sexta-feira, 19 de novembro de 2021

ANTÓNIO OSÓRIO 1933-2021


Nunca nos habituaremos à morte de um amigo próximo. António Osório, poeta maior do século XX português, morreu ontem aos 88 anos.

Estreado em livro à beira dos 40 anos, seria só com A Ignorância da Morte (1978) que a crítica dominante fixaria o seu lugar na poesia portuguesa contemporânea.

Várias vezes premiado, com obra traduzida e publicada em Espanha, França e Itália, mas também no Brasil, elogiada por críticos tão diferentes como João Gaspar Simões, David Mourão-Ferreira, Eugénio Lisboa, Joaquim Manuel Magalhães, Vasco Graça Moura, Eduardo Lourenço, Fernando J.B. Martinho, João Bigotte Chorão, Eduardo Prado Coelho, Carlos Reis, Fernando Pinto do Amaral, Diogo Pires Aurélio, Pedro Mexia, António Carlos Cortez, eu próprio, etc. (cito apenas portugueses), Osório é uma das vozes mais marcantes do denominado regresso ao real.

Advogado de profissão, Bastonário da respectiva Ordem entre 1984 e 1986, membro da Academia das Ciências de Lisboa, presidente da Associação Portuguesa para o Direito do Ambiente (1994-96), administrador da Comissão Portuguesa da Fundação Europeia da Cultura, representante de Portugal na Convenção da Haia (1980), presidente da delegação portuguesa no Tribunal Europeu de Arbitragem (com sede em Estrasburgo), fundador da revista de Direito do Ambiente e do Ordenamento do Território, membro do Instituto de Direito Comparado Luso-Brasileiro, director da Biblioteca da Ordem dos Advogados (1995-2002), director da revista de Direito do Ambiente e do Ordenamento do Território, director da revista Foro das Letras, exerceu diversos outros cargos de interesse público.

A Luz Fraterna (2009, Assírio & Alvim) colige a sua obra poética completa.

Até sempre, António.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

NATÁLIA NUNES, CEM ANOS


Passam hoje cem anos sobre o nascimento de Natália Nunes (1921-2018), romancista, contista, dramaturga, ensaísta, memorialista e tradutora. Entre outros, Óscar Lopes cedo destacou a importância da sua Obra, publicada entre 1952 e 2006.

Estreada em 1952 com Horas Vivas: Memórias da Minha Infância, foi sempre, à margem de holofotes mediáticos e respaldo partidário ou corporativo, uma feminista avant la lettre.

Autora de extensa bibliografia em vários géneros, Natália Nunes distinguiu-se sobretudo na área da ficção. Obras como Autobiografia de uma Mulher Romântica (1955), O Caso de Zulmira L. (1967), A Nuvem (1970), Da Natureza das Coisas (1985) e As Velhas Senhoras e Outros Contos (1992) fazem dela um nome de referência na literatura portuguesa do século XX.

Publicada em 1970, a peça de teatro Cabeça de Abóbora é uma farsa demolidora do totalitarismo de Estado.

Na área do ensaio, destaque para As Batalhas Que Nós Perdemos (1973), obra que colige estudos sobre Augusto Abelaira, José Cardoso Pires e Raul Brandão.

Traduziu Dostoievski, Tolstoi, Simonov, Elsa Triolet e Violette Leduc, tendo, durante quarenta anos, colaborado com regularidade nos títulos mais relevantes da imprensa portuguesa.

Foi casada com o cientista, pedagogo e professor Rómulo de Carvalho, mais conhecido pelo pseudónimo de António Gedeão. Exerceu o cargo de conservadora da Torre do Tombo (1957-68) e fez parte da última direcção da Sociedade Portuguesa de Escritores, extinta pelo Estado Novo em Maio de 1965.

Sua filha, a escritora Cristina Carvalho, participa hoje, juntamente com a professora Teresa Sousa de Almeida, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, num colóquio de homenagem moderado pela professora Margarida Braga Neves, do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que terá lugar via zoom, a partir das 18 horas.

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terça-feira, 16 de novembro de 2021

NONSENSE

Com um ano de antecedência, começaram esta manhã as comemorações do centenário do nascimento de José Saramago, nascido a 16 de Novembro de 1922. Hoje faria apenas 99 anos.

Percebo que a efeméride seja assinalada com pompa e circunstância: colóquios internacionais, conferências, reedições especiais, encontros com leitores, debates, etc. Trata-se, afinal, do único Nobel da literatura portuguesa. Mas, a ter de durar um ano, ou mesmo mais, não teria sido lógico começar em Novembro de 2022?

Tudo isto se passa no país que celebrou de forma quase clandestina os centenários de Fernando Namora (2019), Jorge de Sena (2019), Carlos de Oliveira (2021), Maria Judite de Carvalho (2021) e outros, preparando-se para fazer o mesmo, daqui a dias, com Natália Nunes (2021). Escapou Sophia (2019), mas Sophia foi apropriada pelo Regime.

AGITPROP


Começou a campanha pela abstenção. A imagem do Correio da Manhã mete no mesmo saco um estudo norte-americano e a realidade portuguesa.

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segunda-feira, 15 de novembro de 2021

GLÓRIA


Comecei ontem a ver a série Glória de Pedro Lopes, disponível na Netflix desde o passado dia 5.

Com realização de Tiago Guedes, junta cerca de oitenta actores nacionais e estrangeiros, sendo Miguel Nunes, Carolina Amaral, Afonso Pimentel, Victoria Guerra, Marcello Urgeghe, Maria João Pinho, Carloto Cotta, Leonor Silveira, Albano Jerónimo, Joana Ribeiro, João Pedro Mamede, Adriano Luz, Teresa Madruga, Gonçalo Waddington, Inês Castel-Branco, Ivo Canelas, Sandra Faleiro, Pêpê Rapazote, Rita Durão e Rodrigo Tomás alguns deles. A fotografia é de André Szankowski.

O título remete para Glória do Ribatejo, a vila ribatejana do concelho de Salvaterra de Magos (Santarém) onde funcionou a RARET, o centro retransmissor instalado pelos Estados Unidos no nosso país para difundir a Radio Free Europe, o emissor anti-comunista dirigido à URSS e outros países da Cortina de Ferro, apenas desactivado em 1996. Juntamente com a Base das Lajes, nos Açores, a RARET era o osso que garantia o apoio de Washington à ditadura portuguesa.

Ainda só vi três episódios. Para já, numa escala de zero a vinte, daria onze. A trama começa em 1968, em plena Guerra Fria. João Vidal [Miguel Nunes] é um jovem da alta sociedade de Lisboa que foi recrutado pelo KGB após cumprir serviço militar em Angola. Filho de um membro do Governo de Salazar, é ele o epicentro da intriga.

A ver vamos os próximos episódios.

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