Em Portugal, quando se fala de Reinaldo Ferreira, nove em cada dez portugueses (intelectuais incluídos) pensa no Repórter X, o mais famoso jornalista português dos anos 1930, também dramaturgo e cineasta. Tão famoso que, em 1986, José Nascimento fez um filme sobre a sua vida, com Joaquim de Almeida, Eunice Muñoz, Jorge Silva Melo, Fernando Heitor, Anamar, José Ribeiro da Fonte e dois terços dos frequentadores do Frágil.
Na História da Literatura Portuguesa, Óscar Lopes refere o Repórter X, ou seja, Reinaldo Ferreira pai (1897-1935), mas, em capítulo diferente, também refere o filho (1922-1959). O seu a seu dono.
Porém, toda a gente se esquece desse filho pródigo, o poeta Reinaldo Ferreira, nascido em Barcelona, onde o pai estava a filmar. Reinaldo foi para Lourenço Marques com 17 anos, ali tendo morrido com 37. Uma lenda da comunidade homossexual moçambicana, deixou uma obra poética incontornável, de que faz parte um dos grande êxitos de Zeca Afonso: Menina dos olhos tristes. Ou o fado-canção Uma casa portuguesa, imortalizado por Amália.
Em todo o caso, a poesia de Reinaldo é outra coisa. Em 1966, Régio não poupou elogios no prefácio que fez para a primeira edição portuguesa (a edição original, publicada em Lourenço Marques em 1960, um ano após a morte do poeta, é da responsabilidade de Eugénio Lisboa) dos seus poemas. Portanto, convinha não confundir Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira com o papá.
Nas imagens, capas das primeiras edições de Poemas (1960) de Reinaldo Ferreira, e de Memórias de um ex-morfinómano (1956) do Repórter X. Clique.