sábado, 8 de junho de 2019

RENDAS ACESSÍVEIS

Não me lembro de nenhum Governo português, nenhum (nem o de Sócrates antes de 2010), que tivesse contra si todos os media. É fácil perceber porquê: os media são controlados pela Oposição. Mesmo a RTP, estatal, tem uma gestão predominantemente de Direita. Idónea, mas alinhada à Direita.

Exemplo recente, o Programa de Arrendamento Acessível tem sido ilustrado pelos tectos máximos da tabela aplicados a casas localizadas nas zonas mais caras do país. Se explicassem que os valores médios (repito: médios) correspondem a 4,8 euros por metro quadrado, lá se ia o brilharete.

Quem ler com atenção as portarias publicadas anteontem, verifica que, dentro de tipologias específicas

— a um T1 corresponde uma renda de 301 euros
— a um T2 corresponde uma renda de 387 euros
— a um T3 corresponde uma renda de 458 euros

Com certeza que haverá rendas superiores, para casas de maior dimensão.

Mas quem leia jornais, veja televisão e ouça comentadores, retém apenas o número mágico: São 1.200 euros por um T2 em Lisboa... Ora nem sequer existe uma renda tabelada por concelho.

E assim se vai envenenando a opinião pública.

A questão que devia ser discutida é o valor máximo do rendimento anual colectável que permite às famílias candidatarem-se. O estabelecido é tão baixo que, por exemplo, deixa de fora famílias com rendimento anual 44 mil euros, mais coisa menos coisa. Ou seja, toda a classe média-média.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

O QUE MAIS IRÁ SABER-SE?


Criada em 2017, no Porto, por José Oliveira e Castro, o cérebro da operação stop nas autoestradas entretanto demitido.

Notícia e imagem do Jornal Económico, Clique. 

quinta-feira, 6 de junho de 2019

PREJUÍZOS & PRÉMIOS


Resultante da renovação da frota, um facto meritório, a TAP fechou o exercício do ano passado com 118 milhões de euros de prejuízos. Até aqui, nada de anormal. Pelo contrário.

Até porque a companhia contratou cerca de mil trabalhadores nos últimos seis meses, abriu novas rotas directas a partir de Lisboa (Washington, Chicago e São Francisco abrem nos próximos dias) e, como toda a gente sabe, não se fazem omeletes sem ovos.

O aspecto menos claro foi a Comissão Executiva ter atribuído a 180 trabalhadores, do topo à base, prémios no montante total de 1,17 milhões de euros. Os que receberam mais embolsaram 110 mil euros cada um.

Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas e da Habitação, não gostou:

«Este procedimento por parte da Comissão Executiva da TAP constitui uma quebra da relação de confiança entre a Comissão Executiva e o maior accionista da TAP, o Estado português. O Governo solicitou a convocatória, com carácter de urgência, de uma reunião do Conselho de Administração para esclarecimento de todo o processo...»

Não esquecer que o Estado detém 50% do capital da empresa, estando representado por seis administradores no conselho de administração: Miguel Frasquilho, o presidente, Esmeralda Dourado, António Gomes Menezes, Ana Pinho, Bernardo Trindade e Diogo Lacerda Machado.

Na imagem, um dos novíssimos Airbus Neo. Clique.

5 STELLE BEIRÃO


Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, cidadão que nas eleições presidenciais de 2016 obteve 152.094 votos, fundou um partido político, o RIR [Reagir, Incluir, Reciclar].

As formalidades foram cumpridas e o Tribunal Constitucional validou «as subscrições de 7.613 cidadãos eleitores», das 10.688 apresentadas. Como toda a gente sabe, em Portugal, um partido político legaliza-se a partir de 7.500 assinaturas validadas.

Acho extraordinário que se possa fundar um partido político com 7.500 assinaturas. Tudo o que seja menos de 1% da população maior de 18 anos (e estou a ser benevolente) é ridículo. Um partido político não é uma agremiação de bairro.

Clique na imagem.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

SENA EM COLÓQUIO


O Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho está a organizar um Colóquio comemorativo do centenário do nascimento de Jorge de Sena, a realizar no campus de Gualtar, em Braga, nos próximos 21 e 22 de Novembro.

Fazem parte da comissão organizadora Ana Ribeiro, Carlos Mendes de Sousa, Isabel Cristina Mateus, Micaela Ramon, Rita Patrício e Sérgio Sousa. A Obra seniana será analisada nos diversos eixos em que se desenvolve: poesia, ficção, dramaturgia, ensaio, historiografia literária, correspondência, tradução, recepção crítica e relação com outras artes.

A Comissão Científica é composta por Orlando Grossegesse, director do CEHUM, Vítor Aguiar e Silva, da Universidade do Minho, Osvaldo Manuel Silvestre, da Universidade de Coimbra, Eduardo Lourenço, da Fundação Calouste Gulbenkian, Luís Adriano Carlos, da Universidade do Porto, Jorge Fazenda Lourenço, responsável pela edição da Obra do autor, Kenneth David Jackson, da Yale University (USA), Gilda Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Maria Lúcia Outeiro Fernandes, da Universidade Estadual Paulista (Brasil), e João Camilo dos Santos, da University of California Santa Barbara.

Ainda não são conhecidos os autores das comunicações a apresentar, uma vez que o prazo de entrega só termina no próximo dia 30.

Na imagem, Sena retratado (1949) por Fernando Lemos. Clique.

terça-feira, 4 de junho de 2019

O ANO DO CENTENÁRIO


Passam hoje 41 anos sobre a morte de Jorge de Sena (1919-1978), figura maior da Literatura portuguesa de todos os tempos. Sena morreu em Santa Bárbara (Califórnia), com 58 anos. Os restos mortais foram trasladados para Lisboa em Setembro de 2009.

Em Novembro próximo passam cem anos do seu nascimento. Mas a Academia exonerou-se de assinalar a data com o congresso internacional que lhe é devido.

Como escrevi nas minhas memórias, «Sena teve o destino dos exilados: morrendo longe, a pátria assobiou para o lado. A imprensa da época encheu primeiras páginas com artigos de fundo e retratos. [...] Mas o foguetório durou pouco. Sena veio a Portugal pela última vez a convite de Eanes, para as cerimónias do 10 de Junho de 1977. Mas nem a democracia o livrou dos anticorpos. A universidade portuguesa, sempre generosa com os tolos, foi incapaz de lhe oferecer um lugar. Pior: o establishment boicotou essa possibilidade

Seria pleonástico sublinhar a importância de Sena na poesia, na ficção (conto, novela e romance), no teatro, no ensaio, na teoria e crítica literária, nos estudos camonianos, na exegese pessoana, na historiografia literária, na diarística, nos mil e um prefácios de livros próprios e alheios, na correspondência, nas traduções, etc. Sena atingiu um patamar que condena à irrelevância a larga maioria das glórias nacionais.

Na imagem, Sena retratado (em 1949) por Fernando Lemos. Clique.

PENSADORA ENTRE AS COISAS PENSADAS


Em Abril de 2008, Agustina foi doutorada honoris causa pela Universidade Tor Vergata, de Roma.

Na imagem, capa do volume bilingue que colige o elogio da autora feito por Aniello Angelo Avella, a Lectio Magistralis escrita por Agustina, um dos retratos que Alberto Luís fez da mulher, e o facsimile do diploma.

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segunda-feira, 3 de junho de 2019

AGUSTINA, SEMPRE


Hoje na edição online da Sábado.

Desapareceu aos 96 anos a maior romancista portuguesa do século XX. Agustina deixou-nos na madrugada desta segunda-feira, após doze anos de reclusão da vida pública, a que se viu forçada pelo acidente vascular cerebral sofrido no início de 2007. Estava ainda na memória de todos a obra mais recente, A Ronda da Noite, saída dos prelos no Outono de 2006. Rembrandt serviu de pretexto para contar a história dos Nabascos, família que não suportava amadores, «fosse na arte, fosse nos negócios ou na política…» Absolutamente vintage.

Nascida em Vila Meã, Amarante, a 15 de Outubro de 1922, foi sempre uma mulher do Norte. Ali casou, ali lhe nasceu uma filha — a escritora e artista plástica Mónica Baldaque —, ali se fez à vida literária. Estreada em 1948, com Mundo Fechado, Agustina escreveu cerca de cem livros, em todos os géneros: ficção (romances, novelas e contos), dramaturgia, literatura infantil, biografia, ensaio, crónica, viagens, memórias e artigos de opinião. Em 1954, A Sibila fez dela uma autora respeitada. Iam longe os tempos das diatribes de Jaime Brasil. Saudada por Aquilino, Régio, Pascoaes e Ferreira de Castro, Agustina tornava-se a primeira escritora a quebrar o domínio do Partido Comunista na vida cultural portuguesa. Eduardo Lourenço falou mesmo do surgimento de uma «literatura nova». 

A medida do reconhecimento pode avaliar-se pelo facto de, logo em 1962, ter integrado a delegação nacional ao congresso da Comunità Europea Degli Scrittori, realizado em Florença. Ao lado de Sophia de Mello Breyner Andresen, Urbano Tavares Rodrigies, Natália Correia, José Cardoso Pires e Orlando da Costa, a presença de Agustina, uma conservadora de convicções fortes, era a nota dissonante. Mas em 1974 Agustina era já um nome incontornável. Sem surpresa, a implosão do Estado Novo contribuiu para lhe reforçar a aura.

Aos romances que podem ser lidos como trilogia da revolução — As Pessoas Felizes, 1975, Crónica do Cruzado Osb., 1976, e As Fúrias, 1977 —, seguiram-se outros nos quais, sob variados ângulos, teceu a narrativa do país. Exemplo de grande conseguimento, Os Meninos de Ouro, de 1983, põe em pauta o destino de Francisco Sá Carneiro (doublé de José Matildes), o primeiro-ministro morto na última noite da campanha presidencial de 1980. Picante suplementar, o romance mete Sophia e o primo Ruben A. entre as personagens. E assim se foi consolidando a imagem de autora de culto.

Ao contrário de outros, nunca o espírito do tempo a impediu de tomar posições claras. A título de exemplo, veja-se o desassombro com que apoiou o referendo à despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Também nunca se esquivou a polémicas, como as que envolveram o facto de ter sido mandatária de Freitas do Amaral nas eleições presidenciais de 1986 (em 1976 tinha apoiado Eanes); as posições assumidas enquanto vogal da Alta Autoridade para a Comunicação Social; bem como a heterodoxa gestão do Teatro Nacional D. Maria II, do qual foi directora entre 1990 e 1993. Está na memória de muitos a recordação de ter patrocinado na Casa de Garrett a exibição da revista Passa por mim no Rossio, de Filipe La Féria. O mesmo se diga da época em que dirigiu O Primeiro de Janeiro, jornal do Porto com largas tradições na vida da cidade.

A cumplicidade com Manoel de Oliveira deu azo a vários filmes: Francisca, o primeiro, feito a partir de Fanny Owen, romance de 1979 que mete Camilo no plot; o segundo, Vale Abraão, inspirado no romance homónimo de 1991, etc. Estaria na calha outro, sobre A Ronda da Noite, mas o projecto caducou com a saída de cena de Agustina.

Outro romance passado ao cinema foi A Corte do Norte, com realização de João Botelho. É provável que os filmes tenham alargado o número de leitores, conquanto Agustina nunca tenha sido uma autora bestseller.

Doutorada honoris causa por várias universidades, entre elas a Tor Vergata de Roma, Agustina recebeu todos os prémios e condecorações que há para receber no nosso país. Em 2004 foi a vez do Prémio Camões. Membro da Academia das Ciências de Lisboa, da Academia Brasileira de Letras e da Academie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres, jamais a obra foi beliscada pelo exercício de cargos públicos ou funções institucionais.

A morte surpreendeu-a hoje na casa da Rua do Gólgota. Mas vamos continuar com ela. A editora Relógio d'Água tem estado a reeditar a obra, prevendo-se para breve o volume da correspondência (inédita) trocada com Juan Rodolfo Wilcock, o poeta e escritor argentino de quem foi amiga.

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AGUSTINA BESSA-LUÍS 1922-2019


Agustina morreu esta madrugada. Tinha 96 anos. Farei mais tarde o obituário da maior romancista portuguesa do século XX. Por enquanto não há palavras. 

À família, em particular a sua filha Mónica Baldaque, os meus sentimentos.

Origem da foto: O Livro de Agustina, 2007. Clique