Não me pronuncio sobre os méritos das vacinas para o Covid-19 pela mesma razão pela qual não discuto física quântica.
Uma coisa sei: os Governos europeus, em especial o alemão, o britânico, o espanhol, mas também o português, estão a criar expectativas muito altas para a vacinação.
— Os alemães fazem pontaria para a segunda quinzena de Dezembro, tendo encomendado trezentos milhões de doses da vacina da Pfizer/BioNtech, desenvolvida pelos cientistas turcos Ugur Sahin e Özlem Türeci.
— Os britânicos dizem ter prontas a distribuir, o mais tardar em Janeiro, cem milhões de doses da vacina da AstraZeneca, desenvolvida na Universidade de Oxford, com capitais suecos, a partir de um adenovírus de chimpanzé.
— O presidente do Governo espanhol afirmou, sem se rir, que toda a população espanhola estará vacinada até ao Verão de 2021. Com que vacina, não disse. Mas, para tranquilizar os obsessivo-compulsivos, até disse que têm 13 mil postos de vacinação, número que deve corresponder ao dos centros de saúde espalhados pelo reino.
— Marta Temido, ministra portuguesa da Saúde, tem dado garantias de que os serviços competentes estão a trabalhar no plano de vacinação. O director-geral da Pfizer Portugal confirmou. O grupo de trabalho nacional é coordenado por Francisco Ramos, professor na Escola Nacional de Saúde Pública, antigo presidente do IPO de Lisboa, e secretário de Estado da Saúde em cinco governos. A logística é da responsabilidade de Henrique Gouveia e Melo, adjunto para o Planeamento e Coordenação do Estado-Maior General das Forças Armadas.
— Quanto se sabe, Portugal encomendou dezasseis milhões de doses, alegadamente de três vacinas diferentes: a da Pfizer/BioNtech (alemã), a da AstraZeneca (inglesa) e a da Moderna, da Therapeutics of Cambridge (americana).
— Aparentemente, a Europa não conta com as vacinas russa (Sputnik V), chinesa, israelita, brasileira (a que está a ser desenvolvida pela Universidade Federal do Paraná), a italiana (a Grad-Cov2, do Instituto Lazzaro Spallanzani), e mais uma dúzia sem eco nos media.
O ponto não são as vacinas em si mesmas. O ponto é a mistura explosiva do preço, índice de eficácia, dose única ou dupla, logística de armazenamento (com que grau de refrigeração), distribuição e vacinação. São aspectos sensíveis que deviam arrefecer os discursos oficiais que se ouvem de Londres a Madrid.
A partir de Janeiro, se não for antes, o descalabro económico global associado aos confinamentos — medidas que não fazem diminuir o número de mortos e hospitalizados —, esse caldeirão de lava que alastra, transformará as cidades europeias em campos de batalha. Repito: campos de batalha.
A persistirem restrições à livre circulação e ao fecho de actividades económicas, com o desemprego a disparar para níveis estratosféricos, dificilmente chegaremos a Fevereiro sem ver o exército nas ruas de Madrid, Paris, Londres, Berlim, etc. Se juntarmos a isto um flop na miragem das vacinas, é de temer o pior.
Cautela e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
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