sábado, 4 de maio de 2019

DESAPARECIDO

Depois de cancelar a sua agenda pública, Rui Rio, líder da Oposição, desapareceu em parte incerta. Nem a CMTV o encontra.

Estará na Baviera a redigir a carta de demissão de presidente do PSD?

A última vez que foi visto, ontem de manhã cedo, comentou um paper (a deliberação frentista votada pelos seus deputados) que, sabe-se hoje, ainda não tinha lido.

Afinal, quem brinca com o quê?

RECORDAR 1987


A ideia de que eleições em Julho são más, não faz sentido. A primeira maioria absoluta de Cavaco saiu das eleições de 19 de Julho de 1987.

Nessas eleições, o PSD venceu por 50,2% (contra os 4,7% do PRD, o partido de Eanes que provocou eleições antecipadas), elegendo 148 deputados. A abstenção foi de 28,5%.

À época, Soares fez muito bem em dissolver a Assembleia da República, em vez de ter aceite um Governo do PS chefiado por Vítor Constâncio, condição para ser apoiado pelo PRD. Nessas eleições, o PS obteve 22%.

Na imagem, Soares e Constâncio em 1987. Clique.

PROGNÓSTICO


Não é difícil imaginar o que vai acontecer em Plenário no próximo dia 15.

PSD, BE, CDS e PCP vão apresentar, cada um per se, diplomas conflituantes uns com os outros. A manobra permitirá que todos mantenham a face, deixando o problema por resolver.

Ter presente que, na Comissão de Educação e Ciência, PSD, BE, CDS e PCP apenas coincidiram na contagem da Fenprof.

Em tudo o resto (modus operandi do processo, prazos, substituição de pagamentos por reformas antecipadas, etc.), cada cabeça sua sentença. Nem todos aprovaram tudo. Dos sete anos de dilação do BE ao imediatismo do PCP, passando pela evolução do PIB imposta como condição sine qua non pelo PSD e o CDS, houve de tudo. Uma pena não ser pública a acta da sessão.

Após o statement do primeiro-ministro, foi eloquente a pirotecnia semântica dos líderes do PSD, BE, CDS e PCP

O chumbo cruzado evitará a demissão do Governo e, desse modo, Marcelo pode manter as eleições dentro do calendário estabelecido.

A ver vamos.

Imagem do Expresso. Clique na foto de Tiago Miranda.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

A VIDA COMO ELA É


Portanto, em princípio, temos Governo para mais 12 dias.

Numa comunicação incisiva, o primeiro-ministro primou pela clareza: se, no próximo dia 15, a Assembleia da República aprovar um diploma que confirme as decisões ontem tomadas na Comissão de Educação e Ciência pela coligação negativa formada por PSD+BE+CDS+PCP, o Governo demite-se.

Discurso directo: «A aprovação desta lei condiciona de forma inadmissível a governação futura em termos que só o eleitorado tem legitimidade para aprovar. Será uma ruptura irreparável com a consolidação das contas públicas e compromete a credibilidade de Portugal. E forçará o Governo a apresentar a sua demissão

Muito bem. Nem outra coisa seria de esperar.

Podia tê-lo feito ontem, mas o respeito pelo protocolo institucional adia o acto para o dia da votação em plenário.

Até lá, os partidos têm tempo de explicar aos seus militantes onde vão buscar o dinheiro, como vão proceder com os restantes corpos especiais da Administração Pública (magistrados, médicos, enfermeiros, diplomatas, militares, polícias e outros), bem como com os funcionários públicos do regime geral, o que farão se o Tribunal Constitucional vetar com base na violação do princípio da equidade, ou se, afinal, tudo não passou de um equívoco.

A ver vamos. Eleições a 21 ou 28 de Julho seriam perfeitas.

Na imagem, António Costa a falar ao país, hoje. Clique.

DEMISSÃO NA CALHA?


O tuíte do primeiro-ministro que põe o país de sobreaviso.
Clique na imagem.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

POESIA MALDITA


Voltou às livrarias, desta vez numa edição extremamente cuidada da editora Ponto de Fuga, a famosa Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica organizada por Natália Correia em 1965. O volume inclui as ilustrações originais de Cruzeiro Seixas.

São 94 autores, nascidos entre 1230 e 1938, sendo mulheres apenas quatro. Vivos à data de publicação eram 23. Natália organizou, seleccionou os autores, anotou e prefaciou a obra, que a ditadura apreendeu e proibiu.

O processo-crime por abuso de liberdade de imprensa ocupou o Tribunal Plenário durante sete anos e cinco meses (1966-73). Curiosamente, dos 23 autores vivos em 1966, apenas cinco foram julgados e condenados: Natália, Cesariny, Ary dos Santos, Melo e Castro e Luiz Pacheco. Fernando Ribeiro de Mello, editor da Afrodite, editora responsável pela publicação, também se sentou no banco dos réus. O mesmo aconteceu a Geraldo Soares, pela cedência de alegados inéditos de António Botto (mas o jornalista morreu no decurso do processo), e Francisco Marques Esteves, por ter feito o mesmo com inéditos de Carlos Queiroz.

Vladimiro Nunes, editor da Ponto de Fuga, e Francisco Topa, docente da Universidade do Porto, assinam longos textos introdutórios, intercalados de iconografia atinente, tais como fac-símiles de requerimentos, autos, despachos e correspondência. Ambos fazem o levantamento exaustivo das circunstâncias que rodearam a edição da antologia e peripécias judiciais subsequentes: acidentes processuais, testemunhas, advogados, etc. Uma edição histórica.

Clique nas imagens da capa e do fac-símile do auto de destruição.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

FLOP


Aparentemente, o golpe de Guaidó borregou. Mas a situação permanece ambígua. Maduro não falou ao país nem foi visto por jornalistas. Guaidó não conseguiu mobilizar o grosso das Forças Armadas, o que não espanta, num país em que os sectores-chave da economia (entre outros a exploração de petróleo e a distribuição de medicamentos) estão nas mãos dos generais de topo.

Por outro lado, não deixa de ser estranho que os apoiantes de Maduro, que devem representar um terço da população da Venezuela, não tenha aparecido nas ruas a fazer frente aos seus adversários.

Soube-se entretanto que, a conselho de Vladimir Padrino, ministro da Defesa, Mikael Moreno, presidente do Supremo Tribunal, e Rafael Hernández Dala, general da Guarda Nacional, Maduro teria concordado em deixar a Venezuela. O avião chegou a estar em prontidão, mas, alegadamente por pressão de Moscovo, a fuga não se realizou.

Ainda ontem, Leopoldo López, o líder da oposição, transferiu-se com a mulher e a filha da embaixada do Chile para a de Espanha.

Resumo: Maduro não falou, a maioria dos militares assobiou para o lado (a excepção terá sido o blindado que atropelou civis), López bateu com a porta, o povo chavista não saiu de casa, Guaidó ficou a falar sozinho.

A ver vamos como a situação evolui.

Na imagem, Guaidó e López. Clique.

terça-feira, 30 de abril de 2019

OPERACIÓN LIBERTAD


Leopoldo López, 48 anos, economista, líder do Voluntad Popular, o maior partido da oposição venezuelana, foi libertado esta manhã por militares desafectos ao regime de Maduro

Estava preso desde 2014, a cumprir uma pena de 13 anos, 9 meses, 7 dias e 12 horas.

Ele e Guaidó estão neste momento em La Carlota, a principal base aérea militar de Caracas.

Pompeo, o Secretary of State (MNE) americano, já transmitiu o apoio formal dos Estados Unidos à Operación Libertad.

Entretanto, em Brasília, Bolsonaro convocou para uma reunião de emergência o general Hamilton Mourão, vice-Presidente do Brasil, o ministro da Defesa, o ministro das Relações Exteriores, o ministro da Segurança Institucional e as mais altas chefias militares.

A ver vamos.

Clique nos tuítes de López e Pompeo.

NOVA GUERRA DE CARTOONS?


Sobe de tom a polémica à volta do cartoon em que António põe Netanyahu em forma de cão com a estrela de David na coleira, a ser guiado por Trump, com trela, óculos de cego e quipá.

Originalmente publicado no Expresso, foi a sua reprodução na edição internacional do New York Times, no passado dia 25, a ilustrar a coluna de Tom Friedman, que deu azo ao sururu.

A Casa Branca condenou o cartoon. O mesmo fizeram diversas associações judaicas norte-americanas. No dia 28, o NYT pediu desculpas aos seus leitores e à comunidade judaica em particular, tendo retirado o cartoon.

Angela Buchdahl, Peter J. Rubinstein, Joshua M. Davidson e Elliot Cosgrove, rabinos de quatro sinagogas de Nova Iorque (Sinagoga Central, Sinanoga 92Y, Congregação Emanu-El e Sinagoga Park Avenue), publicaram no NYT um abaixo-assinado onde, entre outras coisas, afirmam que «a caricatura trafica descaradamente o antiquíssimo ódio antissemita que contribui para a violência contra os judeus...»

Bret Stephens, colunista do NYT, considera que o cartoon podia ter sido publicado pelo Der Stürmer, jornal de referência do regime nazi. «Nada justifica esta caricatura desprezível...», sublinhou.

Por seu turno, o Haaretz, influente jornal israelita, em artigo assinado por Zeev Engelmayer, defende o cartoon de António:

«The Star of David on Netanyahu’s collar is totally justified, and there’s a reasonable chance that if Netanyahu had to choose a symbol to wear around his neck, he’d pick this one. Netanyahu is leading Trump, his steps a little tense, but the leadership role is definitely flattering for the head of a small country

No ponto 5 da sua retractação, em português e inglês, o Expresso esclarece:

«A membros da comunidade judaica e aqueles que se possam ter sentido ofendidos e face à polémica gerada, o Expresso esclarece que nunca foi intenção retratar Israel ou a religião judaica e o seus fiéis de forma menos digna

A CNN e a Fox News não largam o caso.

Clique na imagem.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

ESPANHA VERMELHA


Espanha ficou assim.
Clique na imagem do jornal catalão La Vanguardia.

PSOE VENCEU


Com 7,5 milhões de votos [28,7% dos eleitores], o PSOE saiu vencedor das eleições gerais de ontem. Elegendo 123 deputados, foi o partido mais votado para o Congresso. E obteve maioria absoluta no Senado: 139 senadores. Aconselha-se Guronsan a quem antecipou a pasokização do partido de Sánchez.

A soma do PSOE e do PODEMOS ultrapassa em 18 deputados a soma do PP com o CIUDADANOS e o VOX. Maioria de Esquerda clara, portanto.

O PSOE ganhou 38 deputados.

O CIUDADANOS ganhou 25 deputados.

O VOX elegeu deputados pela primeira vez: 24.

O PP perdeu 71 deputados.

O PODEMOS perdeu 29 deputados.

Pela primeira vez, o PSOE ganhou na Galiza. E recuperou Andaluzia e Castilla-La Mancha. A Direita não conseguiu um único lugar no País Basco.

A abstenção foi de 24,2%.

Clique no gráfico de El País.

domingo, 28 de abril de 2019

ESPANHA EM TRANSE


Os espanhóis começaram hoje a votar naquelas que são as eleições mais importantes desde 1978.

Segundo todas as sondagens (a imagem mostra a mais recente), o PSOE continua a ser o potencial vencedor, mas longe da maioria absoluta, mesmo coligado com o PODEMOS, que tudo indica irá perder metade dos deputados.

A grande incógnita é o VOX, o partido de extrema-direita que pode eleger cerca de 40 deputados.

Como é que 12% dos eleitores espanhóis estão dispostos a votar num partido que propõe acabar com as dezassete comunidades autónomas de Espanha (mediante revogação do artigo 2.º da Constituição de 1978); revogar toda a legislação sobre igualdade de género, direitos LGBTI, aborto, etc. Não obstante, Pablo Casado, líder do PP, já disse estar disposto a uma coligação com o VOX.

Se estes números se confirmarem, só Rivera, de CIUDADANOS, pode desatar o nó. Sánchez tem a obrigação de, engolindo todos os sapos, fazer um compromisso histórico. Os dois, Sánchez e Rivera, andam muito exaltados um com o outro, mas, repito, se estes números se confirmarem, têm de escolher entre o caos ou novas eleições no fim do Verão.

No transe actual, Espanha não se pode dar ao luxo de fundamentalismos ideológicos.

Clique no gráfico de El País.

LEGISLATIVAS


Sondagem da Pitagórica para a TSF e o Jornal de Notícias, divulgada esta manhã.

Maioria de esquerda = 52%. Sozinho, o PS obtém mais 19,9% que a PAF [PSD+CDS]. Uma maioria de 67% de eleitores considera que António Costa vencerá as eleições de Outubro.

Clique no gráfico da TSF.