Imagem: recorte da Resolução do Conselho de Ministros n.º 86-A/2021, in Diário da República n.º 126/2021, 3.º Suplemento, Série I, de 1 de Julho.
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Imagem: recorte da Resolução do Conselho de Ministros n.º 86-A/2021, in Diário da República n.º 126/2021, 3.º Suplemento, Série I, de 1 de Julho.
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Com os bares e discotecas de todo o país de portas fechadas há 15 meses, a sobrevivência do sector (empregados e proprietários) é um mistério.
Se as estatísticas estão correctas, cerca de 70% da hotelaria nacional esteve encerrada entre 2020 e 2021, conforme os casos, entre seis e oito meses. Porém, algumas unidades fecharam de vez.
Quanto se sabe, um terço dos restaurantes, de Norte a Sul, encerrou a sua actividade logo no ano passado, uns durante o primeiro confinamento, outros no Outono. Mesmo podendo fazê-lo, vários restaurantes do eixo Lisboa-Cascais deixaram de servir jantares, encerrando às 20h (não estou a falar de pequenas unidades familiares, mas de estabelecimentos altamente profissionalizados). Apesar do layoff, os despedimentos sucedem-se.
Alegadamente, o alojamento local sofreu um rombo superior a 60%.
Com tudo isto, era de supor uma correcção de preços e regras. Mas em Portugal acontece exactamente o contrário. Reservas que podiam ser canceladas até à antevéspera, ficam agora bloqueadas com oito dias de antecedência. Os hotéis subiram as tarifas. Tradicionalmente feito no checkout, o pagamento passou a ser efectuado no acto da reserva. A maioria dos restaurantes aumentou os preços. Mesmo nos matos mais desleixados, tudo o que seja campestre, seja lá o que isso for, faz-se pagar ao nível de Mustique (ilhas Granadinas). A TAP ainda não reembolsou passageiros impedidos por lei de viajarem para o Brasil em Fevereiro. E por aí fora.
É bem verdade que as leis do mercado não correspondem, entre nós, ao bom senso.
O Presidente da República não percebe, e eu também não, que o primeiro-ministro tenha que estar em isolamento profiláctico por ter tido contacto com um membro infectado do seu gabinete.
De facto: inoculado com duas doses de vacina há mais de um mês, o PM testou negativo. Diz Marcelo, e diz bem, que isto descredibiliza as vacinas.
Acrescento eu: e quem viaja para Berlim ou Londres, vacinado, teste na mão (redundância), e mesmo assim fica obrigado a quarentena?
Alguém, na OMS e na DGS, terá de explicar tudo muito bem.
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Natural de Lisboa, Fernanda de Castro notabilizou-se na poesia, ficção, teatro, literatura para a infância, memorialismo e tradução. A vulgata política retém o facto de ter sido mulher de António Ferro, mítico editor da revista Orpheu, criador e ideólogo do Secretariado da Propaganda Nacional (o futuro Secretariado Nacional da Informação), mais tarde ministro de Portugal em Berna e Roma. Razões atinentes ao foro da sociologia da literatura explicam o ónus que fez ricochete na obra da autora.
Aos 12 anos acompanhou a mãe ao encontro do pai, oficial da Marinha de Guerra, então colocado como capitão-do-porto em Bolama, na Guiné. Aos 19, de novo em Lisboa, frequenta os salões de Veva de Lima, de quem talvez se possa dizer que foi, na Lisboa buliçosa dos twenties, uma Lady Ottoline Morrell à escala portuguesa.
Foi através de Veva que Fernanda de Castro acedeu ao millieu literário e artístico da época. Nesse mesmo ano (1919) estreia-se com Ante-Manhã, assinado ainda como Maria Fernanda de Castro e Quadros. Em 1921 começa a escrever no Diário de Lisboa. Em 1922 casa por procuração com António Ferro, ela em Lisboa, na igreja de Santa Isabel, ele no Rio de Janeiro, no Consulado-Geral de Portugal. Gago Coutinho é uma das testemunhas. Depois parte ao encontro do marido, que apresentava no Brasil a peça Mar Alto. Sucedem-se recitais (dela) e conferências (dele) no Rio, São Paulo e outras cidades. A estadia foi marcada pelos ecos da Semana de Arte Moderna de São Paulo e pelo convívio com os modernistas brasileiros.
O casal regressa a Lisboa em Maio do ano seguinte, a tempo do nascimento do primeiro filho, o futuro escritor e filósofo António Quadros (1923-1993). Pouco depois mudam-se para o Bairro Alto, ocupando o 1.º andar do n.º 6 da Calçada dos Caetanos, que fora residência do historiador Oliveira Martins e cenário das tertúlias do grupo dos Vencidos da Vida. Fernanda de Castro e António Ferro instalaram-se a seguir à morte da viúva do autor de Portugal Contemporâneo. Tinham como vizinhos o poeta José Gomes Ferreira, os pintores Fred Kradolfer, Ofélia e Bernardo Marques. O prédio ficou conhecido como Soviete dos Caetanos. Mais tarde, Mircea Eliade, Natália Correia, David Mourão-Ferreira, Amália e Ary dos Santos tornam-se habitués.
Em 1937, durante a Exposição Internacional de Paris, Fernanda de Castro priva com Pirandello, Larbaud, Maeterlinck, Colette, Valéry e outros grandes nomes da cultura europeia. São anos de intenso labor, durante os quais, a par de obra própria, traduz Sófocles, Rilke, Pirandello, Ionesco, Katherine Mansfield, etc. Pouco antes de completar 56 anos, Fernanda de Castro fica viúva e, durante seis anos, não publica poesia.
Nesse intervalo, associada a Mariana Avillez, abre em Cascais um pequeno hotel de charme, o Solar D. Carlos, onde Marguerite Yourcenar e Grace Frick estiveram hospedadas dois meses.
Entre outras actividades, deu corpo a um projecto de educação artística para crianças, ‘O Pássaro Azul’, no qual colaboram Sarah Affonso, Eunice Muñoz, Carmen Dolores, Ana Máscolo, Águeda Sena, Júlia d’Almendra, Arminda Correia, Nina Marques Pereira, Germana Tânger e outras. Faz entretanto uma longa viagem a Moçambique, com passagem pelo Parque Selvagem da Gorongosa, de que resultará Fim de Semana na Gorongosa, romance de aventuras para a juventude.
No regresso de Moçambique, cria (1963) o Teatro de Câmara António Ferro. A seu lado estão jovens artistas, encenadores e poetas, entre eles Ary dos Santos, Vasco Wellenkamp, Norberto Barroca e João Perry. Mais tarde, a partir do Castelo de Silves, organiza os Festivais do Algarve, iniciativa em que participam inúmeros poetas e actores, como António Manuel Couto Viana, Isabel Ruth, Ary dos Santos, Manuela de Freitas, João Perry, Lídia Franco, João d’Ávila, além de amigas inseparáveis como Amália, Edith Arvelos e Inês Guerreiro.
A queda do Estado Novo arrastou o silenciamento de Fernanda de Castro, que não abjura o pensamento e, em consequência, paga o preço do desassombro. Em 1981, um acidente vascular cerebral afecta de forma irreversível a sua mobilidade. É por essa altura que começa a ditar as memórias, cobrindo o período que vai de 1906 a 1987 e publicadas em dois volumes.
Em 1990, o Círculo Eça de Queiroz presta homenagem à sua vida e obra, Natália e David organizam na Calçada dos Caetanos uma festa de jubilação, e a Fundação Calouste Gulbenkian atribui-lhe o Grande Prémio de Literatura Infantil.
Com a idade do século, Fernanda de Castro morreu a 19 de Dezembro de 1994. O romance Tudo É Princípio, inédito à data da sua morte, teve publicação póstuma em 2006, ano em que organizei para o Círculo de Leitores as suas Obras Completas, publicadas em dezasseis volumes.
O poema desta semana integra Asa no Espaço (1955), livro escrito durante os anos que viveu em Roma. A imagem foi obtida a partir de Poesia II (1969), edição da autora.
[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos e Vasco Graça Moura.]
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