Para celebrar os 50 anos de orpheu, Almada Negreiros fez em 1965 um livro de artista, desenhando páginas e letras. Agora, no ano do centenário, a Ática recuperou o livro do poeta-pintor. Porém, em vez de reeditar a obra impressa, imprimiu a maquete em desdobrável. Fernando Cabral Martins, responsável pela edição, explica as razões: a edição de 65 «introduziu diferenças importantes no texto desta maquete [e contém] falhas de muitos tipos.» Uma boa solução.
sábado, 20 de junho de 2015
OS DIAS DO FIM
No Público, Teresa de Sousa cita o jornalista alemão Nikolaus Blome a propósito do dilema de Merkel face ao provável default grego: «A Alemanha seria olhada como tendo destruído a Europa pela terceira vez no espaço de um século.» Agora digo eu: para quem andou cinco anos a esticar a corda, é tarde para lamentar o leite derramado. Aliás, se alguma coisa os últimos três dias tornaram claro, foi o facto de Merkel ter perdido ascendente sobre o BCE e o FMI. Draghi e Lagarde falaram e agiram sem pesar as reticências de Berlim, onde têm um aliado de peso, Wolfgang Schäuble, o poderoso ministro alemão das Finanças.
O cinismo de Draghi, libertando dinheiro suficiente para manter os terminais gregos de ATM a funcionar hoje, amanhã e segunda-feira, e apenas o suficiente para este curto lapso de tempo, tem por objecto garantir mais transferências da Grécia para outros países, assegurando do mesmo passo que a Cimeira de segunda-feira não se realiza sob o pano de fundo de uma Atenas em estado de sítio.
O cinismo de Draghi, libertando dinheiro suficiente para manter os terminais gregos de ATM a funcionar hoje, amanhã e segunda-feira, e apenas o suficiente para este curto lapso de tempo, tem por objecto garantir mais transferências da Grécia para outros países, assegurando do mesmo passo que a Cimeira de segunda-feira não se realiza sob o pano de fundo de uma Atenas em estado de sítio.
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Eduardo Pitta
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11:00
CHOVER NO MOLHADO
Parte da opinião pública que não deu um passo para tentar referendar o ingresso na CEE (1985), a aplicação do Acordo de Schengen (1991), o Tratado de Maastricht (1992) e a adesão à Zona Euro (1999), quer agora referendar o Acordo Ortográfico aprovado em 1990. Uma futilidade equivalente a referendar a descolonização. Estou à-vontade porque passo ao lado do AO 90. Escrevo como aprendi (AO 45) e não tenciono mudar. Mas um escritor pode permitir-se essa idiossincrasia. Professores, alunos, agentes do Estado, etc., têm de cumprir a Lei aprovada há 25 anos.
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Eduardo Pitta
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10:30
sexta-feira, 19 de junho de 2015
IMPASSE
Resultados da sondagem do CESOP da Universidade Católica para o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias, a RTP e a Antena Um. PAF [PSD+CDS] = 38% / PS = 37% / CDU = 10% / BE = 8% / Outros = 3%. O LIVRE e o PDR [Marinho Pinto] não têm indicação de voto individualizada. Sobre o Governo de Passos: 34% consideram que é Mau e 28% que é Muito Mau. O gráfico é do Diário de Notícias. Clique na imagem.
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Eduardo Pitta
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10:40
quinta-feira, 18 de junho de 2015
OLIVIER ROLIN
Hoje na Sábado escrevo sobre O Meteorologista, de Oliver Rolin (n. 1947), obra que não perde interesse apesar de ser muito extensa a literatura sobre os anos do terror estalinista. O que mais surpreende neste volume é um caderno inserido hors-texte, com imagens de plantas e animais, O álbum de Eleonora. A sua função não é decorativa. São os desenhos que o protagonista, Alexei Feodossievitch Vangengheim, o meteorologista, enviava a sua filha enquanto permaneceu preso num campo de concentração. É a vida desse homem, detido pelo NKVD em 1934 por, alegadamente, ser «hostil ao Partido», que Rolin descreve com desembaraço, intercalando ficção e realidade: «Há o colapso moral provocado pelo facto de se ser de repente tratado como um inimigo do povo...» Conhecedor da cultura russa e da História soviética, o autor traça o percurso de um homem comum apanhado no vórtice das purgas anti-burguesas, um dos muitos «inocentes executados no fundo de uma vala» (mais de setecentos mil em menos de ano e meio) em nome do arbítrio de Nikolai Iejov, o chefe da polícia política. O grande mérito de Rolin é a sua capacidade em relatar o indizível com a secura da exactidão. Em nota final, o autor credita as fontes em que se apoiou para reconstruir a vida de Alexei. Três estrelas e meia.
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Eduardo Pitta
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10:30
PRÉMIO CAMÕES
Hélia Correia, 66 anos, autora de ficção, teatro e poesia, venceu ontem o Prémio Camões que lhe tinha escapado por um triz em 2010. É um prémio justo. Hélia é um grande nome da Literatura portuguesa. Até hoje, o Camões distinguiu onze autores portugueses, onze brasileiros, dois angolanos, dois moçambicanos e um cabo-verdiano.
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Eduardo Pitta
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08:00
quarta-feira, 17 de junho de 2015
segunda-feira, 15 de junho de 2015
DISCURSO DIRECTO, 2
Sérgio Figueiredo, no Diário de Notícias. Excerto, sublinhado meu:
«[...] Entrar numa prisão não é uma experiência agradável. Visitar um ex-primeiro-ministro preso é um momento único, difícil de esquecer. Ou simplesmente difícil. Estivemos, eu e o meu camarada de redação António Prata, uma hora lá dentro. Conversa dura, ouvindo o que não queríamos, dizendo o que não podia ficar por dizer. Conversa feroz, animal enjaulado. Ninguém ousa sentir o que um prisioneiro sente. [...] Sócrates pode ser mentiroso, pode ser odiado, pode ser odioso, pode ser intratável, pode ser malvado, pode ser acusado, julgado e condenado, pode ser corrupto — pode ser tudo o que magistrados têm o dever de provar e um juiz de julgar, seja o que for. Não é, porém, de nada disto que se trata quando um homem, naquelas condições, se recusa ir para o conforto da casa e a companhia dos filhos. É coerência, se estiver inocente. É coragem, em qualquer dos casos. Aquilo que fugazmente vi não paga arrogância ou o preço da vitimização. Não temos pena. Apenas pânico — se a investigação judicial falhar e a acusação não produzir provas consistentes. E pejo — pelo nojo dos políticos surdos-mudos em que em breve vamos ter de votar.»
«[...] Entrar numa prisão não é uma experiência agradável. Visitar um ex-primeiro-ministro preso é um momento único, difícil de esquecer. Ou simplesmente difícil. Estivemos, eu e o meu camarada de redação António Prata, uma hora lá dentro. Conversa dura, ouvindo o que não queríamos, dizendo o que não podia ficar por dizer. Conversa feroz, animal enjaulado. Ninguém ousa sentir o que um prisioneiro sente. [...] Sócrates pode ser mentiroso, pode ser odiado, pode ser odioso, pode ser intratável, pode ser malvado, pode ser acusado, julgado e condenado, pode ser corrupto — pode ser tudo o que magistrados têm o dever de provar e um juiz de julgar, seja o que for. Não é, porém, de nada disto que se trata quando um homem, naquelas condições, se recusa ir para o conforto da casa e a companhia dos filhos. É coerência, se estiver inocente. É coragem, em qualquer dos casos. Aquilo que fugazmente vi não paga arrogância ou o preço da vitimização. Não temos pena. Apenas pânico — se a investigação judicial falhar e a acusação não produzir provas consistentes. E pejo — pelo nojo dos políticos surdos-mudos em que em breve vamos ter de votar.»
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Eduardo Pitta
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15:53
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