sábado, 3 de junho de 2017

LONDRES. TERROR DE NOVO


Em dois pontos diferentes da capital britânica, primeiro na London Bridge, depois no Borough Market, transeuntes foram deliberadamente atropelados. Para já, vinte feridos. A ponte está encerrada. Tudo se passou por volta das 23 horas. Clique na imagem para ler melhor o comunicado da Polícia Metropolitana.

IRLANDA COM PM GAY


Leo Varadkar, médico, 38 anos, homossexual assumido, filho de pai indiano (médico imigrante) e mãe irlandesa, foi eleito líder do Fine Gael, o partido maioritário irlandês. Por essa razão vai ocupar daqui a dias o lugar de primeiro-ministro da Irlanda.

COINCIDÊNCIAS

Há coincidências tramadas. No momento em que António Mexia é constituído arguido por alegada corrupção activa e passiva e participação económica em negócio, o Público entrevista Jorge Jardim Gonçalves, o fundador do BCP, que aproveita a oportunidade para envolver o CEO da EDP na queda da sua administração, em 2007: «Foram muitos milhões de euros de crédito dados, a partir de 2006, pelo BCP, pela CGD e pelo BES aos grupos que se movimentaram com António Mexia para comprarem acções do BCP.» Note-se o punctum: aos grupos que se movimentaram com António Mexia para...

quinta-feira, 1 de junho de 2017

ARMANDO SILVA CARVALHO 1938-2017


Não sendo uma surpresa para os mais próximos, a morte de Armando Silva Carvalho, ocorrida esta manhã, no Hospital Particular Montepio Rainha D. Leonor, nas Caldas da Rainha, representa um duro golpe na vida literária portuguesa. Poeta, ficcionista e tradutor, deixou uma obra ímpar, de que destacaria Armas Brancas (1977), Técnicas de Engate (1979), Alexandre Bissexto (1983), Lisboas (2000), um dos mais importantes livros de poesia portuguesa do século XX, O Amante Japonês (2008) e A Sombra do Mar (2016), seis títulos que dão a medida do fulgor da sua poesia. Mas também Portuguex (1977), narrativa singularíssima que passou incólume entre os holofotes da desatenção nacional.

Publicado em 2007, O Que Foi Passado a Limpo colige os doze livros de poesia que publicou entre 1965 e 2001. Como a Obra não parou nesse ano, uma reedição acrescentada dos livros posteriores seria bem-vinda. Armando Silva Carvalho exerceu advocacia, foi professor do ensino secundário e publicitário. Entre outros, traduziu Beckett, Voznesensky, Genet, Mallarmé, Cummings e a Duras, bem como a correspondência trocada entre Rilke, Pasternak e Marina Tsvétaïeva. Os livros publicados entre 1965 e 1983 foram assinados Armando da Silva Carvalho. Com Maria Velho da Costa, foi co-autor de um curioso livro de memórias oblíquas, O Livro do Meio (2006). Colaborou extensamente na imprensa e recebeu todos os prémios que havia para receber. Agora acabou. Tinha 79 anos. Até sempre, Armando!

BARRY & McCULLERS


Hoje na Sábado escrevo sobre Dias Sem Fim, o romance mais recente do irlandês Sebastian Barry (n. 1955). O autor não é um desconhecido dos portugueses, tendo a sua ficção sido bem recebida pelo público e pela crítica, o que não acontece com a poesia e o teatro, inéditos em Portugal. Narrativa de fôlego, trata das aventuras e da relação amorosa entre Thomas McNulty e John Cole, companheiros de armas durante a Guerra de Secessão (1861-1865) nos Estados Unidos. Quem conheça a obra anterior, sabe que Dias Sem Fim é o quarto livro do autor sobre a família McNulty, obrigada a cruzar o Atlântico para fugir à Grande Fome na Irlanda. Por volta de 1850, Thomas, o narrador, chegou ao Missouri e alistou-se como voluntário. Tinha então dezassete anos. John, com dezasseis, mas parecendo já um homem, tinha um ar janota e era bisneto de uma índia. Os dois tornaram-se amigos para a vida. Mas a história não começa aí. Antes da experiência militar, ambos arranjaram emprego como taxi girls num cabaré de Daggsville. Falando dos clientes, ou seja, dos mineiros da região, o empregador adverte: «Eles só precisam da ilusão […] nada de beijos, nem abraços, nem sentimentos ou apalpadelas. Só uma boa dança respeitosa.» E foi assim que Thomas e John, dois belos rapazes, se tornaram as primeiras raparigas em Daggsville, verdadeiras fadas da pradaria: «Todas as noites, ao longo de dois anos, dançámos com eles.» Era isso ou morrer à fome. Por sinal, Thomas até se sentia bem vestido de mulher. Quando acabou o tempo do cross-dressing (os rapazes eram agora homens), alistaram-se no exército. A elegância da escrita de Barry faz do romance uma elegia. Nenhuma vulgaridade ou proselitismo belisca a intriga, pontuada de fina ironia e anotações subtis sobre questões identitárias: as idiossincrasias irlandesas de Thomas («O irlandês acha que tem razão e é capaz de matar toda a gente para fazer valer a sua ideia»), o sangue índio de John, virilidade vs ambivalência, etc. Os episódios de batalha são descritos com invulgar fluência, com o seu estendal de medos, hidropisia, escorbuto e varíola. De certo modo, um romance de formação. Quatro estrelas. Publicou a Bertrand.

Escrevo ainda sobre Frankie e o Casamento, terceiro e penúltimo romance de Carson McCullers (1917-1967). Não tendo a mística dos anteriores, que fizeram lenda, não deixa por isso de ser uma vigorosa narrativa auto-referencial. Como a autora, também o pai de Frankie foi proprietário de uma joalharia. A história de Frankie, uma rapariguinha de doze anos, órfã de mãe, atinge o paroxismo por ocasião do casamento do irmão mais velho: «Era a manhã diferente de todas as manhãs que conhecera…» Tudo se passa num fim-de-semana de Agosto de 1944, algures no Sul americano. Frankie é aquilo a que chamamos uma adolescente disfuncional, enredada nos seus fantasmas, casmurra, estranha a convenções, “estrangeira” em todos os lugares. Como de regra, McCullers é imbatível nos retratos psicologistas. A partir de certa altura, Frankie passa a denominar-se F. Jasmine. Hoje, uma personagem com doze anos seria tratada como criança, sem os traços de carácter que McCullers lhe atribui. Mas nos anos 1940 foi possível imaginar Frankie como alguém que fantasiava uma união a três: ela, o irmão que vai casar, e Jasmine, a futura cunhada. A escrita por vezes elíptica permite vários ângulos de leitura. Cinco estrelas. Publicou a Relógio d’Água.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

ANDA TUDO DOIDO?


O Festival Nyansapo, um happening feminista para mulheres negras, agendado para 28 a 30 de Julho, em Paris, foi proibido por Anne Hidalgo. A presidente da Câmara proibiu o festival e reserva-se o direito de processar os organizadores por alegada discriminação. O argumento de Madame Higalgo radica no facto de o evento ser proibido a brancos, salvo um número muito restrito de convidados, os quais nem nessa qualidade teriam acesso a todas as áreas do espaço onde decorreria o evento. Clique na imagem do Twitter para ler melhor.

CENTENÁRIO DE KENNEDY


Celebra-se hoje o centenário do nascimento de John F. Kennedy (1917-1963), assassinado aos 46 anos, em Dallas, naquele que terá sido o assassinato mais dissecado na literatura, no cinema e na televisão. A fracassada invasão da Baía dos Porcos (Cuba), em Abril de 1961, terá sido o principal detonador da sua morte. Kennedy tentou (e, em parte, conseguiu) reformar a América profunda, em especial no tocante ao apartheid de que eram vítimas as populações de cor, dando uma guinada na forma como os segmentos mais conservadores e xenófobos da sociedade americana entendiam os direitos civis. No breve período do seu mandato como 35.º Presidente dos Estados Unidos, ao lado de Jackie, transformou a Casa Branca em Camelot. O rapaz (catorze anos) cinéfilo que eu era acordou para a política no dia da sua morte. Afinal, o homem não tinha sido só o amante de Marilyn Monroe. Kennedy não gostava de Salazar e ainda menos da política ultramarina de Salazar, e nunca fez segredo disso.

domingo, 28 de maio de 2017

O 27 DE MAIO


Assinalando os 40 anos da chacina contra os nitistas ou, se preferirem, contra a Revolta Activa, tragédia que passou à História como «o 27 de Maio», o Expresso dedica oito páginas ao assunto. Sita Valles, em corpo inteiro, é capa da revista. O trabalho inclui depoimentos de vários sobreviventes, bem como o excerto de um discurso de Agostinho Neto. O texto não omite pormenores macabros, nem o previsível número de vítimas, nunca inferior a 30 mil pessoas: «A Amnistia Internacional estima um intervalo entre 20 mil e 40 mil [...] a Fundação 27 de Maio apontou para 80 mil desaparecidos.» O livro dos historiadores Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus é citado de raspão. O que me faz confusão é nenhum dos autores se ter lembrado de citar o nome do ministro responsável pela polícia política, a DISA, nem a ominosa Comissão das Lágrimas e principais inquiridores. O que não falta é bibliografia atinente. Também omite a prisão (e vamos ficar por aqui) de Maria da Luz Veloso, secretária pessoal de Agostinho Neto. Porquê?