quarta-feira, 4 de outubro de 2017

TO BE OR NOT TO BE


Carles Puigdemont falou e não pronunciou uma única vez a palavra independência.

Sobre Felipe VI, afirmou: «Así no, usted ha decepcionado a muchos catalanes. Gente que esperaba de usted una apelación al diálogo y a la concordia

Contudo, o porta-voz da Generalitat, Jordi Turull, afirmou esta manhã que a declaração unilateral de independência será proclamada 48 horas após a publicação, prevista para o próximo sábado, do resultado oficial do referendo. Nestes termos, segunda-feira, dia 9, haverá DUI. Haverá?

VALE FERRAZ & McBRIDE


Hoje na Sábado escrevo sobre A Última Viúva de África, de Carlos Vale Ferraz, pseudónimo literário de um antigo oficial do Exército (nascido em 1946) que é também investigador de história contemporânea portuguesa. O autor acaba de publicar mais um romance, desta vez centrado na figura de uma mulher que terá sido agente dupla na província congolesa do Catanga, antes, durante e após a breve secessão liderada por Tshombé. Estamos portanto no território de eleição do autor: África e conflitos independentistas. De uma bibliografia mais vasta, destacaria dois títulos: o romance Nó Cego (1983), obra de referência sobre a guerra colonial, e o ensaio histórico Alcora. O Acordo Secreto do Colonialismo (2016), escrito em parceria com Aniceto Afonso. Vale Ferraz tem uma escrita escorreita e um traquejo natural para diluir na ficção alguma da informação “classificada” que esteve por trás de factos reais, enriquecendo o romance com essa mais-valia. Numa breve nota introdutória, não assinalada como tal, o autor socorre-se da historiadora Dalila Cabrita Mateus para caucionar a existência da enigmática Madame X, «nome de código de uma informadora residente em Leopoldville…». Madame X foi uma portuguesa que emigrou para o antigo Congo Belga nos anos 1950, fixando-se na região do Catanga, e em África permaneceu quase toda a vida, malgrado os solavancos da História. No livro, Madame X chama-se Alice Oliveira ou, para os mercenários da secessão do Catanga, Kisimbi. O acto derradeiro foi partir para a Nova Zelândia, onde morreu. A trasladação do seu corpo para Portugal envolve peripécias que servem de fio condutor do plot. A partir de Leopoldville, Madame X terá alertado a Pide e as autoridades angolanas para a iminência do massacre (oitocentos colonos brancos e milhares de negros chacinados por guerrilheiros da UPA em toda a Baixa do Cassange) iniciado na noite de 15 de Março de 1961. Não obstante a folga do aviso, uma semana, mais coisa menos coisa, Luanda não reagiu. A posteridade regista esses dias de horror e não é a primeira vez que a ficção portuguesa faz deles cenário do inenarrável. O mérito de Vale Ferraz consiste em coser as várias pontas da guerrilha nacionalista com os interesses da geo-política internacional. Quatro estrelas. Publicou a Porto Editora.

Escrevo ainda sobre Pequenos Boémios, o segundo e mais recente livro de Eimear McBride (n. 1976). Depois do êxito retumbante da estreia, Eimear mantém a peculiaridade da sintaxe, próxima da escrita automática dos surrealistas ortodoxos. Isso pode desconcertar o leitor, embora a maior parte das vezes ele acabe “capturado” pelo fluxo de consciência da autora. A transgressão mantém-se de regra. O ménage à trois descrito nas páginas 143-44 é um bom exemplo, até de como as elipses narrativas não afectam o discurso (e, neste caso concreto, nem sequer diminuem o teor de erotismo). Tal como fez a autora na adolescência, a narradora é uma rapariga de dezoito anos que vai para Londres estudar teatro, envolvendo-se emocionalmente com um actor mais velho. Decorrendo a acção nos anos 1990, a tentação da leitura auto-referente é grande. O romance lê-se como um diário de sexo, escrito em jargão cru (vénia à tradução), de modo a pôr teenagers em ponto rebuçado. Ao contrário do que vem exarado na badana, Eimear não nasceu na Irlanda. Nasceu na Inglaterra, em Liverpool, e só aos três anos de idade foi para a Irlanda. Em 1993 voltou para Inglaterra, onde vive. Três estrelas. Publicou a Elsinore.

RENDAS


Aqui está uma boa notícia. O Governo tem praticamente pronto o diploma relativo ao programa de Arrendamento Acessível. Os senhorios que praticarem rendas acessíveis terão isenção de IRS e pagarão apenas 50% do valor do IMI. Por rendas acessíveis consideram-se as que estiverem 20% abaixo do valor de referência de mercado. Não confundir ‘valor de referência de mercado’ (um coeficiente estabelecido) com algumas rendas delirantes.

A imagem é do Expresso. Clique.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

SANTANA, AGAIN

Passos Coelho quer sair o mais tardar até Dezembro. Disse-o no Conselho Nacional do PSD, num discurso transmitido em directo pelas televisões. Entretanto, Santana Lopes declarou na SICN estar a ponderar candidatar-se à liderança do partido. Os próximos meses vão ser divertidos. A perspectiva de enfrentar Santana (um príncipe da Renascença ao pé da caterva passista) fará recuar Rui Rio pela enésima vez. Contra Santana, o único com guts para avançar será Paulo Rangel, mas perde. Com Santana na corrida, perdem todos.

ESPANHA


Ouvi em directo o discurso de Felipe VI, rei de Espanha. Acusou a «Generalitat de situarse al margen del derecho y de la democracia», declarou «solidaridad y la garantía del Estado de Derecho» aos catalães anti-independência e, por fim, exortou o Estado a «restaurar el orden constitucional en Cataluña». A exortação final só tem uma leitura. A ver vamos se Rajoy percebeu.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

AUTÁRQUICAS 2017


Totais nacionais finais.

PS 161 Câmaras — 39,06%
PSD 98 C — 27,86%
CDU 24 C — 9,46%
CDS 6 C — 6,6%
BE 0 C — 3,29%
Independentes 17 C — 6,79%
Abstenção 45,03%

Abstenção 45,03%

Clique na imagem para ver melhor.

CATALUNHA


Segundo a Generalitat, votaram 2,2 milhões de pessoas, o que corresponde a 42% dos recenseados. Disseram sim à independência 90% dos votantes. Carles Puigdemont prepara-se para declarar a independência unilateral da Catalunha depois de amanhã, dia 4. Sem comentários.

Gráfico do jornal catalão La Vanguardia. Clique.

PSD EM FRANGALHOS


O Partido Socialista obteve ontem a maior vitória autárquica da sua história, conquistando 161 Câmaras, nove das quais eram da CDU, que perdeu bastiões históricos como Almada, Barreiro, Peniche, Beja e Barrancos. Fernando Medina foi reeleito em Lisboa com 106 mil votos (42%) e 8 mandatos. Em Lisboa, o PS conquistou 20 das 24 freguesias. O PSD foi esmagado no país. Em termos nacionais, a diferença entre PS e PSD é de cerca de doze pontos percentuais. No Porto, Manuel Pizarro (segundo lugar) obteve uma votação superior à do PS nas Legislativas de 2015. A abstenção baixou, ficando em 45%. Sem surpresa, Isaltino Morais reconquistou Oeiras depois de cumprir pena de prisão.

Imagem: capa do Público. Clique.

LISBOA


Com 42% e mais de cem mil votos, Fernando Medina continua presidente em Lisboa. Assunção Cristas ultrapassou a barreira dos 20% e dos cinquenta mil votos. Teresa Leal Coelho, afinal, ficou em 3.º lugar. PSD e CDU obtiveram o mesmo número de mandatos, mas Teresa conseguiu mais quatro mil votos. O BE elegeu Ricardo Robles.

domingo, 1 de outubro de 2017

BARCELONA, 1 DE OUTUBRO


As imagens dizem tudo. Clique nelas.