sábado, 23 de maio de 2020

MEMORIES


Como eu me lembro de Glória de Sant’Anna.

Em 1968, quando comecei a escrever e a publicar poemas, já Glória de Sant’Anna era um nome consagrado em Moçambique. Um daqueles poetas que admiramos à distância. Nunca tendo ido a Pemba, não a conhecia em pessoa.

Um dia, para vaidade e surpresa minha, recebi pelo correio dois livros seus, autografados — Um Denso Azul Silêncio, de 1965, e Desde Que o Mundo e 32 Poemas de Intervalo, publicado em 1972, com ilustrações de Teresa Roza d’Oliveira.

Só nos conhecemos pessoalmente em Julho de 1974, na tarde do dia 27, o sábado em que Spínola reconheceu o direito à independência das Colónias, dando início ao processo de descolonização. O nosso encontro aconteceu por mero acaso, no gabinete de Rui Knopfli, então director do vespertino A Tribuna, instalado no mesmo edifício do Notícias. Não me recordo se ouvimos juntos o discurso do general. Sei que ficou combinada uma carilada de amendoim para a noite do dia seguinte, em casa do Rui, na Bellegarde da Silva, ou seja, na actual Avenida Francisco Orlando Magumbwe, de Maputo.

Esse jantar, em que também esteve presente o poeta Sebastião Alba, foi o nosso (meu e de Glória de Sant’Anna) segundo e último encontro.

Em Portugal, novo desencontro. Glória de Sant’Anna vivia em Ovar, no distrito de Aveiro, e eu em Cascais, nos arredores de Lisboa. Mas quando, em 1988, a Imprensa Nacional publicou Amaranto, a reunião da sua poesia, escrevi uma recensão crítica que saiu no n.º 108 (Março de 1989) da revista Colóquio-Letras, da Fundação Calouste Gulbenkian.

Ficou a sua poesia, clara, luminosa, atenta aos sinais da terra. Isso basta.

— Eduardo Pitta, in Quando o silêncio é sujeito, Pemba & Sêwi Editores (Moçambique), 2019.

A imagem foi retirada do livro. Clique.

GLÓRIA DE SANT'ANNA


Glória de Sant’Anna (1925-2009) não goza, em Portugal, do reconhecimento que a sua obra poética justifica. Tendo vivido cerca de 26 anos em Moçambique, mais exactamente em Porto Amélia, actual cidade de Pemba, e Vila Pery, actual cidade de Chimoio, compreende-se o relativo descaso. Afinal, Moçambique fica do outro lado do mundo.

Contudo, Glória de Sant’Anna é autora de doze livros de poesia (os primeiros seis publicados em Moçambique), dois livros de literatura infantil e dois volumes de memórias. Em 1988, a Imprensa Nacional publicou Amaranto, volume que colige os seis livros publicados em Moçambique entre 1951 e 1972. O conjunto da obra poética foi reunido em 2010, no volume póstumo Gritoacanto.

Agora, dois antigos alunos seus (Glória era professora do ensino secundário), moçambicanos ambos, Luís Loforte e Edmundo Galiza Matos, organizaram e publicaram em Pemba um volume de homenagem que reúne testemunhos de quem com ela privou mas também breves ensaios críticos — Quando o silêncio é sujeito.

Além dos organizadores, o volume colige textos dos filhos de Glória de Sant’Anna e testemunhos de dezenas de personalidades, entre elas Eugénio Lisboa, Teresa Roza d’Oliveira, Mia Couto, José Luís Porfírio, Fátima Mendonça e Celso Muianga

A convite de Inez Andrade Paes, sua filha, também colaboro. Em post separado farei a publicação do meu testemunho. Para já, fica a notícia da homenagem.

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Portugal, 23 de Maio de 2020

LEITURAS DO CONFINAMENTO, 8


Sinais de Fogo, Jorge de Sena, 1979

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sexta-feira, 22 de maio de 2020

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Portugal, 22 de Maio de 2020

LEITURAS DO CONFINAMENTO, 7


Cien Años de Soledad, Gabriel García Márquez, 1967 / Cem Anos de Solidão

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quinta-feira, 21 de maio de 2020

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Portugal, 21 de Maio de 2020

DOIS TÍTULOS, UM LIVRO


Mémoires d’Adrien, o clássico que Marguerite Yourcenar publicou em 1951, e Maria Lamas traduziu em 1960 com o título A Vida Apaixonante de Adriano, foi sempre citado no original, mas, em português, só depois do 25 de Abril passou a Memórias de Adriano.

Escritora culta (nem sempre ocorre), comunista, activista do feminismo internacionalista, Maria Lamas fez uma tradução brilhante das Mémoires d’Adrien. Desconheço a razão do título de viés. Opção pessoal? Exigência da censura?

A imagem mostra as duas edições, ambas na Ulisseia. Clique.

LEITURAS DO CONFINAMENTO, 6


Mémoires d’Adrien, Marguerite Yourcenar, 1951 / A Vida Apaixonante de Adriano

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quarta-feira, 20 de maio de 2020

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Portugal, 20 de Maio de 2020.

LEITURAS DO CONFINAMENTO, 5


Obra Poética, Rui Knopfli, 2003

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terça-feira, 19 de maio de 2020

EMIGRANTES SEM QUARENTENA


Depois de falar com Macron, Costa obteve a garantia de que os emigrantes portugueses em França estão dispensados de quarentena após regressarem das férias em Portugal.

Clique no tuíte do primeiro-ministro.

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Portugal, 19 de Maio de 2020.

LEITURAS DO CONFINAMENTO, 4


O Continente, Érico Verissimo, 1949

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segunda-feira, 18 de maio de 2020

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Portugal, 18 de Maio de 2020.

DESCONFINAMENTO, FASE DOIS


Começou hoje a segunda fase do desconfinamento. Reabriram as esplanadas, cafés, pastelarias e restaurantes, mas também os museus, galerias de arte, monumentos e palácios, as creches e, desde que autorizados pela autarquia, os centros comerciais.

Por iniciativa própria, vários cafés e restaurantes reabrem com horário reduzido (não servindo jantares), mas mantêm o serviço de take away.

Grande parte dos trabalhadores regressa hoje às empresas, pondo fim ao teletrabalho. Na maioria dos casos esse regresso faz-se por turnos e sob regras de distanciamento.

Os transportes públicos voltam aos horários pré-pandemia.

A partir de hoje também regressam as visitas aos Lares e residências sénior, condicionadas a uma visita semanal por residente, com marcação prévia e duração máxima de 90 minutos.

Recomeçam as aulas presenciais dos 11.º e 12.º anos, embora um estudo da Universidade do Minho revele que 59% dos visados não esteja de acordo com a medida.

Regressam ainda as aulas presenciais de condução.

Muitos hotéis aproveitam a data para reabrir. Lembrar que ninguém os mandou fechar (o encerramento deu-se por falta de clientes), embora mais de 95% o tenha feito.

Como se vê na imagem, o primeiro-ministro já tomou o pequeno-almoço na esplanada do Califa.

Clique na imagem do Diário de Notícias.

LEITURAS DO CONFINAMENTO, 3


Poesia, Luiza Neto Jorge, 1992

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domingo, 17 de maio de 2020

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Portugal, 17 de Maio de 2020.

JOSÉ CUTILEIRO 1934-2020


Morreu hoje em Bruxelas o embaixador José Cutileiro, que não terá um obituário à altura daqueles que durante anos a fio escreveu no Expresso sobre personalidades da política, da diplomacia, da ciência, das artes, dos negócios, do beau monde, etc., não necessariamente as que davam azo a manchetes.

Por força da profissão do pai, médico ao serviço da OMS, Cutileiro passou a infância em países tão diferentes como a Suíça, a Índia e o Paquistão.

Em Lisboa frequentou a Escola Superior de Belas-Artes e a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa mas, depois de abandonar os estudos de arquitectura e medicina, partiu para Inglaterra, onde se doutorou em antropologia social, tornando-se fellow do St Antony’s College de Oxford e, a seguir, docente da London School of Economics.

Ingressou na carreira diplomática em 1974, como conselheiro cultural na embaixada de Portugal em Londres. Entre os vários postos que ocupou, contam-se os de representante permanente de Portugal junto do Conselho da Europa, embaixador de Portugal em Maputo, director-geral dos Negócios Político-Económicos do ministério dos Negócios Estrangeiros, coordenador da Conferência de Paz para a Jugoslávia (1992) e secretário-geral da União da Europa Ocidental. Como diplomata, integrou as equipas que negociaram a entrada de Portugal na CEE.

Criou como alter-ego a personagem de Alfred Barnaby Kotter, o aristocrata inglês que a partir de sua casa em Colares discreteava sobre o Portugal pós-revolucionário. Em 2007, a Assírio & Alvim reuniu essas crónicas (1982-1998) no volume Bilhetes de Colares, de A. B. Kotter, o mais conhecido dos nove livros que publicou, laureado com o Grande Prémio de Crónica da Associação Portuguesa de Escritores.

Tinha 85 anos e estava hospitalizado.

LEITURAS DO CONFINAMENTO, 2


Selected Essays [1932-1962], T. S. Eliot  / Ensaios Escolhidos

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