sexta-feira, 22 de junho de 2018

GRÉCIA LIMPA

Apesar das reticências de Berlim, o Eurogrupo acaba de disponibilizar 15 mil milhões de euros à Grécia, a juntar aos 275 mil milhões recebidos desde 2010, para facilitar o regresso do país aos mercados, a partir de 1 de Agosto, data do fim do terceiro resgate.

Centeno dixit: «A dívida grega é sustentável daqui para a frente.» Com outro presidente, que não Centeno, o Eurogrupo teria este comportamento?

FIZZ

Por causa do Caso Fizz, o processo abstruso que envolve procuradores e advogados portugueses, mais o antigo vice-presidente de Angola, o Ministério Público criou um caso político sem precedentes, exigindo que Manuel Vicente fosse julgado em Portugal. Luanda reagiu, retirando o seu embaixador de Lisboa (acto de grande melindre) e adiando sine die visitas a Angola de Marcelo e Costa. No seu discurso de posse como PR, em 26 de Setembro de 2017, o general João Lourenço citou duas dúzias de países amigos, mas Portugal não fazia parte da lista. Marcelo estava na tribuna. Dezenas de milhares de trabalhadores e centenas de empresários portugueses radicados em Angola viram congeladas as transferências dos seus salários para fora do país (e cortado o acesso a divisas). Entretanto, no passado 10 de Maio, o Tribunal da Relação de Lisboa decidiu que Portugal não tinha competência para julgar Manuel Vicente, que tem imunidade até Setembro de 2022, e pode a qualquer momento ser indultado.

Cereja em cima do bolo: ontem, o MP pediu absolvições e penas suspensas para os arguidos do Caso Fizz. Quanto custou tudo isto ao erário público?

quinta-feira, 21 de junho de 2018

KLOBUCKA & STEINBECK


Hoje na Sábado escrevo sobre O Mundo Gay de António Botto, de Anna M. Klobucka. Como escrevi na introdução de Canções e Outros Poemas (2008), António Botto foi sempre, por razões que a sociologia da literatura decerto explicará, um caso mal resolvido. Passados quase 60 anos da morte do poeta, atropelado no Rio de Janeiro em 1959, Klobucka publicou o estudo que fazia falta. Não é despiciendo que o tenha feito, na medida em que Botto foi, nos anos 1920, um percursor da poesia de inscrição homossexual. Verdade que Wilde e Gide, oriundos de tradições literárias fortes, eram lidos e alvo de controvérsia em todo o mundo. Botto contou quase só com Fernando Pessoa, que publicou a segunda edição de Canções, escreveu ensaios em seu louvor e, por interposto Álvaro de Campos, invectivou os universitários de Lisboa por ocasião do auto-de-fé de 5 de Março de 1923 (exemplares de Canções foram apreendidos pelo Governo Civil de Lisboa e queimados no Rossio). Além de Pessoa, Aquilino Ribeiro foi o único autor a repudiar publicamente a campanha ultramontana. No seu estudo, Anna M. Klobucka faz um minucioso tour d’horizon à vida do poeta, sem esquecer as origens humildes, a conhecida «propensão para a autoinvenção ficcionalizante», a celeuma das traduções, as amizades virtuais, o casamento, a partida para o Brasil, a conversão religiosa, a doença e a morte. Nada disto é novidade, mas os factos são dissecados à luz do que Klobucka considera ser, por antecipação, o perfil queer do poeta. Com recurso ao espólio depositado na Biblioteca Nacional, a autora ilumina os doze anos de permanência (1947-59) de Botto no Brasil. Tal como acontece com a obra de Florbela Espanca, a de Botto tem sido (apesar dos encómios de Pessoa, Régio e Sena) subestimada. Fossem eles autores de expressão inglesa, e seriam hoje ícones dos movimentos feministas e LGBTI. Klobucka não o diz desta forma, mas a sua análise dos poemas, contos, peças de teatro e cartas, muito próxima da close reading, passe o pleonasno, ajuda a perspectivar Botto sob enfoque gay/queer. Indispensável. Cinco estrelas. Publicou a Documenta.

Escrevo ainda sobre Um Diário Russo, de John Steinbeck (1902-1968). Como muitos escritores cujas carreiras atravessaram a Guerra Fria, também Steinbeck foi ver como era a União Soviética. Entre nós, são relativamente recentes as publicações dos ‘diários russos’ de Gabriel García Márquez e Urbano Tavares Rodrigues. Steinbeck teve a enorme vantagem de fazer a viagem na companhia de Robert Capa, o célebre fotógrafo. As fotografias, em regra muito boas, foram incluídas no volume. Visitar a URSS em 1947, dois anos após o fim da guerra, não era fácil. Por exemplo, Estalinegrado continuava um monte de ruínas, e necessitava com urgência de «meia dúzia de escavadoras». O périplo incluiu a Ucrânia e a Geórgia, então parte do território russo. Steinbeck não fez proselitismo pró-russo nem alinhou na fronda anti-soviética. Sem perder objectividade, o relato é caloroso, na medida em que o autor se preocupou com as condições de vida das pessoas comuns. Quatro estrelas. Publicou a Livros do Brasil.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

BASTA


É altura de dizer basta aos métodos das autoridades americanas de fronteira. A actual política migratória da administração Trump traz de volta velhos fantasmas. O texto supra, da autoria de Richard Zimler, foi subscrito por dezenas de escritores e editores de língua portuguesa.

Clique nas imagens para ler o manifesto e o nome dos signatários, entre os quais me encontro.

CANNABIS LIVRE

Por 52 votos contra 29, o Senado do Canadá aprovou o uso da cannabis para fins recreativos. Mas fica interdito a menores. Pode-se cultivar em casa. Na rua, cada pessoa não poderá transportar consigo mais do que 30 gramas.

A cannabis será vendida em supermercados e mercearias de bairro, como as hortaliças e os tremoços. O processo de preparação para venda (embalagens, secção da loja, preço, etc.) não pode exceder as próximas 12 semanas, mas terá uma data definida pelo Governo antes desse limite.

Isto só acontecia no Uruguai. Agora também vai acontecer no Canadá.

terça-feira, 19 de junho de 2018

OS ANOS KENNEDY


Le Consulat, o hotel do topo do Largo do Camões, tem a partir de amanhã expostas ao público as 160 fotografias dos Kennedy Years, oriundas do Museu JFK de Boston, acervo organizado por Frédéric Lecomte-Dieu. Abriu hoje, para convidados do American Club de Lisboa. Fica até Setembro, na galeria de arte do hotel, ao lado do bar do primeiro piso. Vale a pena.

Clique na imagem.

TRANSEXUALIDADE


A Organização Mundial de Saúde retirou a transexualidade da lista de transtornos psicológicos. Dito de outro modo, reconhece que a identidade de género transexual não é uma doença. Já não era sem tempo.

Clique na imagem com o aviso da OMS.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

RANKING FT

Do ranking 2018 do Financial Times, agora divulgado, fazem parte três escolas portuguesas. Portuguesas? Vero?

São elas a Nova School of Business and Economics, classificada em 21.º lugar; a Católica-Lisbon, em 23.º e, a seguir, o ISCTE Business School, em 27.º (o ranking reporta às 30 melhores, em todo o mundo). Já sei que as aulas são dadas em inglês, mas faz-me muita confusão ver as escolas oficialmente designadas em língua estrangeira.

A tudo isto, os adversários contumazes do AO90 dizem nada. É claro que as consoantes mudas são mais importantes. Obviously!

AXIMAGE


Maioria de Esquerda = 54,5%. Sozinho, o PS ultrapassa o PSD em 9,2% (e a PAF em 2,9%). Centeno é considerado o melhor ministro. Tiago Brandão Rodrigues o pior.

Partido a partido: PS 37% / PSD 27,8% / BE 10,3% / CDU 7,2% / CDS 6,3%. 

Sondagem publicada no Correio da Manhã. Clique na imagem.

domingo, 17 de junho de 2018

AFFAIRE AQUARIUS


Agora vamos ficar todos contentes, porque esta coreografia foi pensada ao milímetro para não perturbar os espíritos sensíveis.

Foi assim:

Distribuídos por três embarcações, o navio Aquarius e dois vasos da Marinha de Guerra italiana, chegaram hoje a Valência os 629 imigrantes que andavam à deriva no Mediterrâneo.

O primeiro chegou quando eram 05:50 em Portugal, e os restantes com intervalos de três horas. O Aquarius foi o último a chegar. Sob orientação da Cruz Vermelha, uma equipa de 2.300 pessoas, formada por polícias, funcionários da Emigração, tradutores, stewards, enfermeiros, médicos e advogados, está a monitorizar o desembarque. Cem jornalistas foram autorizados a permanecer no local. Equipados com macacões de corpo inteiro, luvas, termómetros infravermelhos e máscaras apropriadas para situações de catástrofe e pandemia, os médicos e enfermeiros foram os primeiros a subir a bordo.

Os imigrantes receberam três formulários: um para solicitar autorização de permanência em Espanha, até ao limite de 45 dias, ou seja, um proforma para formalizar o desembarque; outro para solicitar asilo em Espanha; outro para solicitar asilo num país terceiro (a França está disposta a receber os muito qualificados). Entre os 629 imigrantes estão 43 argelinos e 11 marroquinos, grupo que vê o seu futuro com grande preocupação.

Nenhum dos 629 imigrantes está documentado.

Clique na imagem de El País.