quinta-feira, 19 de maio de 2016

TATIANA SALEM LEVY


Hoje na Sábado escrevo sobre Paraíso, de Tatiana Salem Levy (n. 1979), brasileira nascida em Lisboa porque era aqui que os pais viviam, fugidos à ditadura militar. Anda cá e lá. Escreveu um ensaio sobre Blanchot, Foucault e Deleuze, contos, dois livros infantis e três romances. O mais recente, Paraíso, chegou agora às livrarias portuguesas. Se é verdade que a primeira frase marca um romance, Tatiana faz jus ao clichê: «O dia estava nascendo quando Ana ouviu do homem ao seu lado tenho Aids.» Para o leitor preguiçoso que tropeça no pós-Garrett, traduzo: Ana, a protagonista, descobre ao acordar que o parceiro tem Sida. Está dado o tom. Paraíso é um patchwork de memórias construídas, um exercício de mnemónica que recua aos barões do café (e, por consequência, ao arbítrio do esclavagismo), mas também aos judeus que a Inquisição perseguiu, como aconteceu com os avós da autora. Romance identitário, portanto. Paraíso é um bom exemplo da ruptura semântica que a partir dos anos 1960 “libertou” a literatura brasileira da tradição portuguesa (isso não aconteceu em 1922, como pretendeu Oswald de Andrade). Vamos ter de seguir Tatiana Salem Levy. Três estrelas. Publicou a Tinta da China.

CABALA

Não é de agora. Sempre os estrangeirados foram olhados de soslaio pelo establishment nacional. Tiago Brandão Rodrigues é o alvo mais recente. Oriundo do Cancer Research da Universidade de Cambridge, o ministro da Educação tem contra ele o poderoso lobby católico que sustenta os colégios ‘privados’ que comem à mesa do Orçamento de Estado. Para fazer o trabalho sujo aparece sempre alguém.

Desta vez foi um docente da Universidade de Coimbra a acusar Tiago Brandão Rodrigues de ‘burla’ — uso indevido de dinheiros da FCT —, em 2001, durante a primeira fase do um projecto de investigação. Sucede que Tiago Brandão Rodrigues foi para a Universidade do Texas, desligando-se do projecto inicial, e devolveu à FCT o montante da bolsa que lhe fora atribuída. A FCT já desmentiu a cabala («Nunca existiu sobreposição entre a bolsa de doutoramento atribuída pela FCT e qualquer outra bolsa»), tendo facultado cópia do cheque de 2002 que prova a devolução do dinheiro. O ministro vai processar a criatura que fez a denúncia.

O RODAPÉ

Quem assistiu ontem em directo à audição de Sérgio Figueiredo, director de informação da TVI, na comissão parlamentar de inquérito ao Banif, ficou com a sensação de que o banco foi ao ar por causa do rodapé que esteve no ar durante dezassete minutos na noite de domingo, 13 de Dezembro de 2015. A avaliar pelas reacções de alguns deputados, a culpa foi do rodapé que esteve em linha entre as 22:49 e as 23:06 dessa noite. Sem ele, o Banif estaria aí, sólido como uma rocha, desafiando os potentados da City e de Wall Street. Todos sabemos como a história acabou.

Verdade que o rodapé dizia uma coisa às 22:49 e outra às 23:06. Na 1.ª versão, nenhum depósito, qualquer que fosse o seu montante, estava assegurado, mas isso foi corrigido no espaço de um quarto de hora. A notícia provou ser factual. Sem disfarçar o enfado (e a irritação que o levou a tratar João Almeida, do CDS, por Você), Sérgio Figueiredo esteve quatro horas a repetir as mesmas coisas: as fontes eram credíveis, a informação foi validada, o desfecho confirmou tudo. Eu não tenho que avaliar a oportunidade das notícias. Não sou governante, nem regulador, nem banqueiro. Sou director de informação. A Direita não gostou nada de o ouvir pôr em causa o modus operandi de Maria Luís Albuquerque.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

HORROR

Acompanhar o que se passa na Venezuela é um pesadelo. Já não se trata de liberdades e garantias, autoritarismo bolivariano ou mesmo inflação: a cada dia que passa, o preço da alimentação, escassíssima, triplica o preço. Não. Estamos a falar de água, electricidade, sabão, medicamentos rudimentares. Bebés prematuros que morrem (vários por dia) porque os apagões desligam as incubadoras. Adultos que morrem por falta do mais prosaico dos antibióticos. Cirurgias onde falta água para lavar o sangue. Cirurgiões sem sabão para lavar as mãos. É o horror na sua forma mais exacta.

terça-feira, 17 de maio de 2016

BANDEIRA LGBT NA CÂMARA DE LISBOA


Hoje, por ser Dia Internacional contra a Homofobia e Transfobia, a Câmara Municipal de Lisboa hasteou a Bandeira LGBT. A iniciativa partiu do movimento Cidadãos por Lisboa, que tem dois vereadores no executivo liderado por Fernando Medina. Clique na imagem.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

CURIOSIDADE

Tenho evitado falar do Governo Temer. Estou razoavelmente informado da situação no Brasil, vista do lado das classes médias tradicionais (as profissões liberais clássicas, docentes universitários, escritores, intelectuais), mas o meu conhecimento dos bastidores do milieu político é reduzido. Escrevo hoje porque todos os dias leio dezenas de textos — na imprensa, Facebook, blogues — a invectivarem a falta de qualidade dos novos ministros, a ausência de mulheres e negros, etc. Eu não teria tanta certeza sobre não haver negros, mas isso agora não interessa. Visto à distância, o actual Governo brasileiro parece mau de facto e de jure. É evidente que ter o ministério da Ciência tutelado por um pastor da IURD não lembrava ao Diabo. A questão que gostaria de colocar é a seguinte: alguém é capaz de nomear três ministros de Dilma com currículo profissional e perfil pessoal que os habilitassem a integrar um Governo europeu civilizado? Não estou a defender o golpe constitucional que afastou Dilma. Estou só curioso de conhecer a opinião das pessoas que, pelos vistos, são tu-cá-tu-lá com os ministros cessantes.