sábado, 30 de março de 2019

REVOLTA


Em sinal de protesto contra o adiamento do Brexit, um homem de 44 anos, com a bandeira de São Jorge embrulhada à volta do corpo, passou a noite no telhado do túnel da estação internacional de St Pancras, no centro de Londres, obrigando ao cancelamento de todos os serviços do Eurostar agendados para hoje.

O Eurostar é o comboio de alta velocidade que liga Londres a Paris, Bruxelas, etc. O homem foi entretanto preso esta manhã. Milhares de pessoas ficaram sem transporte. E sem reembolso!

Imagem do Guardian. Clique.

REFERENDOS & PARLAMENTOS


Repetir pela enésima vez: não gosto de referendos. Porém, nos países em que estão consagrados constitucionalmente, têm de ser respeitados.

Em Portugal, os referendos apenas são vinculativos se o número de votantes for superior a 50%.

O que é que tem acontecido? Exemplo paradigmático: a despenalização do aborto. Dois referendos, ambos não vinculativos.

No primeiro, realizado a 28 de Junho de 1998, era Guterres primeiro-ministro e Soares Presidente da República, o número de votantes foi de 31,9% (os restantes 68,1% não votaram). A despenalização foi chumbada por 50,9% dos votantes.

No segundo, realizado a 11 de Fevereiro de 2007, era Sócrates primeiro-ministro e Cavaco Presidente da República, o número de votantes foi de 43,5% (os restantes 56,5% não votaram). Dessa vez, a despenalização foi aprovada por 59,2% dos votantes, apesar da violenta campanha da Direita ultramontana e da Igreja. Mas o resultado continuava não-vinculativo, porque mais de metade dos eleitores recenseados ignorou o referendo.

Com maioria absoluta, e o apoio claro de dois terços dos votantes, o PS levou o assunto ao Parlamento, conseguindo aprovar, por essa via, a despenalização da interrupção voluntária da gravidez realizada por opção da mulher.

Temos de ser coerentes: ou queremos democracia directa (referendos), ou acreditamos e queremos democracia representativa (regime parlamentar). Uma coisa não pode servir de bengala da outra.

Isto remete-nos para o referendo ao Brexit, no qual votaram 72,2% dos britânicos recenseados, ou seja, uma maioria comprometida. Não foram 30 nem 45 por cento, foram 72,2%. O intervalo (3,7%) entre o Sim e o Não foi curto? Um voto que fosse! A democracia tem regras.

sexta-feira, 29 de março de 2019

TRANQUIBÉRNIA


Por 344 contra 286 votos, os Comuns rejeitaram esta tarde, pela terceira vez, o Acordo de saída do Reino Unido da UE. Desta vez a rejeição foi menor, apenas 58 votos de diferença (contra os 230 de 15 de Janeiro e os 149 de 12 de Março), mas por um voto se perde e por um voto se ganha. Para a semana há nova votação. Infelizmente não é anedota.

Lembrar que Theresa May ofereceu a sua cabeça [demito-me se for aprovado], gesto que levou falcões como Boris Johnson, Jacob Rees-Mogg e Dominic Raab (o trio de putativos sucessores) a, desta vez, votarem a favor. Portanto, tudo indica que 12 de Abril seja a nova data do Brexit.

Devia ser hoje. Em 2016, um total de 52% dos britânicos votaram a favor da saída às 23:00 de 29 de Março de 2019. E a vontade desses 17,5 milhões de pessoas não pode ser traída nem tripudiada.

É uma pena que, face à derrota desta tarde, a primeira-ministra britânica não tenha anunciado, naquele exacto momento, em Westminster, que o Brexit ia ser cumprido como decidido em 2016. Ou seja, hoje às onze da noite.

Na imagem, Theresa May, hoje, em Westminster. Clique.

quinta-feira, 28 de março de 2019

OITO VEZES NÃO


O nível de esquizofrenia da mais antiga democracia do mundo ultrapassou todos os limites. As oito votações de ontem traduziram-se em oito chumbos. Nem revogação do artigo 50 (se o fizessem ficariam ao nível do Zimbabwe), nem segundo referendo (como é de uso nas repúblicas das bananas), nem Brexit à norueguesa, nem Brexit soft made by Corbyn, etc., etc, etc., etc. Deprimente.

Não vi em directo, estava a ver o Ballet Nacional da China, no Coliseu do Porto, mas a imprensa da manhã ilustra a tranquibérnia.

Theresa May deve dizer ao país que a data de saída é amanhã, como foi decidido em 2016. Para que serve esperar por 12 de Abril?

E depois de o dizer, marcar eleições gerais. Sair depressa e à bruta é o único caminho digno.

Capa do Guardian, hoje. Clique.

quarta-feira, 27 de março de 2019

BALLET NACIONAL DA CHINA


The Yellow River, coreografia de Chen Zemei, pelo Ballet Nacional da China, esta noite no Coliseu do Porto. As outras duas peças do programa, Coppélia (a abrir) e Carmen (a fechar), talvez por muito vistas, não me suscitaram o mesmo entusiasmo. O Ballet Nacional da China actua em Lisboa a partir do próximo sábado, dia 30.

Clique na imagem.

JOANA EM SERRALVES


Fui a Serralves ver I'm Your Mirror, de Joana Vasconcelos. Gostei muito.
Clique na imagem.

segunda-feira, 25 de março de 2019

I'M YOUR MIRROR


Uma boa notícia, para variar. Clique na notícia do Expresso.

ELEIÇÕES EUROPEIAS


Sondagem da Aximage divulgada hoje pelo Correio da Manhã e pelo Negócios.

Clique no gráfico do Negócios.

LET MY PEOPLE GO


A semana que hoje começa é decisiva para desatar o nó do Brexit. A cimeira de Checkers (a residência de Verão da primeira-ministra britânica), que reuniu Theresa May com os brexiters mais ferozes, foi inconclusiva. Ninguém quer o Acordo estabelecido com a UE. Querem sair sem Acordo. Ponto.

Outra corrente, minoritária, ausente da cimeira mas com voz activa nos tablóides, quer a aprovação do Acordo e a demissão de May. A ver vamos no que isto dá. Hoje haverá nova votação, mas ainda resta saber sobre exactamente o quê.

O honorável Liam Fox sublinhou hoje que, em matéria de Brexit, o Governo não está vinculado às decisões dos Comuns, as quais são meramente indicativas.

Numa manhã de manchetes explosivas, a do Telegraph é exemplar: Boris Johnson diz que está na altura de falar com o Faraó de Bruxelas — Deixe o meu povo partir.

Clique na imagem do Telegraph.

domingo, 24 de março de 2019

EMPATE ABSOLUTO


No próximo 28 de Abril, Espanha vai a votos. Este gráfico mostra os resultados da sondagem divulgada hoje.

Relativamente a 2016, o PSOE dá um salto enorme, elegendo mais 37 deputados, porém insuficiente para a maioria absoluta, que se obtém com 176. A soma do PSOE com o PODEMOS também não chega — são 162.

Em contrapartida, o PP dá um trambolhão: obteria 76 deputados, por contraste com os 137 de 2016.

Entretanto, CIUDADANOS sobe de 32 para 55. Mas a Direita democrática também não consegue a maioria, ficando por 131 lugares.

Mesmo aliada à extrema-direita do VOX, que obteria 31 deputados, não passava de 162. Ou seja, exactamente o número de votos da Esquerda institucional.

Em síntese:

PSOE+PODEMOS = 162 deputados

PP+CIUDADANOS+VOX = 162 deputados.

A única chance de maioria, e mesmo assim por um único lugar, seria uma coligação do PSOE com CIUDADANOS — 177 deputados. Mas seria uma aliança contranatura.

Clique na imagem de El País.