sábado, 12 de novembro de 2016

COMEÇOU

Mike Pence, 57 anos, governador do Indiana, actual vice-presidente eleito dos Estados Unidos, foi ontem designado para chefiar o Gabinete de Transição. Primeira tarefa: despedir os quatro mil funcionários que trabalham para a Casa Branca, as agências governamentais e outros organismos estatais. Pence é um conservador radical, cristão evangélico e defensor do Criacionismo. Advoga a proibição do aborto e da procriação medicamente assistida, o fim das pesquisas com células estaminais, o fim dos direitos humanos associados às pessoas LGBT, o fim da educação sexual no ensino, o reforço do Patriot Act, a deportação imediata de imigrantes ilegais (incluindo crianças nascidas nos Estados Unidos), o controlo das fronteiras mesmo para turistas e, last but not least, o fim das leis anti-tabagismo. Até anteontem, o lugar esteve ocupado por Chris Christie, 54 anos, governador de New Jersey.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

TRUMP & EDP


Este mapa mostra, a vermelho, a presença da EDP RENOVÁVEIS nos Estados Unidos, país onde opera desde 2007. Hoje, em Wall Street, as acções da empresa caíram 1,07 USD$. Não é preciso explicar o motivo, pois não?

Além dos EUA e de Portugal, a empresa opera em Espanha, França, Bélgica, Polónia, Roménia, Itália, Reino Unido, Canadá, México e Brasil.

Clique na imagem para ler melhor.

EUROSONDAGEM


Maioria de Esquerda = 54,9%. Sozinho, o PS tem o mesmo score que a PAF. Clique na imagem do Expresso para ler melhor.

LEONARD COHEN 1934-2016


Aconteceu na passada segunda-feira, dia 7, mas só ontem a notícia foi divulgada: Leonard Cohen morreu. Tinha 82 anos. Poeta, compositor e cantor, Cohen pôs-nos todos a cantar Hallelujah, a canção de 1984 que se tornou um hino de dimensão planetária. Canadiano de origem judaica (era praticante), deixou álbuns memoráveis, como, entre outros, Songs of Leonard Cohen (1967), Songs from a Room (1969), Songs of Love and Hate (1971), o meu preferido, New Skin for the Old Ceremony (1974), Death of a Ladies’ Man (1977), Various Positions (1984), I’m Your Man (1988), The Future (1992), Dear Heather (2004), Old Ideas (2012), Popular Problems (2014) e You Want It Darker (2016). Entre 1956 e 2012 publicou catorze livros de poesia e dois romances: The Favourite Game (1963) e Beautiful Losers (1966). Em 2011 recebeu o Prémio Príncipe das Astúrias na categoria Literatura. Desde os anos 1990 que o seu nome era apontado para o Nobel da Literatura.

WEST WING

Por enquanto são especulações, mas, a confirmarem-se, não auguram nada de bom. Sarah Palin, 52 anos, antiga governadora do Alaska e membro destacado do Tea Party, tem estado a ser apontada como futura responsável pela pasta do Interior, ou seja, “ministra” da segurança interna. Trump vai cair na rasteira? Por seu turno, Rudy Giuliani, 72 anos, antigo mayor de Nova Iorque (no 11 de Setembro era o patrão da cidade), seria o próximo Attorney General, ou seja, a figura de topo do sistema judicial. Para a Defesa iria o senador Jeff Sessions, 69 anos, um crítico da NATO que defende o degelo das relações com a Rússia. As Finanças ficariam nas mãos de Jamie Dimon, 60 anos, actual CEO e chairman do JP Morgan. Mas não era Trump que não queria nada com Wall Street? Cereja em cima do bolo: Newt Gingrich, 73 anos, islamófobo assumido, o homem que quis destituir Clinton por causa do alegado blowjob de Ms Lewinsky, parece destinado a ser o próximo Secretary of State, ou seja, o ministro dos Negócios Estrangeiros. Gingrich é um acérrimo defensor do TTIP, o acordo transatlântico de comércio livre que Trump queria rasgar. A ver vamos.

PERDER NA SECRETARIA


Afinal os resultados oficiais só fecharam esta madrugada. Hillary rompeu a barreira de sessenta milhões de votos, obtendo mais 280.646 do que Trump. Não lhe serve de nada, mas os eleitores americanos devem reflectir se é mesmo no figurino de ‘Grandes Eleitores’ que querem continuar. Em 2012, Trump execrou o sistema que agora lhe deu a vitória. Hillary não foi liquidada como proclama a opinião indígena. Isso não faz sentido. Hillary não ganhou a Casa Branca porque o quadro constitucional americano é diferente do europeu. Na Europa teria ganho por um voto, nos Estados Unidos perdeu apesar da vantagem de 280 mil votos sobre Trump. Dito de outro modo, perdeu nos termos da Lei, não perdeu por ser fria ou por ter feito operações plásticas. Clique na imagem para ver os detalhes.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

ZIMLER & LAWRENCE


Hoje na Sábado escrevo sobre o romance mais recente de Richard Zimler (n. 1956), O Evangelho segundo Lázaro. O livro parece uma provocação. Face ao título, um leitor que tenha ouvido falar da Bíblia sem nunca a ter folheado julga estar perante a versão ficcionada de um dos livros históricos da sagrada Escritura. Isso não acontece. Zimler escreve sobre a ressurreição de Lázaro, ocorrida quatro dias após a sua morte. O episódio vem narrado no Evangelho segundo João, e apenas nesse, porquanto os de Mateus, Marcos e Lucas fazem silêncio sobre o controverso milagre. (O Lázaro citado no Evangelho de Lucas é outro.) Este Lázaro que narra o romance de Zimler é aquele a quem o apóstolo João se refere como Lázaro Zebedeu, o de Betânia, alvo de atenção de artistas de várias épocas, sendo Rembrandt e Van Gogh os mais conhecidos. Sabemos que João rompeu as balizas dos Evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas), dilatando de um para três anos o tempo da narrativa. Zimler faz mais, pois preenche as lacunas que João omite. Dito de outro modo: ao jeito de um thriller, explica as circunstâncias da ressurreição de Lázaro. Estamos no domínio da ficção pura, como de regra num romance. Verdade que Zimler parte dos estudos hermenêuticos que a figura do “discípulo amado” (Lázaro) tem suscitado até aos nossos dias. Faz isso de forma envolvente, como demonstrado no texto dirigido ao bem-amado: «Quero que saibas isto […] se alguma vez te sentires receoso ao cair da noite, enrolar-me-ei por trás de ti e abraçar-te-ei no lugar onde se esconde o trovão, tal como sempre fiz.» Amigos desde crianças, a ligação de Jesus a Lázaro teria sido um dos detonadores da conjura que levou à crucificação. Em matéria tão sensível como a de recriar o quarto Evangelho, Zimler calibra bem o plot, indiferente à querela académica que tem rodeado a figura de Lázaro. A fechar, o volume dispõe de um útil glossário de termos hebraicos. O autor optou por grafar os nomes próprios na «versão habitual ao tempo da colonização romana da Terra Santa e não nas versões modernas», embora Lázaro, o narrador, seja designado de duas formas: Eliezer, o nome hebraico, e Lazarus, o equivalente grego. Quatro estrelas. Publicou a Porto Editora.

Escrevo ainda sobre Crepúsculo em Itália, de D.H. Lawrence (1885-1930). A posteridade fixou o seu nome  como autor de O Amante de Lady Chatterley, o romance de 1928 que só em 1960 seria publicado no Reino Unido. Mas Lawrence, homofóbico apesar do Bloomsbury, romancista, poeta e ensaísta, também escreveu livros de viagens. Crepúsculo em Itália foi o primeiro. A recente tradução portuguesa inclui o prefácio de Jan Morris, que o classifica como «reportagem metafísica». Lawrence era então um principiante, facto que não belisca a qualidade da obra. «Concebido como uma série de ensaios» (Morris), relata a viagem que fez com Frieda von Richthofen, sua amante, em vésperas da Primeira Guerra Mundial. O leitor interessado na Itália deve começar pela página 51. O que fica para trás é um texto (eivado de teologia bávara) premonitório do conflito a haver. O pavor do campo e a descrição do lumpemproletariado traduzem bem a proverbial rudeza: «Estes operários italianos trabalham o dia inteiro […] no seio da desintegração, como larvas no queijo apodrecido. […] A recordação do vale do Ticino é para mim uma espécie de pesadelo.» Ou seja, um balde de água fria na tradição arcádica. Quatro estrelas. Publicou a Tinta da China.

PAPA MIGAS


As pessoas, e são muitas, que andam a chorar baba e ranho pela morte do Pap'Açorda original (1981-2016), que agora funciona, mal, no primeiro andar do Mercado da Ribeira, podem, se quiserem, ir ao PAPA MIGAS. Continuam lá os famosos lustres, o reposteiro de veludo, o longo balcão, as cadeiras rosa-de-rosa e o resto. Portanto, só não volta ao n.º 57 da Rua da Atalaia quem não quiser. A gerência mudou de mãos, sim, sendo agora da responsabilidade de um conhecido restaurateur do bairro. Não falo de cor: jantei lá ontem, depois da estreia do magnífico Novo Dancing Eléctrico, de Enda Walsh, no Teatro da Politécnica (Artistas Unidos), e foi uma grata surpresa reencontrar o espaço julgado perdido. Para já, só serve jantares. Gostei francamente.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

A VIDA COMO ELA É

Sejamos claros: o Trump da campanha acabou com a sua vitória. Exemplo muito simples: o homem que andou meses a dizer que Hillary devia estar presa, por corrupção e crimes contra os interesses americanos, é o mesmo que hoje exorta os americanos a saldar «a grande dívida de gratidão» que têm com ela... «pelos serviços prestados ao nosso país.» Não é preciso fazer desenho, pois não?

REGRAS

Como a contagem de votos prossegue, tudo muda a cada minuto. Neste momento, Hillary já ultrapassou Trump em trinta e tal mil votos. Mas a vantagem pode inverter-se. Seja como for, nada disto muda o resultado. A partir do momento em que Trump obteve os 271 Grandes Eleitores necessários à eleição (e ele tem 279), a coisa ficou decidida.

ACONTECEU

Trump ganhou as eleições. No momento em que escrevo [10:47], quando ainda falta apurar resultados, o candidato Republicano detém 279 votos no colégio eleitoral, contra 218 de Hillary. No tocante a votos expressos, Trump tem uma vantagem de 150 mil. Ambos romperam a barreira dos 58 milhões de votos.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

AS DUAS AMÉRICAS


A mais recente previsão do FiveThirtyEight, quando faltam menos de quatro horas para a abertura das urnas na Costa Leste. Aguardar para ver. Clique na imagem.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

ENTRADA DE LEÃO, SAÍDA DE SENDEIRO

James Comey, o director do FBI, veio ontem dizer que afinal não existe evidência de crime, ou qualquer outro tipo de ilegalidade, no conteúdo dos emails de Hillary que a agência sinalizou no fim do mês passado. O assunto tinha sido encerrado em Julho, ilibando Hillary, até que a carta de 28 de Outubro veio baralhar tudo. Agora, em carta enviada ontem aos congressistas, Comey afirma nada haver a apontar à candidata, encerrando de vez as investigações.

A VER VAMOS


A 24 horas da abertura das urnas é esta a previsão do FiveThirtyEight. Mas convém não deitar foguetes antes de tempo. Em termos de votos, a média de todas as sondagens dá 48,4% a Hillary e 45,3% a Trump. Sobre Grandes Eleitores (e são necessários 270 para garantir a eleição), Hillary conta para já com 294 e Trump com 242. A ver vamos.