sábado, 20 de janeiro de 2018

CALL ME BY YOUR NAME


Sim, fui ver. Não, não é uma obra-prima. Mas devia ser visto por todos os papás e mamãs com filhos menores. E talvez exibido em escolas do ensino secundário. Adaptado do romance homónimo de André Aciman, o escritor judeu sefardita, nascido em Alexandria, que ensina teoria literária em Nova Iorque, o filme sinaliza todas as idiossincrasias do autor: tradição hebraica, cultura árabe e homossexualidade. O romance é de 2007, o filme é de 2017. James Ivory escreveu o argumento e co-produziu. A realização é de Luca Guadagnino, que passou a infância na Etiópia e é filho de mãe argelina. Sublinho intencionalmente o melting pot.

Timothée Chalamet, 22 anos, e Armie Hammer, 31, são os protagonistas desta história de amor vivida em 1983, em Crema, na Lombardia. Plot: arqueólogo italiano de origem judaica contrata assistente judeu-americano para o ajudar nos meses de férias, filho do arqueólogo (dezassete anos) apaixona-se pelo assistente do papá (vinte e muitos anos), o qual retribui com o dobro da convicção, os pais do adolescente percebem e apoiam, as férias acabam, os dois passam uma semana sozinhos nas montanhas, o americano regressa a casa e, na tarde do Hanukkah, telefona a dizer que vai casar por imperativo social. Seguir com atenção a conversa do pai com o filho depois da separação. As cenas entre os dois rapazes são persuasivas e estão filmadas com elegância, mesmo a do pêssego besuntado com esperma. Não esquecer que tudo isto se passa na Itália de 1983, entre gente culta, com desafogo económico e respeito pelas tradições hebraicas. Ecos de Visconti e vagas reminiscências de Il giardino dei Finzi-Contini (Vittorio de Sica, 1970) vêm-me à memória. Por último, a música de Sufjan Stevens não me parece nada adequada ao ambiente encantatório do filme, mas se calhar sou eu que sou cota.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

EUROSONDAGEM


Maioria de Esquerda = 56,7%. Sozinho, o PS ultrapassa o PSD em 14,4% (e a PAF em 7,4%). A popularidade de António Costa e a aceitação do Governo continuam a subir. Clique na imagem do Expresso para ler melhor.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

CRUZ & TCHERNICHÉVSKI


Hoje na Sábado escrevo sobre Jalan Jalan, de Afonso Cruz (n. 1971). Cada novo livro do autor costuma ser sinal de boa surpresa. Nessa medida, Jalan Jalan não desilude. Antes pelo contrário. Para a maioria dos leitores o título soará estranho, mas o autor explica: «Jalan significa rua em indonésio […] Jalan jalan, a repetição da palavra, que muitas vezes forma o plural, significa, neste caso, passear.» Passear vai bem com o autor, flâneur multidisciplinar da vida cultural portuguesa. Jalan Jalan é um livro sobre experiências de viagem, narradas numa sucessão de textos de tamanho variável, conectados entre si por remissões temáticas. No fim de cada, uma janela sinaliza os envios. Não são crónicas, no sentido canónico, mas textos abertos que compõem um macrotexto. Já uma vez escrevi que o autor é um dos mais cultos da sua geração, e este livro, na sua prosa fluída, no modo inteligente como nos dá a ler o mundo, é prova bastante. Este juízo não ignora o diálogo hábil com obras e autores de todos os tempos (Marco Aurélio, Schrödinger, etc.), o contrário de um name-dropping fútil. Afonso Cruz usa as viagens como ferramentas do conhecimento, em aspectos centrais da vida dos povos, como sejam a cultura, a organização política, a religião, os hábitos e costumes de civilizações milenares. As experiências de viagem aqui vertidas ora nos surpreendem na Bolívia ou na Estónia, fugindo quase sempre ao clichê. Não diria o mesmo do ‘retrato’ de Berlim: sendo exacto, encaixa na caracterização de Londres ou Nova Iorque. Ironia suprema: a cidade tornou-se «uma capital tão homogénea […] como tantas outras»… no preciso momento da reunificação, porquanto o inventário de ‘diferenças’ constitui o máximo denominador comum. Dito de outro modo, o autor deixou-se envolver pela heterodoxa onda de cosmopolitismo da capital alemã, afinal replicável noutras metrópoles. Fique registado porque não é despiciendo: ao contrário da maioria dos autores ‘novos’, Afonso Cruz não se inibe de dizer o que pensa da contemporaneidade. Sirva de exemplo o texto Eles vêm todas as madrugadas. Sim, estamos a falar da oligarquia dos banqueiros e do colapso da Europa. Com excepção de duas, todas as fotografias são do autor. Cinco estrelas. Publicou a Companhia das Letras.

Escrevo ainda sobre O Que Fazer?, de Nikolai Tchernichévski (1828-1889). Pode um romance mudar o rumo História? Tendo em vista as repercussões do único romance escrito pelo autor, diremos que sim. Joseph Frank, o biógrafo de Dostoiévski, sublinha: «O romance de Tchernichévski, mais que O Capital de Marx, forneceu a dinâmica emocional que eventualmente desembocou na Revolução Russa.» Líder dos democratas revolucionários russos, Tchernichévski foi preso em São Petersburgo e exilado para a Sibéria, onde permaneceu vinte anos. Ali escreveu O Que Fazer?, obra que inspirou vários políticos, entre eles Rosa Luxemburgo e Lenine, que até escreveu um livro com o mesmo título, mas também escritores da craveira de Strindberg e Nabokov. Escrito e publicado em pleno czarismo, O Que Fazer? viria a tornar-se um clássico da literatura soviética. Traduzido directamente do russo, o livro chegou finalmente à edição portuguesa. Lido hoje, o plot parece trivial. Mas na sociedade russa de 1863 não era comum os escritores fazerem a defesa da emancipação das mulheres. Nem os personagens de romance serem cidadãos que abdicam dos seus privilégios em favor do ideal socialista. Se lhe acrescentarmos transgressão moral, percebemos melhor o sucesso da obra. Quatro estrelas. Publicou a Guerra & Paz.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

PARLAMENTO CATALÃO


O novo Parlamento catalão foi hoje investido. Roger Torrent, 38 anos, da ERC, é o novo Presidente. À segunda volta, foi eleito por 65 votos, contra os 56 obtidos por José María Espejo-Saavedra, do CIUDADANOS. Os votos em branco foram 9.

Os vice-presidentes da Mesa são Josep Costa, de JUNTSxCAT, e José María Espejo-Saavedra, de CIUDADANOS.

Aguardar os próximos capítulos.