sábado, 4 de junho de 2016

PROJECTO?

No prólogo de uma entrevista com Vasco Pulido Valente, hoje publicada no Expresso (o pretexto é dizer mal de Marcelo), escreve Ângela Silva: «Pulido Valente fala das memórias que está a começar a escrever, da sua passagem, em breve, dos jornais para um projeto online...» Um projecto online? Então uma publicação com dois anos é um projecto? Toda a gente sabe que VPV deixou o Público há meses, e vai começar a escrever, a partir de Outubro, no Observador. Goste-se ou não, o Observador é um jornal, com forte marca ideológica, presumo que mais lido que o Expresso. O suporte digital é irrelevante. Custa assim tanto dizer o nome da concorrência?

BREXIT OR NOT

A possibilidade do Brexit está a aterrorizar as elites de Londres. Depois dos apelos dramáticos dos banqueiros e dos patrões da indústria, chegou a vez da intelligentsia. Alguns exemplos: Dame Carol Ann Duffy, poeta (a primeira mulher e a primeira personalidade LGBT a ocupar o lugar de Poet Laureate); escritores como Hilary Mantel, Ian McEwan, John le Carré, Michael Morpugo e Tom Stoppard; cineastas como Danny Boyle e Stephen Frears; actores como Benedict Cumberbatch, Bill Nighy, Dominic West, John Hurt, Keira Knightley e Kristin Scott Thomas; artistas plásticos como Anish Kapoor e Tracey Emin; a performer Paloma Faith e muitos outros. O abaixo assinado dos artistas e intelectuais tem centenas de aderentes.

E O BURACO?

O Governo prepara-se para mudar tudo na gestão da Caixa Geral de Depósitos. O novo CEO será António Domingues, que esta semana saiu do BPI. O presidente do Conselho Fiscal será Guilherme d’Oliveira Martins, ex-presidente do Tribunal de Contas e actual administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian. É extinto o cargo de Chairman. Em seu lugar, é criado um conselho de administração não-executivo, constituído por doze membros, entre os quais Rui Vilar, ex-presidente da Gulbenkian e da REN; Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud; Bernardo Trindade, ex-secretário de Estado de um governo de Sócrates; e Pedro Norton, ex-CEO da Impresa. Nos termos de uma directiva do BCE, a nova administração da CGD auferirá salários superiores aos actuais. A administração PAF vai toda à vida.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

COLM TÓIBÍN


Hoje na Sábado escrevo sobre Nora Webster, o romance mais recente do irlandês Colm Tóibín (n. 1955). Professor dos dois lados do Atlântico, escrita criativa em Manchester, Humanidades em Nova Iorque, autor de vasta obra ensaística e dez romances, Tóibín escreve desta vez sobre as armadilhas da solidão. Provavelmente inspirado na vida da sua própria mãe, o plot tem a cadência das narrativas auto-referenciais. A escrita é lisa, isenta de ênfase, mas isso não é novidade para quem leu os livros anteriores. Não era fácil a vida na Irlanda dos anos 1960-70. Nora é uma viúva precoce, uma mulher de meia-idade com quatro filhos e seis libras por semana de pensão de viuvez. A morte do marido deixou-a suspensa no vazio. Agora, até a solicitude dos vizinhos se tornou um empecilho, no limite da intrusão. Quem tenha lido Brooklyn, depressa identifica a May Lacey que surge no primeiro capítulo. Mas Nora estava farta. Farta de ouvir dizer que «o tempo cura tudo», metia-se no carro, saía de Enniscorthy e ia chorar para perto do mar. Vira-se obrigada a vender a modesta casa de praia, mas fora feliz em Cush, e era para lá que fugia. Parecia-lhe sensato deixar os filhos longe da dor. Mais tarde tomará consciência do erro. Quando Maurice morreu não queria pensar em nada, nem sequer no sofrimento dos filhos. Menos ainda em política. O marido estivera ligado ao Fianna Fáil e uma das filhas acabará por seguir as pisadas do pai. Os interstícios da ficção são pontuados por factos e personagens reais (os motins de Derry, o escândalo que envolveu Charles Haughey, o ministro das Finanças acusado de traficar armas para o IRA, por exemplo), estratagema que torna a leitura muito aliciante. Como não podia deixar de ser numa história irlandesa, a querela religiosa, vexata quaestio entre todas, surge como parte da intriga. A partir do momento em que Nora vem à tona da depressão, voltando a cantar e dando novo rumo à sua vida, o romance ganha outro fôlego. Quatro estrelas.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

PRÉMIO CAMÕES 2016

O brasileiro Raduan Nassar, 80 anos, venceu o Prémio Camões 2016. Nassar publicou apenas três livros: o romance Lavoura Arcaica (1975), a novela Um Copo de Cólera (1978), títulos que em 1980 foram reunidos num único volume, e a colectânea de contos Menina a Caminho (1994). Em Portugal, os seus livros estão publicados pelas editoras Relógio d’Água e Cotovia.

GROTESCO

Se a ideia era contar a história da PIDE, qual o intuito de recuar a D. João II? Afinal, no século XV, o rei já tinha polícia política. São 500 anos de tradição... Então, qual o pecado do Estado Novo? Metendo tudo no mesmo saco (as guardas pretorianas da monarquia, a Inquisição, milícias de facção, a Carbonária, etc.), o primeiro episódio da série A PIDE antes da PIDE, que a RTP2 começou ontem a transmitir, defrauda as expectativas de quem quer conhecer a história da polícia política de Salazar. É como se, para explicar o anti-semitismo do III Reich, as normas em vigor na Judengasse de Frankfurt, o ghetto judeu que durou de 1462 a 1811, desculpassem o Holocausto. Grotesco.

domingo, 29 de maio de 2016

QUEM PAGA?

Os promotores do movimento que defende o financiamento das escolas privadas, na sua maioria católicas, suportadas com o dinheiro dos contribuintes, manifesta-se hoje em Lisboa. Tem do seu lado a hierarquia da Igreja, os sectores ultramontanos da sociedade, os direitolas do PAF e, sem surpresa, os media, que têm manipulado a opinião pública sem resquício de pudor. O Presidente da República desautorizou o movimento. O Tribunal de Contas desmentiu os media («Este Tribunal não se pronunciou, nem tinha que se pronunciar, sobre contratos de associação»), e o Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República deu razão ao Governo no tocante à redução do financiamento a colégios privados com contrato de associação. Facto é que está prevista manif. Segundo os media, foi fretado um comboio e centenas de camionetas. Quem paga essa logística?