quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

INTENÇÕES DE VOTO


Sondagem do ISCTE/ICS para o Expresso e a SIC, divulgada hoje.

Além das intenções de voto por partido, o estudo contempla variantes como com quem deve o PS negociar. Sem surpresa — face à ausência de maioria absoluta —, 38% do eleitorado PS prefere que o Partido negoceie com o PSD.

Não é novidade para quem tem amigos que sempre votaram PS. À mais pequena indicação de que o Partido possa vir a tentar repetir a geringonça (escrevo esta palavra pela primeira vez em seis anos), grande parte do eleitorado PS tomará uma de duas opções: ou fica em casa, abstendo-se de votar, ou vota PSD. A realidade é esta e não vale a pena dourar a pílula.

O país não pode ficar refém da teimosia de minorias iluminadas. As próximas eleições são mais importantes do que todas as anteriores.

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quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

NÚMEROS ELOQUENTES

 

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FUTUROS CLÁSSICOS?


Hoje na Sábado

Nem sempre acontece, mas o ano que agora termina foi pródigo na edição de livros que podem vir a tornar-se clássicos. Estamos a falar de poesia, ficção, biografia e História. Do que li gostaria de destacar oito títulos.

Um deles é Poemas, reunião da poesia completa de António Franco Alexandre, oportunidade para nos deixarmos absorver pelo estranhamento desta poesia sem predecessores em língua portuguesa: «Vamos a ver se dois incêndios se juntam, / se a folha do corpo fica a arder. / Os dentes que riem, saberão morder?» Outro é o primeiro volume de uma trilogia sobre a América contemporânea, Encruzilhadas, de Jonathan Franzen. A família Hildebrandt pode não ter glamour, mas só um escritor com o fôlego de Franzen podia dar-nos um épico desta natureza. Noutro registo, Maggie O’Farrell demonstra que Shakespeare é um personagem em aberto, servindo-se da morte precoce do filho do bardo para escrever Hamnet, romance centrado na vida de Anne Hathaway. Mas também Paul Auster, que resgata a vida e obra de Stephen Crane, um gigante da literatura norte-americana do século XIX, na monumental biografia a que deu o título de Um Homem em Chamas. Por falar em biografias, não podemos ignorar a de Philip Roth escrita por Blake Bailey, desassombrado registo de uma época e seus temas-fétiche. Ainda no domínio da compreensão do outro, a História dos Povos Árabes de Albert Hourani, historiador britânico de origem libanesa, finalmente traduzida e actualizada, é indispensável para entender o mundo árabe. Entretanto, numa altura em que foi tudo escrito sobre disfunções (sexuais e outras), a holandesa Marieke Lucas Rijneveld consegue surpreender-nos com O Desassossego da Noite. Por último mas não em último, Trilogia de Jon Fosse, volume que colige três novelas, traduzidas directamente do norueguês por Liliete Martins, que respeita a peculiar pontuação (ou falta dela) do autor. Rompendo mais uma vez com os modelos convencionais, Fosse não abdica de construir uma linguagem própria.

António Franco Alexandre, Poemas / Assírio & Alvim

Jonathan Franzen, Encruzilhadas / Dom Quixote

Maggie O’Farrell, Hamnet / Relógio d’Água

Paul Auster, Um Homem em Chamas / Asa

Blake Bailey, Philip Roth / Dom Quixote

Albert Hourani, História dos Povos Árabes / Book Builders

Marieke Lucas Rijneveld, O Desassossego da Noite / Dom Quixote

Jon Fosse, Trilogia / Cavalo de Ferro

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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

GRABATO DIAS EM ANTOLOGIA


Pedro Mexia conseguiu a proeza de organizar, para a Tinta da China, uma antologia de poemas de João Pedro Grabato Dias, coisa que até aqui ninguém tinha conseguido, alegadamente por reticências dos herdeiros.

Para quem não sabe: João Pedro Grabato Dias é o principal pseudónimo literário de António Augusto de Melo Lucena e Quadros (1933-1994), personalidade irreverente da vida cultural moçambicana.

Nascido em Viseu, foi para Lourenço Marques em 1964, tendo vivido em Moçambique até 1984. Além de pintor sob o nome civil — António Quadros —, com obra espalhada por colecções exigentes e museus de referência, o António fez tudo: encenou peças para o teatro universitário, escreveu canções para Zeca Afonso (então professor em Moçambique), deu aulas na Universidade, co-editou com Rui Knopfli os cadernos de poesia Caliban, fascinou Sena com as Qvybyrycas de Frey Ioannes Garabatus (outro pseudónimo seu), convenceu Samora Machel da existência de um guerrilheiro-poeta chamado Mutimati Barnabé João (outra vez ele), mais o que aqui se não diz por ser de natureza privada.

Agora, quem nunca leu «o Grabato», tem as Odes Didácticas para o fazer.

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

APENAS UM CONVIDADO


Não é a primeira vez que Cristina Carvalho se ocupa de personalidades da cultura escandinava. Desta vez o eleito foi August Strindberg, que todos conhecemos como dramaturgo, porventura o mais importante da Suécia.

Sucede que Strindberg (1849-1912) também foi romancista, contista, diarista, ensaísta, pintor, fotógrafo, alquimista, activista político do movimento operário, polemista assíduo sobre as questões que moldaram o seu tempo, teosofia incluída.

Strindberg defendeu o direito das mulheres a votarem embora as considerasse seres inferiores. Misógino assumido, casou três vezes. Não gostava do rei, nem de militares, nem da Igreja, nem de capitalistas, nem de judeus. Também não gostava de Ibsen. E invejava Selma Lagerlöf. 

Cristina Carvalho calibra bem todas estas harmónicas no romance biográfico Strindberg — Neste Mundo Fui Apenas Um Convidado. Vale a pena ler para perceber melhor este proto-anarquista pouco simpático de que a Suécia (e com razão) tanto se orgulha.

Numa acção concertada entre o Instituto Camões e a embaixada de Portugal em Estocolmo, o livro foi apresentado no Strindbergsmuseet — aka Museu Strindberg — no passado dia 9, pelo seu director Erik Höök.

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domingo, 26 de dezembro de 2021

RUY CINATTI


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Reisebilder de Ruy Cinatti (1915-1986), poeta que não teve nunca a divulgação merecida.

Nascido em Londres, onde seu avô materno exercia o cargo de cônsul-geral de Portugal, Ruy Cinatti formou-se em agronomia (Lisboa) e antropologia social e cultural (doutoramento em Oxford). Aos 19 anos, o pai expulsou-o de casa.

Com Tomaz Kim e José Blanc de Portugal fundou em 1940 os Cadernos de Poesia, estreando-se em livro no ano seguinte, com Nós Não Somos Deste Mundo. Trabalhou dois anos na Pan-American como meteorologista, partindo em 1944 para Timor como secretário do governador-geral. Mais tarde seria o responsável máximo dos Serviços de Agricultura de Timor, ingressando no quadro da Junta de Investigações do Ultramar.

Viveu em Timor entre 1944 e 1966, mas viajou intensamente pelo extremo-Oriente, Europa, Estados Unidos e México, proferindo conferências e participando de seminários científicos. Antes de deixar Timor, fez juramento de sangue com dois liurais timorenses.

Deixou uma obra poética muito extensa, estando editados em volume único — mais de 1.400 páginas — todos os livros que publicou em vida.

Monárquico, católico, conservador, ficou profundamente abalado com a ocupação de Timor. Além de poesia, publicou o conto Ossobó (1936), diários de viagem às colónias portuguesas, excepto Moçambique, bem como monografias botânicas e antropológicas.

Morreu em Outubro de 1986, em Lisboa, estando sepultado no Cemitério dos Ingleses.

O poema desta semana pertence a Paisagens Timorenses Com Vultos (1974). A imagem foi obtida a partir do primeiro volume de Obra Poética, organizado por Luis Manuel Gaspar e publicado pela Assírio & Alvim em 2016.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos e António Manuel Couto Viana.]

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