sábado, 26 de janeiro de 2019

ISTO ANDA TUDO LIGADO


A instrução do processo Operação Marquês começa depois de amanhã, dia 28. Hoje, o Expresso faz manchete com uma revelação que pode tramar o referido processo: se, como revela o jornal, a investigação policial a Sócrates foi despoletada em Abril de 2013 por um alerta da Caixa Geral de Depósitos, significa que foi anterior à abertura oficial do processo. A ver vamos.

Ontem, a RTP estreou a série Teorias da Conspiração, realizada por Manuel Pureza, escrita por Paulo Pena e Artur Ribeiro, com excelente fotografia de Vasco Viana, sound design e produção musical de Elvis Veiguinha e um cast homérico de actores, de que destacaria Rúben Gomes, Carla Maciel (os protagonistas), Gonçalo Waddington, Miguel Loureiro, Rui Morisson e André Gago.

Para já, o 1.º episódio detém-se na queda de Jardim Gonçalves à frente do BCP, o banco que na série se chama BPC.

Na imagem, Pedro Carmo, o actor que faz de Sócrates. Clique.

EMA DEIXOU LONDRES


Em Londres, ontem foi o último dia da Agência Europeia de Medicamentos. Foram arriadas as bandeiras dos 28 Estados-membros e desocupado o edifício de Canary Wharf.

Um total de 900 técnicos e funcionários preferiram o desemprego à mudança para Amesterdão (cidade escolhida para acolher a agência), onde a EMA funcionará a partir da próxima segunda-feira.

«Perder a sede da Agência Europeia de Medicamentos é uma perda significativa para Londres e para o Reino Unido», disse Simon Fraser, vice-presidente de Chatham House.

A 63 dias do Brexit, este é o acontecimento mais marcante do atribulado processo em curso.

Imagem: tuíte da EMA, vendo-se as bandeiras dobradas. Clique.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

BARÃO NEGRO


A RTP-2 tem estado a transmitir a série francesa Baron Noir / Barão Negro. Ao pé disto, os episódios mais sórdidos da política portuguesa são peanuts. A segunda temporada começou ontem.

Inspira-se na vida política francesa da última década: corrupção, nepotismo, escândalos, défice excessivo e UE, direitização galopante da sociedade, regressão de direitos sociais, financiamento ilegal de partidos, presidenciais de 2017.

Conta com actores/actrizes conhecidos nos papéis de Emmanuel Macron (a actriz Anna Mouglalis), François Hollande (Niels Arestrup), Manuel Valls (Hugo Becker), Jean-Luc Mélenchon (François Morel), Nicolas Sarkozy (Michel Voïta), Marine Le Pen (o actor Patrick Mille) e outros. Centra-se na figura de Philippe Rickwaert (Kad Merad), o barão negro que não é outro senão Julien Dray, antigo assessor de Mélenchon. Rickwaert é a eminência parda da série.

Todas estas figuras têm nomes fictícios: Macron é Amélie Dorendeu, Hollande é Francis Laugier, Valls é Cyril Balsan, Mélenchon é Michel Vidal, Sarkozy é Jean-Marc Auzanet, etc. Cito estes por serem facilmente identificáveis, mas quem conheça bem a política francesa descobre outros nesta teia ficcional bem urdida. Escrita por Eric Benzekri e Jean-Baptiste Delafon, conta com um naipe de intérpretes excelentes. Oito episódios cada temporada.

Clique na imagem.

CRISTINA EM BELÉM

Esta manhã, no famoso programa da SIC, Lili Caneças foi directa ao ponto: como as coisas estão, Cristina Ferreira pode muito bem chegar a Presidente da República. Tiras um curso de ciência política e está feito. Para lá caminhamos. Não é preciso fazer o desenho, pois não?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

LITTELL & SMITH


Hoje na Sábado escrevo sobre Uma História Antiga, de Jonathan Littell (n. 1967), a nova versão, em sete capítulos, do díptico de 2012. Quando, em 2006, Littell publicou As Benevolentes, venceu, entre outros, o Goncourt e o Grande Prémio de Romance da Academia Francesa, assim monopolizando todos os holofotes dos dois lados do Atlântico. Só em França, o romance vendeu um milhão de exemplares. Filho de escritor, Littell nasceu em Nova Iorque, estudou em França, mas regressou a Nova Iorque, onde escreveu o primeiro livro, uma novela cyberpunk, além uma série de ensaios polémicos sobre Bacon (o pintor), as guerras que devastaram a Síria, o Congo, a Tchechénia, o Afeganistão e a Geórgia, as crianças-soldado do Uganda — acerca das quais realizou em 2015 o documentário Wrong Elements —, os serviços secretos russos, o activista da extrema-direita belga Léon Degrelle, etc. Agora, esta nova versão de Uma História Antiga, não chegando a ser desastrosa, fica muito aquém dos mínimos exigidos a um autor desta envergadura. Os sete capítulos correspondem a diferentes variações do mesmo tema: sexo, dominação e poder. O narrador muda de género à medida que a narratriva progride. Fiel a si próprio, Littell descreve cenas de sexo em doses maciças, por norma em contexto de grande violência. Relações humanas, diz ele, no tom sobranceiro da prosa desta vez tão francesa. Littell entretém-se a ilustrar aquilo a que Freud chamou ‘conteúdo manifesto’ (nos sonhos) e ‘conteúdo latente’, sobrepondo ambos: «Um outro ânus estava mesmo junto do meu rosto e eu estendi a língua para o lamber […] Quando acordei, uma luz fria irradiava pelo quarto.» A piscina é a metáfora deste récit à maneira de Burroughs (o autor de Naked Lunch surge em cada frincha), o qual, ao contrário do original, substitui interditos por subterfúgios. O que pretende Littell? Transpor para o quotidiano das pessoas comuns o horror dos conflitos de que tem sido testemunha privilegiada? Sexualizar os Carnets de Homs, relato da viagem clandestina que fez à Síria? Afinal, nada do que relata é estranho às pessoas comuns. Com mais ou menos transgressão, estamos a falar de trivialidades. Duas estrelas. Publicou a Dom Quixote.

Escrevo ainda sobre Inverno, segundo volume da tetralogia das estações do ano, da escocêsa Ali Smith (n. 1962). Activista política e defensora dos direitos LGBTI, foca-se agora nas consequências do Brexit e na deriva populista encarnada po Trump, «um presidente norte-americano que tem por hábito comparar mulheres a cadelas [e que] encoraja os Escuteiros da América a vaiar o último presidente e a vaiar o nome da sua própria adversária nas eleições do ano passado.» Em Smith, nada é linear: a narrativa errática e os monólogos interiores permitem todo o tipo de digressões. O real (um deputado britânico a ladrar para uma colega de etnia diferente) pode ser surreal. Reflexões em torno de Cimbelino, de Shakespeare, servem de metáfora ao Brexit: «Uma peça sobre um reino assente no caos, na mentira, no exercício tirânico do poder…» Certa acumulação de referências sociais, como os direitos dos refugiados, as mudanças climáticas, as incertezas do pós-Brexit, o domínio das redes sociais, o fascismo subliminar, etc., tenderiam a fazer de Inverno um panfleto, não fosse o caso de Smith ser uma autora prodigiosa. Quatro estrelas. Publicou a Elsinore.

O DIA DA RAÇA

Num dos anos em que exerceu o cargo de primeiro-ministro, Cavaco convidou (e ele aceitou) Miguel Esteves Cardoso a escrever as Grandes Opções do Plano. Não vou comparar MEC com JMT. Mas o nonsense é da mesma ordem de grandeza. E o ano passado foi Ricardo Araújo Pereira quem esteve nas Nações Unidas, a representar a língua portuguesa, no âmbito das comemorações do Dia de Portugal. A lógica é a mesma, e não me admiraria ver Cristina Ferreira a presidir às comemorações no próximo ano. Eu, como considero que o Dia da Raça devia ter sido extinto pela democracia, em vez de lhe mudarem o nome e meterem os emigrantes no pacote, também considero pouco edificantes estas nomeações. Mas cada um sabe de si.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

EM QUE FICAMOS?

A lei manda retirar condecorações a quem foi condenado. Acho pífio. Desde quando um castigo retrocede? Mas é o que há. Ora bem. Ronaldo foi condenado por um tribunal de Espanha a pagar 18,8 milhões de euros por fuga ao Fisco.

Agora, Marcelo quer alterar a lei para não retirar ao jogador as condecorações atribuídas.

Mas então têm de fazer o mesmo com os outros todos. Certo?

domingo, 20 de janeiro de 2019

COLÓQUIO-LETRAS 200


A Colóquio-Letras chegou ao número 200. Sendo colaborador da revista da Fundação Calouste Gulbenkian desde o n.º 54, ou seja, desde Março de 1980, dá-me especial satisfação ver que a revista resistiu.

Este número abre com um dossiê dedicado ao centenário do nascimento de Jorge de Sena, de que fazem parte três extensas cartas, uma delas reproduzida em fac-símile, dirigidas a Gastão Cruz pelo autor de Peregrinatio ad Loca Infecta. Quem quiser saber o que Sena pensava da terceira série de Líricas Portuguesas, antologia organizada por si (e reeditada em versão aumentada), descobre novidades em duas dessas cartas.

Desta vez não há poesia, mas um conto de Marco Lucchesi, um in memoriam de Luís Amaro, bem como os habituais ensaios, recensões críticas, notas & comentários, ilustrações de Rui Sanches, um texto de Ramalho Eanes (sobre Sena), etc. Nuno Júdice e Ana Marques Gastão estão de parabéns.

ERA UMA VEZ EM LOURES

A Câmara de Loures, presidida por Bernardino Soares (PCP), fez uma adjudicação directa para serviços de manutenção, tais como substituição de lâmpadas, limpeza de vidros e troca de cartazes. Quem ganhou essa adjudicação? Um indivíduo que é genro do secretário-geral do PCP.

Desde 2015, a autarquia de Loures pagou mais de 150 mil euros por esses serviços. Por exemplo, só em Outubro de 2018 pagou onze mil euros pela mudança de oito lâmpadas e dois casquilhos. Bernardino Soares diz que são as regras do mercado. Ele lá sabe.

Repetir cem vezes: são as regras do mercado.

A TVI fez uma reportagem detalhada. Bernardino insiste com o mercado, mas não apresenta documentos que fundamentem a escolha e os gastos de marajá. O PCP reagiu com um comunicado ideológico, como o BE fez no auge do Caso Robles. E depois admiram-se com o triunfo dos porcos.