terça-feira, 17 de agosto de 2021

PESOS E MEDIDAS

A forma como tanta gente tem reagido à queda de Cabul, invectivando Washington, leva-me a alinhavar alguns comentários.

Na sequência do 11 de Setembro, o Afeganistão não foi ocupado pelos Estados Unidos, foi ocupado pela NATO, sob liderança norte-americana (a Austrália, que não é membro da NATO, também integrou a coligação). Não esquecer que, ao longo dos últimos vinte anos, Portugal teve forças no terreno.

Os que hoje lamentam a falta de solidariedade americana pela população afegã, acaso manifestaram solidariedade com as populações de Angola, Guiné, Moçambique, etc., durante a descolonização exemplar...? Alguém falou ou fala dos campos de reeducação que a Frelimo manteve em Nachingwea, Bagamoyo e Mitelela? Alguém se lembra das vítimas da reeducação, na sua maioria moçambicanos negros? Falo desses campos no meu livro de memórias, mas não sou o único. Ungulani Ba Ka Khosa, nome tsonga de Francisco Esau Cossa, também o faz no seu livro Entre Memórias Silenciadas (2013), como antes dele fizera o historiador João Paulo Borges Coelho em Campo de Trânsito (2007). Em Portugal alguém quis saber? 

Biden disse, por outras palavras: Estamos fartos! Acabou. Se não estava a debitar a cartilha do MRPP — Nem mais um soldado para as colónias —, andou lá perto.

Os que andam há décadas a demonizar «a América» não podem agora querer virar a História do avesso.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

ESTAMOS FARTOS, DIZ ELE


Interrompendo as férias em Camp David, Biden deslocou-se esta tarde à Casa Branca para falar ao país quando eram 16:05 em Washington.

Breve resumo: «A escolha que tive de fazer como Presidente foi respeitar o acordo de retirada das nossas forças.» Acrescentou que não faria sentido «intensificar o conflito, enviando milhares de soldados americanos de volta ao combate, prolongando o conflito pela terceira década

Afinal de contas, «os líderes políticos do Afeganistão desistiram e fugiram do país, desprezando centenas de biliões de dólares em equipamentos e recursos com militares que depuseram as armas.» Terminou dizendo que não se arrependia da decisão, assumindo total responsabilidade.

Pelo meio também disse que não se pode impor a terceiros o nosso modelo de sociedade, sobretudo quando eles não querem.

Não houve direito a perguntas. Biden abandonou o salão assim que acabou de falar.

Pela primeira vez, um Presidente norte-americano fez a vontade à opinião pública europeia, aparentemente desconcertada com o fracasso da operação da NATO — como Merkel reconheceu —, operação de vinte anos na qual participaram norte-americanos, canadenses, britânicos, alemães, franceses, espanhóis, portugueses, etc. Um dia histórico, este 16 de Agosto de 2021.

Clique na imagem do NYT.

domingo, 15 de agosto de 2021

CESÁRIO


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi De Tarde de Cesário Verde (1855-1886), o mais destacado precursor da moderna poesia portuguesa.

Natural de Lisboa, Cesário Verde nasceu no seio de uma família de comerciantes abastados. Tinha dois anos quando uma epidemia de febre-amarela assolou Lisboa, obrigando a família a deslocar-se para Linda-a-Pastora, localidade onde Cesário passou a infância.

Aos 18 anos matriculou-se no Curso Superior de Letras, que abandonou ao fim de três meses. Data dessa época a sua amizade com Silva Pinto, o miglior fabbro. Aprendeu latim, francês e, para trabalhar numa loja do pai, rudimentos de contabilidade. Colaborou em revistas e jornais de Lisboa e de Azeitão. Vítima de tuberculose, morreu no Paço do Lumiar com 31 anos.

O poema desta semana pertence à sequência O Sentimento dum Ocidental, incluída no Livro de Cesário Verde (1887), edição póstuma organizada e publicada pelo amigo Silva Pinto, autor do prefácio. A imagem foi obtida a partir da edição que o Círculo de Leitores fez, em 1982, para a colecção Clássicos da Literatura Portuguesa.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha e Edith Arvelos.]

Clique na imagem.