Se fosse vivo, Rui Knopfli faria hoje 85 anos. No ano em que se assinala o 20.º aniversário da sua morte, um pequeno alinhavo sobre aquele que é um dos grandes poetas de língua portuguesa, em qualquer época. Nascido em Inhambane, Moçambique, a 10 de Agosto de 1932, foi com a família para Lourenço Marques ainda criança. Estudou em Moçambique e na África do Sul, tendo sido, sucessivamente, delegado de propaganda médica (1954-74), director do jornal A Tribuna (1974-75), adido de imprensa da delegação portuguesa na assembleia-geral das Nações Unidas (1975) e, nos últimos 22 anos de vida, conselheiro de imprensa na embaixada de Portugal em Londres (1975-97). Expulso de Moçambique em Março de 1975, pelo alto-comissário Vítor Crespo (o almirante tomou a decisão com base no editorial em que Knopfli denunciava o conúbio da Frelimo com a polícia política de Ian Smith), passou quatro meses em Lisboa antes de partir para a capital britânica.
Fotógrafo amador, colaborador assíduo da imprensa, tradutor exigente (cito apenas dois, T. S. Eliot e Edward Albee, pois de ambos foram publicadas em Portugal traduções suas), fundador, com João Pedro Grabato Dias, dos cadernos de poesia Caliban (1972-73), polemista, deixou uma obra ímpar: O País dos Outros, 1959, Reino Submarino, 1962, Máquina de Areia, 1964, Mangas Verdes com Sal, 1969, que teve uma segunda edição aumentada em 1972, A Ilha de Próspero, 1972, reeditado em Portugal em 1989 (com as fotografias originais, a preto e branco, impressas a cores), O Escriba Acocorado, 1978, O Corpo de Atena, 1984, prémio de poesia do PEN, e O Monhé das Cobras, 1997. Por duas vezes a sua obra foi reunida em volumes de poesia completa: Memória Consentida, 1982, e Obra Poética, 2003. Para Setembro está prevista a publicação, pela Tinta da China, de uma antologia organizada por Pedro Mexia.
Um dos episódios mais caricatos à volta da sua obra relaciona-se com a antologia Rosa do Mundo (2001), da Assírio & Alvim. Knopfli surge no cartapácio como tradutor do polaco Zbigniew Herbert e do chinês Tao Li. Sucede que O Livro Melancólico de Tao Li é puro gozo do autor. Dito de outro modo, Tao Li é Knopfli himself, um detalhe que escapou ao especialista (Gil de Carvalho) em poesia chinesa. Fui seu amigo a partir de 1971, conheci Mécia e Jorge de Sena na sua casa de LM, era seu hóspede regular quando ia a Londres. Quando regressou a Portugal, em Agosto de 1997, vinha já muito doente. O dia de Natal daquele ano foi muito triste: o Rui morreu depois do almoço. A 27 fui a Vila Viçosa para a despedida final.
A foto foi tirada por Jorge Neves (meu marido), em 1981, na casa de Eugénio Lisboa em Londres.