quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

JOAN DIDION 1934-2021


Vítima da doença de Parkinson, morreu hoje Joan Didion, uma das personalidades mais destacadas do New Journalism e da contracultura da costa Oeste norte-americana. Tinha 87 anos.

Membro da Academia Americana de Artes e Letras, jornalista, crítica cultural e escritora, Joan Didion tinha tanta influência em Hollywood como em Manhattan, uma proeza alcançada por muito poucos. 

Várias vezes premiada, autora de cinco romances e dois volumes de memórias — O Ano do Pensamento Mágico, sobre a morte do marido, foi adaptado ao teatro por Vanessa Redgrave; e Noites Azuis, sobre a morte da filha. Ambos traduzidos em Portugal —, além de roteiros para filmes de sucesso e catorze colectâneas dos artigos que escreveu para a New York Review of Books e outras publicações, Didion recebeu doutoramentos honoris causa por Harvard e Yale, mas também a Medalha Nacional das Artes.

Quem quiser saber mais pode ver na Netflix o documentário Joan Didion: The Center Will Not Hold (2017), feito por Griffin Dunne, seu sobrinho. Ou então ler The Last Love Song: A Biography of Joan Didion, a biografia publicada por Tracy Daugherty em 2015.

Na imagem, Didion nos anos 1970. Clique.

ACIMA DAS NOSSAS POSSES?


Entrevistado pelo Expresso, Henrique Gouveia e Melo declinou, em modo ambíguo, a lengalenga da maioria PSD/CDS que nos governou entre 2011 e 2015.

Vejamos: «distribuir a riqueza inexistente, que não produzimos...» corresponde a dizer que vivemos acima das nossas possibilidades.

Mas qual riqueza? Actualização do Indexante dos Apoios Sociais, do Rendimento Social de Inserção, do salário mínimo, das pensões, dos vencimentos dos funcionários públicos?

Para começo de carreira política é um passo em falso do vice-almirante submarinista. O país precisa de muita coisa, mas não do passismo reciclado.

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terça-feira, 21 de dezembro de 2021

BRUXELAS SEGURA TAP


Ao fim de um ano de análise do processo, Margrethe Vestager, comissária da Concorrência, autorizou todas as ajudas que o Estado português suportou e vai suportar com a TAP.

Os mais de três mil milhões de euros distribuem-se pelos 462 milhões do ano em curso, os 107,1 milhões no âmbito dos apoios Covid, e os 2,55 mil milhões a haver.

Como contrapartida, a companhia terá de abdicar de dezoito slots / reduzir a frota / formalizar os despedimentos previstos no plano de reestruturação / separar-se da Portugália / mas também desinvestir na Cateringpor, na Groundforce e na manutenção efectuada no Brasil.

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

HABITUEM-SE


Por contraponto aos 2,5% de devolução do IRS que a Câmara de Lisboa praticava anualmente (aos residentes no concelho), Carlos Moedas prometeu o dobro. Ou seja, 5%. 

Mas o que hoje fez aprovar foi a devolução de 3%. Ora três não são cinco.

Como vai ser com os prometidos transportes gratuitos para maiores de 65 e menores de 23 anos? Vão ser reservados a paraplégicos?

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domingo, 19 de dezembro de 2021

ABSOLUTA, COM CERTEZA


Falando num encontro promovido ontem pela Juventude Socialista, António Costa foi claro: não chega ganhar as eleições, é preciso saber em que condições elas são ganhas. Essa é a escolha fundamental.

Discurso directo — «Por isso, a forma de termos maioria é sermos nós a maioria. Para isso, temos mesmo de mobilizar os portugueses. Não podemos andar em eleições de dois em dois anos e não podemos andar a governar porque nos fazem o favor de nos viabilizarem o Orçamento durante dois anos

Continua a não ser pronunciada a formulação-tabu (maioria absoluta), mas ela tem de ser posta em cima da mesa. Se tiver de depender de terceiros, sejam eles quais forem, o PS deve abster-se de formar Governo.

Quem vota, tem de votar naquilo em que acredita. Dito de outro modo: quem vota no PCP (na CDU, vá) e no BE por convicção ideológica, deve continuar a fazê-lo. Isso não está em causa. Mas os empatas anti-PS devem perceber que o regresso da Direita ao poder está nas mãos deles. Não se pode votar para empatar nem estar permanentemente a contar com o ovo no cu da galinha.

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ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Muito Urgente de António Manuel Couto Viana (1923-2010), o poeta que a democracia obliterou.

Nascido em Viana do Castelo, veio viver para Lisboa em 1946, tendo-se estreado em livro com O Avestruz Lírico (1948), primeiro de mais de cem títulos de uma vasta bibliografia. A sua proximidade com instituições do Estado Novo fez com que, após 1974, tivesse sido praticamente silenciado. Exceptuando Joaquim Manuel Magalhães, que sobre ele escreveu um denso ensaio incluído em Rima Pobre (1999), a recepção crítica dos livros que publicou em democracia foi residual. Sobretudo a partir de Café de Subúrbio (1991), assumiu sem reservas a identidade homossexual.

Por ter herdado da avó o Teatro Sá de Miranda, de Viana do Castelo, esteve desde sempre ligado ao teatro — mas também à ópera: Teatro Nacional de São Carlos, Círculo Portuense de Ópera, etc. —, como director, encenador, tradutor, actor e figurinista. Contudo, é como poeta que a posteridade o fixa.

Membro da Academia das Ciências de Lisboa, conselheiro de leitura da Fundação Calouste Gulbenkian, director de revistas literárias como Graal, Távola Redonda e outras, viveu dois anos (1986-88) em Macau. Várias vezes premiado e condecorado, foi feito Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique em 1995.

Além de poesia, escreveu teatro, contos, ensaios, memórias, literatura para a infância e gastronomia. Entre outros, traduziu Sófocles, Molière e Neruda. Por seu turno, livros seus estão traduzidos em Espanha, França, Alemanha, Rússia, Inglaterra e China.

Editada pela Imprensa Nacional, a poesia que publicou até 2001 encontra-se coligida nos dois volumes de 60 Anos de Poesia (2004). Deixou inédito um livro de memórias, provável continuação dos três que publicou em vida. Morreu na Casa do Artista, em Lisboa.

O poema desta semana pertence a Relatório Secreto (1963). A imagem foi obtida a partir do 2.º volume da Terceira Série de Líricas Portuguesas, a mítica antologia organizada por Jorge de Sena.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade e José Carlos Ary dos Santos.]

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