Hoje é Dia da Poesia. Deixo aqui um poema de Guerra Junqueiro (1850-1923) impróprio para almas sensíveis. Junqueiro inspirou-se no escândalo que em 1881 envolveu o 2.º marquês de Valada, D. José de Meneses da Silveira e Castro, conselheiro e amigo do rei, par do Reino, oficial-mor da Casa Real, comendador da Ordem de Cristo e governador civil (substituto) de Lisboa. A polícia encontrou o marquês na cama com um soldado de infantaria, em pleno intercourse, numa casa da Travessa da Espera, no Bairro Alto. As dimensões do membro do soldado foram motivo de conversa em toda a cidade. O marquês andava a ser seguido pela polícia, interessada em derrubar o Governo progressista, como de facto aconteceu. Ontem como hoje, estas coisas não acontecem por acaso.
A TORRE DE BABEL OU A PORRA DO SORIANO
Eu canto do Soriano o singular mangalho!
Empresa colossal! Ciclópico trabalho!
Para o cantar inteiro e o cantar bem
precisava viver como Matusalém.
Dez séculos!
Enfim, nesta pobreza métrica
cantemos essa porra, porra quilométrica,
donde pendem os colhões de que dão ideia vaga
as nádegas brutais do Arcebispo de Braga.
Sim, cantemos a porra, o caralho iracundo
que, antes de nervo cru, já foi eixo do Mundo!
Mastro de Leviathan! Eminência revel!
Estando murcho foi a Torre de Babel
Caralho singular! É contemplá-lo
É vê-lo
teso! Atravessaria o quê?
O sete estrelo!!
Em Tebas, em Paris, em Lagos, em Gomorra
juro que ninguém viu tão formidável porra!
É uma porra, arquiporra!
É um caralhão atroz
que se lhe podem dar trinta ou quarenta nós
e, ainda assim, fica o caralho preciso
para foder, da Terra, Eva no Paraíso!!
É uma porra infinita, é um caralho insone
que nas roscas outrora estrangulou Le Comte.
Oh, caralho imortal! Oh glória destes lusos!
Tu podias suprir todos os parafusos
que espremem com vigor os cachos do Alto Douro!
Onde há um abismo, onde há um sorvedouro
que assim possa conter esta porra do diabo??!
O Marquês de Valada em vão mostra o rabo,
em vão mostra o fundo o pavoroso Oceano!
– Nada, nada contém a porra do Soriano!!
Quando morrer, Senhor, que extraordinária cova,
que bainha, meu Deus, para esta porra nova,
esta porra infeliz, esta porra precita,
judia errante atrás duma crica infinita??
– Uma fenda do globo, um sorvedouro ignoto
que lhe há-de abrir talvez um dia um terramoto
para que desagúe, esta porra medonha,
em grossos borbotões de clerical langonha!!!
A porra do Soriano é um infinito assunto!
Se ela está em Lisboa ou em Coimbra, pergunto?
Onde é que começa?
Onde é que termina
essa porra, que estando em Braga, está na China,
porra que corre mais que o próprio pensamento
porque é porra de pardal e porra de jumento??
Porra!
Mil vezes porra!
Porra de bruto
que é capaz de foder Deus no universo e o Cosmos num minuto!!!