sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

VOTAR NO PS


Dezenas de personalidades independentes, ligadas à Cultura, ao Ensino (superior), à Arquitectura, ao Desporto, etc., assinaram um manifesto de apoio ao PS do qual também sou signatário.

Cito três parágrafos:

«Num momento de tentações autoritárias e populistas, com soluções falsas e fáceis, temos de confiar num partido e num candidato a primeiro-ministro que nos garanta fidelidade indubitável aos princípios democráticos e vontade de os defender e praticar, tornando-os vivos e presentes. [...]

«Num momento de velhas ameaças e novos riscos sociais, precisamos de um partido e de um candidato a primeiro-ministro que, pelo que diz e pelo que já fez, não tem a tentação de voltar às injustas políticas de austeridade, fundadas nas receitas economicistas do neo-liberalismo mais agressivo. [...]

«Num momento de comparação de opções programáticas, é fundamental que confiemos num partido e num candidato a primeiro-ministro que escolha, não um modelo de desenvolvimento assente na mão de obra barata, mas a valorização e a qualificação das pessoas, apostando na economia do conhecimento, na educação, na investigação científica e tecnológica, e na cultura

Alguns dos signatários: Alice Vieira, Ana Vidigal, António Carlos Cortez, António Lobo Antunes, António Victorino d'Almeida, Bruno Schiappa, Carlos Albino, Cristina Carvalho, David Santos, Delfim Sardo, Eduardo Souto Moura, Emília Silvestre, Fernanda Fragateiro, Graça Morais, Hélder Costa, Helena Vasconcelos, Henrique Cayate, Irene Flunser Pimentel, Isabel Rio-Novo, Joana Vasconcelos, João Lourenço, João Luís Carrilho da Graça, João de Melo, Lia Gama, Lídia Franco, Lídia Jorge, Luís Filipe Castro Mendes, Maria do Céu Guerra, Maria de Medeiros, Miguel Lobo Antunes, Nuno Júdice, Paula Guedes, Pedro Caldeira Cabral, Pedro Portugal, Richard Zimler, Rui Vieira Nery, Simonetta Luz Afonso, Teresa Rita Lopes, Tiago Bartolomeu Costa e Valter Hugo Mãe.

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EMPATE


Duas sondagens divulgadas ontem à noite dão empate técnico entre PS e PSD.

CESOP da Universidade Católica para a SIC, RTP, Antena Um e Público.

 — PS 37% / PSD 33%

Tracking poll da CNN — PS 36,5% / PSD 32,9%

Conclusão: se o resultado das urnas coincidir com estas intenções, só no último minuto se saberá qual o Partido mais votado. Mas algumas coisas parecem certas: nenhum partido obterá maioria absoluta / o CH será a terceira força parlamentar / a IL está empatada com o BE / o CDS dificilmente conseguirá eleger um deputado. São péssimas previsões.

O chumbo do OE vai sair muito caro à Esquerda

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quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

JAVIER MARÍAS


Um novo romance de Javier Marías (n. 1951) é sempre um acontecimento. E Tomás Nevinson, provavelmente o melhor de todos os que publicou até hoje, não constitui excepção. Traz consigo o aliciante de colocar no título o protagonista de Berta Isla, alegado alter-ego do autor.

Filho de um filósofo exilado por causa de Franco, eterno candidato ao Nobel, admirado sem reservas pelos mais ilustres dos seus pares europeus e norte-americanos, romancista, contista, ensaísta, tradutor de Sterne, Conrad, Yeats, Auden, Nabokov, Ashbery e outros, antigo professor de literatura em Oxford, nada na sua obra (várias vezes premiada dentro e fora de Espanha) se confunde com a imagem de marca da literatura espanhola contemporânea. Digamos com clareza: Javier Marías é o mais importante escritor espanhol dos últimos cinquenta anos.

Sob a aparência de um thriller, Tomás Nevinson põe em pauta o dilema moral de matar ou não matar, o “dever” de optar por uma dessas soluções. Veja-se o episódio que une o escritor alemão Friedrich Reck-Malleczewen ao destino de Hitler: podia tê-lo morto em 1936, mudando o curso da História, mas não o fez, acabando morto em Dachau.

Com os massacres da ETA em pano de fundo, detalhando alguns dos mais brutais, o plot é narrado na primeira pessoa, excepto quando Nevinson veste a pele de Miguel Centurión Aguilera, o pacato professor de inglês pelo qual se faz passar em Ruán, a cidade fictícia onde tem por missão descobrir, entre três mulheres — Inés Marzán, Celia Bayo e María Viana —, qual delas é de facto Magdalena Orúe O’Dea, «metade da Irlanda do Norte e metade da Rioja…», o cérebro por trás do crime hediondo. Por se tratar de um exercício sobre o bem e o mal, a culpa, o medo e a memória, e não de mero panfleto sobre espiões e terrorismo político, Shakespeare é citado com propriedade. Mas, como sempre, a vasta erudição da prosa não perturba a fluidez do discurso.

Calibrando cada frase com a precisão de um joalheiro, ao mesmo tempo que mantém a tensão narrativa num jogo de harmónicas não isento de mordacidade e humor, Javier Marías não esquece as vítimas do separatismo basco, o ónus do horror. Tomás Nevinson, o romance, é apenas o invólucro elegante da interpelação que deixa à posteridade.

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domingo, 16 de janeiro de 2022

NEMÉSIO


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi A Caminho do Corvo de Vitorino Nemésio (1901-1978), um dos poetas centrais do século XX português.

Natural de Praia da Vitória, na Ilha Terceira (Açores), Nemésio publicou em Angra do Heroísmo o primeiro livro, Canto Matinal, não tinha ainda quinze anos feitos.

Depois do serviço militar, já em Lisboa, colaborou na imprensa da época. Em 1922, em Coimbra, concluiu o ensino secundário, matriculando-se na Faculdade de Direito, ao mesmo tempo que trabalhava como revisor da Imprensa da Universidade. No ano seguinte foi admitido na Maçonaria. Em 1925 trocou o curso de Direito pelo de Filologia Românica, tornando-se docente da Faculdade de Letras de Lisboa em 1931.

Além de poesia, publicou um dos mais importantes romances portugueses de sempre, Mau Tempo no Canal (1944). Mas também contos, teatro, ensaios, crónicas, uma biografia de Herculano e uma antologia de poesia brasileira dos séculos XVII e XVIII.

Durante quase sessenta anos, colaborou activamente em jornais e revistas (algumas das quais fundou), tendo, após 25 de Novembro de 1975, sido o primeiro director do jornal conservador O Dia, lançado pelos jornalistas despedidos do Diário de Notícias durante o PREC.

Antes de tornar-se catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa (1940), foi leitor de português em Montpellier (1934-36) e Bruxelas (1937-39). Ao longo da vida ministrou cursos em vários países, do Brasil a Moçambique.

Ligado ao separatismo açoriano durante o PREC, nem por isso deixou de ser uma personalidade extremamente popular, celebrizado pelas crónicas da Emissora Nacional e pelo programa Se Bem Me Lembro que a RTP transmitiu a partir de 1969.

Continuam inéditos os poemas eróticos, de que se conhece apenas um, Pedra de Canto, publicado no n.º 35 (1977) da revista Colóquio-Letras.

O poema desta semana pertence a Sapateia Açoriana (1976). A imagem foi obtida a partir do Volume II de Obras Completas (1989), organizado por Fátima Freitas Morna e publicado pela Imprensa Nacional.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade, José Carlos Ary dos Santos, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Al Berto e Alexandre O’Neill.]

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