Portugal, 25 de Abril de 2020.
sábado, 25 de abril de 2020
25 DE ABRIL
Não tenho paciência para cerimónias oficiais, sejam elas de que natureza forem. A coreografia é medíocre, os discursos não primam pela concisão e as citações de poetas são quase sempre despropositadas. Isto para dizer que, em 45 anos, terei assistido duas ou três vezes a breves passagens das sessões solenes do 25 de Abril.
Hoje foi diferente. Depois das tentativas de boicote, que juntaram gente de vária origem, decidi acompanhar a sessão. E não me arrependi.
Deputados eram 46, um por cada ano de democracia. Convidados não sei quantos eram, talvez fossem 40. Por motivos de saúde, Jorge Sampaio não pôde comparecer. Ramalho Eanes dividiu a tribuna com o cardeal-Patriarca de Lisboa.
Ferro Rodrigues, Presidente da Assembleia da República, começou por pedir um minuto de silêncio em memória dos portugueses falecidos devido à pandemia. Depois sublinhou o óbvio: «Desde 3 de Junho de 1976, a Assembleia da República está em pleno funcionamento. Hoje não foi excepção, hoje não é excepção. A liberdade não está só a passar por aqui, a liberdade é aqui e agora.»
Em seguida falaram deputados de todos os partidos. André Ventura, do CHEGA, quer uma nova República. Destaco Ventura como contraponto à hipocrisia de Telmo Correia, do CDS, que aproveitou a sessão para destilar bílis e fazer chicana. Os restantes cumpriram o protocolo com boas intenções e a tradicional língua de pau.
Por último falou o Presidente da República. De um longo discurso, destaco: «Seria vergonhoso não estar aqui a celebrar o 25 de Abril. Nunca hesitei um segundo. Seria inadmissível não fazer esta celebração. / Esta cerimónia foi um bom exemplo. Também vamos celebrar o 10 de Junho, o 5 de Outubro e o 1.º de Dezembro.»
Telmo Correia, do CDS, abandonou o hemiciclo antes de ouvir o hino nacional. Mas foi para o salão nobre da Assembleia fazer chicana com os media.
Em suma, um separar de águas muito útil.
Clique na imagem de Tiago Petinga.
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14:00
sexta-feira, 24 de abril de 2020
MORO SAIU
Depois de 24 horas de avanços e recuos, Bolsonaro demitiu mesmo Maurício Valeixo, director-geral da Polícia Federal do Brasil.
Em consequência, Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública, demitiu-se: «Nem na Lava-Jato houve tamanha interferência política.»
Valeixo estava a investigar personalidades próximas de Bolsonaro, mas o Presidente afastou-o e, com ele, todo comando da Polícia Federal e vários superintendentes regionais.
Clique na imagem do New York Times.
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15:00
quinta-feira, 23 de abril de 2020
FUMO BRANCO
No Conselho Europeu hoje realizado, os chefes de Governo dos 27 puseram-se de acordo: a ajuda aos Estados tem de ser substantiva. Apesar da resistência dos Países Baixos, foi mesmo criado um Fundo Europeu de Recuperação, dotado com nunca menos de 1,5 biliões de euros, mas podendo chegar aos dois biliões. O Fundo será anexado ao Quadro Financeiro Plurianual.
Como disse António Costa, «se tudo se concretizar, será uma bazuca...» para os próximos três anos.
Nestes termos, no próximo 6 de Maio, a Comissão Europeia discutirá os detalhes, ou seja, saber que fórmula (subvenções, empréstimos, transferências directas) prevalecerá, isoladamente ou em mix.
Outra boa notícia é que os mecanismos de resgate (no valor de 540 mil milhões de euros), aprovados pelo Eurogrupo no passado dia 9, vão estar disponíveis a partir de 1 de Junho.
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18:30
DIA D
Hoje é dia de conselho europeu. Giuseppe Conte, primeiro-ministro italiano, esticou a corda: Ou nos salvamos todos, ou nos afundamos todos. A Itália exige um bilião de euros para apoio aos 27, em regime de dívida perpétua.
Arancha González Laya, ministra espanhola dos Negócios Estrangeiros, glosou o mote: «Ou nos afundamos todos, ou flutuamos todos. Espanha quer flutuar.» Sánchez exige 1,5 biliões de euros.
António Costa considera “razoável” uma ajuda de 1,5 biliões de euros.
Círculos bem informados de Bruxelas admitem que se chegue aos dois biliões, embora metade sob a forma de empréstimo, fórmula penalizadora para países como Portugal, Espanha, Itália, Grécia e França.
O tour de force italiano não deixa margem de manobra aos fundamentalistas do Norte. Mas Conte tem de agir em conformidade: se tudo continuar como até aqui, a Itália deve sair da zona Euro e bater com a porta da UE. Caso contrário tudo não terá passado de uma ópera-bufa.
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11:00
quarta-feira, 22 de abril de 2020
terça-feira, 21 de abril de 2020
TURISMO NACIONAL
No fim de uma reunião com o primeiro-ministro, o presidente da Associação de Hotelaria de Portugal, Raul Martins, afirmou estar a trabalhar para que a maioria dos hotéis portugueses possam começar a reabrir: em Julho os das zonas balneares; em Setembro os de cidade.
Nos dois casos, dotados de selo de garantia emitido pelo Turismo de Portugal de acordo com as recomendações da DGS.
Pergunto eu: então e os de montanha ou de parque florestal ou whatever...?
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18:00
CUF & KITS
Soube-se hoje que os hospitais da CUF estão a cobrar entre 10 e 25 euros pelos kits de protecção dos seus médicos e enfermeiros.
Face ao eco mediático, o Grupo Mello esclareceu que o preço correcto corresponde a 8 euros, nas consultas, e 10 euros, nos exames (mamografias, por exemplo). Os valores em excesso vão, alegadamente, ser corrigidos e devolvidos.
Mas o ponto é outro: nem médicos nem enfermeiros mudam de equipamento de protecção ao longo do turno (seis horas? oito? mais?). Contudo, todos os doentes pagam como se o profissional que os atende estivesse a usar equipamento virgem. Não era mais lógico dividir o custo final pelo número de doentes atendidos?
Também se pode mandar a CUF às urtigas. Mas isso é outro campeonato.
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14:00
EMERGÊNCIA NA CULTURA
No âmbito do concurso que decorreu entre 30 de Março e 6 de Abril, a Gulbenkian vai agora atribuir 1,5 milhões de euros a profissionais da Cultura afectados pela paralisação das actividades artísticas.
Os mais de 1.500 agentes abrangidos foram ontem notificados.
Apoios individuais — 32,3% na música / 30,9% no teatro / 17,9 % nas artes visuais / 16,7 % na dança / 2,2% noutras áreas.
Apoio a estruturas — 37,8% no teatro / 16% na música / 15,1% na dança / 8,4% nas artes visuais / 22,7% noutras áreas.
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10:00
segunda-feira, 20 de abril de 2020
VEM AÍ GOLPE?
Ao mesmo tempo que grandes caravanas automóveis entupiam as ruas do Rio e de São Paulo com buzinões tonitruantes, exigindo o fim das quarentenas, milhares de manifestantes juntaram-se ontem em Brasília pedindo a Bolsonaro a dissolução do Congresso (Câmara de Deputados e Senado) e a substituição do actual Governo por um executivo militar.
Num recado directo aos Governadores que impuseram quarentenas, Bolsonaro disse-lhes: «Todos no Brasil devem entender que estão sujeitos à vontade do povo.»
Ontem, o Brasil contava oficialmente com 2.462 mortos, número que as autoridades de saúde dizem (sob anonimato) dever ser multiplicado por 15. Seriam portanto cerca de 37 mil. Lembrar que o país tem 210 milhões de habitantes.
Na imagem, Bolsonaro fala aos manifestantes de Brasília.
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11:00
domingo, 19 de abril de 2020
TRUMP SABIA?
De uma forma ou de outra, toda a gente acompanhou as teorias de conspiração relacionadas com o surgimento do Covid-19.
Para os que estão sempre prontos a dizer mal da América, teriam sido os americanos a introduzir o vírus na China. A primeira vez que ouvi a tese foi da boca de um professor catedrático que teria recebido a informação, muito bem fundamentada, de um reputado fellow.
Hoje, com atraso, porque o artigo é de terça-feira passada, li a coluna de Josh Rogin no Washington Post, na qual refere o seguinte: os Estados Unidos estão, desde Janeiro de 2018 — atenção: 2018 —, informados sobre pesquisas de risco em coronavírus de morcegos, na cidade chinesa de Wuhan.
Mais: a Casa Branca recebeu duas advertências oficiais sobre o assunto, assinadas por Jamison Fouss, cônsul-geral em Wuhan, e Rick Switzer, conselheiro de embaixada em Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Saúde.
O artigo prossegue com outras revelações melindrosas para a Casa Branca.
Aqui chegados, cada vez se percebe menos o descaso de Washington face à pandemia.
Lembram-se do famoso relatório, que alegadamente ninguém leu, embora estivesse na secretária (mesa) de Bush desde 6 de Agosto de 2001, sobre um hipotético «mas muito provável...» ataque a Nova Iorque com aviões suicidas?
A história repete-se?
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Eduardo Pitta
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15:00
SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE
Convém não esquecer quem votou contra o Serviço Nacional de Saúde, ou seja, contra a Lei n.º 56/79, de 15 de Setembro, vulgo Lei Arnaut.
Embora advogado de profissão, António Arnaut foi, enquanto ministro dos Assuntos Sociais no segundo Governo Soares, o obreiro da maior conquista do 25 de Abril.
O PSD votou contra, incluindo os adversários de Sá Carneiro que votaram como independentes.
A votação foi a 28 de Junho daquele ano, conforme imagem.
Imagem: Diário da Assembleia da República. Clique
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Eduardo Pitta
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