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sexta-feira, 1 de setembro de 2017
quinta-feira, 31 de agosto de 2017
BANVILLE & REIS
Hoje na Sábado escrevo sobre Retalhos do Tempo, do irlandês John Banville (n. 1945). Infelizmente tenho de me repetir: cada novo livro seu coloca o leitor no patamar do virtuosismo. Acabado de traduzir, não se esgota na categoria de livro de viagens, como aquele que em 2003 dedicou a Praga. Este volume de memórias de Dublin é um longo e fascinante ensaio ilustrado com fotografias de Paul Joyce. Sabíamos que Banville é sempre exemplar na forma como recorta as personagens, ficcionais ou reais (exemplos ao acaso: Newton e Anthony Blunt), mas, doravante, sabemos que estamos mesmo nos lugares que evoca. Desde Luz Antiga (2012), o admirável romance sobre a erosão do tempo que, num hábil jogo de mnemónica, mete Paul de Man na intriga, não me recordo de páginas tão certeiras como estas em que revisita a Dublin dos anos 1950, uma cidade flagelada «pela pobreza, um lugar cinzento e feio» que, mesmo assim, «não maculava os sonhos» do rapazito que o autor então era. Banville nasceu em Wexford e, como o próprio recorda, Dublin era para ele «o que Moscovo era para a Irina em Três Irmãs, de Tchékhov, um lugar mágico…» Apesar da aventura que a viagem representava (ia lá no dia de aniversário, coincidente com um feriado católico), as anotações são o exacto contrário da primeira vez que viu Paris, aos dezoito anos: passeando no Jardim do Luxemburgo, sentiu «que penetrara numa tela de Renoir ou de Raoul Dufy, ou até numa das fêtes galantes de Watteau.» As evocações têm enfoque em locais e pessoas concretas, como ruas, jardins (muitos), bibliotecas, lojas, bares, edifícios, monumentos e, sem surpresa, Yeats. Não são bilhetes postais. Banville envolve tudo num fio condutor, onde História, experiências pessoais, envios literários, tradição e anedotário compõem um quadro vivo. A história de Phoenix Park dá azo a um impressivo retrato de James Butler (1610-1688), 1.º duque de Ormonde e criador daquele que é o maior parque público da Irlanda. Não falta sequer o furto do volume da poesia completa de Dylan Thomas: «enfiei-o debaixo do casaco e saí à socapa, com as mãos a tremer…» Em suma, leitura obrigatória. Cinco estrelas. Publicou a Relógio d’Água.
Escrevo ainda sobre Poemas Quotidianos, de António Reis (1927-1991). Quando passam 50 anos da sua publicação, eis que o livro volta às livrarias, resgatando o autor do silêncio injusto a que estava votado. Salvo para as gerações nascidas antes de 1940, a que se juntam alguns happy few mais jovens, o nome de António Reis era sobretudo associado ao cinema: assistente de Manoel de Oliveira, guionista, realizador de, entre outros, Jaime (1974) e Trás-os-Montes (1976), filmes míticos. Malgrado ter colaborado na imprensa cultural, foi assim que as coisas se passaram: a poesia ficou para coevos. Estamos portanto perante uma edição histórica. Poeta oriundo da segunda fase do neo-realismo, António Reis escolheu a elipse, lá onde outros ecoavam o derrame operático, para dizer a condição dos desapossados: «Também eu trago a saudade / nos sentidos // se dissesse que não / era mentira // também eu perdi um cão / casas / rios // Mas hoje / tenho mulher / amigos / e uma saudade mais real / é que me inspira.» Por último mas não em último, sublinhar a pertinência do esclarecedor prefácio de J.B. Martinho e do posfácio de Joaquim Sapinho. Cinco estrelas. Publicou a Tinta da China.
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Eduardo Pitta
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DIANA
Diana, princesa de Gales, morreu faz hoje 20 anos. Tudo aconteceu em Paris, na companhia de Dodi al-Fayed, seu amante. Estando grávida, é de supor que Dodi fosse o pai. Depois do jantarem no Ritz, propriedade dos al-Fayed, os dois abandonaram o hotel e foram vítimas de um acidente no viaduto subterrâneo Pont de l’Alma. Eram 04:44 da madrugada quando a BBC confirmou o óbito de Diana. Dodi e o motorista também morreram. Apenas sobreviveu Trevor Rees-Jones, guarda-costas do casal. Ainda há muita coisa por explicar, desde logo por que razão o dossier da polícia francesa, relativo ao caso, desapareceu num ápice. Lembrar que Diana foi casada com Carlos, o herdeiro do trono britânico, entre Julho de 1981 e Agosto de 1996, embora a separação de facto fosse anterior. A opinião pública reteve a frase famosa: Éramos três no nosso casamento. Diana referia-se a Camilla (ex-Parker Bowles), actual duquesa da Cornualha.
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Eduardo Pitta
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09:00
quarta-feira, 30 de agosto de 2017
UM HOMEM SENSATO
O escritor britânico Terry Pratchett (1948-2015), que terá uma dúzia de livros publicados em Portugal, dos mais de cem que escreveu, viu agora satisfeito um desejo testamentário: o disco rígido do seu computador deveria se destruído num rolo compressor, para evitar a divulgação de obras inacabadas, rascunhos, notas pessoais, etc. O desejo foi agora cumprido. Pratchett está publicado em 70 países e 40 línguas, tendo vendido, enquanto vivo, mais de 85 milhões de exemplares dos seus livros. Nos anos 1990 foi mesmo o autor mais vendido no Reino Unido. O canibalismo post mortem tem feito muitos estragos na história literária.
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Eduardo Pitta
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