sexta-feira, 26 de outubro de 2018

TANCOS

Por que será que toda a gente, em especial o CDS, quer saber quem sabia o quê sobre o encobrimento do Caso Tancos? O natural seria quererem saber (como eu também quero) quem roubou o material de guerra, e para quê. Mais: por que razão só apareceu parte do armamento roubado? O que é feito do resto?

Sem esclarecer o pecado original (o roubo), nunca perceberemos a necessidade do encobrimento.

TRÊS MULHERES


Estreia hoje às 22:40 na RTP esta série de Fernando Vendrell, inspirada nos factos que, entre 1961 e 1973, ligaram Natália Correia, Snu Abecassis e Vera Lagoa.

Criada por Fernando Vendrell e Elsa Garcia, com argumento de Fátima Ribeiro e Luís Alvarães, conta com um extenso elenco de que fazem parte, entre muitos outros, Soraia Chaves (Natália), Victoria Guerra (Snu), Maria João Bastos (Vera Lagoa), Cucha Carvalheiro, João Grosso, Pedro Lamares (Sttau Monteiro), Isac Graça, Vicente Wallenstein, Elmano Sancho (Cesariny), Pedro Carraca, Ana Padrão, Manuel Wiborg, Filipa Areosa, Jorge Vaz Gomes (Ary dos Santos), Hugo Franco, Dmitry Bogomolov (Ievtuchenko), Rui Morrison, Lucinda Loureiro, Afonso Lagarto e Fernando Luís. Treze episódios de 50 minutos cada. A ver vamos.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

CRISTAS

Os pais fundadores do CDS esforçaram-se por colocar o partido ao centro, rigorosamente ao centro, equidistante dos extremos, sublinhava Freitas.

Hoje, Assunção Cristas deu cabo da herança. «Nestas eleições eu não votaria no Brasil», disse com ênfase a líder do CDS. Ou seja, é-lhe indiferente a vitória de Bolsonaro ou Haddad.

Gratos pelo esclarecimento.

FUTUROLOGIA

Faltam três dias para a segunda volta das eleições no Brasil. Vou dizer por antecipação o que me parece vai acontecer se, como tudo indica, Bolsonaro for eleito.

A velocidade das decisões dependerá do score obtido: muito rápidas se for igual ou superior a 60%; mais lentas se inferior a 55%. Mais lentas quer dizer só em 2019.

O Congresso Nacional (constituído pelo Senado Federal e a Câmara de Deputados) será dissolvido.

Neste momento, o PT conta com seis senadores (em 81), sendo o partido com maior número de deputados: 56 dos 513. Não chega para aprovar ou contrariar lei nenhuma, mas Bolsonaro tudo fará para ter o seu Congresso.

O PT será ilegalizado. Só por milagre Dilma e Haddad não terão o mesmo destino de Lula.

Será aprovado um novo Código Penal, com a possível reintrodução da pena de morte.

Os direitos, liberdades e garantias da população vão regredir a 1964, ano em que os militares afastaram João Goulart.

Será revogada toda a legislação relacionada com igualdade de género, direitos LGBTI, aborto e tudo o que cheire a normas progressistas.

Os media vão sentir, forte e feio, limites à liberdade de expressão, novelas da Globo incluídas.

Oxalá me engane. Fica escrito por antecipação para conferir mais tarde.

HOLLINGHURST & LYNCH


Hoje na Sábado escrevo sobre O Caso Sparsholt, do inglês Alan Hollinghurst (n. 1954), que em trinta anos publicou seis romances. O melhor continua a ser o primeiro. O mais recente acaba de ser traduzido: as quinhentas páginas do costume, o nível semântico a que o autor nos habituou, quotidiano homossexual em registo upper class, transgressão moderada, ambientes sofisticados, códigos de casta e, claro, dezenas de personagens. A fórmula não falha. Dividido em cinco capítulos, o livro cobre várias décadas. O título remete para um escândalo fictício, envolvendo David Sparsholt, o pai do protagonista. Tudo começa em Oxford durante o Blitz de 1940. David era um rapaz muito atraente à beira de completar dezoito anos e de ingressar na Royal Air Force. Freddie Green narra essa primeira parte: «havia uma vontade de sublimar e enobrecer o corpo de Sparsholt para lá da realidade, já de si sublime.» O intróito contextualiza a narrativa. Nascido em 1952, Johnny é filho daquele mesmo David que electrizara o college. Retratista e restaurador de antiguidades, o seu percurso ilustra a evolução de costumes na Inglaterra. Após anos de sexo clandestino, tal como seu pai, gozou a libertação: clubes gays, aplicativos móveis para encontros de natureza sexual (como o Grindr), casamento com outro homem, uma filha gerada por doação de esperma a uma amiga lésbica. Hollinghurst regista o ar do tempo com sentido pedagógico. É deveras interessante a forma como transpõe para a vida de Johnny o quotidiano dos amigos que o pai fizera em Oxford. Omite a sida porque foi assunto foi tratado em romance anterior. Londres substitui Oxford, mas o universo social mantém-se: artistas e escritores oriundos da boa sociedade. Após a morte do marido (vítima de cancro da próstata), Johnny aceita retratar, ao jeito de conversation piece, a família de Bella Miserden, uma «loura pragmática» que conhecera por acaso na National Portrait Gallery. Os Miserdens eram novos-ricos ligados à multimédia, o tipo de gente que Johnny não frequentava. Atento às nuances comportamentais, Hollinghurst sugere nexo de causalidade entre a fase depressiva e a aceitação do trabalho. David praticamente desaparece do plot. Quatro estrelas. Publicou a Dom Quixote.

Escrevo ainda sobre Espaço Para Sonhar, a biografia de David Lynch (n. 1946) escrita por Kristine Mackenna e pelo biografado. A edição portuguesa descobriu o filão biográfico. Ainda bem. Ela redigiu a biografia, ele acrescentou-lhe páginas de memórias. A solução não é comum, mas resultou. Obra a quatro mãos, portanto. Além de cineasta, Lynch também é actor, músico, pintor, fotógrafo, designer de móveis e autor de um livro sobre meditação transcendental que expõe o modo como aprendeu a controlar a sua própria violência. Ou seja, o mais próximo que hoje encontramos de um homem da Renascença. Para melhor compor o retrato, Kristine Mackenna fez mais de cem entrevistas com actores, agentes, amigos, antigas mulheres (Lynch casou quatro vezes), familiares, músicos e colaboradores. O mais interessante são as revelações sobre o móbil de certos filmes. Por exemplo, Lost Highway não existiria sem o caso O.J. Simpson. O fascínio por sangue é um item revelador. O volume inclui dezenas de fotografias, filmografia, cronologia de exposições, bibliografia, notas, e o indispensável índice remissivo. Uma edição cuidada. Quatro estrelas. Publicou a Elsinore.

PÓS-DEMOCRACIA


Quem quer que tenha enviado os engenhos explosivos e as cartas com pó branco (antraz?) para as residências de Hillary e Bill Clinton, Obama e família, do antigo procurador-geral Eric Holder, de John Brennan, antigo director da CIA, das congressistas democratas Debbie Wasserman Schultz e Maxine Waters, da redacção da CNN em Nova Iorque, do magnata George Soros (acusado pelos Republicanos de financiar a campanha contra o juiz Brett Kavanaugh), mas também, soube-se entretanto, para Joe Biden, vice de Obama, sabia que apenas os pacotes dirigidos à CNN e a Soros chegariam ao destino. Todos os outros fazem parte de uma lista de personalidades cujo correio é verificado antes de ser entregue.

O objectivo era provocar alarme, e isso foi conseguido com o pacote que chegou à CNN. O edifício teve de ser evacuado, o recado deu a volta ao mundo, Trump viu-se obrigado a comentar o assunto numa sessão da Casa Branca dedicada ao combate ao tráfico de opiáceos, Hillary fez um statement, Andrew Cuomo, governador do Estado de Nova Iorque, e Bill de Blasio, mayor da cidade, deram uma conferência de imprensa a repudiar o sucedido.

A ver vamos o resultado que isto tudo dá.

Na imagem, o engenho enviado à CNN.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

ERDOGAN & KHASHOGGI

Hoje mesmo, dia em que começou a cimeira económica de Riade (versão superlativa do Forum de Davos), Erdogan foi ao Parlamento turco falar sobre o assassinato de Jamal Khashoggi:

«Os serviços de segurança turcos têm provas de que foi um assassinato político premeditado, meticulosamente planeado, executado de forma selvagem. [...] Não duvido da sinceridade do rei Salman. Mas é necessária uma investigação independente, com a participação de vários países. [...] A Turquia e o mundo só ficarão satisfeitos quando os responsáveis superiores e todos os intervenientes directos forem responsabilizados

Não passou despercebida a vénia ao rei saudita. Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro que governa o reino, nunca foi mencionado, mas já toda a gente percebeu que foi ele o cérebro da operação.

É extraordinário ver o Presidente turco tão empenhado no esclarecimento da morte de Khashoggi. Porque, desde a tentativa de golpe de Estado em Julho de 2016, a Turquia mantém presos mais de cem jornalistas (seis foram condenados a prisão perpétua), encerrou jornais, e tem controlo férreo sobre os media e as redes sociais. A explicação de que seria amigo de Khashoggi é curta.

Entretanto, vários países (os Estados Unidos, a França, a Alemanha, a Holanda e o Reino Unido) cancelaram a sua participação na cimeira económica de Riade, uma iniciativa do príncipe Mohammed bin Salman.

IMPORTA-SE DE REPETIR?

Preocupados com o Brasil? Talvez seja altura de nos preocuparmos com Portugal.

A Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda Nacional Republicana afirmou, em comunicado público, ou seja, em documento oficial, que «os criminosos [...] não são merecedores do mesmo respeito e consideração, por parte do Estado e da comunidade, atribuídos ao cidadão comum.» Não se trata de uma opinião isolada. Trata-se de um comunicado da GNR.

Vivemos num Estado de Direito? A sério?