sexta-feira, 30 de março de 2018

PLÁGIO, DIZ ELA


Como é que um realizador com os pergaminhos de João Botelho se mete numa alhada destas? Plot: o filme mais recente de Botelho chama-se A Peregrinação, mas pouco tem a ver com Fernão Mendes Pinto. Em compensação, tem tudo a ver com O Corsário dos Sete Mares, romance histórico de Deana Barroqueiro sobre a vida de Fernão Mendes Pinto.

A leviandade não termina aqui. O crítico de cinema Nuno Pacheco, escrevendo no Ípsilon, fala de personagens e cenas inventadas por Deana Barroqueiro como se fossem da Peregrinação. Botelho diz agora que não conseguiu contactar Deana Barroqueiro porque na LeYa ninguém atende telefones. Então ficamos assim.

Os media portugueses todos calados. 

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CADÊ O JE SUIS?


Os charlies brasileiros exigem que a Netflix cancele a série O Mecanismo. Inspirada na Operação Lava-Jato, a série de José Padilha, mazinha, embora divertida, ilustra a cultura de corrupção que move as ‘elites’ empresariais e políticas do Brasil. A Esquerda mais exaltada acusa o realizador e roteirista de assassinato de carácter de Lula e Dilma. Mas Lula e Dilma são engolidos pelo thriller, e tinham ficado melhor na fotografia se não esperneassem como andam a espernear por causa disto (o antigo Presidente ameaça processar a Netflix). Então o je suis é só para francês ver?

quarta-feira, 28 de março de 2018

BELLOW & MONGINHO


Hoje na Sábado escrevo sobre Cartas e Recordações, de Saul Bellow (1915-2005). Seria pleonástico enfatizar a importância do autor, mas, no momento em que chega às livrarias portuguesas o volume que colige parte da sua correspondência, convém recordar o óbvio: algumas correspondências são, de facto, Literatura. É o caso desta. Por razões facilmente compreensíveis, a presente edição não contempla as 708 cartas do original americano. No prólogo, Salvato Telles de Menezes, o tradutor, explica ter privilegiado temas representativos («ideias literárias, ideias político-sociais, religiosas…»), bem como interlocutores familiares ao leitor português, como são os escritores e os políticos internacionalmente conhecidos. Não obstante, no fim de algumas cartas, existem verbetes sucintos das pessoas citadas. A vida íntima não foi esquecida, uma vez que a selecção abrange cartas para os filhos e para as ex-mulheres (casou cinco vezes). E também inclui cópia de uma carta enviada em 1972 à Century Association, um clube elitista de Manhattan, propondo com vigor a não-admissão do homem que, em sua opinião, era responsável pela decadência da Partisan Review. Oriundo de uma família de judeus russos, os Belo, Saul Bellow nasceu no Quebeque, para onde o pai tinha fugido após problemas em São Petersburgo. Foi para Chicago com 9 anos feitos, mas só aos 28 obteve a cidadania americana. Estudou antropologia e sociologia antes de enveredar pela carreira literária. O primeiro romance, Na Corda Bamba (1944) despertou de imediato a atenção de Edmund Wilson, o crítico mais influente da América. Quando, em 1976, recebeu o Nobel da Literatura, era já um autor consagrado no país que adoptou como seu e sobre o qual escreveu de forma admirável. Iconoclasta, adversário confesso do multiculturalismo académico, ficou célebre a boutade, em directo na televisão, acerca de nunca ter lido nada do ‘Proust da Papua-Nova Guiné’… Uma conferência sobre o papel dos escritores na universidade exacerbaria os ânimos. Mas esse era o lado para que Bellow dormia melhor. O arco cronológico desta compilação vai de 1932 a 1982. São muito interessantes as opiniões sobre as mulheres que amou, a obra de outros escritores, os países que visitou e os factos políticos de que foi testemunha. Cinco estrelas. Publicou a Quetzal.

Escrevo ainda sobre Um Muro no Meio do Caminho, de Julieta Monginho (n. 1958), magistrada do Ministério Público e romancista. Em 2016, a autora voluntariou-se para trabalhar num campo de refugiados da ilha grega de Chios. O resultado foi  o seu livro mais recente. O leitor lembra-se logo do verso famoso, Tinha uma pedra no meio do caminho, de Drummond de Andrade. Contra a evidência, Um Muro no Meio do Caminho é um romance. Os escritores têm a capacidade de transmudar a realidade em ficção, e foi o que autora fez, a partir da sua experiência na Grécia: «Este é um livro de ficção. Nenhuma das personagens, excepto J., corresponde a uma pessoa real.» Não será abusivo supor que J. seja a própria autora. As ‘histórias’ são pontuadas com factos concretos e directivas oficiais sobre populações deslocadas: «Angela Merkel decidiu apoiar a visão segundo a qual reenviar as pessoas para a Hungria era logisticamente impossível e moralmente injustificável.» Por intermédio destes inserts, a autora ilustra o pano de fundo da tragédia. Estamos perante um testemunho que nos alerta para a urgência de um problema que arrisca ser a vergonha deste século. Quatro estrelas. Publicou a Porto Editora.

segunda-feira, 26 de março de 2018

A VIDA COMO ELA É

O juiz do Tribunal de Neumünster decidiu que Puigdemont fica em prisão preventiva enquanto decorrer o processo de extradição para Espanha.

MERKEL: A ESPANHA O QUE É DE ESPANHA


Steffen Seibert, porta-voz do Governo alemão, depois de uma reunião com Merkel e vários ministros: 

«O Governo apoia de forma clara as acções do Governo espanhol, de forma a garantir a ordem legal e constitucional. A Espanha é um Estado constitucional e democrático. O conflito na Catalunha deve ser resolvido dentro da ordem jurídica e constitucional espanhola

O mapa mostra o local onde Puigdemont foi interceptado pela polícia alemã logo após ter atravessado a fronteira dinamarquesa. Realizada a partir de Helsínquia, a operação conjunta dos serviços secretos espanhois (CNI) e alemães, presentes na área de serviço onde a BKA efectuou a detenção, terminou com a entrada de Puigdemont na prisão da cidade de Neumünster.

Entretanto, Barcelona está ao rubro. Nas manifestações de ontem ficaram feridas mais de cem pessoas, sendo detidas seis.

MANUEL REIS 1946-2018


Morreu ontem à noite o Manuel Reis, o homem que inventou a movida de Lisboa, trocando o trabalho no check-in da TAP pela refundação do Bairro Alto. Primeiro na Loja da Atalaia, situada actualmente no Cais da Pedra, espaço que deu visibilidade a vários designers, depois, sucessivamente, no Pap’Açorda, no Frágil, na Bica do Sapato, no Lux-Frágil, no Rive-Rouge. Bom gosto, elitismo, modernidade e multiculturalismo foram os traços distintivos. Com o seu desaparecimento, Lisboa fica mais pobre. O corpo estará em câmara ardente no Teatro Thalia.

domingo, 25 de março de 2018

CLARA PONSATÍ


A polícia escocesa aguarda que Clara Ponsatí se entregue às autoridades de livre vontade. Acusada de rebelião, a antiga dirigente catalã fez parte do grupo que, em 27 de Outubro, acompanhou Puigdemont para Bruxelas. Em Janeiro renunciou ao mandato de deputada e partiu para a Escócia, retomando o lugar de professora em St Andrews.

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ACONTECEU


Eram 11:19 quando Puigdemont foi detido na autoestrada A-7, no Estado alemão de Schleswig-Holstein. Puigdemont ia a caminho de Bruxelas, depois de ter estado em Helsínquia. A visita à Finlândia foi interrompida assim que Madrid reactivou o mandado europeu de prisão. As autoridades alemãs já notificaram o Governo espanhol.

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