sábado, 26 de maio de 2018

ABORTO NA IRLANDA


Resultado oficial final do referendo:

SIM 66,4% — 1,4 milhões / NÃO 33,6% — 720 mil

O sim venceu mesmo nos distritos ultra-conservadores de Sligo-Leitrim, Cork East e Donegal.

Como em Portugal e na maioria dos países da UE, o aborto a pedido da mulher será livre até à 12.ª semana de gravidez.

Prazo maior só em caso de malformação do feto ou risco de vida. Mas quatro países da UE têm legislação e práticas mais liberais: a Islândia permite até às 16 semanas, a Suécia até às 18, a Holanda até às 22 e o Reino Unido até às 24. Por seu turno, o aborto é crime, em todas as circunstâncias, em três países da UE: na Polónia, Chipre e Malta.

ESPANHA EM TRANSE


Rajoy está por um fio. A sentença do Caso Gürtell acabou com o jogo de sombras dos últimos 11 anos. O PP não tem como escapar ao juízo público, e o actual primeiro-ministro devia convocar eleições. Como não o fará, e o rei não deve interferir, o PSOE registou ontem nas Cortes uma moção de censura. Se vencer a votação prevista para a semana, Sánchez terá de formar governo. Ao contrário de Portugal, as moções de censura em Espanha obrigam o proponente a governar. Mas o líder do PSOE não tem de (nem deve) ficar até ao fim da legislatura. Pode tomar posse e convocar eleições para dali a 60 dias, como pretende Rivera, o líder de Ciudadanos. A ver vamos se os dois se entendem. Seja como for, o tempo de Rajoy expirou. A sua ausência, hoje, na final da Champions, em Kiev, é sintomática.

A imagem de La Vanguardia mostra 8 dos 29 acusados. Clique.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

QUEERQUIVO


André Murraças criou um arquivo LGBTI a que chamou Queerquivo. Ali se publicam testemunhos pessoais sobre personalidades queer portuguesas. Como este que escrevi sobre Guilherme de Melo.

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Tinha 12 anos quando foi anulado o casamento de Guilherme de Melo. O Guilherme tinha então 30 anos e a família era amiga da minha. A revelação caiu como uma bomba em Lourenço Marques. Como era hábito, os jornais publicavam placards junto aos cafés mais movimentados da cidade (o Continental e o Scala) sempre que uma notícia de última hora o justificava. Foi o que aconteceu a meio da tarde daquele dia de 1961: a Santa Sé dissolvera e anulara, por non consummatum, o casamento do influente jornalista. Nunca esqueci as ondas de choque que o facto provocou.

Embora fosse um miúdo, estava consciente da minha condição homossexual. À época, por força da diferença de idades, as relações com o Guilherme eram nulas: uns vagos cumprimentos em festas de aniversário e pouco mais. Mas, a partir daquele dia, o meu interesse aumentou. Lembrava-me de histórias nebulosas, comentadas aqui e ali, bem como de conversas com uma das irmãs do Guilherme (a propósito de me saber diferente). Excitando a imaginação de todos, a Casa dos Rapazes era a minha preferida. Que casa era essa? Era uma instituição informal que acolhia rapazes sem família e outros a quem chamaríamos hoje problemáticos. Acabou por pressões junto das autoridades, em especial as movidas pela mulher com quem o Guilherme ainda estava casado. E foi por esse motivo, soube muito mais tarde, que a decisão de pôr fim ao casamento foi tomada. O acidente de carro em que o Guilherme quase perdeu a vida era outro episódio que alimentava o gossip. Afinal, era ela que ia ao volante…

Os detalhes vieram com a nossa amizade, cimentada a partir de 1967, ano em que comecei a ser convidado para as famosas festas de sábado à noite. Em Lourenço Marques, a comunidade homossexual tinha por hábito juntar-se nos parties de fim-de-semana. A eclosão da guerra colonial encheu a cidade de militares em trânsito para o Norte, e uma grande parte desses rapazes alinhou com a transgressão. Por volta de quarta-feira, o Guilherme perguntava aos mais próximos o que preferiam para o party dessa semana: Fuzos? Páras? Comandos? Polícias militares?… E lá eram convidados catorze ou quinze centuriões dispostos a tudo. Foi a época de ouro da liberdade sexual. Os rótulos não tinham minado a itinerância das identidades, e em Moçambique, que fica do outro lado do mundo, os mancebos portugueses descobriam que há muitas moradas no céu.

O que fez do Guilherme uma figura única foi o à-vontade com que, a partir de 1961, numa sociedade fechada como era Lourenço Marques, impôs as suas escolhas à opinião pública. Para adolescentes como eu, foi um exemplo. Saber que aquele homem, um jornalista muito influente, tão depressa estava numa esplanada com “um amante”, sem disfarçar a natureza da relação entre ambos, como era convidado para as recepções da Ponta Vermelha, era a prova provada de que podíamos romper a normatividade.

Quando o Guilherme veio para Portugal, em Outubro de 1974, já essas pontes tinham sido queimadas. Mas se há precursores da cultura gay em Portugal, ele é um deles.


[Guilherme de Melo, 1931-2013, foi jornalista e escritor. Publicou nove romances, dois volumes de contos, dois ensaios sobre homossexualidade, uma compilação de reportagens sobre a guerra colonial, um livro de poesia e a biografia romanceada de Gungunhana.]

A imagem é de André Murraças. Clique.

AINDA ROTH


A morte de Philip Roth faz descer o pano sobre uma época prodigiosa da literatura de língua inglesa e, em particular, da cultura americana. Os leitores que durante 50 anos fizeram dos seus livros motivo de júbilo, controvérsia ou mero prazer do texto, sabem que agora acabou. Para sermos exactos, tinha acabado em 2010, ano em que Némesis chegou às livrarias.

Para um homem que tanto escreveu sobre doença e morte, chegou a sua vez. Internado num hospital de Manhattan, Roth morreu a noite passada, vítima de insuficiência cardíaca congestiva. A notícia veio pela boca de Judith Thurman, amiga íntima. Conseguiu ser o último e mais prolífico sobrevivente dos escritores que formataram o século XX americano, sendo os outros Saul Bellow e John Updike.

Natural de Newark, onde nasceu a 19 de Março de 1933, Roth foi criado no bairro de Weequahic, bastião da comunidade judaica da cidade. Os pais eram judeus oriundos da Ucrânia, e o futuro escritor teve uma educação de classe média, segundo o padrão americano, com respeito da tradição: «Segundo a nossa doutrina, a família judaica era um refúgio inviolável contra todos os tipos de ameaça, do ostracismo individual à hostilidade dos gentios», diz ele na sua autobiografia, Os Factos. Após frequentar a High School local, Roth foi para Lewisburg, na Pensilvânia, formando-se em Inglês na Bucknell University. Era o percurso óbvio do filho de um corretor de seguros. A pós-graduação em Literatura Inglesa já seria feita em Chicago, de onde se viu obrigado a partir para cumprir dois anos de serviço militar.

Como muitos escritores jovens, Roth começou por escrever em jornais, quase sempre críticas de cinema encomendadas por The New Republic. O primeiro livro, a colectânea de contos Goodbye Columbus, saiu em 1959. Com ele ganhou o National Book Award, o primeiro de muitos prémios de uma longa carreira. A consagração planetária chegaria dez anos mais tarde, com a publicação de O Complexo de Portnoy, romance de 1969 que, sob a capa da psicanálise, põe em pauta a masturbação masculina. Da parte de um escritor ‘sério’, era a primeira vez que isso se fazia com tal soma de pormenores. A luva de baseboll como instrumento masturbatório é hoje um ícone da indústria pornográfica gay. (Curiosa ironia sobre um autor alegadamente homofóbico.) Para já não falar do intercourse num naco de fígado cru. Estudiosos da Cabala colocaram o livro no Index. Instalada a polémica, Roth viu-se de um momento para o outro investido na qualidade de guru do sexo livre. Convém não esquecer que o lançamento do livro coincidiu com o movimento da contracultura hippie. Tendo o livro saído em Janeiro, é provável que grande parte do meio milhão de participantes do encontro de Woodstock, realizado em Agosto, já tivesse ouvido falar dele, ou mesmo lido. Nada que fosse estranho ao autor, que chegou a escrever um monólogo, entretanto posto de lado, para o musical libertário Oh! Calcutá!, estreado na Broadway justamente em 1969.

Ao contrário de tantos dos seus pares, Roth nunca se preocupou em escrever para agradar. «A literatura não é um concurso de beleza moral», disse em 1984 à revista Paris Review. Portanto, tinha por princípio desenvolver assuntos que inquietassem o senso comum. Isso é notório a partir da altura em que cria a personagem de Nathan Zuckerman, o sulfuroso alter-ego que em nove romances retratou a América sem piedade. A série começa em 1979, com O Escritor Fantasma, e termina em 2007, com O Fantasma Sai de Cena. Estão todos traduzidos em Portugal, embora não pela ordem dos originais. A série não começou da melhor maneira, porquanto Anne Frank, travestida de Amy Bellett, entra no plot. A heresia provocou ondas de choque entre os judeus ortodoxos das elites da Costa Leste e, coincidência ou não, o anunciado Pulitzer foi parar às mãos de Norman Mailer. De nada valeu a Roth insistir na dicotomia entre autor e narrador. O prémio chegaria dezoito anos mais tarde, consagrando Pastoral Americana, o sexto romance ‘de’ Zuckerman.

O interesse de Roth pela história americana foi sempre uma constante. A denúncia do MacCartismo deu corpo a Casei com um Comunista (1998), tal como A Mancha Humana (2000) surgiu na sequência do escândalo Lewinsky, a trapalhada que ia custando a presidência de Bill Clinton: «Foi o Verão da América em que a náusea regressou, em que as chalaças não pararam […] Foi o Verão em que o pénis de um presidente esteve na cabeça de toda a gente e a vida, em toda a sua despudorada obscenidade, confundiu uma vez mais a América.» Quem apenas viu o filme que Benton fez em 2003 a partir do livro, não tem noção do ímpeto vitriólico do romance. Outro aspecto interessante releva do facto de Roth ter escrito algumas das suas obras mais significativas depois dos 65 anos, como acontece com cinco livros aqui citados, mas também com A Conspiração Contra a América (2004) e Indignação (2008), entre outros, evidentemente.

Sexo, doença, morte, identidade judaica, anti-semitismo, puritanismo middle class, meio literário, relação com os pais, foram os seus temas de eleição. Os leitores mantiveram-se fiéis. Os pares também. A Corporação fez o que devia: Roth venceu um Pulitzer de ficção, dois National Book Awards, dois National Book Critics Circle, três PEN-Faulkner, um Man Booker International Prize, um Príncipe das Astúrias classe de Letras, e mais uma dúzia. Verdade que falhou o Nobel, mas isso só lhe fica bem. Tolstói, Proust, Joyce, Woolf (Virginia) e Nabokov não fazem parte da lista de laureados, e nem por isso deixam de ter a importância que têm.

Uma das duas mulheres com quem esteve casado foi a actriz inglesa Claire Bloom. Viveram juntos a partir de 1976, casaram em 1990, mas o casamento durou apenas quatro anos. Ela foi corrosiva nas memórias que publicou depois do divórcio. Virá daí a má-vontade das feministas contra Roth? Do lado masculino também houve reticências: por exemplo, o crítico Frank Kermode escreveu na New York Review of Books que Roth só conseguia escrever com erecção. Se era assim, aproveitou bem as ocasiões.

Texto publicado anteontem na edição online da revista Sábado. Clique na imagem.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

CORRUPÇÃO NO PP DE RAJOY


Foi hoje proferida em Madrid a sentença do Caso Gürtel, sobre o financiamento ilegal do PP nas comunidades de Madrid e Valência. Francisco Correa Sánchez, 62 anos, apontado como cérebro do esquema de corrupção, foi condenado a 51 anos e 11 meses de prisão efectiva, sem direito a condicional. A mulher foi condenada a 14 anos e 8 meses. Pablo Crespo, 58 anos, mecenas do PP, foi condenado a 37 anos de prisão efectiva. Luis Bárcenas, 60 anos, ex-tesoureiro do PP, foi condenado a 33 anos de prisão efectiva e, cumulativamente, a pagar 44 milhões de euros ao Estado. A mulher foi condenada a 15 anos. Dos 37 acusados, seis foram absolvidos.

Rivera, o líder de Ciudadanos, exige a demissão do Governo e a convocatória de eleições: «Es muy grave que España tenga un Gobierno condenado. Hay un antes y un después de la sentencia.» A ver vamos o que faz Rajoy.

Na imagem, Francisco Correa Sánchez.

CATALUNHA

Por ordem do Tribunal Superior da Catalunha, mais de quinhentos inspectores da Unidade de Crime Económico e Fiscal efectuaram hoje rusgas na Diputación de Barcelona, organismos públicos, instituições de solidariedade social e casas particulares em Barcelona, ​​Tarragona, Girona, Manresa, Olot, Tordera, Cambrils e Reus​, prendendo 29 pessoas acusadas de desviar dez milhões de euros para financiar o referendo de 1 de Outubro do ano passado.

Entre os detidos encontra-se o deputado Francesc Dalmases, do partido Junts por Catalunya, acusado de desviar dinheiro da Agência Catalã de Cooperação para o Desenvolvimento; Salvador Esteve, presidente da Diputación de Barcelona; e Joan Carles García Cañizares, alcaide de Tordera. Dos 29 detidos, catorze ficam em prisão preventiva.

FEIRA DO LIVRO DE LISBOA


Hoje na Sábado, as minhas sugestões para quem for à Feira do Livro de Lisboa. Clique na imagem.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

PHILIP ROTH 1933-2018


Vítima de insuficiência cardíaca congestiva, Philip Roth morreu esta madrugada num hospital de Manhattan. Um dos gigantes da literatura de língua inglesa, e universal, Roth deixa uma obra muito vasta, de que destacaria Goodbye Columbus (1959, contos), Quando Ela Era Boa (1966), O Complexo de Portnoy (1969), O Escritor Fantasma (1979), A Lição de Anatomia (1983), Os Factos. Autobiografia de um Romancista (1988), Engano (1990), Património (1991, memórias), Pastoral Americana (1997), Casei com um Comunista (1998), A Mancha Humana (2000), A Conspiração Contra a América (2004), O Fantasma Sai de Cena (2007), Indignação (2008), Némesis (2010). Mas sobra outro tanto. Tornou-se lendária a personagem de Nathan Zuckerman, alter-ego do autor, sulfuroso retratista da vida americana. Zuckerman é protagonista de nove romances publicados entre 1979 e 2007. Judeu iconoclasta, Roth recebeu todos os prémios que havia para receber: Pulitzer de ficção, National Book Critics Circle Award, duas vezes o National Book Award, três vezes o PEN Faulkner, Man Booker International Prize, Príncipe das Astúrias de Letras, e muitos outros. Além de escritor, foi crítico literário e professor de literatura comparada. Oito dos seus romances foram adaptados ao cinema. Casou duas vezes, uma delas com a actriz Claire Bloom.

Foto: Philip Montgomery, NYT. Clique.

terça-feira, 22 de maio de 2018

JÚLIO POMAR 1926-2018


Com 92 anos, morreu hoje Júlio Pomar, um dos mais importantes artistas plásticos portugueses de sempre. Adversário do Estado Novo, foi preso pela PIDE antes de, em 1963, se radicar em Paris. Pertenceu à terceira geração de modernistas portugueses. Desde 2013 existe em Lisboa o Atelier-Museu Júlio Pomar, com um importante acervo da obra do pintor. À margem da sua actividade de artista plástico, publicou ensaios sobre pintura e dois livros de poesia.

ANDA TUDO DOIDO


Giuseppe Conte, 53 anos, professor de Direito, ideólogo do Movimento 5 Stelle, deve ser o próximo primeiro-ministro de Itália. Mas antes disso convém corrigir o currículo: a Universidade de Nova Iorque garante que ele, ao contrário do que afirma, nunca lá pôs os pés. O International Kultur Institut, de Viena, e a Universidade de Cambridge (UK), também negam a presença do cavalheiro entre os seus alunos.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

ANTÓNIO ARNAUT 1936-2018


Com 82 anos, morreu hoje António Arnaut, advogado, um dos fundadores do PS, actual Presidente honorário do partido. A ele se deve a criação do Serviço Nacional de Saúde, que lançou em 1979, quando era ministro dos Assuntos Sociais no II Governo Constitucional (PS+CDS). Arnaut foi sucessivamente autarca em Penela, dirigente da Ordem dos Advogados, deputado à Constituinte, deputado à Assembleia da República, vogal do Conselho Superior da Magistratura, e Grão-Mestre da Maçonaria entre 2002 e 2005. Fundou e dirigiu a Associação Portuguesa de Escritores Juristas. Publicou oito livros de poesia, quatro romances, dois contos e quinze volumes de ensaio sobre Direito, Saúde Pública, Torga, Pessoa e a Maçonaria. É Grande-Oficial da Ordem da Liberdade. O Presidente da República promulgou o decreto do Governo que institui um dia de luto nacional. O PS decretou três dias de luto partidário. Do BE ao CDS, todos os partidos com representação parlamentar manifestaram admiração pelo histórico militante socialista.

PÓS-POP AGAIN


Já percebi que muita gente não percebeu. Então vamos lá. A exposição Pós-Pop. Fora do Lugar-Comum, comissariada por Ana Vasconcelos e Patrícia Rosas, junta um excepcional conjunto de artistas portugueses que vale a pena ir ver. É uma exposição importante em qualquer parte. Assim de cor (não comprei o catálogo, caro e de fraca qualidade), lembro-me de Menez, Ruy Leitão — o filho mais velho de Menez, suicidado aos 26 anos, porventura o artista mais representado desta exposição —, Teresa Magalhães, Batarda, Ana Hatherly, Palolo, Clara Menéres, Fernando Calhau, Skapinakis, Paula Rego, Joaquim Bravo, Lourdes Castro, Jorge Martins, Maria José Aguiar, Manuel Baptista, René Bértholo, Fátima Vaz, José de Guimarães, Ana Vieira, Cutileiro, Luisa Correia Pereira e Noronha da Costa. Mas há mais. A quota inglesa inclui, entre outros, Allen Jones, Bernard Cohen, Tom Phillips e Jeremy Moon. Os quadros e esculturas estão na vasta galeria da Gulbenkian. Mas há três cubículos negros, não identificados de modo a perceber-se que são micro-galerias, onde as curadoras juntaram obras relacionadas com o 25 de Abril e a liberdade em geral, a evolução dos costumes (moda) e o sexo. Conheço gente que foi ver a exposição, esteve lá hora e meia, e não deu por esses cubículos. Num deles meteram o Relicário (1969) de Clara Menéres, e também pequenas esculturas de Cutileiro. Essas obras foram colocadas dentro de caixas-armários. E a maior parte das pessoas pensa que elas, as caixas-armários, são obras de arte em si mesmas. São muitos os que, quando abrimos a porta da caixa-armário, ficam espantados. O aviso ABRIR/OPEN é bem visível, mas as pessoas, como são muito inteligentes, pensam que é uma instalação, suspiram, citam Lacan, e preparam-se para aprofundar o tema no próximo jantar de amigos: «Tás a ver, o sintagma preposicional...» / «Diria antes epítome da dimensão material do nó barromeano...» Vi muito disto, sei como é.

Como a fotografia que publiquei ontem não deixa ver com clareza a porta da caixa-armário, publico hoje outra, mais explícita. Clique.

domingo, 20 de maio de 2018

PURITANISMO


Está patente na Gulbenkian a exposição Pós-Pop. Fora do Lugar-Comum, comissariada por Ana Vasconcelos e Patrícia Rosas. Junta ingleses e portugueses como, entre outros, Bernard Cohen, Menez, Tom Phillips, Ruy Leitão (o artista mais representado), Fátima Vaz, Jeremy Moon, Teresa Magalhães, Allen Jones, Clara Menéres, Jorge Martins, Lourdes Castro, José de Guimarães, Paula Rego, Joaquim Bravo, Ana Hatherly, Manuel Baptista, Batarda, Palolo, Skapinakis e Cutileiro. Fica até Setembro. Mas se quiser ver o caralho de Clara Menéres — a artista chamou-lhe Relicário —, falecida dias antes da abertura da exposição, tem de abrir as portadas da caixa onde o relicário (caixinha) foi escondido. O mesmo sucede com as mini-esculturas de Cutileiro. O politicamente correcto chegou à Avenida de Berna.

Clique nas imagens.