sexta-feira, 31 de março de 2017

TAXAS & TAXINHAS

Lembram-se da histeria do PSD quando a Câmara de Lisboa, a exemplo do que acontece em todas as cidades civilizadas, introduziu a taxa turística em Lisboa? Estão recordados da cena patética de Pires de Lima no Parlamento? Pois bem, agora é o PSD, pela voz de José Eduardo Martins, coordenador do programa autárquico do partido e candidato à Assembleia Municipal, quem propõe o aumento dessa taxa de 1 para 1,5 euros. Em conformidade, Teresa Leal Coelho irá defender esse aumento.

quinta-feira, 30 de março de 2017

JÚLIA NERY


Hoje na Sábado escrevo sobre Ei-los que partem, o novo livro de Júlia Nery (n. 1939), apresentado na capa como sendo o romance da nova emigração portuguesa, embora omita qualquer tipo de razão política. Portanto, nada de desemprego por força do colapso da economia ou do catecismo da Troika. A epígrafe de Ferreira de Castro diz tudo: «Todas as gerações nasciam já com aquela aspiração…» Lília, bióloga, parte porque tem um sonho: tornar a água potável acessível a todos os povos. Nuno, homossexual enrustido, vai-se embora para sair do armário em Notting Hill. Marta para escapar à petite vie. Os outros, auto-designados desenrascas (casos de Valter, Ilse, Paulo, Madalena), partem porque se consideram membros de uma elite sem acesso ao patamar social conforme às suas ambições. Une-os uma amizade de muitos anos. Tiago, o astrofísico que Lília trouxe da Califórnia e acrescentou ao grupo, faz parte de outra galáxia. É no casamento de Ilse com Valter, em Unterreichenbach, na Alemanha, que todos se reencontram, ficando a conhecer Albert, o namorado de Nuno (a revelação da sua identidade sexual é uma surpresa). Marta também veio de Londres, enturmando-se rapidamente com um casal de lésbicas de Unterreichenbach. Paulo e Madalena vieram de Luanda, mas primeiro deixaram o filho em França num curso para estrangeiros. Lília não contou a Ilse que em tempos fora abusada por Valter. Lembram-se do filme de Lawrence Kasdan, Os Amigos de Alex, sobre o reencontro de amigos para um funeral? Aqui, em vez de funeral, é casamento. Ei-los que partem é uma história da diáspora com diáspora dentro. Paulo nasceu em Luanda, de onde a família teve de fugir em 1975, era ele criança, tendo voltado agora como gestor financeiro. São muitas as memórias da descolonização de Angola. Episódios violentos, como os que envolveram a família de Ilse e, em concreto, a sua gestação. Subitamente, tudo rui: Ilse sofre com a personalidade bipolar de Valter; Paulo troca Madalena por uma amante angolana; a promiscuidade de Albert faz da vida de Nuno um inferno; Tiago morre num desastre de avião. Por fim, Ilse, Valter e Madalena voltam para Portugal, Marta impõe-se como artista e Nuno arranja um novo namorado. Lília não desiste de salvar o mundo. Três estrelas. Publicou a Sextante.

quarta-feira, 29 de março de 2017

A CARTA


Tusk colocou no Twitter a foto do momento em que Sir Tim Barrow lhe entregou a carta do Brexit. E o Guardian divulgou o seu conteúdo. Fica aqui a imagem da primeira página. Clique para ler melhor.

DONE


Eram 16:30 de ontem quando Theresa May assinou em Downing Street a carta que será hoje entregue a Donald Tusk, presidente do Conselho europeu, formalizando a saída do Reino Unido da UE. Merkel, Tusk e Juncker foram previamente informados do seu conteúdo. Sir Tim Barrow, embaixador britânico em Bruxelas, entregará a carta no preciso momento (12:30 de hoje) em que a primeira-ministra britânica fará um curto statement na Câmara dos Comuns.

Clique na imagem do Guardian para ver melhor.

terça-feira, 28 de março de 2017

O SICOFANTA

Depois dos socialistas europeus, os eurodeputados dos partidos filiados no PPE (como por exemplo o PSD e o CDS) subscreveram uma carta enviada hoje a Dijsselbloem, exigindo um pedido formal de desculpas e a sua imediata demissão do cargo de presidente do Eurogrupo. E fizeram questão de assinar a carta num acto público, no Parlamento Europeu.

MR KHAN EM BRUXELAS

Antecipando-se aos atritos que se adivinham, Sadiq Khan, mayor de Londres, está hoje em Bruxelas a sensibilizar a Comissão e o Conselho para o futuro dos 3,3 milhões de cidadãos de países da UE que vivem no Reino Unido, e dos britânicos (1,2 milhões) que vivem em países da UE. A preocupação de Sadiq Khan faz todo o sentido. Afinal, Londres é uma realidade autónoma do conjunto do Reino Unido, precisando como nenhuma outra de uma política de imigração flexível, apesar do Brexit.

Amanhã, Theresa May acciona o Artigo 50 com uma breve declaração no Parlamento, ao mesmo tempo que um documento de sete páginas será entregue a Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu. As negociações formais, que devem durar 18 meses, começam em meados de Maio, depois da eleição presidencial francesa.

segunda-feira, 27 de março de 2017

TURQUIA VS GRÉCIA

Se calhar sou eu que ando distraído, mas ainda não vi os media nacionais referirem a escalada de tensão entre a Turquia e a Grécia. O clima azedou com a decisão do Supremo Tribunal grego de rejeitar a extradição de oito oficiais turcos que desertaram para a Grécia na sequência do golpe contra Erdogan. A Turquia voltou a suscitar a questão das ilhas ‘ocupadas’ (em 1996, pelo mesmo motivo, os dois países estiveram à beira de um conflito de grandes proporções), tendo nos últimos dias destacado para o Egeu vários navios de guerra, enquanto aviões sobrevoam diariamente o espaço aéreo grego. O ministro grego da Defesa já declarou: «As forças armadas gregas estão prontas para responder a qualquer provocação.» Chipre pode ser o detonador.

domingo, 26 de março de 2017

SAMPAIO


Num país em que tudo é um jogo de sombras, não me espanta o ‘incómodo’ que tem causado a revelação pública de excertos do segundo volume da biografia de Jorge Sampaio, da autoria do jornalista José Pedro Castanheira. Santana Lopes é o rosto visível dessa incomodidade, tendo chegado ao extremo de desafiar o antigo Presidente para um debate na televisão. Mas Santana tem o mérito de dizer em voz alta o que os outros apenas murmuram. A biografia é excelente: mais de duas mil páginas (1060 + 1063) e centenas de fotografias. O 1.º volume, publicado em 2012, termina com a declaração de Sampaio — Sou o candidato à Câmara Municipal de Lisboa — que em Julho de 1989 deixou o país, e o próprio PS, em transe. O 2.º volume, agora publicado, arranca com a campanha em que defrontou e venceu Marcelo Rebelo de Sousa na autarquia (1990-95), terminando com o fim dos dois mandatos de Presidente da República (1996-2006). José Pedro Castanheira entrevistou cerca de duzentas personalidades e teve acesso ao arquivo pessoal de Sampaio. Não é uma obra hagiográfica. É uma biografia como deve ser: fontes creditadas, notas de contexto, correspondência, índice remissivo, iconografia de vária proveniência, citações, etc. O busílis está nas citações, porque Sampaio, homem de formação anglo-saxónica, não se coibiu de lembrar o que fulano e beltrano (a nata da nata da política portuguesa) disseram em determinadas ocasiões, sobre este e aquele. Mas é assim que se faz a História.

LÚCIA E O COCHICHO

No seu livro mais recente, Amália, uma biografia da cantora que chega às livrarias nos primeiros dias de Abril, Fernando Dacosta faz algumas revelações curiosas. Por exemplo: «Salazar receava vê-la passar-se para a oposição. Amália enfrentou Pinochet recusando uma recepção com que o ditador pretendia cumpliciá-la. Guerrilheiros palestinianos cancelaram um atentado em Beirute porque ela actuava na cidade. A Irmã Lúcia escreveu-lhe a pedir para não cantar O Cochicho da Menina.» Mas como é que a Irmã Lúcia conhecia O Cochicho da Menina? Será o terceiro segredo de Fátima?