sábado, 21 de dezembro de 2019

ELSA & MAAT


Inaugurado há três anos, o MAAT — Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, da EDP — não resistiu à depressão Elsa. Não se compreende. As cheias do Douro podem ter sido as maiores desde 2006, mas em Lisboa foi uma tarde e uma noite de Inverno igual a tantas. Complicada pelos estorvos da mobilidade, sem dúvida, mas já vi muito pior.

As medidas de precaução tomadas pelas autoridades (como a supressão das carreiras fluviais entre Lisboa e a margem Sul entre as 16:00 de quinta-feira e as 08:00 de sexta, restrições nas duas pontes, etc.) só se compreendem à luz da síndrome Pedrógão. Admitamos que mais vale prevenir que remediar.

O que se passou no MAAT é bizarro. O viaduto de 124 metros que passa por cima da Avenida da Índia, ligando o museu ao Largo Marquês de Angeja, ficou intacto. Mas a pala da entrada principal ruiu. Estamos a falar de um edifício alegadamente construído com a crème de la crème da tecnologia, por dezassete milhões de euros. Espero que a sinóloga italiana Beatrice Leanza (a directora do museu que sucedeu a Pedro Gadanho) peça responsabilidades à arquitecta britânica Amanda Levete.

Para já, sabe-se que o museu só reabre a 27 de Março, embora a Central Tejo, que faz parte do núcleo do MAAT, continue aberto. Curiosamente, na Central Tejo, que tem mais de cem anos, nem uma chaminé abanou.

Clique nas imagens.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

DONE


Por 358 votos a favor e 234 contra, o Parlamento britânico aprovou ao princípio da tarde a Lei que permite o Brexit.

Seis deputados do Labour votaram ao lado do Governo e 32 abstiveram-se.

O documento aprovado inclui mudanças significativas relativamente aos projectos sucessivamente chumbados de Theresa May, mas também relativamente aos diplomas que Boris Johnson apresentou em Setembro e Outubro.

Antes das eleições, visando conseguir o apoio da Oposição, o primeiro-ministro fez concessões que foram retiradas do diploma hoje aprovado. Entre outras:

— Os deputados perderam o direito de aprovar uma extensão do período de transição, possibilidade (a extensão) que fica agora proibida.
— Desapareceram as cláusulas que, em matéria laboral e de direitos dos trabalhadores, garantiam alinhamento do Reino Unido com a UE.
— O Governo fica com novos poderes para legislar sobre a Irlanda do Norte.

Foi no que deu a esquizofrenia da legislatura anterior.

Clique na imagem do Guardian.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

PIOR DO QUE CÁ


Foi divulgado um estudo do Governo espanhol sobre a prontidão dos serviços sociais aos pedidos de apoio a dependentes.

O prazo de espera varia de comunidade autónoma para comunidade autónoma. A média das comunidades corresponde um mínimo de 70 dias de espera em Ceuta, e a um máximo de 785 dias (mais de dois anos) nas Canárias.

Na fila de espera, neste momento, estão 423 mil pessoas, sobretudo idosas. Quatrocentas e vinte e três mil.

As desgraças dos outros não nos servem de consolação, mas, neste como noutros domínios, não vale a pena argumentar com o tradicional... só aqui.

Clique no gráfico de El País.

WESTMINSTER, AGAIN


Eram 11:30 quando Isabel II abriu a nova legislatura, desta vez sem coroa.

Prioridades: Brexit e NHS (o Serviço Nacional de Saúde), que terá um reforço de 33,9 mil milhões de libras. O sistema judicial será profundamente revisto, tal como a Defesa, o intelligence e os serviços de segurança tout court. As alterações constitucionais previstas vão alterar a face do Reino Unido tal como o conhecemos.

Na imagem do Independent, Carlos, príncipe de Gales, conduz a rainha. Clique.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

E NINGUÉM FAZ NADA?

Portugal é o país membro da OCDE com mais casas por cada mil habitantes (o Reino Unido tem metade).

Mas 735 mil estão vazias. As casas vazias representam 12,5% do parque habitacional português. Estes dados constam de um estudo agora divulgado.

O que espera o Estado para expropriar as casas vazias? A medida não tem nada de extravagante. E até constava da 1.ª versão da Lei da Habitação, vulgo Lei Roseta, que o PS propôs e depois emendou.

FERNANDO LEMOS 1926-2019


Fernando Lemos morreu ontem em São Paulo. Tinha 93 anos. Fotógrafo, poeta, desenhador, artista gráfico, pintor e designer, Lemos foi ainda docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

O álbum Eu Sou Fotografia, editado pelo Centro de Estudos do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda, colige os melhores retratos, feitos entre 1949 e 1952, de Jorge de Sena, Alexandre O’Neill, Mário Cesariny, Alberto de Lacerda, Glicínia Quartin, José Cardoso Pires, Sophia de Mello Breyner Andresen, Arpad Szenes, Maria Helena Vieira da Silva, José-Augusto França e outros.

É autor de cinco livros de poesia: Teclado Universal (1952), Teclado Universal e Outros Poemas (1963), Cá & Lá (1985), O Silêncio é dos Pássaros (2001) e Pegadas na Paisagem (2013). Estes livros foram reunidos em volume único, Poesia, publicado em Junho de 2019.

Por razões políticas, expatriou-se no Brasil em 1953, país onde permaneceu até ao fim da vida, adquirindo dupla nacionalidade. Entre 1956 e 75 colaborou com o jornal Portugal Democrático, órgão da imigração anti-fascista, no qual também colaboravam Sena e Adolfo Casais Monteiro.

O documentário Fernando Lemos. Como, não é retrato? (2017), de Jorge Silva Melo, é porventura a mais tocante abordagem que conheço da obra e do homem.

Clique na imagem.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

LÁ COMO CÁ


Giuseppe Conte, primeiro-ministro de Itália, tinha sempre na ponta da língua a estabilidade, a boa saúde, como ele diz, do sistema bancário italiano. Ainda há três dias o apregoava.

Nós por cá sabemos como foi: Cavaco e Passos disseram o mesmo a semanas da implosão do BES.

Agora, Conte está por um fio. A falência do Popolare di Bari levou o Governo, contra a opinião dos três parceiros de coligação, a injectar cerca de mil milhões de euros no banco. Nada que se compare com os cinco mil milhões de euros injectados em 2016 no Monte dei Paschi di Siena (era Gentiloni primeiro-ministro), mas, em todo o caso, um ónus para os contribuintes.

Infelizmente, não é caso isolado. Nos últimos sete anos, será o 4.º ou o 5.º banco italiano alvo de resgate por parte dos sucessivos governos.

Clique na imagem do La Repubblica.

NONSENSE

Desde sempre, e de forma violenta entre 2008 e 2016, a Direita não se cansou de bramar contra o alegado despesismo dos executivos PS. A “bancarrota“ de 2011 deveio mantra da esquizofrenia índigena.

Convém não esquecer que sem o chumbo do PEC IV não teria havido necessidade de intervenção externa. E que esse chumbo resultou da coligação BE-PCP-PEV-PSD-CDS. Até Merkel, que apoiava o documento, achou deplorável.

E agora que o OE 2020 está na calha, todos invectivam as “cautelas” de Centeno. O mais extraordinário é que o excedente orçamental, o primeiro em muitas décadas, tenha virado crime de lesa Pátria.

Há pouco, em conferência de imprensa, o ministro foi peremptório — «As escolhas são muito claras: SNS, redução da pobreza, jovens, desafio demográfico e investimento. Se quisermos alterar estas prioridades, temos de apresentar alternativas

Significa isto que estou satisfeito com aquilo que se conhece do OE 2020? Na parte que me toca mais directamente (a pensão e os impostos), não, não estou satisfeito. Mas os herdeiros de Medina Carreira deviam estar. Não era isto que eles queriam?

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

MONSIEUR RETRAITES


Jean-Paul Delevoye, o alto-comissário que desenhou a unificação do sistema de pensões francês, visando acabar com os 42 subsistemas existentes, abandonou hoje o cargo.

Não o fez por causa da tranquibérnia geral, mas por não ter declarado à Alta Autoridade para a Transparência da Vida Pública que exercia outros cargos remunerados.

Delevoye, que não faz parte do Governo, foi escolhido por Macron para virar do avesso a Segurança Social francesa: aumentar a idade da reforma para 64 anos, alterar o cálculo das pensões dos funcionários públicos, acabar com os privilégios dos trabalhadores do sector estatal dos transportes, etc.

Quando é que os europeus adoptam o sistema norte-americano de verificar previamente tudo (mas mesmo tudo) o que se relaciona com a vida dos candidatos a cargos públicos? Evitavam-se estas trapalhadas.

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POPULISMO VENCE

Maria Flor Pedroso, directora de informação da RTP, demitiu-se esta manhã, por não ter condições para a prossecução de um trabalho sério, respeitado e construtivo.

O Conselho de Administração aceitou a decisão e, em comunicado, sublinhou a qualidade do trabalho desenvolvido de forma dedicada, competente e séria de Maria Flor Pedroso, jornalista de idoneidade e currículo irrepreensível.

Lamentável.

domingo, 15 de dezembro de 2019

MARIA FLOR PEDROSO


A violenta campanha orquestrada pela Direita contra Maria Flor Pedroso, directora de informação da RTP, encontrou resposta por parte da classe a que pertence.

Até ao momento, cerca de 120 profissionais assinaram um documento de apoio à jornalista:

«Confrontados com o grave ataque público à integridade profissional da jornalista Maria Flor Pedroso, os jornalistas abaixo-assinados não podem deixar de tomar posição em sua defesa, independentemente das questões internas da empresa onde é diretora de informação, que manifestamente nos ultrapassam. Maria Flor Pedroso é jornalista há mais de 30 anos, sem mácula [...] uma jornalista exemplar reconhecida e respeitada pelos pares, defensora irredutível do jornalismo livre, rigoroso, sem cedências ao mediatismo, a investigações incompletas ou à pressão de poderes de qualquer natureza...»

Entre os signatários encontram-se Adelino Gomes, Ana Sousa Dias, Anselmo Crespo, António Borga, Carlos Andrade, Cesário Borga, Cristina Ferreira, Fernando Alves, Francisco Sena Santos, Goulart Machado, Henrique Monteiro, João Garcia, João Paulo Guerra, José Carlos Vasconcelos, José Mário Costa, José Pedro Castanheira, José Silva Pinto, Luísa Meireles, Nicolau Santos, Ricardo Costa, Rui Pêgo, São José Almeida e Sérgio Figueiredo.

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ANNA KARINA 1940-2019


Vítima de cancro, morreu a noite passada a actriz e cantora Anna Karina, musa de Godard, símbolo da nouvelle vague e referência do cinema francês dos anos 1960 e 70.

Além de Godard, com quem fez oito filmes, entre eles Une femme est une femme (1961), Vivre sa vie (1962) e Pierrot le Fou (1965), Anna Karina trabalhou com Rivette, Varda, Fassbinder, Vadim, Zurlini, Visconti, Cukor, Richardson, Delvaux, Ruiz e outros.

Nascida Hanne Karin Bayer, na Dinamarca, país onde teve vários empregos antes de ser modelo e cantora de cabaret, mudou o nome de nascença quando chegou a Paris. A sugestão partiu de Coco Chanel, com quem trabalhou. Ainda na Dinamarca, foi (aos 17 anos) o rosto da publicidade aos sabonetes Palmolive. Quem a descobriu para o cinema foi Godard, um dos seus quatro maridos. Assim que se conheceram convidou-a para À bout de souffle (1960), mas ela recusou.

Como cantora, ficaram famosas as canções que gravou com Serge Gainsbourg.

Tendo trabalhado como actriz em cinema, teatro e televisão, ainda arranjou tempo para escrever e publicar, entre 1973 e 1998, quatro romances.

Tinha 79 anos.

Clique na imagem da Cinemateca Francesa.