Faz hoje 100 anos que nasceu Ruben A., o mais “secreto” dos grandes autores portugueses. Ruben Alfredo Andresen Leitão nasceu em Lisboa (1920) e morreu em Londres (1975), cidade onde viveu entre 1947 e 1952.
Aos 7 anos mudou-se de Lisboa para o Porto, ali tendo ficado até aos 19 anos. Quem leu Os Meninos de Ouro de Agustina Bessa-Luís reconhece-o numa das personagens da quinta do Campo Alegre. Esse intervalo fora de Lisboa coincide com a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, na Universidade de Coimbra.
Em Novembro de 1950, já com obra publicada — contos, monografias históricas, uma bibliografia sobre os Arquivos de Windsor, dois volumes do diário, uma peça de teatro e a biografia de D. Pedro V, rei de quem disse ter sido «o primeiro homem moderno que existiu em Portugal...» —, e sendo leitor de português do King’s College de Londres, Salazar foi peremptório: «O Autor não pode representar Portugal nem ensinar português.» Não obstante, o maluco... (assim lhe chamava o ditador) manteve-se no lugar, que dependia do Instituto de Alta Cultura. Durante esses anos, Ruben A. divulgou na Universidade de Londres autores como Gil Vicente, os modernistas portugueses e Miguel Torga, ao mesmo tempo que fazia conferências em Oxford e Cambridge. Datam dessa época as suas relações com T. S. Eliot, de quem viria a traduzir The Cocktail Party (1949, teatro).
De regresso a Lisboa, casou com Rosemary Bach (mãe dos seus quatro filhos) e fez uma passagem fugaz pelo ensino secundário. Entretanto, torna-se funcionário da embaixada do Brasil, onde permanecerá entre 1954 e 1972, ano em que foi para a administração da Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Antes de morrer ainda ocupará o cargo de director-geral dos Assuntos Culturais do ministério da Educação e Cultura.
Embora publicasse desde 1949, ano em que deu à estampa o primeiro dos seis volumes do seu diário — Páginas —, o essencial da obra literária arranca com a edição de Garanguejo (1954), atingindo o cume com A Torre da Barbela (1964) e Silêncio para 4 (1973). Os três volumes da autobiografia — O Mundo à Minha Procura — serão publicados entre 1964 e 1968. Depois da sua morte chegou às livrarias o romance Kaos (1981), posfaciado por José Palla e Carmo. A obra de historiador é muito extensa, terminando em 1975: A Acção Diplomática do Conde de Lavradio em Londres 1851-1855. Além dos títulos aqui citados, Ruben A. publicou outros romances, livros de contos, narrativas de viagem, peças de teatro, volumes de correspondência de D. Pedro V e ensaios de investigação histórica.
A 26 de Setembro de 1975, um ataque de coração fulminante impede-o de ocupar o cargo de Senior Fellow no St Antony’s College, de Oxford. Tinha 55 anos e vivia então com Maria Luísa Távora. Está sepultado em campa rasa no cemitério de Carreço, perto de Viana do Castelo.
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