sábado, 18 de março de 2017

DEREK WALCOTT 1930-2017


Morreu ontem Derek Walcott, poeta, dramaturgo e ensaísta caribenho, Prémio Nobel da Literatura em 1992. Quanto sei, nenhum livro seu está traduzido em Portugal. O legado colonial e a questão identitária são centrais à sua obra. Em 2009, um pacote anónimo com páginas fotocopiadas de um livro onde é acusado de assédio sexual em Harvard, frustrou a candidatura ao lugar de professor de poesia em Oxford. Morreu em Santa Lúcia, onde nasceu. Tinha 87 anos.

PORQUÊ?

Sou capaz de perceber o ódio que muitos magistrados e professores do ensino básico e secundário votam a Sócrates. A redução das férias judiciais e o sistema de avaliação de docentes explicam a fronda corporativa. Mas o justicialismo militante de grande parte da comunidade jornalística é para mim um mistério. Não estou a falar de estagiários, nem de opinadores avençados. Estou a falar de titulares de carteira profissional que em vez de pensarem pela sua cabeça preferem ser capachos do Ministério Público. É de facto muito estranho.

sexta-feira, 17 de março de 2017

A CULPA É DO VIZINHO


Pensava que já tinha visto tudo?
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A VIDA COMO ELA É


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FRANÇA


Sondagem do Monde, hoje.
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quinta-feira, 16 de março de 2017

MARGARET ATWOOD


Hoje na Sábado escrevo sobre O Coração é o Último a Morrer, o penúltimo romance de Margaret Atwood (n. 1939), autora que volta a esticar os limites da distopia. Dentro de trinta anos saberemos se ela foi o Jules Verne da transição do século XX para o XXI. Verne publicou nos anos 1860-70 diversas obras de antecipação que preencheram o imaginário de várias gerações. Margaret Atwood investe menos na vertente científica, pondo o acento tónico na mutação civilizacional que tem sido o traço distintivo das últimas décadas: fundamentalismo religioso vs laicismo, totalitarismo vs normas constitucionais, xenofobia vs dissolução de fronteiras, e assim por diante. Quem, tendo lido Órix e Crex (2003) ou O Ano do Dilúvio (2009), tem presente as tramas respectivas, sabe que o colapso da civilização tal como a conhecemos é o foco central da obra da autora. Isto é válido para as questões ambientais e, de forma correlata, para o autoritarismo. Pode parecer-nos absurdo o que acontece com Charmaine e Stan, personagens de O Coração é o Último a Morrer. A questão é: até quando? Até quando isto não rompe o formato de um romance distópico? Charmaine e Stan, vítimas dos Mercados, foram descartados. Ela trabalhava num lar para idosos, ele numa empresa de robótica. O crash deu cabo de tudo, «todo o sistema ruíra», o dinheiro foi pelo cano, mentiras e fraudes fizeram lei: «Na televisão, hordas de peritos de meia-tigela tentavam explicar por que razão aquilo acontecera […] mas tudo isso não passava de suposições da treta.» Agora dormem no carro, um Honda em terceira mão. Servir à mesa, como Charmaine fez durante uma temporada, ou permanecer desempregado por excesso de habilitações, como sucedeu com Stan, não permite alternativa. E depois temos Consiliência, a cidade onde está localizado o Projecto Positrão. Charmaine e Stan tiveram sorte em ser admitidos. Regras simples: mês sim, mês não, cedem a sua liberdade (indo para uma cela de prisão) a troco de uma casa. Não é o romance que inquieta. É o grau de premonição. Quatro estrelas. Publicou a Bertrand.

DOR DE CABEÇA EM HAIA


Elegendo 33 deputados, o partido liberal VVD, de Mark Rutte, primeiro-ministro desde 2010, ficou em primeiro lugar. Mas o PVV, de Geert Wilders, líder da extrema-direita holandesa, ficou em segundo, com 20 deputados. Depois há dois partidos com 19 deputados cada um: os cristãos-democratas do CDA e os anarquistas radical-chic do D66. Como a soma do VVD com o CDA e o D66 não atinge os 76 deputados necessários para a maioria absoluta, Rutte tem duas hipóteses: ou se coliga novamente com os trabalhistas do PvdA (nove deputados), ou com os ecologistas do GL (catorze deputados). Ter no Parlamento 20 racistas assumidos  não é pêra doce, mas podia ter sido pior.

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quarta-feira, 15 de março de 2017

AKRASIA


Parece uma anedota de mau gosto? Não é.
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EM QUE FICAMOS?

Como surgiu o 17 de Março? Contra mim falo, mas sempre supus que Joana Marques Vidal, no despacho de prorrogação de prazo do inquérito a Sócrates, tivesse escrito... até 17 de Março. Afinal não. O que a Procuradora-Geral da República estabeleceu foi um prazo de 180 dias. Ora os 180 dias terminaram à meia-noite de segunda-feira, 13 de Março. Os advogados do antigo primeiro-ministro já requereram à PGR notificação «do despacho de enceramento do inquérito», porque os actos praticados depois do dia 13 são ilegais.

O que me espanta é que, até ao momento, que se saiba, nenhum jornalista tenha ido à PGR perguntar como é. Provavelmente nem se deram ao trabalho de contar pelos dedos.

NEXIT?

Hoje é dia de eleições gerais na Holanda. Concorrem 28 partidos. Por tradição, 14 conseguem eleger deputados. As últimas sondagens dão empate técnico entre o VVD, ou Volkspartij voor Vrijheid en Democratie, de Mark Rutte, primeiro-ministro desde 2010, e o PVV, ou Partij voor de Vrijheid, de Geert Wilders, líder da extrema-direita.

Rutte tem 50 anos, é solteiro e liberal. Wilders, dissidente do VVD, 53 anos, casado, assumidamente xenófobo e anti-imigração, tenciona propor um referendo para a saída da UE.

Nos últimos cem anos, todos os governos holandeses foram de coligação. E nem sempre o primeiro-ministro sai do partido mais votado. Portanto, a menos que o PVV consiga eleger os 76 deputados necessários para a maioria absoluta, Wilders dificilmente será PM. Mas é evidente que uma votação muito expressiva no seu partido influenciará a condução da política holandesa, qualquer que seja o perfil do governo que venha a ser empossado. Estima-se que o PVV (Wilders) eleja 26 deputados, contra 28 do VVD (Rutte). A ver vamos.

terça-feira, 14 de março de 2017

TURQUIA VS UE

A Turquia não autoriza o regresso a Ankara do embaixador da Holanda. Ausente do país, o embaixador preparava-se para regressar ao seu posto. «Não fomos nós que criámos esta crise», disse Numan Kurtulmus, vice-primeiro-ministro e porta-voz do Governo turco.

segunda-feira, 13 de março de 2017

BREXIT EM FORÇA

Esta noite, a Câmara dos Comuns chumbou os diplomas da Câmara dos Lordes sobre o Brexit. Por 335 votos contra 287, foi rejeitada a protecção dos direitos dos imigrantes (incluindo os da UE) residentes no Reino Unido. Por 274 votos contra 135, foi rejeitada a exigência de votação parlamentar no fim das negociações. Theresa May ficou com as mãos livres para fazer o que quiser.

O FOLHETIM

O Ministério Público desistiu de meter Vale de Lobo no pacote de acusações a Sócrates. Inexistência de provas sustentáveis, esclarece Judite de Sousa. Aliás, nem provas nem... agarrem-se, indícios! Nada. Como o antigo primeiro-ministro ainda estava a ser interrogado quando a TVI deu a notícia, pode-se conjecturar tudo. O facto do prazo ir derrapar (a deadline era a próxima sexta-feira, dia 17) não é novidade, mas Judite sublinha que os prazos são meramente indicativos. Portanto, mais um mesito, na melhor das hipóteses. Razão tinha o Presidente da República quando, hoje de manhã, na sessão de abertura da conferência “Justiça igual para todos”, promovida pela Associação 25 de Abril e realizada na Gulbenkian, se manifestou desconfortável com o estado da Justiça. E disse-o com ar sisudo, coisa rara nele.

domingo, 12 de março de 2017

NAPALM

Lembram-se da tirada famosa de Robert Duvall, martelada ao som da Cavalgada das Valquírias, de Wagner? Esta: «Adoro o cheiro de napalm logo pela manhã.» É a frase mais citada de Apocalypse Now, o filme de Coppola. Aplica-se com propriedade à situação actual na Europa. O que está a passar-se entre a Holanda e a Turquia é de uma gravidade extrema. Na prática, os dois países estão com as relações diplomáticas cortadas: embaixadas encerradas em Haia e Ankara, consulados encerrados em Roterdão e Istambul. Um ministro turco impedido de desembarcar em Amesterdão, uma ministra turca impedida de entrar no consulado do seu próprio país, detida e expulsa de Roterdão. Comícios de apoio ao referendo de Erdogan, cancelados e proibidos na Holanda. Motins de rua desde ontem à noite. Erdogan ameaça proibir o acesso de companhias aéreas holandesas à Turquia. É muita coisa junta.

Na Alemanha, a situação mantém-se dentro de limites razoáveis. Foram autorizados trinta comícios, mas Merkel foi ao Bundestag dizer que não admitia comparações com o regime nazi. Os holandeses, que também não gostaram de ouvir Erdogan dizer que eles têm mentalidade e actuam em função de reminiscências nazis, estão a esticar a corda, até porque no próximo dia 15 há eleições gerais.

ESCALADA


Aumenta a tensão entre a Holanda e a Turquia. A embaixada holandesa em Ankara foi encerrada pelas autoridades turcas, bem como o consulado em Istambul. O ministério turco dos Negócios Estrangeiros aconselhou o embaixador holandês a meter férias longas. Entretanto, Fatma Betül Sayan Kaya, ministra turca dos Assuntos Familiares, foi mesmo expulsa da Holanda. Ahmed Aboutaleb, o presidente da Câmara de Roterdão, foi claro: «Ela foi expulsa para o país de onde veio.» Lembrar que Ahmed Aboutaleb, muçulmano, é um imigrante marroquino com dupla nacionalidade. No Twitter, a governante publicou o statement que a imagem mostra. A violência prossegue nas ruas.

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TURNING POINT

A Holanda impediu Mevlüt Cavusoglu, ministro turco dos Negócios Estrangeiros, de entrar no país. Cavusoglu ia participar num comício de apoio ao referendo que aumenta os poderes de Erdogan. Em seu lugar foi Fatma Betül Sayan Kaya, ministra turca dos Assuntos Familiares, que fez a viagem de carro a partir da Alemanha. Mas o presidente da Câmara de Roterdão, Ahmed Aboutaleb (marroquino, muçulmano, imigrante com dupla nacionalidade), mandou bloquear todos os acessos ao centro da cidade e a ministra foi impedida de chegar ao consulado turco. A embaixada da Turquia em Haia, bem como o consulado em Roterdão, foram encerrados. A ministra vai ser deportada. Esta noite, milhares de manifestantes da comunidade turca enfrentaram (e tudo indica que o motim prossiga) a polícia holandesa em vários pontos da cidade. Depois dos incidentes na Alemanha, onde vivem três milhões de turcos, chegou a vez da Holanda desafiar Erdogan. Isto não augura nada de bom.