sábado, 17 de junho de 2017

TRAGÉDIA DE LONDRES

Enquanto a polícia vai actualizando o número de mortos aos bochechos (ontem subiu de 17 para 30), ocultando a muito previsível existência de uma centena, ou mais, de corpos carbonizados, com o argumento da falta de identificação, «que levará meses a concluir», sucedem-se as manifestações da opinião pública contra a forma desastrada como tem estado a ser gerido o processo de apoio às vítimas da Torre Grenfell.

Jeremy Corbyn, o líder trabalhista, não faz a coisa por menos: quer os desalojados instalados nas mansões vazias dos bairros elegantes da cidade. E avisou Theresa May que cinco milhões de libras são peanuts.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

HELMUT KOHL 1930-2017


Helmut Kohl, chanceler alemão durante dezasseis anos, entre 1982 e 1998, morreu hoje. A Alemanha deve-lhe a reunificação, em Outubro de 1990. Mitterrand e Thatcher eram contra. Gorbachev aceitou sem grandes reticências, até porque a Alemanha financiou a fundo perdido a saída dos exércitos soviéticos da RDA. Do outro lado do Atlântico veio o apoio decisivo de Bush pai. Em suma, como alguém disse, foi o homem que acelerou a História.

ATÉ QUE ENFIM

Após oito anos, o Ecofin retirou hoje Portugal do procedimento por défice excessivo. Ainda há palermas a gozar com Centeno?

AXIMAGE

Sondagem da AXIMAGE para o Correio da Manhã» e o Negócios:

PS 43,7% / PSD 24,6% / BE 9,7% / CDU 7,8% / CDS 4,6%.
Maioria de esquerda = 61,2%. PAF = 29,2%.

Em termos de popularidade, a sondagem é clara: 69,1% escolhem António Costa contra os 22,2 por cento que escolhem Passos Coelho. Com o PS à beira da maioria absoluta, a Direita regista os piores resultados desde 1976.

GRENFELL TOWER

Ainda a tragédia de Londres. O Governo britânico tinha em seu poder, há anos, um dossiê sobre a falta de condições de segurança da Torre Grenfell. Gavin Barwell, ministro da Habitação até ao passado dia 8, devia tê-lo na gaveta. Mr Barwell é actualmente chefe de gabinete da primeira-ministra. Não consta que se tenha deslocado ao local e, já hoje de manhã, à chegada ao n.º 10 de Downing Street, recusou falar à imprensa. A Torre Grenfell era gerida pelos serviços de habitação social da Câmara de Londres. Sadiq Khan, mayor de Londres desde Maio do ano passado, não ignorava com certeza a existência do dossiê. O mesmo se diga de Boris Johnson, actual ministro dos Negócios Estrangeiros, que foi mayor da cidade durante oito anos (2008-16). Ora estes cavalheiros não podem assobiar para o lado. Na imagem vêem-se drones a sobrevoar a Torre.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

THIEN & CUMMINGS


Hoje na Sábado escrevo sobre Não Digam Que Não Temos Nada, de Madeleine Thien (n. 1974), escritora canadense de origem sino-malaia. Trata-se de um dos romances mais aclamados dos últimos anos. O título remete para uma passagem da versão chinesa da Internacional, o hino comunista: «O velho mundo será destruído. De pé, escravos, de pé. Não digam que não temos nada.» Com a intriga focada na China que sobreviveu à Revolução Cultural, e a caução de reminiscências autobiográficas, o romance tem todos os ingredientes para ser um sucesso de público e crítica. A sucessão de prémios aí está para o provar.  A partir de Vancouver, a narradora descreve com método o ambiente de uma família de imigrantes, tendo como ponto de partida o massacre da Praça Tiananmen, em Pequim. O pai tinha fugido em 1978 e proibido de voltar à China, mas os brutais acontecimentos de Junho de 1989 levaram-no a partir para Hong Kong, onde acabou por desaparecer. Para as autoridades, ter-se-ia suicidado. É este o detonador do plot, que explica os solavancos que conduziram à China actual. Através de flashbacks recuamos às razões do percurso do pai da narradora e, por sua vez, do pai adoptivo deste, um enigmático professor de música. Mas nem só das sequelas da Revolução Cultural aqui se trata. Thien descreve muito bem as etapas de que Mao Tsé-Tung se serviu para impor a ditadura do proletariado, em especial a reforma agrária, bem como o denominado, e fracassado, Grande Salto, ou seja, a industrialização acelerada que provocaria dezenas de milhões de mortos, a maioria pela fome. Thien não faz proselitismo. A escrita, em regra neutra, tem a desenvoltura dos factos: «Fui recrutado pelo Kuomintang. Felizmente, consegui escapar-me e passar para o exército comunista. Foi pavoroso. Os combates, quero eu dizer. Mas fizemos este país.» É realmente mais fácil perceber a China contemporânea depois de ler Não Digam Que Não Temos Nada. O texto é pontuado por inúmeras remissões culturais (chinesas e ocidentais), bem como por fotos da época versada. Nem umas nem outras servem de ornamento, mas de suporte da narrativa. Notas esclarecedoras encerram o volume. Cinco estrelas. Publicou a Relógio d'Água.

Escrevo ainda sobre O Quarto Enorme, de E. E. Cummings (1894-1962), nome central do Modernismo, poeta, ensaísta, dramaturgo e artista plástico, que em 1922 publicou o relato da sua prisão em França, em Setembro de 1917, no estertor da Primeira Guerra Mundial. Cummings e um amigo foram acusados de espionagem, mas o futuro poeta foi prontamente ilibado, o que não impediu três meses de cativeiro, malgrado diligências diplomáticas conduzidas pelo pai. Tudo se resumia ao espírito anti-guerra que o levou, juntamente com William Slater Brown, a servir como voluntário no corpo de ambulâncias. O episódio teve contornos bizarros, dele resultando O Quarto Enorme, título que remete para a cela comunitária partilhada com dezenas de presos no campo de concentração de La Ferté-Macé. Ilustrado com desenhos do autor, a edição portuguesa segue a versão fixada em 1978 por George Firmage, destinada a «corrigir as omissões e alterações das versões anteriormente publicadas», em especial no tocante à extravagante pontuação: ausência de espaços a seguir às vírgulas e outras diabruras. A narrativa descreve, com mordacidade e muitas vezes em tom pícaro, o quotidiano do campo, sem contemplação pelas autoridades francesas. O leitor que não conheça a poesia de Cummings tenderá a sentir-se perdido. Quatro estrelas. Publicou a Livros do Brasil.

LONDRES


Nos últimos tempos parece que não há nada que não aconteça em Londres. Esta madrugada (01:20) foi um incêndio de proporções dantescas que consumiu um edifício de 24 andares e 120 flats, a Torre Grenfell, na Latimer Rd, perto de Notting Hill, ou seja, na zona oeste da cidade. Quatro famílias portuguesas residiam no local. Seis mortos e 50 feridos hospitalizados, para já, números devem disparar quando forem contabilizados os corpos carbonizados. Um bebé foi atirado do 10.º andar, mas os bombeiros apanharam-no. Clique na imagem.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

OPA, BIEN SÛR


Uma boa síntese. Macron lançou, de facto, uma OPA sobre o sistema partidário francês. Clique na capa do Libé.

A ONDA


Projecção das bancadas na futura Assembleia Nacional francesa. Clique na imagem.

O EFEITO MACRON


Resultado final da 1.ª volta das Legislativas francesas. Clique na imagem.