativa já se percebeu qual será.

Clique no gráfico do Negócios.

domingo, 22 de dezembro de 2019

LIVROS 2019


Deixo aqui as minhas escolhas, acompanhadas de breves notas de leitura.

No Armário do Vaticano — Para dar a conhecer o dark side do Vaticano, o francês Frédéric Martel encarregou oitenta investigadores espalhados por cerca de quarenta países para entrevistaram mil e quinhentas pessoas. Ele próprio entrevistou 41 cardeais, 52 bispos, 45 núncios apostólicos, mais de 200 padres e seminaristas, além de embaixadores, adidos de imprensa, funcionários do Vaticano e membros da Guarda Suíça. Dividido em quatro partes, o livro aborda o pontificado de vários Papas, as lutas pelo poder, as correntes ideológicas, o predomínio da extrema-direita no pontificado de João Paulo II, a guerra movida por Roma aos defensores da Teologia da Libertação, as idiossincrasias da Igreja em África e na América Latina, a ‘ditadura’ da Congregação para a Doutrina da Fé, a vida dupla de centenas de padres de todos os escalões hierárquicos, os excessos do cardeal guineense Robert Sarah, a biografia mirabolante do cardeal colombiano Alfonso López Trujillo, corrupção e escândalos financeiros na Santa Sé, a reiterada indiferença de Bento XVI face aos relatórios sobre abuso de menores, a clínica Gemelli, onde altos dignitários da Igreja são discretamente tratados de Sida, o assédio sexual aos membros da Guarda Suíça, o outing do teólogo Krzysztof Charamsa, a protecção de padres pedófilos, a relação particular de Bento XVI com Georg Gänswein, seu secretário (sagrado arcebispo no dia em que Ratzinger renunciou ao Papado), e outros temas quentes. Um documento para a História. Publicou a Sextante.

Churchill. Caminhando com o Destino — O historiador inglês Andrew Roberts escreveu uma nova biografia de Churchill. O título remete para um discurso feito em 1940 pelo antigo primeiro-ministro britânico. Em cerca de mil e duzentas páginas, Andrew Roberts traça o retrato do maior estadista britânico de todos os tempos. Com a vantagem de, relativamente a anteriores biografias, divulgar informação até agora classificada. Imprescindível. Volume de capa dura, com portfolio fotográfico, notas e o indispensável índice onomástico. Publicou a Texto.

Regresso a Reims — A partir das suas origens proletárias, o sociólogo francês Didier Eribon, biógrafo de Foucault, analisa as relações no seio da família, a vergonha social, a construção de identidades e, tema central, a traição de classe. Mas também algumas das razões que levaram os operários franceses a trocar o Partido Comunista por Le Pen. A morte do pai serve de pretexto à catarse. Homossexual assumido, teórico da cultura gay, o autor regressa aos lugares da infância e adolescência para desatar o nó górdio dos equívocos. Não é amável. Publicou a Dom Quixote.

As Três Irmãs Soong — Depois de ter escrito as biografias de Tzu Hsi, a imperatriz viúva conhecida por Cixi, e a de Mao Tse-tung, a chinesa (naturalizada britânica) Jung Chang escreveu agora sobre a vida das três irmãs Soong: a mais velha, a mais nova e a vermelha. Educadas nos Estados Unidos, as três foram muito influentes em campos políticos opostos. A mais velha tornou-se uma das mulheres mais ricas da China e fez do marido primeiro-ministro. A mais nova casou com Chiang Kai-shek. E a vermelha foi vice-presidente de Mao. Jung Chang, que tem uma escrita aliciante, consegue fazer-nos mergulhar no universo da política chinesa. Muito bem documentado, o livro é um tour d’horizon pelo século XX, incluindo notas, portfolio fotográfico e, naturalmente, índice remissivo. Publicou a Quetzal.

Dunbar e As Suas Filhas — A mais negra tragédia familiar de Shakespeare, O Rei Lear, chega às nossas mãos em versão contemporânea. Quem o fez foi Edward St Aubyn, o romancista de língua inglesa mais fulgurante da sua geração (nasceu em 1960). Quem leu essa obra-prima absoluta que é o quinteto Melrose, sabe do que falo. Nascido e educado no seio das classes altas inglesas, St Aubyn conhece por dentro o âmago das relações de poder, dentro e fora da família. Transformar Lear em Henry Dunbar, 80 anos, CEO absoluto de uma multinacional de comunicação, assemelha-se muito ao retrato de Rupert Murdoch. Pode ser que seja. Admirável. Publicou a Bertrand.

Entre Silêncios. Poesia 1961-2018 — Poeta, ensaísta, ficcionista, dramaturga e tradutora, reconhecida como a nossa maior especialista em simbologia, Yvette K. Centeno reuniu a sua obra poética publicada entre 1961 e 2015, à qual acrescentou inéditos escritos até 2018. O registo próximo da sottovoce não isenta esta poesia de algum humor corrosivo. Preciosa edição, que nos devolve uma poeta que andava esquecida. Se não conhece, devia. Publicou a Glaciar.

Herman Melville. Ficção Curta Completa — Prosseguindo a sua criteriosa edição de clássicos, a E-Primatur deu este ano à estampa os contos e outros dispersos da ficção do autor de Moby Dick. Quem não conhece, pode ler aqui os seis Contos da Piazza, que ocupam 245 das 591 páginas do volume. Uma dúzia de textos agora publicados conhece a sua primeira versão em português.

O Triângulo Mágico — Cesariny teve mais sorte que alguns dos seus pares já biografados. António Cândido Franco, professor de linguistica e literatura na Universidade de Évora, biógrafo de Agostinho da Silva, fez a tão esperada biografia do poeta e pintor. Numa narrativa de cunho próprio, isenta de hagiografia, Franco não deixa de fora aspectos melindrosos da vida privada, bem como nenhum dado importante da vida pública de Cesariny. A história do Grupo Surrealista de Lisboa encontra-se muito bem documentada. O volume inclui quadro genealógico, Portaló, doze capítulos, um epílogo, vários anexos, portfolio fotográfico, índice de abreviaturas e uma extensa tábua bibliográfica activa e passiva. O autor conheceu pessoalmente o seu biografado e teve acesso a importantes acervos de correspondência, tendo conversado com testemunhas idóneas. Leitura obrigatória por parte de quem se interessa pelo biografado. Publicou a Quetzal.

Obra Reunida de Manuel de Lima — Quase ninguém se lembra hoje de Manuel de Lima (1915-1976), escritor, musicólogo, crítico e artista plástico. Devemos a Vladimiro Nunes o volume em que sua obra completa foi reunida. A vida errática afastou-o dos círculos dominantes, e o exílio na Venezuela “apagou-o” da vida literária portuguesa. Cumulativamente, João Gaspar Simões e Óscar Lopes, gurus da crítica, não gostavam dos seus livros. Absurdizante, diziam. Era demasiado humor negro e nonsense para os hábitos indígenas. Além dos quatro livros, o volume inclui uma extensa e muito esclarecedora introdução de Vladimiro Nunes, retratos, desenhos, correspondência, fac-símiles de manuscritos, da certidão de nascimento e do assento de óbito, bem como reproduções de pinturas suas que fazem parte do espólio do Museu Carlos Machado, de Ponta Delgada. O careca evidente decerto gostaria deste resgate. Publicou a Ponto de Fuga

Leonardo da Vinci — Coube ao americano Walter Isaacson, professor de História, fazer a biografia de Leonardo. Trabalho ambicioso, respeitador do protocolo académico, porém escrito de forma a interessar o leitor comum. Além das ilustrações a cores (mais de uma centena), o volume inclui explicação sobre um pormenor do retrato escolhido para a capa, relação biográfica dos principais personagens, cronologia do biografado, sessenta páginas de notas, bibliografia e índice remissivo. Ao longo de trinta e três capítulos, a vida de Leonardo flui com naturalidade, desde o seu nascimento em 1452, até à sua morte em 1519. Isaacson não omite nada: nem a condição homossexual, assumida sem complexos, nem os crónicos problemas de dinheiro do homem que fez A Última Ceia, a pintura mais reproduzida de todos os tempos. Notável. Publicou a Porto Editora.

sábado, 21 de dezembro de 2019

ELSA & MAAT


Inaugurado há três anos, o MAAT — Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, da EDP — não resistiu à depressão Elsa. Não se compreende. As cheias do Douro podem ter sido as maiores desde 2006, mas em Lisboa foi uma tarde e uma noite de Inverno igual a tantas. Complicada pelos estorvos da mobilidade, sem dúvida, mas já vi muito pior.

As medidas de precaução tomadas pelas autoridades (como a supressão das carreiras fluviais entre Lisboa e a margem Sul entre as 16:00 de quinta-feira e as 08:00 de sexta, restrições nas duas pontes, etc.) só se compreendem à luz da síndrome Pedrógão. Admitamos que mais vale prevenir que remediar.

O que se passou no MAAT é bizarro. O viaduto de 124 metros que passa por cima da Avenida da Índia, ligando o museu ao Largo Marquês de Angeja, ficou intacto. Mas a pala da entrada principal ruiu. Estamos a falar de um edifício alegadamente construído com a crème de la crème da tecnologia, por dezassete milhões de euros. Espero que a sinóloga italiana Beatrice Leanza (a directora do museu que sucedeu a Pedro Gadanho) peça responsabilidades à arquitecta britânica Amanda Levete.

Para já, sabe-se que o museu só reabre a 27 de Março, embora a Central Tejo, que faz parte do núcleo do MAAT, continue aberto. Curiosamente, na Central Tejo, que tem mais de cem anos, nem uma chaminé abanou.

Clique nas imagens.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

DONE


Por 358 votos a favor e 234 contra, o Parlamento britânico aprovou ao princípio da tarde a Lei que permite o Brexit.

Seis deputados do Labour votaram ao lado do Governo e 32 abstiveram-se.

O documento aprovado inclui mudanças significativas relativamente aos projectos sucessivamente chumbados de Theresa May, mas também relativamente aos diplomas que Boris Johnson apresentou em Setembro e Outubro.

Antes das eleições, visando conseguir o apoio da Oposição, o primeiro-ministro fez concessões que foram retiradas do diploma hoje aprovado. Entre outras:

— Os deputados perderam o direito de aprovar uma extensão do período de transição, possibilidade (a extensão) que fica agora proibida.
— Desapareceram as cláusulas que, em matéria laboral e de direitos dos trabalhadores, garantiam alinhamento do Reino Unido com a UE.
— O Governo fica com novos poderes para legislar sobre a Irlanda do Norte.

Foi no que deu a esquizofrenia da legislatura anterior.

Clique na imagem do Guardian.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

PIOR DO QUE CÁ


Foi divulgado um estudo do Governo espanhol sobre a prontidão dos serviços sociais aos pedidos de apoio a dependentes.

O prazo de espera varia de comunidade autónoma para comunidade autónoma. A média das comunidades corresponde um mínimo de 70 dias de espera em Ceuta, e a um máximo de 785 dias (mais de dois anos) nas Canárias.

Na fila de espera, neste momento, estão 423 mil pessoas, sobretudo idosas. Quatrocentas e vinte e três mil.

As desgraças dos outros não nos servem de consolação, mas, neste como noutros domínios, não vale a pena argumentar com o tradicional... só aqui.

Clique no gráfico de El País.

WESTMINSTER, AGAIN


Eram 11:30 quando Isabel II abriu a nova legislatura, desta vez sem coroa.

Prioridades: Brexit e NHS (o Serviço Nacional de Saúde), que terá um reforço de 33,9 mil milhões de libras. O sistema judicial será profundamente revisto, tal como a Defesa, o intelligence e os serviços de segurança tout court. As alterações constitucionais previstas vão alterar a face do Reino Unido tal como o conhecemos.

Na imagem do Independent, Carlos, príncipe de Gales, conduz a rainha. Clique.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

E NINGUÉM FAZ NADA?

Portugal é o país membro da OCDE com mais casas por cada mil habitantes (o Reino Unido tem metade).

Mas 735 mil estão vazias. As casas vazias representam 12,5% do parque habitacional português. Estes dados constam de um estudo agora divulgado.

O que espera o Estado para expropriar as casas vazias? A medida não tem nada de extravagante. E até constava da 1.ª versão da Lei da Habitação, vulgo Lei Roseta, que o PS propôs e depois emendou.

FERNANDO LEMOS 1926-2019


Fernando Lemos morreu ontem em São Paulo. Tinha 93 anos. Fotógrafo, poeta, desenhador, artista gráfico, pintor e designer, Lemos foi ainda docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

O álbum Eu Sou Fotografia, editado pelo Centro de Estudos do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda, colige os melhores retratos, feitos entre 1949 e 1952, de Jorge de Sena, Alexandre O’Neill, Mário Cesariny, Alberto de Lacerda, Glicínia Quartin, José Cardoso Pires, Sophia de Mello Breyner Andresen, Arpad Szenes, Maria Helena Vieira da Silva, José-Augusto França e outros.

É autor de cinco livros de poesia: Teclado Universal (1952), Teclado Universal e Outros Poemas (1963), Cá & Lá (1985), O Silêncio é dos Pássaros (2001) e Pegadas na Paisagem (2013). Estes livros foram reunidos em volume único, Poesia, publicado em Junho de 2019.

Por razões políticas, expatriou-se no Brasil em 1953, país onde permaneceu até ao fim da vida, adquirindo dupla nacionalidade. Entre 1956 e 75 colaborou com o jornal Portugal Democrático, órgão da imigração anti-fascista, no qual também colaboravam Sena e Adolfo Casais Monteiro.

O documentário Fernando Lemos. Como, não é retrato? (2017), de Jorge Silva Melo, é porventura a mais tocante abordagem que conheço da obra e do homem.

Clique na imagem.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

LÁ COMO CÁ


Giuseppe Conte, primeiro-ministro de Itália, tinha sempre na ponta da língua a estabilidade, a boa saúde, como ele diz, do sistema bancário italiano. Ainda há três dias o apregoava.

Nós por cá sabemos como foi: Cavaco e Passos disseram o mesmo a semanas da implosão do BES.

Agora, Conte está por um fio. A falência do Popolare di Bari levou o Governo, contra a opinião dos três parceiros de coligação, a injectar cerca de mil milhões de euros no banco. Nada que se compare com os cinco mil milhões de euros injectados em 2016 no Monte dei Paschi di Siena (era Gentiloni primeiro-ministro), mas, em todo o caso, um ónus para os contribuintes.

Infelizmente, não é caso isolado. Nos últimos sete anos, será o 4.º ou o 5.º banco italiano alvo de resgate por parte dos sucessivos governos.

Clique na imagem do La Repubblica.

NONSENSE

Desde sempre, e de forma violenta entre 2008 e 2016, a Direita não se cansou de bramar contra o alegado despesismo dos executivos PS. A “bancarrota“ de 2011 deveio mantra da esquizofrenia índigena.

Convém não esquecer que sem o chumbo do PEC IV não teria havido necessidade de intervenção externa. E que esse chumbo resultou da coligação BE-PCP-PEV-PSD-CDS. Até Merkel, que apoiava o documento, achou deplorável.

E agora que o OE 2020 está na calha, todos invectivam as “cautelas” de Centeno. O mais extraordinário é que o excedente orçamental, o primeiro em muitas décadas, tenha virado crime de lesa Pátria.

Há pouco, em conferência de imprensa, o ministro foi peremptório — «As escolhas são muito claras: SNS, redução da pobreza, jovens, desafio demográfico e investimento. Se quisermos alterar estas prioridades, temos de apresentar alternativas

Significa isto que estou satisfeito com aquilo que se conhece do OE 2020? Na parte que me toca mais directamente (a pensão e os impostos), não, não estou satisfeito. Mas os herdeiros de Medina Carreira deviam estar. Não era isto que eles queriam?

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

MONSIEUR RETRAITES


Jean-Paul Delevoye, o alto-comissário que desenhou a unificação do sistema de pensões francês, visando acabar com os 42 subsistemas existentes, abandonou hoje o cargo.

Não o fez por causa da tranquibérnia geral, mas por não ter declarado à Alta Autoridade para a Transparência da Vida Pública que exercia outros cargos remunerados.

Delevoye, que não faz parte do Governo, foi escolhido por Macron para virar do avesso a Segurança Social francesa: aumentar a idade da reforma para 64 anos, alterar o cálculo das pensões dos funcionários públicos, acabar com os privilégios dos trabalhadores do sector estatal dos transportes, etc.

Quando é que os europeus adoptam o sistema norte-americano de verificar previamente tudo (mas mesmo tudo) o que se relaciona com a vida dos candidatos a cargos públicos? Evitavam-se estas trapalhadas.

Clique na imagem.

POPULISMO VENCE

Maria Flor Pedroso, directora de informação da RTP, demitiu-se esta manhã, por não ter condições para a prossecução de um trabalho sério, respeitado e construtivo.

O Conselho de Administração aceitou a decisão e, em comunicado, sublinhou a qualidade do trabalho desenvolvido de forma dedicada, competente e séria de Maria Flor Pedroso, jornalista de idoneidade e currículo irrepreensível.

Lamentável.

domingo, 15 de dezembro de 2019

MARIA FLOR PEDROSO


A violenta campanha orquestrada pela Direita contra Maria Flor Pedroso, directora de informação da RTP, encontrou resposta por parte da classe a que pertence.

Até ao momento, cerca de 120 profissionais assinaram um documento de apoio à jornalista:

«Confrontados com o grave ataque público à integridade profissional da jornalista Maria Flor Pedroso, os jornalistas abaixo-assinados não podem deixar de tomar posição em sua defesa, independentemente das questões internas da empresa onde é diretora de informação, que manifestamente nos ultrapassam. Maria Flor Pedroso é jornalista há mais de 30 anos, sem mácula [...] uma jornalista exemplar reconhecida e respeitada pelos pares, defensora irredutível do jornalismo livre, rigoroso, sem cedências ao mediatismo, a investigações incompletas ou à pressão de poderes de qualquer natureza...»

Entre os signatários encontram-se Adelino Gomes, Ana Sousa Dias, Anselmo Crespo, António Borga, Carlos Andrade, Cesário Borga, Cristina Ferreira, Fernando Alves, Francisco Sena Santos, Goulart Machado, Henrique Monteiro, João Garcia, João Paulo Guerra, José Carlos Vasconcelos, José Mário Costa, José Pedro Castanheira, José Silva Pinto, Luísa Meireles, Nicolau Santos, Ricardo Costa, Rui Pêgo, São José Almeida e Sérgio Figueiredo.

Clique na imagem.

ANNA KARINA 1940-2019


Vítima de cancro, morreu a noite passada a actriz e cantora Anna Karina, musa de Godard, símbolo da nouvelle vague e referência do cinema francês dos anos 1960 e 70.

Além de Godard, com quem fez oito filmes, entre eles Une femme est une femme (1961), Vivre sa vie (1962) e Pierrot le Fou (1965), Anna Karina trabalhou com Rivette, Varda, Fassbinder, Vadim, Zurlini, Visconti, Cukor, Richardson, Delvaux, Ruiz e outros.

Nascida Hanne Karin Bayer, na Dinamarca, país onde teve vários empregos antes de ser modelo e cantora de cabaret, mudou o nome de nascença quando chegou a Paris. A sugestão partiu de Coco Chanel, com quem trabalhou. Ainda na Dinamarca, foi (aos 17 anos) o rosto da publicidade aos sabonetes Palmolive. Quem a descobriu para o cinema foi Godard, um dos seus quatro maridos. Assim que se conheceram convidou-a para À bout de souffle (1960), mas ela recusou.

Como cantora, ficaram famosas as canções que gravou com Serge Gainsbourg.

Tendo trabalhado como actriz em cinema, teatro e televisão, ainda arranjou tempo para escrever e publicar, entre 1973 e 1998, quatro romances.

Tinha 79 anos.

Clique na imagem da Cinemateca Francesa.

sábado, 14 de dezembro de 2019

O PRÉMIO

Todos os anos, sempre que é atribuído o Prémio Pessoa, alguém sugere que o vencedor devia ou podia ter sido outro/a. Em 1987, quando surgiu, não havia redes sociais. Nessa altura, o jornalismo cultural (que ainda existia) dava palpites. Hoje toda a gente se sente habilitada a invectivar a escolha do júri.

Mas há um detalhe em que pouca gente terá reparado: o Prémio Pessoa não é um prémio de consagração, é um prémio que visa dar visibilidade a pessoas ou instituições que se tenham distinguido na vida científica, artística ou literária. Dito de outro modo, não é para “consagrados” como tal reconhecidos pela opinião pública. Destina-se «a pessoas que não têm uma obra terminada, de quem se espera continuidade no seu trabalho.»


Justamente por não ter “consagrados” como alvo, não se percebe — ou percebe-se demasiadamente bem — que tenha sido atribuído a José Mattoso (1987), António Ramos Rosa (1988), Maria João Pires (1989), Menez (1990), Fernando Gil (1993), Herberto Helder (1994, recusou), Vasco Graça Moura (1995), José Cardoso Pires (1997), Manuel Alegre (1999), Emmanuel Nunes (2000), Mário Cláudio (2004), Luís Miguel Cintra (2005), Eduardo Lourenço (2011) e Rui Chafes (2015). Por feliz coincidência admiro estas catorze personalidades. Mas a minha admiração não é para aqui chamada.

A tendência parece estar a mudar. Um prémio que começou por caucionar o já caucionado, fixando o crème de la crème da nomenklatura nacional, aposta hoje em valores seguros que ainda não acederam ao Panteão. O arquitecto Manuel Aires Mateus (2017), o geógrafo Miguel Bastos Araújo (2018), bem como o actor e encenador Tiago Rodrigues (2019), são três bons exemplos.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

PRAGA


Milhares de peixes-pénis [urechis unicinctus] deram à costa na praia de Drake, da Califórnia. Drake fica a cerca de 80 quilómetros de São Francisco. As alterações climáticas são endiabradas.

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PRÉMIO PESSOA


Tiago Rodrigues, 42 anos, actor, dramaturgo, encenador, gestor cultural e actual director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, de Lisboa, é o vencedor do Prémio Pessoa 2019.

Ao longo dos últimos vinte anos, Tiago Rodrigues trabalhou com companhias de teatro nacionais e estrangeiras (uma delas sendo a STAN belga), foi argumentista das Produções Fictícias, criou a companhia Mundo Perfeito, foi professor na Universidade de Évora e na Escola Superior de Dança de Lisboa, colaborou com coreógrafos e cineastas, etc. Actualmente colabora com a Royal Shakespeare Company numa adaptação de dois romances de Saramago.

O júri do prémio é constituído por Francisco Pinto Balsemão, Rui Vilar, Ana Pinho, António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, Maria Manuel Mota, Eduardo Souto de Moura, Maria de Sousa, José Luís Porfírio, Pedro Norton, Rui Magalhães Baião, Rui Vieira Nery e Viriato Soromenho-Marques.

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CHANGE QUÊ?

Tem ideia do que seja o Change UK...? É o partido pró-UE, fundado por dissidentes do Labour e do Partido Conservador, obstinados com a realização de um segundo referendo ao Brexit.

Sem surpresa, nenhum dos seus membros conseguiu ser eleito ontem, repetindo o resultado das eleições europeias de Maio, palco por excelência do programa do partido. Em Maio como ontem, zero mandatos.

Em Maio, onze dos seus membros mais destacados passaram-se para os LibDem. Estão todos bem uns para os outros.

ISLINGTON


Corbyn foi reeleito no círculo de Islington, o coração do Labour.

Foi nesse bairro que, em 1381, o povo lutou contra os impostos de Ricardo II e, em 1791, Thomas Paine escreveu Os Direitos do Homem.

Era também ali que Trotsky e Lenine se encontravam para conspirar. Lenine vivia no bairro, no n.º 30 de Holford Square, e Estaline num pardieiro local.

A História regista que foi numa igreja de Southgate Road que se realizou o V Congresso do Partido Social Democrata da Rússia (antecessor do Partido Comunista) que deu a supremacia aos bolcheviques radicais em detrimento dos mencheviques moderados.

Ironia das ironias, Boris Johnson também ali viveu. Mas quem conhece Londres sabe que Islington é hoje uma zona trendy.

Na imagem, mural de Francis Hastings, 16.º conde de Huntingdon, numa das salas de leitura da Marx Memorial Library, biblioteca pública do bairro. Hastings, político proeminente, foi aluno de Diego Rivera e era conhecido como “o conde vermelho”.

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NOTAS SOBRE AS ELEIÇÕES BRITÂNICAS


Vá-se lá saber porquê, os media andaram mais de três anos a impingir a ideia de que os britânicos estavam arrependidos do seu voto no Brexit. Esta tolice fez escola.

A tal respeito, as eleições de ontem foram eloquentes. Os mais estrénuos defensores do segundo referendo (a líder do C-UK, a líder dos LibDem, um terço dos notáveis do Labour, um grupo de tories rebeldes) ficaram sem lugar em Westminster.

Uma delas foi Jo Swinson, líder dos LibDem. A senhora perdeu a cadeira. Por junto, os liberal-democratas, paladinos do um segundo referendo ao Brexit, perderam dez lugares. Então e os milhões de novos eleitores, jovens alegadamente pró-europeus, que iam mudar o curso da História? Foi tudo pelo cano?

Os ingleses (não confundir com britânicos) querem o Brexit e querem-no hard. Boris percebeu isso, fez tudo para chegar ao n.º 10, e foi a votos com um programa claro: sair e depressa.

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ACONTECEU


Desde 1987, ou seja, desde Thatcher, que os tories não alcançavam uma vitória tão expressiva. Até Dilyn, o cachorro cruzado com Jack Russell Terrier que habita o n.º 10, ficou perplexo.

Entretanto, Corbyn, o lunático, conseguiu a proeza de transformar o Labour numa anedota. O partido sofreu a maior derrota dos últimos 85 anos.

Clique na capa do Times.

NÚMEROS FINAIS


Resultados oficiais das eleições britânicas.
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OFICIAL E SIMBÓLICO


O círculo de Blyth Valley, em Northumberland, bastião do Labour desde a sua criação em 1950 (maiorias trabalhistas inequívocas), foi hoje ganho pelos tories. O conservador Ian Levy já foi eleito.

lique na imagem do Guardian.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

A VIDA COMO ELA É


A sondagem à boca das urnas dá maioria absoluta aos tories. Não espanta. A única surpresa é a dimensão da vitória de Boris Johnson face ao trambolhão dos trabalhistas.

Clique na imagem da Sky News,

REINO UNIDO A VOTOS


Os britânicos começaram a votar às 8 da manhã e vão poder fazê-lo até às 10 da noite, hora em que serão divulgadas as sondagens efectuadas à boca das urnas.

Na imagem, vemos Boris Johnson a sair a assembleia de voto do Methodist Central Hall, em Londres.

Clique na imagem do Guardian.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A BOA SURPRESA

Falando no Parlamento, António Costa tinha prometido para hoje uma prenda no sapatinho (e menos ansiedade para Catarina Martins). Chegou.

Esta manhã, o Conselho de Ministros aprovou a contratação, em 2020-21, de 8.426 profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e outros. Oito mil quatrocentos e vinte e seis.

Ainda este mês, a dívida dos hospitais será abatida em 550 milhões de euros.

Para modernizar e requalificar a rede hospitalar, foram desbloqueados 190 milhões de euros. Mais cem milhões para prémios de desempenho.

Por junto, o SNS disporá de mais 800 milhões de euros. Se calhar o problema não é de dinheiro, mas de gestão [in]eficaz. A ver vamos.

JOSÉ LOPES 1958-2019


Não há palavras para descrever o horror.

Na tenda que lhe servia de tecto, morreu um homem de 61 anos. Vivia sozinho, na miséria, sem acesso ao rendimento mínimo alegadamente garantido. O corpo foi descoberto ontem, por um amigo, mas o óbito terá ocorrido em data anterior.

Era um actor, o José Lopes, outrora respeitado e aplaudido, antigo colaborador de Luís Miguel Cintra no Teatro da Cornucópia e na Escola Superior de Teatro e Cinema.

Não há palavras.

O ministério da Cultura vai pagar as despesas do funeral, ou nem isso?

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terça-feira, 10 de dezembro de 2019

MFL

Manuela Ferreira Leite foi ministra das Finanças de um Governo (Barroso) penalizado por défice excessivo pela Comissão Europeia. Mas tem o topete de sugerir a demissão imediata de Centeno, responsável, diz ela, por «orçamentos de brincar» que ninguém leva a sério. Extraordinário!

A senhora devia ter algum recato, porque os portugueses recordam-se da sua “engenharia financeira”. 

Três exemplos: Utilizou (i.e., hipotecou) o fundo de pensões da Caixa Geral de Depósitos para equilibrar o Orçamento de Estado. Vendeu a rede de cobre que servia os telefones fixos e a banda larga através do ADSL. E também vendeu dívida pública a bancos privados estrangeiros.

ENTALAR TRUMP

Os Democratas formalizaram hoje a acusação contra Trump: abuso de poder sob a forma de privilegiar os seus interesses pessoais em detrimento do país, e obstrução às investigações do Congresso.

A votação na Comissão de Justiça da câmara baixa do Congresso deverá realizar-se na próxima quinta ou sexta-feira.

Mas a votação decisiva, a efectuar no Senado, onde os Republicanos têm maioria absoluta, só ocorrerá a partir de Janeiro, prevendo-se que dure semanas.

Para fazer valer o impeachment é necessário o voto favorável de dois terços dos senadores.

CORRUPÇÃO

Lembram-se da Alta Autoridade Contra a Corrupção, criada em 1983 e extinta em 1993? Foi seu alto-comissário, eleito pelo Parlamento, o coronel Manuel Costa Braz (1934-2019), primeiro Provedor de Justiça e antigo ministro da Administração Interna em governos de Soares e Maria de Lourdes Pintasilgo.

A AACC tinha como função «prevenir, averiguar e denunciar à entidade competente para acção penal ou disciplinar, actos de corrupção e de fraudes cometidas no exercício de funções administrativas

Nos termos do artigo 164.º da Constituição, funcionava junto da Assembleia da República, que podia solicitar à referida Alta Autoridade «a averiguação de indícios ou notícias de factos que justificassem fundadas suspeitas de acto de corrupção ou de fraude, de delito contra o património público, de exercício abusivo de funções públicas ou de quaisquer outros lesivos do interesse público ou da moralidade da Administração

Os seus vastos arquivos, cerca de dois milhões de documentos, actualmente digitalizados, estão depositados na Torre do Tombo desde 2001.

Agora, o Governo quer criar um grupo de trabalho para “limar” a legislação vigente. Não seria mais prático ressuscitar a AACC?

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

RÚSSIA OUT

Por decisão unânime da WADA, a Agência Mundial de Antidopagem, a Rússia está impedida de participar nas Olimpíadas de Tóquio (2020), nos Jogos de Inverno de Pequim (2022) e no Mundial de Futebol do Qatar (2022), bem como em qualquer competição desportiva internacional até 2023.

A interdição exceptua o Europeu de Futebol de 2020, que se realiza em doze cidades de doze países diferentes.

Advertida em 2013, a Rússia continuou a usar doping nos últimos seis anos. A sanção chegou hoje.

SAÚDE NO REINO UNIDO

Foi ontem divulgado mais um relatório sobre o caos do National Health Service britânico.

Então é assim: entre Novembro de 2018 e Outubro de 2019 registaram-se 4,3 milhões de incidentes de segurança. Número exacto: 4.356.227 pacientes afectados, sobretudo com medicação inadequada, infecções generalizadas, cuidados incorrectos, crianças deitadas no chão por falta de camas, etc. Nove em cada dez directores de serviço queixam-se de falta de condições. Isto acontece no reino de Sua Majestade.

As eleições estão à porta e, lá como cá, a saúde rende.

O caos britânico não nos serve de consolação. Lembrar apenas, a quem não reparou ainda, que a “disfunção” do nosso Serviço Nacional de Saúde não começou ontem. Dura há cerca de vinte anos, embora os media falam dela como se antes de Centeno fosse tudo um mar de rosas. Nunca foi. As urgências continuam a dar resposta eficiente aos grandes sinistrados, mas o resto tem dias, varia consoante a unidade hospitalar e o perfil do paciente, etc. Sempre assim foi e será. O que mudou foi a vozearia dos profissionais e o agitprop militante.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

GREVE GERAL


Por causa da refundação do sistema de segurança social contido no controverso projecto Delevoye (nome do alto-comissário para as pensões), a França está em greve.

Aparentemente, os sectores mais afectados são os transportes, as escolas e os hospitais. Ou seja, o sector público. O trivial em toda a parte.

Não é fácil resumir as variantes da nova lei, com cortes violentos e diferenças entre público e privado. Do que percebi, sublinharia a redução média de 20% no cálculo das novas pensões, a redução do tecto máximo de 320 para 120 mil euros por ano, e o facto de, a partir de 120 mil euros, os empresários deixarem de contribuir para a pensão do trabalhador.

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quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

LISBOA, A NEUTRA

O primeiro-ministro de Israel chegou hoje a Lisboa para se encontrar com o Secretary of State americano. Agenda: discutir a anexação do Vale do Jordão. Netanyahu preferia Londres, mas Boris desaconselhou a visita em data coincidente com a cimeira da Nato. Ficou Lisboa, a neutra.

António Costa recebe os dois (Netanyahu e Pompeo) amanhã.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

NATO


Embora o 70.º aniversário tenha sido no passado 4 de Abril, data assinalada em Washington com um jantar dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos países membros, a cimeira da organização que hoje começou em Londres está a ser vista como a verdadeira festa de aniversário, na medida em que são os próprios chefes de Estado (ou de Governo, como António Costa e Ângela Merkel, entre outros) que estão na capital britânica, e vão jantar com a rainha esta noite em Buckingham Palace.

A imagem mostra Macron a falar e Trump a seguir a charla por intermédio de um tradutor.

Estará o Presidente francês a explicar o que entende por «morte cerebral da NATO...»? O tédio do Presidente americano é ululante.

Clique na imagem do Guardian.

ESPANHA


Abriram hoje as Cortes saídas das eleições do passado 10 de Novembro.

Meritxell Batet foi eleita presidenta do Congresso de Deputados, e Pilar Llop presidenta do Senado. Batet e Llop são membros do PSOE e têm ambas 46 anos. Llop é uma juíza especialista em violência de género.

Governo é que provavelmente não haverá, se o PSOE continuar a brincar com a paciência dos espanhois. Já toda a gente percebeu que vamos ter mais seis meses de coreografia “unida”. Se nenhum percalço alterar o calendário, a primeira prova de fogo será no próximo dia 16.

Na imagem do twitter de Sánchez podem ver-se, da esquerda para a direita, Batet e Llop no momento em que são aplaudidas. Clique.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

O PASTELÃO


Feito a partir de I Heard You Paint Houses, o livro de Charles Brandt que narra a vida de Frank Sheeran, o gangster irlandês que assassinou Jimmy Hoffa (o líder sindical que durante dez anos chefiou a todo-poderosa International Brotherhood of Teamsters, ou seja, a central de sindicatos dos motoristas americanos), O Irlandês é um exercício enfadonho sobre o mundo do crime, com a duração de três horas e meia. Metade chegava.

De Niro e Pacino iguais a si próprios, Joe Pesci muito bem, reconstituição de ambientes perfeita. Não chega. Por alguma razão Hollywood rejeitou sucessivamente o projecto de Scorsese. Seria a Netflix a pegar nele por 160 milhões de dólares.

O filme corrobora enfaticamente a tese que atribui à Máfia a responsabilidade pelo assassinato de Kennedy. A morte do Presidente retira de cena o irmão Robert (o gajo voltou a ser apenas um advogado), o procurador-geral que combateu o crime organizado, mas Hoffa acabou condenado e preso, em 1967, embora Nixon o tenha indultado em 1971. Assassinado em 1975, o corpo de Hoffa nunca apareceu por, alegadamente, ter sido cremado.

O Irlandês teve estreia mundial no Festival de Cinema de Nova Iorque, no passado 27 de Setembro, estando disponível na Netflix desde 1 de Novembro.

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INTERCAMPUS


Sondagem da Intercampus divulgada hoje pelo Negócios. Clique.

sábado, 30 de novembro de 2019

TRÊS MORTOS


O terrorista da London Bridge, entretanto abatido pela polícia, já tinha estado preso, entre 2012 e 2018, por ter participado numa tentativa de atentado à Bolsa de Londres.

Ontem, no momento do ataque, estava em liberdade provisória, com pulseira electrónica, e um colete de explosivos que se verificou ser falso.

Chegou à London Bridge vindo de Fishmonger’s Hall, onde decorria o Learning Together, uma conferência sobre reabilitação de reclusos organizada pela Universidade de Cambridge que junta antigos prisioneiros, advogados e académicos.

Um dos convidados da conferência era o homem, originário do Paquistão, que saiu dali para ir esfaquear oito pessoas, tendo morrido duas.

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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

LITERATURA & VIAGENS


Hoje na Sábado, Literatura e Viagens

Houve um tempo em que a literatura nos impelia a viajar, descobrindo povos e países. Isso mudou. Os que não lêem livros têm agora o recurso da Internet. Presumo que sejam poucos os que hoje seguem as pegadas de Jan Morris ou Bruce Chatwin.

A minha geração atravessou a adolescência e a entrada na idade adulta sem plataformas digitais. Queríamos descobrir as cidades dos “nossos” autores. Lembro-me de, por volta de 1966, ter lido A Bastarda de Violette Leduc. Como não querer conhecer os cafés onde se acotovelavam as lendas vivas que eram então Simone de Beauvoir, Sartre e Genet, os caveaux onde Juliette Gréco reinava como sacerdotisa de todos os existencialistas? Mas a vida dá muitas voltas e, quando a oportunidade chegou, já a literatura francesa era um imenso bocejo, com raros intervalos de lucidez — À l’Ami Qui Ne m’a Pas Sauvé La Vie de Hervé Guibert foi um deles — que erguiam uma barragem, não contra o Pacífico (como em Duras), mas contra o desejo.

Muito antes calhou a vez de Londres. Era preciso conhecer a cidade onde Virginia Woolf e os outros bloomsberries inauguraram em 1910 o mundo moderno, entendido como, notou Quentin Bell, «uma entidade ética, social e estética.» Mais: era preciso fazer o percurso que Clarissa Dalloway fez na manhã em que foi comprar flores. A Festa de Mrs Dalloway é o conto de 1922 que mais tarde deu origem ao romance Mrs Dalloway, lido por todos nós antes do texto percursor. Até que um dia dei comigo no n.º 31 de Gordon Square, morada onde o economista John Maynard Keynes e o pintor Duncan Grant viveram a sua relação amorosa (nessa casa está hoje instalada a Mozambique High Commission). Virginia, portanto, mais T.S. Eliot e os que vieram a seguir, de Graham Greene, Doris Lessing e John Le Carré até Julian Barnes, Ian McEwan e Zadie Smith. Mas quando pela primeira vez ali cheguei, o Bloomsbury era um bairro melancólico e a swinging London uma reminiscência arqueológica, porque Callaghan era então o inquilino de Downing Street, e até no Ivy, o restaurante do West End preferido pelos intelectuais de esquerda, se dizia mal dele. A mítica dos sixties, com o célebre Annus Mirabilis de Larkin — «Sexual intercourse began / In nineteen sixty-three…» —, os Beatles, Mary Quant, Carnaby Street, Twiggy (epítome da super-modelo anoréxica), o glamoroso escândalo Profumo, faziam parte da era que Antonioni fixou em Blow-Up.

O Buda dos Subúrbios, de Hanif Kureishi, regista essa mudança. Thatcher deu cabo do resto, mas isso é outro campeonato.

E por vezes um livro basta. A Virgem dos Sicários de Fernando Vallejo fez mais por Medellín que o famoso cartel de droga de Pablo Escobar. A Catedral Metropolitana da cidade, onde os sicários (matadores a soldo) iam pedir a benção da Virgem antes de consumarem as execuções contratadas, tornou-se, quem diria?, lugar de culto literário… São ínvios os caminhos que ligam a literatura ao desejo de viajar.

O Rio de Janeiro foi um caso especial. Como não visitar a cidade à boleia de Machado de Assis? Dois livros chegam: Memórias Póstumas de Brás Cubas, roteiro «amargo e áspero», e Dom Casmurro, apesar de tudo menos dickensiano. Percorrer a Rua do Ouvidor, tomar chá na Confeitaria Colombo, conhecer Santa Teresa — cenário de outras obras de Machado e, cem anos mais tarde, zona demarcada dos soixante-huitard que sobreviveram ao novo milénio —, calcorrear o Jardim Botânico, descobrir que a cidade rivaliza com Paris em matéria de art déco, ou seja, tentar perceber o Rio vazado em obras de Lima Barreto, João do Rio, Nelson Rodrigues, Carlos Heitor Cony, Ruy Castro e outros. Por falar em Castro, o Rio que melhor conheci cabe inteiro nos seus livros, sobretudo o bairro de Ipanema, feudo da imigração culta (sobretudo alemães, polacos, franceses e italianos) dos anos 1930 e, talvez por isso, sublinha o autor de Carnaval no Fogo, «berço ou palco de várias revoluções no comportamento, na moda, nas artes plásticas, no cinema, na música popular, na imprensa…». Dito de outro modo, o cosmopolitismo no seu esplendor.

Para Roma também somos empurrados pela literatura. Quem leu Declínio e Queda do Império Romano de Edward Gibbon ou, em alternativa, I Claudius de Robert Graves, não perde a cidade de vista. Mas também Pasolini, Moravia e Elsa Morante, referências incontornáveis. Os primeiros romances do cineasta, Ragazzi di vita, radiografia crua do lumpemproletariado, e Vida Violenta, espécie de sequela do anterior, acordam em nós sentimentos díspares. Temos de ir ver como é. Contudo, Roma permanece um caso singular, sendo porventura a menos moderna das capitais europeias. A primeira grande surpresa decorre das afinidades com Lisboa: cheio de tesouros artísticos incomparáveis, o centro histórico de Roma é uma espécie de Bairro Alto a multiplicar por quatro. E o Trastevere, bairro boémio por excelência, reproduz fielmente o que livros e filmes ilustram: engarrafamentos de trânsito madrugada dentro, com centenas de vespas em alta velocidade, beldades de todos os sexos a beber, dançar e flirtar na rua (como na Piazza Trilussa, epicentro do que sobrou da dolce vita), feiras de bijuteria a céu aberto defronte de igrejas medievais, versão low cost e contemporânea do Satyricon de Petrónio.

Veneza é um caso parecido. Durante séculos, toda a gente escreveu sobre a cidade. Dois exemplos: as Dramatic Lyrics de Robert Browning, sequência de pregnante eloquência, ou Marca de Água de Joseph Brodsky. Foi aliás por causa do russo que lá fui. Mas a bibliografia da cidade é interminável: desde logo Ruskin, com St Mark’s Rest: The History of Venice, e depois Goethe, Thomas Mann, Italo Calvino e dezenas de outros. A Riva Degli Schiavoni, onde Henry James viveu e escreveu Retrato duma Senhora, não se adequa à nossa fantasia, mas não nos podemos esquecer que em 1880 o mundo era outro.

Berlim é um caso sério, sobretudo para quem gosta de poesia inglesa. Não há nenhum mistério. Christopher Isherwood escreveu Adeus a Berlim após ali ter vivido com Auden (seu amante) e os poetas Stephen Spender, Louis Mac Neice e Cecil Day-Lewis, mais o fotógrafo Herbert List. O livro de Isherwood é sempre citado, até por causa de Cabaret, o filme de Bob Fosse, mas o relato mais fiel desses anos loucos do estertor da República de Weimar foi escrito por Spender, num romance autobiográfico, pouco conhecido, chamado O Templo. A seguir veio o Reich e a Segunda Guerra Mundial, catástrofe que gerou toda uma literatura, mas foram os thirties poets ingleses que colocaram Berlim no meu ponto de mira.

Falar de literatura e viagens e esquecer Nova Iorque seria uma contradição nos termos. Uma pessoa lê Breakfast at Tiffany’s de Truman Capote, ou O Grande Gatsby de Scott Fitzgerald, e vê-se obrigada a conhecer a cidade. Os mais novos, para quem Capote ou Fitzgerald possam ser referências remotas, podem optar por outros marcos geracionais, como o glittering As Mil Luzes de Nova Iorque de Jay McInerney, apogeu do Brat Pack literário, ou, em registo étnico, Open City de Teju Cole. A lista nunca termina, mas os livros de Mary McCarthy, John Cheever e Dorothy Parker estão entre os que fizeram de Nova Iorque a cidade prometida para sucessivas gerações de leitores. Quem, gostando de literatura, fica indiferente à memória da Round Table, com quartel-general instalado no bar do Algonquin Hotel? Fundada por Dorothy Parker e Alexander Woollcott, foi na Round Table (o mais influente círculo de críticos de Nova Iorque entre 1919 e 1929, a quem os detractores se referiam como the vicious circle…) que nasceu a revista New Yorker. Recuando no tempo, convém não esquecer Walt Whitman, que em 1855 publicou na cidade a primeira edição de Leaves of Grass, cujo primeiro canto, nesse ano ainda sem título, virá mais tarde a ser o emblemático Song of Myself. Whitman trabalhou em vários jornais de Manhattan, escrevendo crítica de ópera, teatro e baseball, crónicas do quotidiano, artigos sobre a questão esclavagista, guias de viagem, etc. Se tudo isto não são argumentos de viagem…

Do outro lado do mundo, Viena continua a fazer parte do imaginário dos viajantes cultos. Muitos ainda lá vão por causa de Freud, embora grande parte deles saiba que o famoso divã está em Londres, no museu de Hampstead dedicado ao pai da psicanálise. Verdade que, na primeira metade do século XX, os filósofos, cientistas, pintores e escritores que constituiram o Círculo de Viena fizeram da capital austríaca um dos epicentros da política e da cultura da Europa. Os leitores de Stefan Zweig são muitos e, após ler O Mundo de Ontem, a sua autobiografia, quase todos querem ir conferir. Joseph Roth, Thomas Bernhard, Arthur Schnitzler e Elfriede Jelinek têm a sua quota, mas Zweig chega e sobra para nos transportar à cidade que ficou manchada pelo Anschluss nazi. Os apreciadores de thrillers de espionagem guiam-se por Graham Greene, que ali esteve destacado como agente secreto do MI6 britânico.

Faltam cidades? Faltam com certeza. Mas o poço sem fundo da literatura universal ajuda-nos a encontrar os recessos onde escondemos os nossos fantasmas privados.

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SALÁRIOS

O Governo aumentou o salário mínimo em 5,83% e fez muito bem. O diploma foi promulgado no próprio dia em que chegou a Belém, foi publicado, e entra em vigor no próximo 1 de Janeiro. Beneficiará cerca de 800 mil trabalhadores em todo o país.

Mas ontem foi dado outro passo: o Governo apresentou em sede de Concertação Social uma proposta global de aumentos salariais, para todos os trabalhadores do privado, tendo como ponto de arranque (e não de chegada), i.e., mínimo, os 2,7%.

Para os trabalhadores do Estado está previsto um aumento inferior a 0,8%. Eu sei que os trabalhadores do Estado são também os médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico, professores, militares, polícias, juízes e outros magistrados, diplomatas, investigadores, etc., mas a disparidade parece-me gritante.

Mas daqui até à aprovação do OE alguma água correrá sob as pontes.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

LARGUEM O OSSO, DIZ ELE


«A cultura de trabalho de Joacine Katar Moreira é uma cultura de descanso, no sentido intelectual do termo...», disse o assessor da deputada, depois de ter aconselhado o vasto mundo no Twitter: «Larguem o osso

Por seu turno, Albino de Azevedo Soares, secretário-geral da Assembleia da República, foi categórico: «Os serviços de segurança não deviam ter disponibilizado um elemento para acompanhar a deputada porque não estava em causa a sua segurança física. Não voltará a acontecer

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SAÚDE PRIVADA


Por que será que não me admiro?
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terça-feira, 26 de novembro de 2019

NACIONALIDADE

O LIVRE pretendia apresentar um projecto de diploma com alterações à Lei da Nacionalidade e, desse modo, participar da discussão em Plenário agendada para o próximo 11 de Dezembro.

Mas atrasou-se (o prazo caducou no passado dia 22) e o debate será apenas sobre as propostas do BE, do PCP e do PAN.

O partido representado por Joacine Katar Moreira fica de fora.

Prevê-se que o projecto de diploma chegue hoje ao Parlamento. O chefe de gabinete da deputada justifica o atraso com problemas de comunicação entre Joacine e a Direcção do partido.

Step by step...

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O MEU 25 DE NOVEMBRO


Cheguei a Lisboa a 8 de Novembro de 1975, o sábado em que o VI Governo Provisório mandou dinamitar os emissores da Rádio Renascença, controlada pela extrema-esquerda. Do aeroporto da Portela fui directamente para o Estoril. Dezassete dias depois aconteceu o 25 de Novembro.

Transcrevo (embora a sequência dos parágrafos seja diferente) do meu livro de memórias:

«[...] A contra-revolução não surpreendeu ninguém. O detonador foi a demissão de Otelo Saraiva de Carvalho do comando da Região Militar de Lisboa. Vasco Lourenço, que o substituiu, pôs um travão nas veleidades da extrema-esquerda militar e civil. Ao mesmo tempo, Soares induziu Pinheiro de Azevedo a cessar funções, dando origem à greve do Governo, com início a 19 de Novembro. Ministros e deputados trocaram Lisboa pelo Porto. Francisco Sá Carneiro estava na RFA. A Constituinte suspendeu os trabalhos por oito dias.

Para quem estava de fora, a história conta-se numa frase: Soares e os militares moderados fizeram abortar a Comuna de Lisboa, pondo fim a dezanove meses de excessos. [...]

Passei o dia no Estoril, a tal ponto alheado dos acontecimentos que fui com o Jorge jantar a Lisboa e a seguir ao cinema. O Galeto teria talvez uma dúzia de clientes, mas no primeiro balcão do Império éramos os únicos espectadores.

Só no comboio de regresso a casa soubemos do recolher obrigatório. 

O passeio impediu que tivéssemos visto Duran Clemente a ser substituído por Danny Kaye — The Man from the Diner’s Club foi o sinal inequívoco de que o PREC tinha acabado.

Com a imprensa nacionalizada desde a intentona de 11 de Março de 1975, o Governo impôs um período de nojo. Não se publicaram jornais durante mais de quinze dias. Quem quisesse saber o que se passava em Portugal, ouvia a BBC ou comprava o Monde. [...]»

domingo, 24 de novembro de 2019

FUI ELEITA SOZINHA

Foi assim que a deputada Joacine Katar-Moreira, que não quer ser marionete dos que não conseguem ser eleitos, reagiu à polémica que a opõe ao Grupo de Contacto (a Direcção do partido). Discurso directo: «Fui eu que ganhei as eleições, sozinha, e a direcção quer ensinar-me a ser política. O apoio que tive ao longo da campanha só chegou de quem não era do partido

O desacerto de posições não é recente, mas ganhou visibilidade com a abstenção de Joacine face ao voto apresentado anteontem pelo PCP, condenando aquilo que o partido considera serem os crimes cometidos por Israel contra o povo palestiniano e o reconhecimento por Trump da legitimidade dos colonatos israelitas...

Tendo cometido a heresia de pensar pela sua cabeça, Joacine descobriu da pior maneira que o voto de consciência não consta do catecismo do LIVRE.

Mas o lado mais deprimente do imbróglio é a troca de comunicados entre a deputada e o Grupo de Contacto: pediu instruções / não pediu instruções / devia ter pedido apoio específico / etc. Apoio específico? A sério?