sexta-feira, 5 de julho de 2019

CIRCULAR CHUMBADA


Com a abstenção do PS, e o voto favorável de todos os partidos, o Parlamento chumbou hoje a construção da linha do Metro que ligaria o Rato ao Cais do Sodré, com estações na Estrela e em Santos.

Em vez disso, os deputados preferem dois prolongamentos diferentes:

— ligação do Areeiro a Braço de Prata, com estações em Chelas e Marvila.

— ligação de Sete Rios a Alcântara, com estação intermédia em Campolide.

A mim continua a fazer-me confusão o desinteresse por Campo de Ourique, que nunca constou de plano nenhum.

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quinta-feira, 4 de julho de 2019

MENASSE & VENTRELLA


Hoje na Sábado escrevo sobre A Capital, do austríaco Robert Menasse (n. 1954), vencedor do Prémio Livro Alemão em 2017. Nascido no seio de uma família judaica, autor de uma obra muito extensa, na ficção e no ensaio, fez agora a sua estreia na edição portuguesa com este romance bem esgalhado sobre o modus operandi da Comissão Europeia. Para o escrever, Menasse instalou-se em Bruxelas, onde passou seis anos a “espremer” altos funcionários da UE — os énarques e os outros —, a consultar arquivos e a ler documentação de índole diversa, em especial os tratados de Maastricht, Schengen e Lisboa. Também estudou os mecanismos de funcionamento da Comissão, enquanto investigava as rotinas e a vida pessoal dos funcionários do edifício Berlaymont, sobretudo os da direcção-geral de Educação e Cultura, um departamento sem dinheiro ou qualquer espécie de influência. A partir daí, ficcionou o ‘Big Jubilee Project’ que teria por objecto colocar as memórias de Auschwitz no centro das comemorações do 50.º aniversário do Tratado de Roma. Misturar o Holocausto com a burocracia transnacional europeia («as nações, as identidades nacionais, tudo isso passou ali a ser uma noção sem efeito») parece-me uma metáfora excessiva, mas temos de a levar à conta de sarcasmo. O mesmo se diga do modo como evoca Musil e O Homem sem Qualidades. Menasse coreografa bem as personagens que decidem a vida dos europeus. Bem vista as coisas, são todos iguais: alemães, gregos, franceses ou húngaros. Os episódios pícaros matizam a narrativa, e têm eficácia instrumental, mas prevalece o juízo reticente. Sirva de exemplo a síntese da adesão austríaca: «A Áustria aderira à UE e durante bastante tempo os representantes dos interesses nacionais não entenderam que lhes fora montada uma armadilha.» Nada que não tivesse dito num livro de 2012 sobre “a fúria” dos europeus. Doravante, ninguém poderá dizer que a União Europeia não inspirou o guião de uma ópera bufa que nem sequer deixa de fora o consabido conflito Norte/Sul, ilustrado pelas divergências entre o presidente da Comissão Europeia e o presidente do Conselho Europeu, homens de nacionalidades diferentes e culturas antagónicas. Quatro estrelas. Publicou a Dom Quixote.

Escrevo ainda sobre História de Uma Família Decente, da italiana Rosa Ventrella. Quem gosta do universo ficcional de Elena Ferrante vai com certeza apreciar esta saga. Não confundir universo ficcional com registo semântico. Em vez de Nápoles, Bari, também no Sul miserável de Itália, mas na outra costa. A Apúlia não é a Campânia, embora os problemas sejam os mesmos. Infelizmente, os desapossados das margens são iguais em toda a parte. Ventrella usa o discurso, sempre fluente, para dar voz às mulheres. Maria, por exemplo. Tem 12 anos, conhecem-na por Malacarne, ferrete da avó Antonietta, e todos os dias sofre o abuso da pobreza. Em plena sala de aula, Pasquale não hesita: «Com a altura que tens estás mesmo a jeito para me abocanhares a pichota.» O trivial, naquele bairro. A tradição tem muita força (eram os anos 1980) e os mais fracos submetem-se à opressão. Romance de formação e, de certo modo, de redenção social, História de Uma Família Decente é uma grata surpresa. Quatro estrelas. Publicou a Dom Quixote.

quarta-feira, 3 de julho de 2019

O ESSENCIAL

A Direita e a a extrema-direita não têm grandes razões para andarem satisfeitas.

Com o veto à nomeação de Frans Timmermans, o Grupo de Visegrado aqueceu-lhes a alma. Mas a realidade crua é esta: não conseguiram pôr Manfred Weber, líder do PPE, a presidir à Comissão Europeia, nem Jens Weidmann, presidente do Bundesbank, a presidir ao Banco Central Europeu.

Chama-se a isto uma derrota em toda a linha.

Portanto, não vale a pena chorar sobre o leite derramado. As escolhas foram cinzentas? Talvez. Mas os falcões foram travados.

UM PORTUGUÊS NA VICE-PRESIDÊNCIA

O Parlamento Europeu tem 14 vice-presidentes. Catorze. É obra! Resta-nos a consolação de saber que um dos eleitos é português, o socialista Pedro Silva Pereira.

E, com 557 votos, foi o segundo mais votado dos catorze. Só a irlandesa Mairead McGuiness lhe passou à frente, com 618 votos.

ITÁLIA GANHA PE


Por 345 contra 322 votos, o jornalista italiano David-Maria Sassoli, 63 anos, membro do Partito Democratico (centro-esquerda), foi esta manhã eleito Presidente do Parlamento Europeu. Houve 37 votos brancos e nulos. A vitória chegou à segunda volta: na primeira, Sassoli obtivera apenas 325.

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terça-feira, 2 de julho de 2019

PM BELGA NO CONSELHO EUROPEU


Charles Michel, 43 anos, membro do partido liberal Mouvement Réformateur, primeiro ministro-belga em exercício (mas demissionário há sete meses), foi escolhido pelos 28 para substituir Donald Tusk como Presidente do Conselho Europeu.

Tal como acontecerá com Ursula von der Leyen, escolhida para substituir Juncker como Presidente da Comissão Europeia, também Charles Michel terá de ver a sua escolha confirmada pelo Parlamento Europeu.

Terá sido para esse lugar que António Costa estava convidado, mas recusou, porque o seu compromisso é com Portugal. Há muito que os rumores circulavam, mas só ontem o primeiro-ministro confirmou a existência do convite para um lugar de topo.

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URSULA


Ursula von der Leyen, 60 anos, oriunda de uma família aristocrática, médica, ministra alemã da Defesa, democrata-cristã, foi escolhida pelos 28 para substituir Jean-Claude Juncker como Presidente da Comissão Europeia. Será a primeira vez que uma mulher ocupa o cargo.

É filha de um antigo director-geral da Comissão, actual ministro-presidente da Baixa Saxónia.

Membro da CDU desde 1990, antiga ministra de Estado, tem larga experiência governativa nas áreas da Defesa, Trabalho, Segurança Social, Família e Juventude.

Natural de Bruxelas, Ursula é casada com um professor de medicina que também é CEO de uma empresa de engenharia médica. O casal tem sete filhos.

Depois do veto do Grupo de Visegrado (Eslováquia, Hungria, Polónia, República Checa) à nomeação do social-democrata Frans Timmermans, Ursula foi a solução.

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LAGARDE NO BCE


Christine Lagarde, 63 anos, francesa, advogada, directora executiva do Fundo Monetário Internacional, foi escolhida pelos 28 para substituir Mario Draghi como presidente do Banco Central Europeu.

Madame Lagarde foi três vezes ministra: Comércio Externo, Agricultura, Economia.

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ANDRÉ CALDAS NA OPART


André Caldas é o novo presidente da OPART, a empresa que gere o São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado. A sua equipa inclui a violinista Anne Vitorino d'Almeida e o economista Alexandre Miguel Santos.

André Caldas, advogado e mestre em História do Direito, é docente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Até hoje, ocupou as funções de chefe de gabinete de Mário Centeno (estava no cargo desde 2015). Na área da Cultura, passou pela direcção da Associação Musical Lisboa Cantat (2001-03), a cujo coro sinfónico pertenceu. E foi ainda um excelente presidente da Junta de Freguesia de Alvalade, cargo que abandonou para ocupar a tempo inteiro o lugar no gabinete do ministro das Finanças.

O facto de sermos amigos não me inibe de manifestar publicamente satisfeito com esta nomeação.

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