sábado, 18 de dezembro de 2021

EVE BABITZ 1943-2021


Vítima de doença de Huntington, morreu ontem Eve Babitz, artista visual e cronista-mor de Hollywood. Quem alguma vez leu a New York Review of Books, Rolling Stone, The Village Voice ou a Vogue norte-americana, para citar apenas quatro das muitas publicações onde colaborava, lembra-se da prosa vibrante e sarcástica desta mulher que tratava por tu todos os grandes do showbiz, de Elizabeth Taylor a Madona e Jim Morrison, mas também escritores como Joseph Heller, Joan Didion e Bret Easton Ellis, ou a fotógrafa Annie Leibovitz.

Alguns dos livros que publicou, sobretudo os de ensaio e as memórias, dão testemunho de uma voz singular. Obras como Eve’s Hollywood (1974), Slow Days, Fast Company (1977), Sex and Rage (1979), Black Swans (1993), Two by Two (1999) ou I Used to Be Charming (2019) estão traduzidas em várias línguas. Para descreverem com propriedade a cena cultural de Los Angeles dos anos 1960 e 1970, os historiadores do futuro não as poderão ignorar. 

Foi também autora das capas de álbuns dos Buffalo Springfield e outras bandas.

Afilhada de Igor Stravinsky, de quem os pais eram íntimos, Eve tornou-se famosa aos vinte anos, quando Julian Wasser a fotografou nua a jogar xadrez com Marcel Duchamp. Infelizmente, aos 54, ficou com grande parte do corpo queimado: o cigarro que fumava (enquanto conduzia) pegou fogo à saia de nylon.

Em 2019, Lili Anolik publicou uma biografia de Eve, Hollywood’s Eve: Eve Babitz and the Secret History of L.A., demonstrando que Eve não era apenas a rainha do Troubadour.

Clique na imagem.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

EM QUE PAÍS VIVEMOS?

Factos agora conhecidos:

 — Sete militares da GNR de Odemira foram acusados pelo Ministério Público de torturar imigrantes. Os actos de tortura envolveram gás pimenta e foram filmados pelos torturadores.

— Tudo se passou em 2019, sendo comandante-geral da GNR o tenente-general Botelho Miguel, nomeado diretor nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras após o bárbaro assassinato do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk nas instalações daquele serviço no Aeroporto de Lisboa.

Tudo isto envergonha o país. Alguém quer saber?

PRÉMIO PESSOA 2021


Jurista especializado em Direito europeu, administrador da Fundação Oceano Azul, alto funcionário das Nações Unidas entre 1995 e 2002 (entre outros cargos, foi representante de Portugal à Assembleia Geral da Convenção do Direito do Mar e coordenador da Comissão Estratégica dos Oceanos), antigo consultor da Presidência da República para os assuntos do mar, etc., Tiago Pitta e Cunha, 54 anos, é o laureado deste ano com o Prémio Pessoa.

Clique na imagem do Expresso.

COSTA VS RIO


A vida como ela é. Sondagem Aximage divulgada hoje pelo Diário de Notícias, TSF e Jornal de Notícias.

Clique na infografia do JN.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

ROGÉRIO SAMORA 1958-2021


Cinco meses após a paragem cardiorrespiratória que sofreu em Julho, e o manteve em coma, morreu hoje o actor Rogério Samora, um dos mais destacados da sua geração. Tinha 63 anos.

Nos últimos quarenta anos, Rogério Samora fez teatro, cinema e televisão. Entre outros, trabalhou com Filipe La Féria, Carlos Avillez, Fernanda Lapa, Luís Miguel Cintra, Solveig Nordlund, Manoel de Oliveira, Fonseca e Costa, António-Pedro Vasconcelos, Fernando Lopes, João Mário Grilo, Luís Filipe Rocha, Manuel Mozos, Joaquim Leitão, Miguel Gomes e João Botelho.

No ano passado posou nu para a fotógrafa Margarida Dias, autora de um calendário cuja venda se destina a apoiar o Banco Alimentar Contra a Fome.

Clique na imagem.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

LEONOR XAVIER 1943-2021


Hoje é um dia muito triste: soube-se que Leonor Xavier morreu ontem no IPO de Lisboa. Passaram oito anos sobre o dia em que juntou três dezenas de amigos na sua casa de Verão, em Vila Nova do Coito, para nos dizer a todos, com serenidade, que tinha um cancro e seria submetida dali a dias a uma intervenção cirúrgica.

Jornalista, escritora, mulher ecuménica entre as mulheres ecuménicas e nossa grande amiga, a Leonor foi admirável a vários títulos. Culta, dotada de um senso de humor imbatível, grande hostess, progressista no melhor sentido da palavra, pouca gente na vida cultural portuguesa tinha uma cabeça tão arejada como a sua. 

Oriunda dos círculos mais exclusivos do Estado Novo, licenciada em filologia românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, casou com o fiscalista Alberto Xavier, professor da Faculdade de Direito de Lisboa e secretário de Estado do Planeamento no último Governo de Marcelo Caetano. Depois do 25 de Abril, o casal partiu com os filhos para o Brasil onde, depois de uma passagem por São Paulo, se mudaram para o Rio de Janeiro: Alberto Xavier foi dar aulas na Pontífica Universidade Católica e Leonor tornou-se correspondente do Diário de Notícias e colaboradora da revista Manchete

A convite de Soares, Leonor regressou a Portugal em 1987, ano em que conheceu Raul Solnado, com quem manteve durante quinze anos uma união de facto. Em Lisboa, continuando a colaborar no DN, foi redactora da revista Máxima e ocasional colaboradora de muitas outras publicações. Em 1996 foi uma das fundadoras do núcleo português do movimento cristão Nós Somos Igreja, tendo, ainda há dois meses, assinalado os 25 anos da sua actividade no nosso país.

Da obra de Leonor Xavier constam as biografias de Maria Barroso (1995) e Solnado (2003), seis colectâneas de ensaios, crónicas e entrevistas, três romances, dois diários informais — um deles, Passageiro Clandestino, de 2014, sobre o cancro — e o excepcional Casas Contadas (2009), autobiografia dos anos brasileiros. Em data, Há Laranjeiras em Atenas (2019) é o livro mais recente.

O velório decorrerá a partir das cinco da tarde de hoje na Capela do Rato, sendo a missa de amanhã (10:00) celebrada pelo cardeal José Tolentino Mendonça, vindo do Vaticano para o efeito.

Até sempre, Leonor.

Clique na imagem.

domingo, 12 de dezembro de 2021

ARY DOS SANTOS


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Soneto Presente de José Carlos Ary dos Santos (1936-1984), o homossexual politicamente incorrecto que embaraçava o PCP.

Nascido em Lisboa no seio de uma família da alta burguesia com origens aristocráticas, abandonou a casa de família na adolescência. Ainda não tinha dezasseis anos quando se estreou em livro (Asas, 1952), embora a obra canónica comece apenas onze anos mais tarde, ao publicar A Liturgia do Sangue (1963).

Como muitos outros poetas, fez da publicidade a sua profissão. O facto de ter sido um letrista profícuo — escreveu cerca de mil canções — e famoso, e de ter vencido quatro edições do Festival da Canção da RTP, colocou-o à margem da Academia. Contudo, de Amália a Simone, poemas seus são cantados por quase toda a gente que conta na música portuguesa. Morreu de cirrose semanas depois de completar 46 anos.

O poema desta semana pertence a Resumo (1972), edição do autor a partir da qual foi obtida a imagem do poema.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa e Eugénio de Andrade.]

Clique na imagem.