sábado, 28 de abril de 2018

CASAS

Entrevistada hoje pelo Diário de Notícias, Assunção Cristas diz:

«É mentira que a lei de 2012 desprotegesse as pessoas com mais de 65 anos [...] Sem acordo, o contrato continuava vitalício [...] Há casos de senhorios mal formados que se aproveitaram do desconhecimento dos inquilinos. [...] Deve ser feito um levantamento das pessoas enganadas que vão ser despejadas

Ora bem, o que a líder do CDS não explicou, e Fernanda Câncio não perguntou, foi o seguinte — «E o processo de despejo avançou com vício de forma?»

Quem decreta o despejo? Um juiz ou o funcionário de turno? Se o processo tem lacunas, é nulo. Ou não será?

sexta-feira, 27 de abril de 2018

BDSM


A esquizofrenia talvez explique o súbito fascínio dos media portugueses por Yanis Varoufakis, o homem que mergulhou a Grécia no estado em que se encontra. Sejamos claros: foi a sua actuação desastrosa, um compósito de atrabílis, pose e nonsense, que deu azo à intolerância da UE, do BCE e do FMI. Alvo de desprezo e chacota por parte de largos sectores da opinião pública europeia, Varoufakis saiu pela esquerda baixa ao fim de cinco meses como titular das Finanças. Tivesse ele tido tomates para impor a solução que em 2015 esteve por um triz, ou seja, a saída da Grécia da moeda única, e teria legitimidade para dizer os disparates que diz. Continuavam a ser disparates, mas proferidos por alguém com autoridade. Enquanto os gregos sofrem toda a sorte de restrições, Varoufakis renunciou em 2015 ao lugar de deputado (o circuito Helena Rubinstein dá outra tusa). Incapaz de perceber a solução portuguesa, atordoado com o facto de Centeno presidir ao Eurogrupo, constrói narrativas paroxísticas para caucionar fantasias. Os seus aliados portugueses bem podem limpar as mãos à parede.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

LÉSBICAS


Como em todos os 26 de Abril, celebra-se hoje o Dia da Igualdade Lésbica, e o Parlamento Europeu promove uma sessão sobre os direitos das mulheres homossexuais. Sabemos o nome das espanholas, francesas, alemãs, inglesas e dinamarquesas que vão estar na sessão. E portuguesas? Vai haver?

No El País, 26 espanholas dão a cara: são médicas, advogadas, polícias, empresárias, desportistas, executivas, jornalistas, modelos, guionistas, professoras, e outras de outras profissões. Clique na imagem.

IGUALDADE

Um detalhe lateral, porém marcante, da inauguração, ontem, do Jardim Mário Soares, sobressai do à-vontade com que homens e mulheres de várias gerações afirmaram em público as suas identidades, outrora rotuladas de ‘desviantes’. Deputados, autarcas, professores, intelectuais, profissionais liberais, quadros de empresa, escritores, artistas plásticos, actores, estudantes, etc., levaram os seus maridos, as suas mulheres, os seus companheiros e namorados de todos os sexos, fazendo juntos a festa. É claro que não foi a primeira vez. Mas ontem foi na rua, a sol aberto, e foi bonito de ver.

VUILLARD & FINN


Esta semana, na Sábado, escrevo sobre A Ordem do Dia, Prémio Goncourt 2017, o ‘romance’ que assinala a estreia, em Portugal, do francês Éric Vuillard (n. 1968). Várias vezes laureado, Vuillard é autor de obras sobre temas históricos, como sejam a queda do império Inca, a Revolução Francesa, a colonização do Congo, a Primeira Guerra Mundial, tendo desta vez feito pontaria ao III Reich e, em particular, ao apoio das grandes indústrias alemãs, como a Opel, Telefunken, Krupp, Siemens, Basf, Allianz, IG Farben, Agfa, Varta e Bayer. Sem esse apoio, Hitler não teria chegado onde chegou. A precisão é tal que nos questionamos sobre se A Ordem do Dia é, como anunciado, um romance ou, em vez disso, uma crónica sobre factos da História. Palavras do autor: «A literatura autoriza tudo». De facto, em 20 de Fevereiro de 1933, em Berlim, teve lugar a reunião fatal: «As sombras penetraram no grande vestíbulo do palacete do presidente da Assembleia; em breve, porém, deixará de haver Assembleia…» Vuillard descreve com elegância não isenta de sarcasmo o encontro dos sacerdotes da alta finança em casa de Göring, então presidente do Reichstag. São todos citados pelo nome. Com as eleições de Março no horizonte, Göring recorda as responsabilidades de cada um: destruir os sindicatos e acabar com o comunismo. O primeiro capítulo é um prodígio de ironia sobre a história da Opel, «um império incorporado noutro império». Por outro lado, o retrato que faz de Edward Wood, Lorde Halifax, o ministro britânico que deitava água na fervura do Anschluss, tem alto teor de corrosão: «No que toca às ideias, Halifax não tem grandes pudores.» É portanto neste registo de crónica factual que o ‘romance’ progride. Está lá tudo: o incêndio do Reichstag, Dachau, a ominosa Noite das Facas Longas, as leis da eugenia, os recenseamentos étnicos, a noção de espaço vital, o assassinato de Dollfuss, o encontro de Hitler e Schuschnigg em Berchtesgaden, a anexação austríaca, a invasão da Checoslováquia, conversas de Ribbentrop, o flop da primeira série de tanques Panzer… Interessante, mas pouco romanesco. Quatro estrelas. Publicou a Dom Quixote.

Escrevo ainda sobre A Mulher à Janela, romance de estreia de A. J. Finn, pseudónimo de Daniel Mallory (n. 1980), reputado editor de thrillers e crítico literário. Lembram-se de Janela Indiscreta, de Hitchcock? O livro é inspirado no filme. Coincidência ou não, assim que saiu do prelo, os direitos da obra foram comprados para adaptação ao cinema. Escrito no termo de mais uma depressão do autor, o romance corresponde a um guião bem esgalhado, com estrutura de planos sinalizada e diálogos adequados. No livro, em vez do fotógrafo do filme, temos Anna Fox, uma psicóloga infantil, agorafóbica, que vive com o filho e um gato, e um dia testemunha o indizível. Anna tem a mesma idade que o autor. Como ele, vive em Manhattan e vê muito cinema. O livro está encharcado de referências cinéfilas, algumas redundantes, nem todas com direito a nota de rodapé. O convívio com os Russell, a família disfuncional que foi viver para o outro lado da rua, muda a sua vida. As coisas não são exactamente o que parecem, mas não será esse o fascínio dos thrillers? Quatro estrelas. Publicou a Presença.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

SOARES & ABRIL


No dia dos 44 anos do 25 de Abril, a zona verde do Campo Grande passa a chamar-se Jardim Mário Soares.

Na extremidade Sul, junto a Entrecampos e à Biblioteca Nacional (uma área com 62 mil metros quadrados), o jardim foi todo redesenhado, substituídas dezoito árvores em risco de queda, melhorada a circulação pedonal, a iluminação nocturna, o isolamento sonoro e o sistema de rega e drenagem. Perto da alameda da Universidade de Lisboa, o Go Fit, um ginásio com seis mil metros quadrados e equipamento de topo, tem capacidade para receber dez mil pessoas. Ocupa o espaço onde outrora existiram duas piscinas. Há também um parque infantil com escalada. Uma parceria entre a Câmara de Lisboa e a Sociedade Portuguesa de Matemática permitiu instalar uma peça de ilusão de óptica, o quarto de Ames, bem como caminhos, ao longo do jardim, com os principais feitos na área da matemática.

A inauguração ocorrerá quando forem 13:00h, com a presença do Presidente da República, do Presidente da Assembleia da República, do primeiro-ministro e do presidente da Câmara de Lisboa. Onde quer que esteja, Soares ficará feliz.

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terça-feira, 24 de abril de 2018

HABITAÇÃO


O primeiro-ministro apresentou ontem, com pompa e circunstância, um ambicioso programa a que chamou “Nova Geração de Políticas de Habitação”. O pacote legislativo associado entrará em vigor por fases, coincidindo a última com os 50 anos do 25 de Abril, ou seja, 2024. A Direita deu pinotes. O PSD falou mesmo de «um novo 11 de Março». BE, PCP e PEV subscrevem. As associações de senhorios e inquilinos, idem.

Algumas medidas:

— Apoio financeiro para arrendamento a famílias com rendimentos até 1700 euros líquidos.
— Os agregados familiares só podem candidatar-se a uma casa cujo valor de renda não represente um esforço superior a 27% do seu rendimento líquido.
— Apoio financeiro para associações de moradores e cooperativas de habitação.
— Apoio financeiro para famílias de classe média incapazes de suportar rendas aos valores de mercado, mas cujos rendimentos são demasiado altos para poderem beneficiar de arrendamento apoiado.
— Os senhorios que aplicarem rendas abaixo do valor de mercado (sendo 20% o desconto mínimo), de duração nunca inferior a 5 anos, terão redução de IMI de 50%.
— A taxa liberatória do IRS baixa dos actuais 28% para 14% nos contratos de duração igual ou superior a 10 anos, e para 10% nos de duração igual ou superior a 20 anos.
— Os senhorios vão beneficiar de um seguro de renda que os compensará de incumprimento do inquilino.
— Os contratos de duração igual ou superior a 20 anos terão isenção total de IMI.
— Os inquilinos com 65 anos ou mais anos de idade, e também os deficientes, têm os contratos automaticamente renovados.
— Às famílias que pretendam mudar a residência permanente da cidade para o campo, o Estado subarrenda a casa desocupada “a preço justo”.
— O INE já começou a publicar os valores de renda praticados em cada freguesia.
Agora é preciso pôr isto tudo em corpo de Lei, começando por revogar a ominosa Lei Cristas. A ver vamos.

Clique na foto do Expresso.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

TERROR EM TORONTO


Um homem de 25 anos, antigo aluno do Seneca College, gestor de um aplicativo do Google Play sobre estacionamento de carros, atropelou deliberadamente várias pessoas que circulavam na Avenida Yonge St-Sheppard, de Toronto. O ataque causou 10 mortos e 16 feridos em estado grave. A polícia deteve o homem e subscreve a tese do distúrbio mental. Kathleen Wynne, primeira-ministra do Ontário, é mais céptica.

Clique na foto do jornal Toronto Sun.

BOOKS


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