Hoje na Sábado escrevo sobre o romance mais recente de Patrícia Reis (n. 1970), A Construção do Vazio. Toda a literatura é circular. Vários personagens do livro andam connosco há uma década. O ciclo fechou. Patrícia Reis é muito hábil na forma como dá vida ao universo ficcional que construiu a partir de No Silêncio de Deus (2008). Nessa altura chegou Manuel Guerra, entretanto falecido, em casa de quem o manuscrito que agora vê a luz do dia teria sido encontrado. Depois, Por Este Mundo Acima (2011) trouxe Sofia, nascida para ser vítima de humilhação e abuso, obrigada a sobreviver sabendo que nem toda a maldade será castigada. Tentando obliterar os fantasmas da infância, Sofia é uma menina-tesoura enclausurada no vazio em que cresceu. A escrita seca de Patrícia Reis não dá azo a delíquios. Pelo contrário: as palavras têm a exactidão dos factos. Neste caso, o horror da violência em família. Sofia tem dez anos e o pai faz dela o que lhe apetece: «De quatro, como um animal, na casa de banho, amarrada à força do meu pai…». A mãe faz por ignorar. O desfecho indicia outra vida, mas a insegurança persiste. Seguro, só o domínio narrativo da autora. Quatro estrelas. Publicou a Dom Quixote.
quinta-feira, 4 de maio de 2017
terça-feira, 2 de maio de 2017
BURACO NEGRO
Em 2002, no 1.º de Maio, as centrais sindicais francesas juntaram-se e celebraram a data juntas, mobilizando dois milhões de franceses. Ambas foram claras no não a Jean-Marie Le Pen. Como resultado, Chirac foi eleito dias depois com 82,2% dos votos, contra 17,8% do fundador da FN. Ontem, cada central optou por desfilar sozinha, e nenhuma invectivou Marine Le Pen. A mobilização cumpriu os mínimos. Macron foi ignorado. Definitivamente, a França entrou num buraco negro.
Publicada por
Eduardo Pitta
à(s)
08:00
Subscrever:
Mensagens (Atom)