sexta-feira, 29 de outubro de 2021

EM QUE FICAMOS?

Se o Presidente da República publicar o decreto de dissolução do Parlamento até ao próximo dia 15 de Novembro, as eleições antecipadas podem realizar-se a 9 de Janeiro de 2022, uma vez cumprido o intervalo de 55 dias prescrito pela Constituição. 

Mas como, aparentemente, o calendário anda a ser gizado entre o PR e Paulo Rangel, o candidato a líder que quer eleições a 27 de Fevereiro, o país vai ter de esperar pelo desfecho das convulsões internas do PSD. E se agora, com a crise instalada, Rui Rio conseguir impor o adiamento das directas marcadas para 4 de Dezembro? Ou se, não as conseguindo adiar, vencer Rangel?

O imbróglio repete-se no CDS, mas o CDS não risca.

Entretanto, deputados de vários partidos querem fazer aprovar, antes da dissolução, catorze diplomas (eutanásia, fundos do PRR, outros). Porque a única mudança garantida, apesar da dissolução, é o aumento do salário mínimo, o qual apenas depende de portaria do Governo.

Tudo isto se resolvia com novo OE para 2022 se apresentado no prazo de 90 dias. Não sabemos se o PR subscreve o solução, já sugerida por Bruxelas. O PCP quer, mas suponho que não seja a vontade do Governo.

PARA MEMÓRIA FUTURA


Quem durante o debate do OE 2022 ouviu Rui Rio e outros próceres da Direita e extrema-direita, julgaria o país à beira de novo resgate.

A imagem é do Expresso. Clique.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

ELEIÇÕES ANTECIPADAS

Não sou de prognósticos, mas não é difícil antecipar o resultado das eleições antecipadas. 

— Se não se bater por (e obtiver) maioria absoluta, o PS não terá condições para formar Governo. É preciso convencer os eleitores dessa necessidade, dizendo com clareza ao que vai. Se ficar pela ambiguidade da “maioria reforçada” não vai a lado nenhum. Ser o Partido mais votado não chega.

— Se o PSD concorrer coligado com o CDS e a Iniciativa Liberal, é grande a probabilidade de obter maioria absoluta. A ver vamos quem lidera o Partido a partir das directas de Dezembro. Rui Rio parece aberto à grande coligação. Paulo Rangel, por enquanto, quer concorrer sozinho e fazer acordos pós-eleitorais. A ver vamos.

— Se uma hipotética maioria relativa PSD+CDS+IL depender do CHEGA (muito provavelmente a terceira força política) para obter maioria absoluta, Ventura será o suporte do tripé.

— Na próxima Primavera falamos.

VIGDIS HJORTH


Hoje na Sábado.

Com Herança, a norueguesa Vigdis Hjorth (n. 1959) tornou-se uma das autoras mais discutidas da literatura europeia contemporânea. Vigdis começou pela literatura infantil, mas de seguida publicou cerca de trinta romances, sendo a Herança o primeiro a chegar à edição portuguesa.

No ano em que foi publicado (2016) o livro gerou controvérsia pela sua natureza autobiográfica. À laia de recado, a autora cita A Festa, o filme de Thomas Vinterberg. Na Noruega, foram muitos os que reconheceram no plot nada menos que três gerações da família Hjorth. Vigdis foi acusada de usar diverso material privado, como por exemplo correspondência familiar. A irmã, Helga, até publicou a sua versão dos factos, num livro que foi um bestseller. E a mãe de ambas processou a companhia de teatro que encenou uma adaptação da obra.

Relatos de sordidez familiar não são novidade em literatura. Os noruegueses tinham o precedente de Karl Ove Knausgård, mas o quinteto Melrose, do inglês Edward St Aubyn, continua sem equivalente em matéria de transgressão. Isto dito, a Herança não surpreende pelo tema. O que o distingue é a escrita da autora, nem sempre linear, porém estimulante nos seus avanços, recuos e minúcia descritiva. Certas repetições parecem-me escusadas, mas terá que ver com o discurso obsessivo compulsivo. Curiosamente, críticos de língua inglesa têm falado de Vigdis Hjorth como de um híbrido de Jane Austen e Agatha Christie, com laivos de Ibsen.

Incesto (em criança, Bergljot foi várias vezes abusada sexualmente pelo próprio pai) e disputas patrimoniais entre quatro irmãos constituem uma mistura explosiva. Vigdis Hjorth constrói a narrativa explicando as razões que levam a sua narradora a aliar-se ao irmão mais velho, contra as irmãs mais novas, na querela que o opõe à partilha das casas de férias dos pais. No momento em que decide expor as memórias acumuladas da infância traumática, Bergljot é uma escritora e crítica de teatro, mãe de três filhos adultos, divorciada, há muito afastada do núcleo familiar. A herança é o detonador do conflito. Com prejuízo dos filhos mais velhos, Bergljot e Bård, o testamento do patriarca beneficia as filhas mais novas (menos ausentes da casa-mãe). Sem essa disputa, provavelmente Bergljot não traria à tona o recalque de anos de manipulação e abuso.

Por causa deste livro, há cinco anos que os media e a intelligentsia da Noruega discutem os limites da literatura “da realidade”.

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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

E AGORA, SENHOR PRESIDENTE?

Consumado o chumbo da proposta de OE 2022, aguarda-se a dissolução do Parlamento. O Presidente da República, que jantou com o primeiro-ministro, começa a ouvir os Partidos sexta-feira, tendo convocado o Conselho de Estado para o próximo 3 de Novembro.

Uma vez que a Constituição estabelece o prazo mínimo de 55 dias entre a publicação do decreto presidencial de dissolução da AR e as eleições antecipadas, dificilmente poderíamos ter novas eleições antes do fim do ano. Mas nada, excepto a vontade do Presidente, impede que se realizem a 9 de Janeiro. Sucede que PSD e CDS têm congressos agendados para precisamente Janeiro e, nessa medida, o mais provável é que as eleições sejam marcadas para 13 de Fevereiro.

Não foi por simples cortesia que Marcelo recebeu Paulo Rangel. No auge de uma crise política, a prioridade do Presidente diz tudo sobre a sua vontade. Rui Rio tem razão para dar pinotes de corça.

Entretanto vão pelo cano as creches gratuitas, o reforço do SNS, o aumento das pensões, o desdobramento dos escalões de IRS, as novas leis laborais, etc. Com sorte, estaremos a discutir novo Orçamento lá para Maio do próximo ano, em condições análogas às desta semana, salvo se o PS (ou o PSD) conseguirem maioria absoluta. Continuem a brincar às coligações nórdicas e depois queixem-se.

OE CHUMBADO


Estava escrito nas estrelas: aliada à Direita e à extrema-direita, a Esquerda à esquerda do PS acaba de chumbar a proposta de Orçamento de Estado para 2022.

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POESIA PORTUGUESA EM FRANÇA


Chega amanhã às livrarias de Paris. Organizado por Max de Carvalho, editado por Chandeigne, La Poésie du Portugal des Origines au XXe Siècle colige poetas portugueses nascidos entre o século XII e 1949. Representado com oito poemas, sou o mais novo.

Capa dura, edição bilingue, vários tradutores, quase mil e novecentas páginas em papel bíblia, notas, índices, verbetes biográficos. Um dos meus poemas não consta do corpus que seleccionei para Desobediência (2011), mas o editor aduziu argumentos que me convenceram.

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segunda-feira, 25 de outubro de 2021

ELEIÇÕES À VISTA

Vamos portanto para eleições, porque António Costa — e muito bem — não aceitará apresentar novo orçamento. O Presidente da República talvez preferisse um delay, mas o primeiro-ministro não está para aí virado.

Portanto é fácil antever o resultado. Eleições em Fevereiro ou Março, provável maioria de Direita (mesmo que o PS seja o partido mais votado) se, como tudo indica, PSD, CDS e IL concorrerem coligados, impossibilidade de refazer a maioria parlamentar de Esquerda, aprovação garantida de um Orçamento de Estado feito à medida do patronato, etc. Mas não é isso mesmo que os esquerdalhaços querem?

PCP OUT

Pela boca de Jerónimo de Sousa ficou há pouco a saber-se que o PCP também votará contra o OE 2022. Ficámos portanto a saber que parte significativa da Esquerda anseia pelo regresso da Direita ao poder. De certo modo compreende-se: sobreviver à boleia de protestos não tem o ónus da responsabilidade. Que lhes faça bom proveito.

domingo, 24 de outubro de 2021

AS CHAFARICAS

Curioso, para não lhe chamar pateta, o raciocínio de transformar o chumbo do OE na vitória do partido A ou B. Julgava que o diploma nos implicava a todos. Afinal é das contas da chafarica A ou B que andamos a tratar. Ora bolas.