sábado, 9 de junho de 2018

ÁREAS DE SERVIÇO


Nas autoestradas estamos razoavelmente servidos de áreas de serviço. Melhores que as de Espanha, por exemplo. Mas, para mal dos nossos pecados, descobri ontem (e só ontem porque nos últimos dois anos temos evitado a A1, optando pela A8) que a de Santarém deixou de ter terminais de multibanco, deixou de vender jornais, revistas e lotaria, a loja deixou de vender gelados, o balcão dos cafés fechou, e no self-service, que reduziu a oferta para um terço, não se pode comer um hambúrguer depois das 14h. Isto não é uma anedota. Infelizmente é a realidade. As empregadas explicaram que a gerência mudou em Janeiro, em todas as áreas da A1, sendo a empresa comum. Cartelização, portanto. Só parámos nesta, que por acaso era a melhor de todas antes da mudança. Não faz sentido sob nenhum ponto de vista. Estas coisas, que deviam interessar os jornais, nunca são publicamente discutidas. E deviam.

Esta foto não é de Santarém. Foi tirada por mim mas nem sequer no nosso país. Era assim que as áreas de serviço da A1 deviam ficar: vazias. Uma área que não presta serviços básicos como multibanco e venda de jornais e revistas, serve para quê? Estranho capitalismo. Clique na imagem.

DA FAMA

O foguetório mediático é um ersatz medíocre do reconhecimento crítico. Escrevi sobre isto mais de uma vez. Por isso, continua a surpreender-me o número dos meus pares que, já não tendo 18 anos, sofrem com a desatenção dos media. Não vale a pena. Já não valia no tempo em que uma plêiade de jornalistas culturais (Alexandra Lucas Coelho, Ana Marques Gastão, António Mega Ferreira, Clara Ferreira Alves, Fernando Assis Pacheco, Fernando Dacosta, Francisco Belard, Francisco José Viegas, Isabel Coutinho, Luís de Miranda Rocha, Maria Augusta Silva, Tereza Coelho) honrava o métier e, por maioria de razão, agora que o jornalismo cultural foi extinto. Este agora tem 20 anos. A importância do foguetório mediático traduz-se na inconfidência que passo a relatar.

Sendo obrigado, todos os anos, a desfazer-me de livros para os quais não tenho espaço em casa, encaminho-os para instituições de solidariedade social. Um dos critérios de escolha assenta em desfazer-me de obras que os jornais, e alguns intelectuais públicos, em determinada altura, consideraram fundadores de uma nova literatura. Terá sido aí que nasceu o termo incontornável. Encheram-se páginas broadsheet com retratos e loas. Lixo. Nenhum daqueles livros acrescentou nada. E o espaço faz-me falta.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

ANTHONY BOURDAIN 1956-2018


Suicidou-se hoje Anthony Bourdain, o chef roqueiro que a televisão tornou mundialmente conhecido. Bourdain foi encontrado enforcado, hoje de manhã, pelo seu amigo Eric Ripert, no quarto que ocupava em Le Chambard, um exclusivo hotel de Kaysersberg-Vignoble, a 75 quilómetros de Estrasburgo. No próximo dia 25 faria 62 anos.

Na imagem, Bourdain e António Lobo Antunes, no Bairro Alto, em 2011. Clique

quinta-feira, 7 de junho de 2018

MÁRIO DE CARVALHO


Hoje na Sábado escrevo sobre Burgueses Somos Nós Todos ou Ainda Menos, de Mário de Carvalho (n. 1944). Tomando de empréstimo um verso de Cesariny, o autor juntou onze contos novos nesta colectânea. Estamos de volta à comédia humana conforme Balzac a formatou. Valor acrescido, neste caso, uma vez que é de nós que o autor trata. Perdido o lastro marxista do opróbrio, o que é hoje um burguês? Um trabalhador com pelo menos três salários mínimos no bolso, apetência por tectos falsos e WC social com música ambiente? Papás ciclistas com a ninhada a tiracolo? Gestoras obcecadas com o próximo team building…? As mulheres que o narrador nos apresenta põem os cornos aos maridos, mesmo as que o fazem por omissão. Algumas, como Leonor, praticam intercaladamente, ora com um magano desempoeirado, ora com um relapso. Afinal, Leonor «presisava de folguedo, mas também de drama. Não era uma alma simples…» O cinismo é de regra, mas não há outra forma de dizer as coisas. As boas intenções dão má literatura, e estes contos podem ser acusados de tudo excepto de deliquescência. Sirva de exemplo O fim da lista, texto amargo, porém isento de melodrama. Na realidade, o fim da linha, com flashback jubilatório: «os tempos em que a relva do Estádio Universitário era afago de abraços espojados…» Na sua exactidão, terrível a imagem de Luísa Fróis em contraluz. Como disse um dia Montherlant, «O mundo dos que vão viver e o mundo dos que vão morrer não tem medida comum.» Sob a fina camada dos sketches passionais que a maioria dos leitores vai reter, é sobretudo de envelhecer que este livro trata. O excelente Por onde tens andado? talvez seja o exemplo óbvio porque nem tudo se expõe com igual clareza. São muitos os temas ilustrados. Destaco a engenharia social, o sexo, doença, o arrivismo, o refluxo ideológico, a fraude bancária (em Transes bancários, como não ver o transe do Banco Privado Português?). Esgalhados em português de lei, estes contos são quase todos magníficos. Cinco estrelas. Publicou a Porto Editora.

terça-feira, 5 de junho de 2018

PSOE NA MONCLOA


Este é o núcleo duro do Governo do PSOE. De cima para baixo e da esquerda para a direita: Sánchez, o Presidente; Carmen Calvo, vice-presidenta, com os pelouros da Igualdade e das relações com a Corte; José Luis Ábalos, ministro do Fomento; María Jesus Montero, ministra da Fazenda; Teresa Ribera, ministra do Ambiente; Josep Borrell, ministro dos Negócios Estrangeiros; Margarita Robles, ministra da Justiça; Meritxell Batet, ministra da Administração Territorial; Pilar Cancela, ministra do Interior. Faltam outros nove.

Carmen Calvo, 60 anos (a partir de dia 7, quinta-feira), vice-presidenta, catedrática em Direito constitucional, tem sido responsável pelas políticas da Igualdade no PSOE. O novo MNE, Josep Borrell, 71 anos, várias vezes ministro, foi vice-presidente do Parlamento Europeu. É catalão anti-independência e um declarado inimigo de Puigdemont.

Clique na imagem de El País.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

RACISMO NA FEIRA DO LIVRO


Não assisti, mas confio no relato de Bárbara Bulhosa. Sábado, um debate sobre racismo, organizado pela editora Tinta da China a pretexto do livro Racismo no País dos Brancos Costumes, da jornalista Joana Gorjão Henriques, foi sabotado por uma assalariada da APEL, de seu nome Beatriz Reis. Fardada com uma camisola da associação, a mulher referiu-se aos membros da mesa (Ana Tica, Beatriz Dias, Mamadou Ba, Raquel Rodrigues e a autora do livro) como «esta gente», várias vezes os interrompeu com comentários de mau gosto e, a dez minutos do final da sessão, interpelou Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo, com um intempestivo «Vê lá se te despachas!» A sessão terminou ali. A mulher continuou: «Com a Tinta da China é sempre isto, quem julgam que são?» Isto no meio de um «chorrilho de insultos». Abominável.

Bárbara Bulhosa apresentou queixa, naturalmente.

A foto foi roubada do seu mural do Facebook. Clique