quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

ALMUDENA GRANDES


Hoje na Sábado

A morte precoce de Almudena Grandes (1960-2021) interrompeu um dos projectos mais ambiciosos da literatura de Espanha, a série de Episódios de Uma Guerra Interminável, terminada com A Mãe de Frankenstein, agora traduzido. Inspirando-se na vida de Aurora Rodríguez Carballeira, uma feminista avant la lettre, Almudena Grandes — formada em História — expõe a forma como o regime de Franco lidava com a psiquiatria.

Aurora foi internada depois de matar a filha de dezoito anos, a famosa Hildegart, menina-prodígio e activista republicana, abatida pela mãe com quatro tiros de pistola. O interesse da autora pela história clínica de Aurora começou no momento em que leu El Manuscrito Encontrado em Ciempozuelos, do psiquiatra Guillermo Rendueles Olmedo.

Como em livros anteriores, também neste se cruzam personagens fictícias e pessoas reais (entre outros, o psiquiatra Juan José López Ibor, que pretendia curar a homossexualidade dos pacientes), factos históricos e situações efabuladas. O manicómio feminino de Ciempozuelos existe, estando associado à tentativa de reconquista da cidade por parte do Quinto Regimento republicano, comandado por Gustavo Durán, amigo de Lorca, Buñuel e Alberti, figura lendária de Guerra Civil de Espanha.

Narrado a três vozes, uma delas a do psiquiatra Germán Velázquez Martín, A Mãe de Frankenstein centra-se nos últimos anos de vida de Aurora, fazendo o relato cru de como a repressão do nacional-catolicismo espanhol se estendia à esfera da saúde mental. Germán, que viveu exilado na Suíça durante quinze anos, regressa ao país em 1954, trazendo com ele métodos humanos e um medicamento experimental, a Clorpromazina. Ali chegado, Germán interessa-se pelo ‘caso’ de Aurora, bem como pela natureza da relação da filicida com a enfermeira María Castejón. É sobre este eixo central que se desenvolve a narrativa, tendo como pano de fundo as diversas faces da ignomínia franquista, como por exemplo o roubo de crianças filhas de republicanos, para serem entregues a famílias católicas. 

Uma extensa nota da autora contextualiza as relações de contiguidade entre ficção e realidade. A útil tábua de personagens que fecha o volume podia (e devia) ter sido inserida a abrir.

Escritos contra a amnésia histórica, os cinco romances que compõem a série de Episódios de Uma Guerra Interminável (o sexto ficou por concluir) estendem à segunda metade do século XX a saga ficcional escrita por Benito Pérez Galdós sobre os anos 1800.

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

CIBERATAQUE


A Vodafone foi ontem à noite alvo de um ciberataque. Embora, ao fim de doze horas, tenham sido recuperados os serviços de voz e os dados móveis 3G, mantêm-se out o serviço de televisão e as redes de dados móveis 4G e 5G.

Um comunicado da empresa esclarece:

«Já recuperámos os serviços de voz móvel e os serviços de dados móveis estão disponíveis exclusivamente na rede 3G em quase todo o país. Infelizmente, a dimensão e a gravidade do acto criminoso a que fomos sujeitos implica para todos os demais serviços um cuidadoso e prolongado trabalho de recuperação. [...] Temos na Vodafone Portugal e no Grupo uma equipa experiente de profissionais de cibersegurança que, em conjunto com as autoridades competentes, está a realizar uma investigação aprofundada para perceber e ultrapassar a situação

Depois dos ciberataques ao Expresso, que inutilizou o site do jornal e todos os seus arquivos, à SIC e à revista Sábado, chegou a vez da Vodafone.

Imagem obtida hoje às 09:45h. Clique.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

ÂNGELO DE LIMA


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi o mais famoso poema de Ângelo de Lima (1872-1921), o simbolista que, tal como seu pai — o poeta Pedro de Lima —, morreu louco.

Natural do Porto, Ângelo de Lima nasceu no seio de uma família burguesa. Frequentou o Colégio Militar de Lisboa, de onde foi expulso, e a Academia de Belas Artes do Porto. Em 1891, integrado numa expedição a Manica e Sofala, cumpriu serviço militar em Moçambique.

Além de poeta, foi também pintor. Tendo poemas publicados em vários jornais e revistas literárias, uma delas o n.º 2 de Orpheu (1915), não publicou nenhum livro em vida. A sua breve Autobiografia foi publicada em 1992. O aparecimento da obra em volume deve-se a Fernando Guimarães, que em 1971 publicou as suas Poesias Completas.

Em 1894 foi internado no Hospital do Conde de Ferreira, no Porto, por alegadamente manter relações incestuosas com uma filha natural de seu pai. Teve alta ao fim de quatro anos, indo então viver para o Algarve. Em Dezembro de 1901, por ter dito um palavrão, foi preso no Teatro Dona Amélia [actual Teatro de São Luiz], de Lisboa. Internado no Hospital de Rilhafoles, ali permaneceu até morrer.

O poema desta semana foi publicado em várias revistas literárias a partir de 1900. A imagem pertence a Século de Ouro. Antologia Crítica da Poesia Portuguesa do Século XX, organizada por Osvaldo Manuel Silvestre e Pedro Serra, publicada em 2002 pela Cotovia e Angelus Novus.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto, Alexandre O’Neil, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira e Miguel Torga.]

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