sábado, 2 de junho de 2018

CATALUNHA SAI DO COMA?

Pondo fim a sete meses de vazio, tomaram hoje posse em Barcelona os membros do executivo autonómico da Catalunha, chefiado por Quim Torra. A cerimónia ocorreu duas horas depois da posse do novo Presidente do Governo de Espanha. Com a entrada em funções do novo Govern, cessou a aplicação do artigo 155 da Constituição. Foram empossados: Pere Aragonès, Elsa Artadi, Àngels Chacón, Ernest Maragall, Miquel Buch, Josep Bargalló, Alba Vergés, Damià Calvet, Laura Borràs, Ester Capella, Chakir El Homrani, Jordi Puigneró e Teresa Jordà. O Govern está neste momento reunido, naquela que é a primeira reunião do executivo catalão desde 24 de Outubro de 2017.

SEM BÍBLIA & CRUCIFIXO


Na presença do rei, Sánchez tomou hoje posse como Presidente do Governo de Espanha (cargo que exerce, de facto, desde ontem). Ao contrário dos seus seis antecessores, Sánchez fez saber que não aceitava o exemplar da Bíblia e o crucifixo que tradicionalmente fazem parte dos adereços de cena. Era ele e a sua palavra, ponto. Nunca tal tinha acontecido na Zarzuela.

Clique na imagem de El País.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

ACABOU A SAGA?


A procuradoria-geral alemã instou o Tribunal Regional Superior de Schleswig-Holstein a extraditar imediatamente Puigdemont para Espanha, sob acusação de rebelião e desvio de fundos.

Clique na imagem do Bild.

DONE!


Com os votos do PSOE, mais os de PODEMOS, ERC, PNV, PDeCAT, Compromís, Bildu e Nueva Canarias, perfazendo um total de 180, a moção de censura foi aprovada. Rajoy caiu. Pedro Sánchez, 46 anos, economista, líder do PSOE, é o novo Presidente do Governo de Espanha desde as 10:29 desta manhã, hora portuguesa.

Clique na imagem de El País.

A HORA DE SÁNCHEZ


A menos que aconteça um imprevisto, o PSOE regressa hoje ao poder. Na pessoa de Pedro Sánchez, quem diria?, os socialistas são os senhores que se seguem na Moncloa. A votação da moção de censura tem início quando forem 10 horas em Portugal. Contrariamente ao que sucede entre nós, em Espanha, a vitória de uma moção de censura (e todas chumbaram até hoje) obriga o proponente a constituir e chefiar novo Governo. A ver vamos.

quinta-feira, 31 de maio de 2018

RAJOY CAI MESMO


Os nacionalistas bascos do PNV desfizeram o tabu: vão votar favoravelmente a moção de censura do PSOE, que começou hoje a ser debatida nas Cortes. Desfeita a dúvida, Rajoy cai mesmo. O actual primeiro-ministro abandonou o hemiciclo assim que Aitor Esteban, porta-voz do PNV, anunciou o sentido de voto do seu partido. Pedro Sánchez, líder do PSOE, assumirá imediatamente o cargo de primeiro-ministro. O que ainda não se sabe é se Sánchez tenciona marcar eleições para daqui a três meses, como pretende Rivera, o líder de Ciudadanos dado como vencedor em todas as sondagens, ou se vai ficar os dois anos que faltam para terminar a legislatura.

Imagem de El País, com gráfico da votação de amanhã. Clique.

AEROPORTO DE LISBOA


Anda toda a gente muito entusiasmada com o turismo. Mas esta galinha de ovos de ouro tenderá a virar múmia se o Governo não romper o tabu do novo aeroporto de Lisboa. Nos anos de Sócrates, a Direita conseguiu mobilizar a opinião pública contra o aeroporto da Ota, que não era, de facto, a localização ideal. Mas em Janeiro de 2008 havia consenso para fazer o novo aeroporto em Alcochete.

Estavam de acordo o LNEC, a CIP, a Ordem dos Engenheiros, os peritos em ambiente e todas as entidades institucionais ligadas ao turismo. Alcochete custaria menos três mil milhões de euros do que a Ota, tendo a vantagem suplementar de ficar a 20 minutos do centro de Lisboa. Abandonar o projecto foi um erro.

Sendo uma alternativa canhestra, o Montijo é preferível a coisa nenhuma. Mas tem de ser já. Em 2017, a Portela movimentou 27 milhões de passageiros. O 1.º trimestre de 2018 fechou com um significativo aumento em relação a igual período do ano passado. No Verão não vamos poder aceitar centenas de voos, conforme esclareceu a ANA. É isso que querem?

Na imagem, o projecto do Montijo. Clique.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

MÁRIO CLÁUDIO


O retrato do autor na capa do livro faz supor que as Memórias Secretas a que reporta o título sejam as de Mário Cláudio (n. 1941). Errado. Trata-se de um conjunto de ficções elaboradas a partir das ‘biografias’ de três personagens de banda desenhada: Corto Maltese, Bianca Castafiore e o Príncipe Valente. O conseguimento releva do consabido à-vontade com que Cláudio manipula o género. Parece-me pleonástico enumerar os romances-biografia que fizeram a fama do autor, por regra inspirados em terceiros, casos de, entre vários outros, Amadeo de Souza-Cardoso e Camilo Castelo Branco, ou na sua própria pessoa, caso de Astronomia, engenhosa autobiografia dada à estampa em 2015.

Memórias Secretas retoma o processo. Numa escrita desenvolta, pontuada por envios ora culturalistas ora populares, Cláudio refaz os universos de Pratt, Hergé e Foster, intrometendo-se no plot em nome próprio e registo memorialístico, porventura efabulado, nas introduções a cada uma das três secções do romance.

Bianca é um prodígio de ironia. Sirva de exemplo a imagem do primeiro vagido da Castafiore, «lancinante como uma sirene que profetizasse o rebentamento próximo da Grande Guerra…», cruzando-se com o de Tito Gobbi, «ressonante como o dobre a finados» da Itália. Imaginar o pirata Jack Rackham, o Terrível, reduzido a fricassé pelo chevalier François d’Haddock, é outro exemplo da imaginação delirante do autor.

Como sucede na transcrição das memórias do Rouxinol de Milão, também as efabulações de Corto e do Valente dão azo a textos de prosa escarolada. Cláudio suspende as personagens no tempo, sem com isso lhes retirar actualidade, ao mesmo tempo que conduz bem a narrativa autodiegética. Sendo o principal traço distintivo da obra a sua capacidade de transfigurar a realidade, e outra coisa não se espera de um escritor, veja-se o capítulo ‘A Borla do Pó-de-Arroz’. Em época de rarefacção vocabular, deve sublinhar-se o mérito de recaptura da língua portuguesa. Pode ser que muitos jovens desconheçam o significado de tísica, passamanarias, chufas, alfobre, decúbito dorsal, gorgomilos, etc., e não virá mal ao mundo, antes pelo contrário, se considerarem útil socorrer-se de dicionário. Cinco estrelas. Publicou a Dom Quixote.

VERGONHA

Podemos extinguir a PIDE mas a PIDE continua activa no ADN de milhões de portugueses. Hoje, a capa do jornal i é uma vergonha. Era o que faltava não podermos dizer em voz alta o que pensamos.

Muito estranha a concepção de democracia destes jornaleiros.

terça-feira, 29 de maio de 2018

EUTANÁSIA

Foram chumbados os quatro projectos-lei discutidos e votados hoje no Parlamento. Um deputado faltou à votação. Os deputados do PCP e do CDS foram os únicos a votar contra todos os projectos. O deputado do PAN e os deputados do BE foram os únicos a votar a favor de todos os projectos.

Seguem-se os resultados obtidos por cada projecto-lei.

PS
115 contra
110 a favor
4 abstenções

BE
117 contra
104 a favor
8 abstenções

PEV
117 contra
104 a favor
8 abstenções

PAN
116 contra
102 a favor
11 abstenções

segunda-feira, 28 de maio de 2018

VIDA


Não sou militante do PS, mas votei sempre no PS, com três excepções: nas autárquicas de 1982 (vivia em Cascais, votei em Helena Roseta contra o actor que o PS apresentou) e 2005 (vivia em Lisboa, votei branco, contribuindo para a derrota de Manuel Maria Carrilho), bem como nas presidenciais de 2016, ocasião em que apoiei publicamente e votei em Marisa Matias.

Em 2009 fiz parte do grupo de intelectuais e artistas que apoiaram António Costa para a presidência da Câmara de Lisboa. Em 2014 inscrevi-me para as directas do PS, votando Costa contra Seguro. Não me arrependi de nenhuma destas opções. Estou muito satisfeito por ter António Costa como primeiro-ministro, de cuja comissão de honra faço parte.

Isto dito, estou à-vontade para dizer o que penso.

E penso que o actual Governo, vencedor em domínios importantes como o défice, a dívida pública, o emprego, a descompressão da sociedade portuguesa e o respeito internacional, não pode continuar a olhar para o Serviço Nacional de Saúde como uma prioridade de segunda linha.

Entre 2011 e 2015, o Governo PSD/CDS tentou fazer do SNS uma obra assistencial, vocacionada para pessoas com rendimento inferior ao indexante de apoios sociais (429 euros mensais). Os outros, os que pagam impostos, teriam de recorrer à medicina privada. O actual Governo estancou a hemorragia, mas não repôs o valor do desfalque acumulado. Pior: a área dos Cuidados Continuados colapsou em 2011 e, aparentemente, ninguém se preocupa com o facto. Unidades prontas (edifícios e equipamentos) continuam fechadas há sete anos. Não pode ser. Temos uma carga fiscal de nível dinamarquês e uma rede de cuidados continuados que nos envergonha. Dois terços da população portuguesa não tem condições para suportar os cuidados continuados dos seus ascendentes. Convém não confundir cuidados continuados com asilos de morte.

No momento em que uma parte da classe política se prepara para votar a eutanásia, a omissão do Governo na área dos Cuidados Continuados é uma afronta. Não se admite.

A foto é de Margarida Martins. Mostra o momento do nosso (meu e de outros) encontro com António Costa em 2009. Clique.

COM AVAL DE BERLIM & BRUXELAS


Sergio Mattarella, o Presidente da República, não aceitou que Paolo Savona fosse ministro das Finanças e Economia no executivo chefiado por Giuseppe Conte. E Conte bateu com a porta, sob aplauso dos partidos que iriam formar Governo, a Liga e o 5 Stelle. Isto foi ontem.

Mattarella diz que não é um simples notário, e tem razão, mas o indigitado primeiro-ministro não gosta de ter um chefe de Estado temente a Berlim e Bruxelas, e tem duas vezes razão. O caos está instalado. Paolo Savona, o homem rejeitado pelo eixo Berlim/Bruxelas, é um economista de 81 anos que não gosta do euro, nem da UE.

Melodramático, Luigi Di Maio, 31 anos, vice-presidente da Câmara de Deputados e líder do 5 Stelle, vai propor o impeachment de Mattarella.

Entretanto, o senhor que se segue é Carlo Cottarelli, 64 anos, antigo director do FMI. Mattarella indigitou-o para formar Governo de gestão. Se o executivo passar no Parlamento, Mattarella compromete-se a convocar eleições antecipadas em 2019. Se chumbar, como se prevê, haverá novas eleições já em Outubro. Os dois partidos que até ontem tinham Governo pronto (a Liga e o 5 Stelle) prometem pôr Roma a ferro e fogo.

Na imagem, Carlo Cottarelli. Clique.