quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

O GOLPE


O golpe não colou: «Realizado o inquérito, recolhida a prova documental e pessoal necessária ao apuramento dos factos, o MP concluiu pela não verificação do crime de obtenção de vantagem indevida ou qualquer outro, uma vez que as circunstâncias concretas eram suscetíveis de configurar a adequação social e política própria da previsão legal

Alega o MP que não podia ignorar as notícias dos jornais. Portugal está a tornar-se um país perigoso.

A imagem é do Expresso. Clique.

STENDHAL


Hoje na Sábado escrevo sobre O Vermelho e o Negro, a obra-prima de Stendhal (1783-1842). Se as minhas contas estão certas, a presente edição corresponde à sexta tradução feita no nosso país. Iniciada por Rui Santana Brito, entretanto falecido, foi concluída por Helder Guégués. Um trabalho que honra a edição portuguesa. Nascido Henri Beyle numa família burguesa com pretensões aristocráticas, o futuro escritor adoptaria o pseudónimo de Stendhal. Antes disso fez parte dos exércitos de Napoleão (assistiu ao incêndio de Moscovo), foi plenipotenciário do ministério da Guerra e agente duplo. Negado o credenciamento como cônsul em Trieste, o Papa não se opôs que fosse para Civitavecchia. Publicado em Novembro de 1830, O Vermelho e o Negro foi o primeiro dos três romances que fariam dele um nome maior da literatura universal, sendo os outros A Cartuxa de Parma (1839) e Lucien Leuwen, escrito a par dos anteriores, mas só publicado postumamente em 1894. Dividido em duas partes, O Vermelho e o Negro é a história da ascensão e queda de Julien Sorel, um deserdado da sociedade que tentará, por todos os meios, aproveitar-se da Restauração para triunfar. O título é inspirado nas cores da carreira militar (vermelho) e eclesiástica (negro), os dois pólos da intriga. Tudo começa quando Julien, então com 19 anos, é admitido como preceptor dos filhos da família Rênal, notáveis de Verrières. Julien torna-se amante da ‘patroa’, mas o affaire acaba mal. Mais tarde, após uma passagem pelo seminário de Besançon, Julien vai para Paris e seduz a filha do marquês de La Mole, membro da mais alta aristocracia, que o contratara como secretário. A subida na hierarquia social não abafa o profundo rancor de Julien, dando azo ao trágico desfecho. A trama é praticamente decalcada do caso Antoine Berthet, uma cause célèbre de 1828. Nesta edição, o subtítulo original, ‘Crónica do século XIX’, passou para Crónica de 1830. Quando O Vermelho e o Negro saiu, já Stendhal publicara várias obras, tais como estudos sobre Racine e Shakespeare, além do romance de estreia, Armance, (1827), relato da vida nos salões parisienses. Cinco estrelas. Publicou a Guerra & Paz.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

OPERA BUFFA


Ironia suprema: dois foragidos da justiça a invocarem o Estado de Direito.
Clique nas imagens.

NÓ CEGO


Através da rede Signal, parceira da WhatsApp, Puigdemont desabafou com Antoni Comín, um dos acantonados em Bruxelas:

«Estamos viviendo los últimos días de la Catalunya Republicana. Los nuestros nos han sacrificado, al menos a mí. Vosotros seréis consellers (espero y deseo), pero yo ya estoy sacrificado tal como sugería Tardà. [...] El plan de Moncloa triunfa. Solo espero que sea verdad y que gracias a esto puedan salir todos de la cárcel porque si no, el ridículo es histórico. [...] No sé que me queda de vida (¡espero que mucha!), pero la dedicaré a poner en orden estos dos años y a proteger mi reputación. Me han hecho mucho daño, con calumnias, rumores, mentiras, que he aguantado por un objetivo en común. Esto ha caducado y me tocará dedicar mi vida en defensa propia

O advogado de Comín confirmou a recepção das mensagens, às quais o seu constituinte não deu resposta.

A rede Signal é suposta ser mais segura que o WhatsApp mas, como demonstrado neste episódio, só um tolo pode permitir-se a ilusão de driblar a intelligence.

Clique na imagem do jornal catalão La Vanguardia.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

BARCELONA SINE DIE


Em Barcelona, centenas de manifestantes romperam o cordão policial que defendia o Parque de la Ciutadella, em protesto contra o adiamento, sine die, da investidura do próximo Presidente da Generalitat. A intenção é acamparem ali.

Roger Torrent, o Presidente do Parlamento, propôs Puigdemont como candidato único. Mas Puigdemont é um foragido da justiça. E uma investidura à distância (via teleconferência), como o próprio pretendia, seria declarada de efeito nulo nos termos de um acórdão unânime proferido no sábado, dia 27, pelos juízes do Tribunal Constitucional de Espanha. O acto seria considerado nulo e os seus responsáveis incriminados.

Hoje, sem dar conhecimento prévio aos deputados, incluindo os do seu partido, a ERC, Roger Torrent adiou a sessão sine die.

A facção mais exaltada dos independentistas não gostou.

Clique na foto de El País.