quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

VAN DINE & NOVÍSSIMOS


Hoje na Sábado escrevo sobre A Morte da Canária, de S. S. Van Dine (1888-1939), novo título da Colecção Vampiro, que entre 1947 e 2007 publicou centenas de obras de literatura policial em formato livro de bolso, e capas inconfundíveis, ora expressionistas ora surrealistas, na sua maioria de Cândido Costa Pinto. Após um hiato de dez anos, a colecção regressou com Os Crimes do Bispo, do mesmo Van Dine, pseudónimo do crítico de arte Willard Huntington Wright, um dos mais populares autores policiais de sempre. Acumulando a crítica de arte com os romances policiais, Van Dine publicou em 1928 um importante ensaio sobre o thriller, ainda hoje um texto de referência para os estudiosos do género. Não obstante a aparente trivialidade da história que o detective Philo Vance tem de resolver (a Canária, famosa cantora da Broadway, aparece morta em casa após receber a visita de vários homens; o assassino tanto pode ser um gangster como um notável da alta sociedade de Manhattan), A Morte da Canária tem outra ambição. Van Dine tem um tipo de raciocínio e uma escrita sofisticada. Veja-se a forma como, na introdução, deixa no ar a possibilidade de Margaret Odell ter sido uma personagem real: a «impenetrabilidade do crime transformaram-no num dos mais singulares e assombrosos casos ocorridos nos anais da Polícia de Nova Iorque…» O romance está pontuado de remissões de natureza política e cultural, traço distintivo da obra de Van Dine e, por extensão, da personalidade de Philo Vance, o detective com pretensões a integrar o círculo dos Four Hundred… Além de Van Dine, o catálogo da nova série já inclui obras de Ellery Queen, Dashiell Hammett, Raymond Chandler e Rex Stout. Para os mais jovens, que descobriram o thriller há meia dúzia de anos por intermédio da saga Millennium, do sueco Stieg Larsson, a Colecção Vampiro ilustra a diferença entre a tradição clássica, ou seja, anglo-americana, e a deriva pós-punk do imaginário escandinavo. Seria muito aliciante se autores como James Hadley Chase, Conan Doyle, William Riley Burnett, Patricia Highsmith, James Mallahan Cain, Chester Himes, Horace Mac Coy, e outros, viessem a integrar a colecção. Quatro estrelas. Publicou a Livros do Brasil.

Escrevo ainda sobre Naquela Língua, antologia de dezoito poetas brasileiros novíssimos. Portugueses e brasileiros deixaram de ler os poetas da outra margem do Atlântico. Salvo académicos, os brasileiros pararam em Pessoa e os portugueses em Drummond. Um ou outro episódio de marketing não muda a realidade. Por isso é de saudar a edição desta antologia de poetas nascidos entre 1974 e 1990, muitos deles com livros editados pela 7 Letras e pela Oficina Raquel, editoras de referência do Rio de Janeiro. Numa breve nota introdutória, Francisco José Viegas, responsável pela selecção, sublinha que são poetas «com obra publicada exclusivamente no século XXI», mas não os enquadra no contexto da tradição brasileira, nem faz juízos hermenêuticos. Alinhou os autores por ordem alfabética, com micro-verbete biobibliográfico a anteceder os poemas. A tarefa de avaliar a importância relativa de cada um fica por conta do leitor. Destaco quatro em particular: Annita Costa Malufe (n. 1975), Maria Rezende (n. 1978), Caco Ishak (n. 1981) e Diego Callazans (n. 1982), boas surpresas para quem sabe pouco, ou mesmo nada, sobre quem chegou depois de Antonio Cícero, Ana Cristina Cesar e Eucanaã Ferraz, um trio de excepção. O volume inclui vinte e cinco poemas inéditos. Quatro estrelas. Publicou a Elsinore.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

PARA QUE CONSTE


Ainda não somos uma República das bananas. Clique nas imagens.