sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

NÍVEL DE CONFORTO

Anda a tropa fandanga a repetir há semanas que a DBRS tencionava cortar o rating de Portugal e, afinal, a agência canadiana acaba de emitir um comunicado declarando que o rating se mantém inalterado porque, vejam só o desplante dos madraços, «estamos confortáveis com a situação actual». E esta?

DISCURSO DIRECTO, 37

Francisco Seixas da Costa no Facebook. Excerto, sublinhado meu:

«Devo dizer que fiquei com pena que Mário Centeno não tivesse aproveitado o encontro com os jornalistas, depois do Eurogrupo, em Bruxelas, para dizer algo parecido com isto: Aproveito para agradecer ao meu colega alemão a preocupação que demonstrou com a situação financeira portuguesa. [...] Mas não posso deixar de aproveitar este ensejo para expressar uma palavra de grande solidariedade portuguesa face aos gravíssimos problemas que a banca alemã atravessa. A crise que o principal banco alemão de investimento, o Deutsh Bank, sofre nos dias de hoje, a somar-se à preocupante situação que sabemos persistir na banca de alguns dos Laender alemães, obrigam a que estejamos atentos e, mais do que isso, profundamente solidários com os nossos amigos da Alemanha e as ameaças que possam impender sobre o seu sistema bancário. No que pessoalmente me toca, e em tudo quanto lhe puder ser útil no âmbito europeu, Wolfgang Schäuble sabe que pode contar connosco!’ —»

PONTO DA SITUAÇÃO


A Direita não desiste de sondar o vasto mundo. Ao meio-dia, o Expresso publicou o mais recente estudo da Eurosondagem. Então ficamos assim: PS = 33,6%. PSD = 32,5%. Melhor dito: Esquerda 52%. Direita 40%. Clique na imagem.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

EUTANÁSIA

Lá para a Primavera, depois da discussão e aprovação do OE 2016, o BE quer avançar com um projecto de lei sobre eutanásia, ou “morte assistida”, se preferirem. O PS acha a iniciativa prematura, o PSD idem, o CDS está contra (e exige referendo), o PCP não se pronuncia mas torce o nariz. Fui convidado a assinar o manifesto do Movimento Cívico para a Despenalização da Morte Assistida, que li com atenção assim que me chegou às mãos há cerca de um mês. Não subscrevi. Num país como Portugal, onde apenas 8% dos doentes tem acesso a cuidados paliativos, não faz sentido legalizar a eutanásia.

É-me indiferente o facto de só três países europeus (a Holanda, a Bélgica e o Luxemburgo) terem legalizado a eutanásia, e de um quarto país, a Suíça, permitir o suicídio assistido. (O qual, na Irlanda, dá catorze anos de cadeia.) A eutanásia podia ser legal em trinta ou mais países, e continuaria a considerar que, nas condições do SNS português, a sua prática fere direitos básicos. Que tal começar por estender os cuidados paliativos a todos os doentes, e não apenas a oito por cento? É o que penso, não quero catequizar ninguém. Existem vários países, como a Alemanha, Áustria, Dinamarca, Espanha, França, Hungria, República Checa, Reino Unido e Suécia, onde os doentes, mesmo internados, podem recusar tratamento médico, sendo essa vontade respeitada. Mas isso, creio, também se pratica de forma informal entre nós. Disse.

FRANCISCO JOSÉ VIEGAS


Hoje na Sábado escrevo A Poeira Que Cai Sobre a Terra, de Francisco José Viegas (n. 1962). O livro marca o regresso do inspector Jaime Ramos, seguramente o mais conhecido personagem de ficção da nossa literatura policial, protagonista de romances como Morte no Estádio (1991), Um Céu Demasiado Azul (1995), Longe de Manaus (2005), vencedor do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, O Mar em Casablanca (2009) e outros. Jaime Ramos é um homem do Porto que gosta de mulheres e de comer bem. Com exclusão do métier, podemos vê-lo como alter-ego do autor. Os leitores habituaram-se às suas idiossincrasias e bonomia lúdica. Entretanto, Ramos envelheceu e sofreu um AVC, episódio que não lhe tolda a memória: o eco dos sinos de Provesende, as figueiras da casa do Pinhão, as amenidades do Hotel d’Inghilterra, escape romano. Com envios (cultura, actualidade, background histórico) inseridos de forma hábil, a prosa escarolada de Viegas é o exacto oposto das “narrativas” que dominam o mercado. Dito de outro modo, estamos mesmo a falar de literatura. Quatro estrelas.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

ADOPÇÂO GAY & IVG


PS, BE, PCP, PEV, PAN e 19 deputados do PSD reconfirmaram as leis vetadas por Cavaco. Foi há poucos minutos. Passos Coelho e Paulo Portas não participaram na votação. Os vidros de Belém ainda tremem. Clique na imagem da SICN para ver melhor.

O MILHO DOS PARDAIS

A América de 2016 não é a América de 1966. Nem sequer a de 1976. Portanto, não faz sentido olhar para o Iowa e New Hampshire como se estivéssemos nos sixties. O Iowa e New Hampshire têm tanta diversidade cultural como a Quinta da Marinha. São Estados de perfil WASP, com minorias étnicas residuais, que há 50 anos serviam de bitola. Hoje, o Iowa e New Hampshire estão para os Estados Unidos como a Aula Magna para Portugal. E depois há o Vermont, o segundo menos populoso do país e o mais rural de todos. Nos três, Trump ganhou do lado republicano. Não estou com isto a retirar mérito à vitória que Bernie Sanders obteve ontem no New Hampshire: 60% contra 38% de Hillary Clinton. Apenas faço notar que as Primárias se decidem nos grandes Estados. A ver vamos quando lá chegarmos. O primeiro milho é sempre dos pardais. Isto vale para os candidados democratas de que falo aqui, como para os republicanos.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

AINDA NÃO ACABÁMOS


Gosto de memórias, com os seus lapsos, um buraco aqui, outro ali, zonas de sombra, o foco de luz onde queremos que esteja. Memória é olhar para fora, para os outros, para as coisas. Jorge Silva Melo já escreveu as suas, Século Passado, livro magnífico que a Cotovia publicou em 2007. Agora, nos 20 anos dos Artistas Unidos, fez um filme como se fosse uma carta, monólogo belíssimo sob o olhar vivo de João Pedro Mamede. São Luiz a rebentar pelas costuras para seguir uma vida. Os Verdes Anos, Manuel Wiborg, António, Um Rapaz de Lisboa, Glicínia Quartin, cinemas de bairro, cinemas de estreia (sim, eram coisas diferentes), Walsh, Minnelli, o snack-bar Pic-Nic, Lia Gama, Mário Dionísio, desenhos de Jorge Martins, a Papelaria Progresso transformada por Conceição Silva, Luís Miguel Cintra adolescente, Andreia Bento, o Bloco das Águas Livres de Teotónio Pereira, Ivo Canelas, Álvaro Lapa lembrando a humilhação, a Fronda dos estudantes nos idos de 60, Rúben Gomes, a carta aberta que Medeiros Ferreira escreveu ao povo português na véspera de partir para o exílio (não sei se os detractores do AO90 deram pelo regimen, pelo sòmente, etc., que pontuam o texto de 1968), Américo Silva, A Capital, E Depois (Bal-Trap), Roma, Spiro Scimone, Maria João Luís, poetas amados nas capas do Escada, work in progress de Sofia Areal, João Perry, tantos que lá estão. Deixo a Luiza para o fim, Luiza Neto Jorge, maior entre as maiores, franzina, outsider da resistência de salão, tão injustamente esquecida. Foi ela que nos disse que «o poema ensina a cair». Esqueço gente. Esquecemos sempre. Vai haver DVD? Devia.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

MEDIA PAF

Tornou-se praticamente impossível ler jornais. A televisão dispensa o advérbio. Isto faz lembrar o PREC mas no PREC houve resposta. Entre Abril de 1974 e Novembro de 1975, a Direita dava pinotes com a imprensa de Esquerda, que eram todos os títulos de referência vindos do antigamente. Mas como a Direita não dorme em serviço, a CIP financiou um vespertino alternativo, o Jornal Novo. Dirigido por Artur Portela Filho, o Jornal Novo começou a publicar-se em 17 de Abril de 1975. Nesse tempo, a Direita fazia manifs em frente ao Diário de Notícias, então dirigido por Luís de Barros e Saramago, gritando horas a fio: O diário é do Povo, não é de Moscovo!

Chegou o 25 de Novembro e, com ele, um blackout imposto à imprensa. Entre 25 de Novembro e 10 de Dezembro não se publicaram jornais, com excepção do Expresso, que durante dois meses manteve duas edições por semana: quartas e sábados. Em 11 de Dezembro regressou às bancas o Diário Popular, com a direcção de Jacinto Baptista intocada. As direcções do Diário de Notícias, que só regressou a 22 de Dezembro, do Diário de Lisboa, de A Capital, etc., foram entregues a jornalistas da confiança do PS e do PSD. A Direita civilizada relaxou, mas a Direita radical fundou dois novos jornais: O Dia, matutino ultraconservador dirigido por Vitorino Nemésio, que começou a publicar-se a 11 de Dezembro (ou seja, no dia do regresso do Popular); e O Diabo, semanário faca-nos-dentes dirigido por Vera Lagoa, que começou a publicar-se a 10 de Fevereiro de 1976. Hoje não há alternativa. O pensamento único veio para ficar.