sábado, 17 de novembro de 2018

HORROR


São já 71 os mortos de Paradise, na Califórnia. O número de pessoas desaparecidas ultrapassou as mil. A cidade reduzida a cinzas, mais de dez mil viaturas calcinadas. E os animais de companhia não contabilizados? O horror na sua forma mais exacta.

Clique nas fotos de Josh Edelson, da France Press.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

EUROSONDAGEM


Maioria de Esquerda = 56,5%. Sozinho, o PS ultrapassa o PSD em 15%. E a PAF em 8%. Em termos de popularidade, Costa tem um saldo positivo de 34,4% contra 9,8% de Rui Rio e 0,2% de Catarina Martins. Entronização só com Marcelo: 64,8%.

Clique no gráfico do Expresso.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

MARIA JUDITE & PUCHNER


Hoje na Sábado escrevo sobre o segundo volume das obras completas de Maria Judite de Carvalho (1921-1998), contista e cronista de excepção. É importante que a obra da autora esteja a ser reeditada. Este volume colige duas colectâneas de contos — Paisagem Sem Barcos, 1963, O Seu Amor Por Etel, 1967 — e uma novela, Os Armários Vazios, 1966. Os acidentes biográficos talvez expliquem a rigidez do seu universo ficcional. Vivendo os pais na Bélgica, nasceu em Lisboa por acaso. Longe dos pais, foi educada por tias em ambiente austero. Mais tarde, acompanhou Urbano Tavares Rodrigues, seu marido, num exílio de vários anos em França. A partir de 1959, ano em publicou o primeiro livro, a colectânea de contos Tanta Gente, Mariana (a mais aclamada das suas obras), fixou por direito próprio o lugar que ocupa na Literatura portuguesa. Personalidade apagada, um tanto por contraponto ao perfil mundano do marido, escritor mediático e activista político, outro tanto por motivos de saúde (chegando nos últimos anos à deformação física), a obra reflecte o imaginário recalcado, cinzento, mesquinho e acomodado da sociedade portuguesa dos anos 1950 e 1960: «Uma amálgama de acontecimentos sem interesse e sem sentido.» Em contrapartida, a escrita da autora não tem nada de inócua. Bem pelo contrário. Numa prosa só na aparência desprendida, dominando bem os monólogos interiores, Maria Judite de Carvalho capta as subtis harmónicas do quotidiano, o espírito peganhento do tempo a enredar vidas sem horizonte, o confronto com outras realidades: «O Times é um jornal sério, não mente nem peca por omissão.» A novela Os Armários Vazios faz o retrato nítido do Portugal salazarista visto sob o ângulo da pequena-burguesia urbana, a pobreza envergonhada de Dora Rosário, «viúva de carreira», fumando um cigarro depois do café, vestida de preto durante dez anos, até ao dia em que a sogra lhe disse que o filho pensava viver com outra. Traços distintivos do meio em que Dora se movia, como abulia, resignação e preconceito, são descritos com sarcasmo. À beira dos 40, Dora muda a imagem. A filha fez o liceu, aprendeu línguas, podia perfeitamente ser hospedeira da TAP. O desfecho é absolut sixties. Quatro estrelas. Publicou a Minotauro.

Escrevo ainda sobre a obra mais recente do filósofo e ensaísta alemão Martin Puchner (n. 1969), O Mundo da Escrita. O subtítulo dá a medida da ambição: O poder das histórias que formaram os povos e as civilizações. Especialista em vanguardas e professor em Harvard, Puchner escreveu esta história da literatura universal dos primórdios — Épico de Gilgames, Homero, Bíblia hebraica, etc. — às novas tecnologias da escrita, como propiciadas pela Internet, passando pelo «puré medieval» com que J.K. Rowling molda a saga Harry Potter… Numa prosa envolvente, doseando erudição, humor e uma quota de imprevisto (a introdução aborda alguns aspectos da missão Apollo 8), Puchner faz close reading de obras que são património da humanidade. Entre outros, Cervantes, Goethe, Marx, Akhmátova, Soljenítsin e Walcott são apresentados com brilho. O fio condutor une As Mil e Uma Noites com a literatura pós-colonial, sem ignorar o contexto político de cada época. Uma obra indispensável, que inclui portfolio fotográfico. Cinco estrelas. Publicou a Temas e Debates.

BREXIT


Dominic Raab, 44 anos, ministro da Justiça, ministro da Habitação e Secretário de Estado responsável pela negociação do Brexit — Secretary of State for Exiting the European Union —, demitiu-se 24 horas depois da aprovação, em conselho de ministros, do draft final do documento.

Argumenta ele, em carta dirigida a Theresa May, não poder concordar com o regime regulamentar proposto para a Irlanda do Norte («uma ameaça muito real à integridade do Reino Unido»), nem ao dispositivo híbrido das obrigações aduaneiras futuras («um regime extenso, imposto externamente, sem qualquer controlo democrático sobre as leis a serem aplicadas»). OK.

Já toda a gente percebeu que o cavalheiro está a pôr-se a jeito para substituir a primeira-ministra britânica. Mas, admitindo que os argumentos são sólidos, coloca-se a questão de saber o que andou a fazer durante as negociações. Foi apanhado de surpresa? Então quem negociou e redigiu as 500 páginas do documento?

Na imagem, a carta de demissão de Dominic Raab. Clique.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

MAPUTO


Foi inaugurada anteontem a ponte que liga Maputo à Katembe, a maior ponte suspensa de África, construída pela China Road and Bridge Corporation. Foi também inaugurada uma estrada circular com 187 quilómetros. Custo da obra: 800 milhões de dólares. Situada na periferia Sul da cidade, próximo da Matola, facilitará o acesso à praia da Ponta do Ouro e à fronteira sul-africana de KwaZulu-Natal.

No meu tempo, ia-se de Lourenço Marques para a Katembe (então grafada como Catembe) de gasolina ou ferry boat. A praia não valia nada, mas, além de residências de férias de talvez vinte famílias, havia restaurantes de marisco e uma escola de remo e vela. E muita, muita movida gay aos sábados à noite.

domingo, 11 de novembro de 2018

BRUNO & MUSTAFÁ PRESOS

Esqueçam as celebrações do Armistício, as inundações na região de Lisboa, o avião cazaquistanês que esteve para amarar no Tejo mas conseguiu aterrar em Beja, a carta que Costa escreveu a Alegre, a Convenção bloquista, os incêndios na Califórnia onde não pára de morrer gente, a recontagem de votos na Flórida, o affaire Silvano, e outros temas da actualidade.

Bruno de Carvalho e Mustafá foram presos (17:45), acusados de terrorismo.

Portanto, vamos ter meses de telejornais com a duração de duas horas, debates intermináveis em todos os canais, quiçá reuniões do Conselho de Estado e uma comissão parlamentar de inquérito.

TOURADAS


Excertos da carta do primeiro-ministro António Costa a Manuel Alegre, hoje publicada no Público:

«[...] Prefiro pensar que as civilizações também se distinguem pela forma como tratam os animais. Como se distinguem pela forma como valorizam a dignidade do ser humano, a natureza, ou se relacionam com o transcendente, por exemplo. [...]

Por isso, afirmar que uma certa opção é uma questão de civilização não significa desqualificar o oponente como incivilizado. O diálogo de civilizações exige respeito mútuo, tolerância e a defesa da liberdade. [...]

Por isso, não me receie como “mata-toureiros”, qual versão contemporânea de “mata-frades”. Prefiro conceder a cada município a liberdade de permitir ou não a realização de touradas no seu território à sua pura e simples proibição legal e considero extemporâneo um referendo sobre a matéria. Choca-me que o serviço público de televisão transmita touradas. Mas não me ocorre proibir a sua transmissão. Contudo, reclamo também a minha própria liberdade e defendo a liberdade de quem milita contra a permissão das touradas. [...]

A causa da promoção do bem-estar animal é absolutamente legítima e tem tido, felizmente, progressiva expressão legal, a mais relevante das quais a recente alteração do Código Civil, que deixou de considerar os animais como “coisas”. Ou a limitação à utilização de animais em espectáculos de circo. Como homem da Liberdade tem também de respeitar os cidadãos que, como eu, rejeitam a tourada como manifestação pública de uma cultura de violência ou de desfrute do sofrimento animal. [...]

Bem sei que o novo politicamente correcto é ser politicamente “incorrecto”... Mas então prefiro manter a tradição e defender o que acho certo, no respeito pela liberdade dos outros defenderem e praticarem o contrário. [...]»

Elementar. Eu não diria melhor.

A PRIMEIRA GRANDE GUERRA


Ouve-se dizer com frequência que a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial foi um acto simbólico, uma birra de Afonso Costa. Convém lembrar que Portugal mandou 50 mil homens para França e 30 mil para Angola e Moçambique, colónias que faziam fronteira com a Namíbia e a Tanzânia, à época colónias alemãs. Submarinos alemães atacaram a Madeira, os Açores e Cabo Verde. A opinião pública retém o desastre de La Lys, em Abril de 1918, batalha onde morreram 400 portugueses e 7 mil foram feitos prisioneiros. Mas, para o Corpo Expedicionário Português, a Primeira Guerra Mundial não se resumiu a La Lys. Passaram cem anos. As gerações mais jovens olham para tudo isto (as que olham) como eu olho para Assurbanípal. Pode ser-lhes fatal.

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