Fernanda Câncio, no Diário de Notícias. Excertos, sublinhados meus:
«Há nos EUA uma expressão muito usada na política: pork. Este pork, ou seja, carne de porco, refere situações em que se desperdiça o dinheiro público para benefício de clientelas. Em Portugal não temos palavras assim, tão despachadas e carregadas de ironia, para designar ocorrências típicas da política. [...] Aliás, quando o País, na retórica atual do PSD, balançava indefeso à beira da bancarrota, os sociais-democratas não só obstaculizavam estas racionalizações de recursos como bradavam (ouve-se ainda o eco indignado) contra qualquer aumento de impostos ou baixa das deduções fiscais. Rasgavam as vestes ante a proposta de aumento do IVA em produtos alimentares tão essenciais e saudáveis como os refrigerantes e o leite com chocolate — os mesmos que nem um ano após anunciavam o aumento do da restauração para 23%.
E os autointitulados democratas cristãos, o que guinchavam, no fim de 2010, com o congelamento das pensões? Ainda zumbe nos ouvidos. Mas ei-los, no OE 2012, a aprovar, sem tugir, o esbulho de dois subsídios aos pensionistas [...] Que propostas fizeram, de 2005 a 2011, para combater o que apelidam de “criminoso despesismo do Estado”? Como votaram diplomas governamentais visando conter a despesa pública ou racionalizar recursos? Ah pois é. Portanto, de cada vez que um ministro, secretário de Estado ou deputado do PSD ou do PP se erga para mais uma catilinária contra o anterior governo pelo “estado a que isto chegou” na vã tentativa de nos distrair das enormidades do atual, gritemos todos, a plenos pulmões: “Leite com chocolate.” É mais elegante que aldrabões e tem a vantagem de avivar a memória.»
E os autointitulados democratas cristãos, o que guinchavam, no fim de 2010, com o congelamento das pensões? Ainda zumbe nos ouvidos. Mas ei-los, no OE 2012, a aprovar, sem tugir, o esbulho de dois subsídios aos pensionistas [...] Que propostas fizeram, de 2005 a 2011, para combater o que apelidam de “criminoso despesismo do Estado”? Como votaram diplomas governamentais visando conter a despesa pública ou racionalizar recursos? Ah pois é. Portanto, de cada vez que um ministro, secretário de Estado ou deputado do PSD ou do PP se erga para mais uma catilinária contra o anterior governo pelo “estado a que isto chegou” na vã tentativa de nos distrair das enormidades do atual, gritemos todos, a plenos pulmões: “Leite com chocolate.” É mais elegante que aldrabões e tem a vantagem de avivar a memória.»