sexta-feira, 18 de março de 2022

PORQUÊ?

O grande dilema dos historiadores que, no futuro, tentarem perceber a invasão da Ucrânia de 2022 radica no móbil que terá levado Putin a ordenar uma guerra em moldes que, sendo plausíveis há 80 anos ou mais anos, não fazem hoje sentido.

Admitindo que alguém o tenha convencido de que Zelensky fugia para o Ocidente assim que os tanques entrassem no Donbass, mesmo nessa hipótese absurda, havia que contar com a resistência de um povo determinado. Se Zelensky fosse abatido, ou fugisse (como em 2014 fugiu Víktor Yanukóvytch), outro ucraniano anti-Moscovo ocuparia o seu lugar. O mito dos russófilos que receberiam as tropas russas de cravos na mão foi engendrado por quem?

Tentar ocupar a Ucrânia, um país maior do que a França, com 150 mil homens (desconhecedores do terreno) e divisões panzer, ultrapassa toda a lógica. Claro que, como tem estado a ser feito, o país pode ser arrasado de Leste a Oeste e de Norte a Sul. Mas de que servirá uma tão vasta extensão de terra queimada?

Sim, há que contar com os mísseis. E não podemos descartar a hipótese de que, para vergonha de todos nós, Kiev venha a ser a nova Hiroshima. 

«Vou cumprir até ao fim todos os meus objectivos, e sei como fazê-lo», reiterou ontem Putin, no Estádio Luzhniki, de Moscovo, durante o comício em que celebrou a anexação da Crimeia.

segunda-feira, 14 de março de 2022

JORGE SILVA MELO 1948-2022


Vítima de doença prolongada, morreu esta noite Jorge Silva Melo, actor, encenador, dramaturgo, editor dos Livrinhos de Teatro, realizador de cinema, guionista, tradutor, cronista, memorialista, crítico, professor na Escola Superior de Teatro e Cinema e director da companhia de teatro Artistas Unidos.

Natural de Lisboa, Silva Melo passou a infância e o início da adolescência em Angola, onde seus pais estavam radicados. Frequentou a Faculdade Letras da Universidade de Lisboa e, a partir de 1969, a London Film School. Fez teatro em Berlim, Paris e Milão. 

Antes de partir para Inglaterra foi um dos fundadores do Grupo de Teatro de Letras. Mais tarde (1973) fundou com Luís Miguel Cintra o Teatro da Cornucópia, onde permaneceu até 1979. Como bolseiro da Gulbenkian estagiou em Berlim com Peter Stein, em Paris com Jean Jourdheuil e em Milão com Giorgio Strehler. Em 1995 fundou os Artistas Unidos (verdadeira escola de teatro), exigente companhia que dirigiu até morrer.

Como realizador de cinema integrou a cooperativa Grupo Zero (1975-79), tendo realizado mais de uma dúzia de filmes, entre eles o mítico António, Um Rapaz de Lisboa (2000). Como actor de cinema trabalhou com Manoel de Oliveira, Paulo Rocha, João César Monteiro, Alberto Seixas Santos, Joaquim Pinto, Manuel Mozos, José Álvaro Morais, João Botelho e outros. Da sua filmografia constam filmes sobre diversos artistas plásticos: António Palolo, Nikias Skapinakis, Álvaro Lapa, Sofia Areal, Joaquim Bravo, Ângelo de Sousa e Fernando Lemos.

Deixa-nos dois excepcionais livros de memórias: O Século Passado (2007) e A Mesa Está Posta (2019). Da restante bibliografia consta o libreto de Le Château dês Carpathes de Philippe Hersant. Entre outras, traduziu obras de Pasolini, Goldoni, Pirandello, Brecht, Oscar Wilde, Harold Pinter, H.P. Lovecraft, Georg Büchner, Heiner Müller e Ramón Gómez de la Serna.

Em Maio de 2021 foi doutorado honoris causa pela Universidade de Lisboa.

Muito mais haveria a dizer, mas a morte de um amigo deixa-nos sempre interditos. Até sempre, Jorge.

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domingo, 13 de março de 2022

WILLIAM HURT 1950-2022


Vítima de cancro na próstata, morreu este domingo, na sua casa de Portland, no Oregon, o actor William Hurt. Faria 72 anos no próximo dia 20.

Um dos melhores actores da sua geração, notabilizou-se com Noites Escaldantes (1981), recebendo, quatro anos depois, o Óscar de Melhor Actor Principal pela sua interpretação no filme de Hector Babenco O Beijo da Mulher Aranha, de 1985.

Outros êxitos planetários foram Os Amigos de Alex (1983), Filhos de Um Deus Menor (1986), Edição Especial (1987), O Turista Acidental (1988), Uma História de Violência (2005) e O Bom Pastor (2006).

Além de filmes, fez muito teatro em Nova Iorque. No cinema, mesmo quando fazia papéis secundários, e fez vários ao longo dos mais de 40 anos de uma carreira extremamente exigente, a sua presença era decisiva.

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PEDRO HOMEM DE MELLO


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Fria Claridade de Pedro Homem de Mello (1904-1984), o poeta que escreveu poemas imortalizados por Amália, entre eles o famoso Povo Que Lavas No Rio.

Natural do Porto, nascido no seio de uma família de aristocratas, Homem de Mello passou grande parte da sua vida em Afife.

Foi professor do ensino secundário, subdelegado do Procurador da República e estudioso do folclore nacional. Além de poesia, escreveu ensaios sobre tradições portuguesas e diversas obras para o ensino. Estreou-se em livro com Caravela ao Mar (1934) e recebeu todos os prémios que havia para receber antes de 1974. Colaborou assiduamente na imprensa e na televisão. O Rapaz da Camisola Verde continua sendo um grandes poemas da poesia portuguesa.

Conotado com o Estado Novo, passou a última década de vida sem que a crítica lhe desse atenção. Contudo, David Mourão-Ferreira, Natália Correia e Vasco Graça Moura, para citar apenas três grandes nomes, nunca lhe regatearam elogios.

O poema desta semana pertence a Eu, Poeta e Tu, Cidade (2007), obra publicada pelas Quasi Edições a partir da qual a imagem foi obtida.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, Ângelo de Lima, Pedro Tamen, António Ramos Rosa, José Régio e Antero de Quental.]

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NOVO PATAMAR


Esta madrugada, quando eram 03:45 em Portugal, a base militar ucraniana de Yavoriv, formalmente designada como Centro Internacional de Manutenção da Paz e Segurança, foi vítima de uma blitz de mísseis russos. A base situa-se a 25 quilómetros da fronteira com a Polónia.

Dito de outro modo, a guerra está a 25km da fronteira da NATO. Até ao momento estão identificados 35 mortos e cerca de 150 feridos. As vítimas são de nacionalidade ucraniana, polaca, norte-americana, britânica, alemã, francesa e australiana. Especula-se que no local também estivessem quatro consultores portugueses.

Consta nos círculos russófilos que o CIMPS estaria a servir de base logística para treino e equipamento dos voluntários estrangeiros que estão a chegar à Ucrânia para lutar ao lado do exército ucraniano.

O eco do bombardeamento ouviu-se em Lviv, onde estilhaçaram os vidros de alguns edifícios. Recordar que foi para Lviv, cidade situada a 80 quilómetros da fronteira polaca, que se transferiram todas as representações diplomáticas estrangeiras, cujo staff foi reduzido ao mínimo.

O ataque representa uma sinistra mudança de paradigma na condução da guerra.

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