sexta-feira, 26 de agosto de 2016

DIREITOS SELECTIVOS


Em Villeneuve-Loubet é proibido proibir. E nas outras comunas (cerca de trinta) com leis semelhantes em vigor? Sublinhado: «Si l'arrêté de Villeneuve-Loubet se retrouve de facto invalidé, ceux des autres communes restent toujours en vigueur tant qu'ils n'ont pas été contestés devant la justice.» Os representantes da comunidade muçulmana em França esperam que o acórdão faça jurisprudência noutras comunas. Por enquanto, não faz. Imagem do Libération. Clique.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

IRIS MURDOCH


Hoje na Sábado escrevo sobre O Sino, de Iris Murdoch (1919-1999), que é ao mesmo tempo uma romancista de grande sucesso e uma académica respeitada na área da filosofia. Além de ensaios, Iris escreveu poesia, peças de teatro, crítica literária, contos e vinte e seis romances, alguns deles bestsellers em vários países. O Sino, que voltou às livrarias com uma terceira tradução, põe em confronto as regras do materialismo com a deriva “espiritual”, não necessariamente religiosa. As questões morais estão no centro da intriga, como nenhum leitor seu desconhece. O ensaísmo pauta-se por igual preocupação: decerto não por acaso, o primeiro livro que publicou é sobre Sartre. Depois do retrato de Dora, a protagonista, enredada em adultério e nos dilemas típicos dos anos 1950 (origem middle class da aluna e depois mulher de Paul Greenfield, historiador de arte, seu professor na Slade, aristocrata e treze anos mais velho), o romance centra-se no microcosmo da Abadia de Imber, a comunidade laica onde tudo acontece. Forçada a juntar-se ao marido no Gloucestershire, Dora fica refém de situações imprevisíveis, às quais os manuscritos raros do século XIV, móbil da retiro, são indiferentes. A homossexualidade é um dos temas presentes, nos acasos que unem Michael, Nick e Toby, facto curioso se tivermos em conta que o livro saiu em 1958, um ano após a divulgação do controverso Relatório Wolfenden, que propôs a descriminalização no Reino Unido da homossexualidade entre adultos. Iris foi mais longe: mete Michael e Toby num Land-Rover e em três páginas de subtileza inatacável descreve uma epifania. Com 18 anos, Toby tem idade para ser filho de Michael. Leitmotiv da obra de Iris, o conflito entre o Bem e o Mal molda toda a narrativa, por vezes de forma ambivalente: «a mão de Toby encontrou a sua num forte aperto de mão. Ficaram assim juntos em silêncio na escuridão.» O carácter aforístico ou sentencioso da escrita de Iris é deveras interessante: «Era muito magro e tinha aquele ar franco e um pouco insolente das pessoas felizes.» Como este, existem muitos exemplos que lembram de imediato os romances de Agustina Bessa-Luís. A literatura comparada tem aqui terreno fértil. Cinco estrelas. Publicou a Relógio d’Água.

Escrevo ainda sobre Fechada Para o Inverno, de Jorn Lier Horst (n. 1970). Um dia terá de ser feito um estudo sobre os inspectores de polícia que a dado momento da vida abandonam a carreira para serem escritores. Entre outros exemplos, cito Rubem Fonseca e Jorn Lier Horst, embora o brasileiro tenha sobre o norueguês várias vantagens, entre elas a de um imaginário ficcional mais abrangente. Até agora inédito em Portugal, Horst escreve thrillers, sendo os mais conhecidos os que têm o inspector Wisting como protagonista. Fechada Para o Inverno, o sétimo dos dez volumes da série, assinala a sua estreia entre nós. Uma nota introdutória dá a conhecer um minucioso perfil de Wisting (origens, formação, carácter, família), bem como da região onde a história decorre. A moda dos policiais escandinavos terá que ver com o tipo de crimes ficcionados, em tudo diferentes da tradição anglo-americana. O estranho assalto à casa de Verão de um apresentador de televisão célebre é o detonador do plot. A investigação vai da Noruega à Lituânia, tendo a filha de Wisting e respectivo namorado como empecilhos. A sensação de déjà vu é atenuada pela escrita limpa de Horst. Três estrelas. Publicou a Dom Quixote.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

MICHEL BUTOR 1926-2016


Morreu Michel Butor, figura de proa do Nouveau Roman, sobretudo desde a publicação de La Modification (1957). Além de romances, Butor escreveu poesia, textos experimentais, ensaios e crítica de Arte. Entre outros, traduziu Hölderlin e Shakespeare. Tinha 89 anos.

EUROPA 2016

Merkel, Hollande e Renzi, o anfitrião, reuniram-se anteontem a bordo do porta-aviões Giuseppe Garibaldi, que por acaso participa neste momento numa operação naval da NATO em curso no Mediterrâneo. Unir a Europa pós-Brexit foi o móbil das três grandes potências económicas da UE. Tudo se passou ao largo da ilha de Ventotene, onde, em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, Ernesto Rossi e Altiero Spinelli, dois intelectuais antifascistas, redigiram um manifesto sobre os benefícios futuros de uma Europa federada. No momento actual, a mise-en-scène teve o efeito contrário.

O nó górdio parece residir na acumulação, cada vez mais evidente, de sinais de implosão da Ucrânia, um tema que parecia adormecido. Mas nos círculos diplomáticos e da intelligence militar comenta-se em voz alta uma invasão russa em larga escala, ainda este ano. Isso mudou tudo. Neste preciso momento, o Governo Alemão prepara-se para aprovar um pacote de defesa civil, com directivas à população que incluem racionamento alimentar e de energia, além de medidas concretas a que ficarão obrigados os hospitais, os serviços públicos e as empresas privadas (sobretudo no tocante à reconstrução de infraestruturas vitais que tenham de ser reconstruídas), uns e outros sob supervisão do ministério do Interior e das Bundeswehr, ou seja, as Forças Armadas. A eventual reintrodução do serviço militar obrigatório está em cima da mesa de Merkel. Por vontade de Thomas de Maizière, o ministro do Interior, começava hoje.

O ‘pacote’ constitui mera prevenção? Se é assim, chega tarde. O ponto é saber se o receio vem de uma guerra na Europa, ou da possibilidade de uma vaga de ataques terroristas contra centrais nucleares alemãs, redes de transportes, sistemas de distribuição de água, gás e electricidade, etc., sem excluir o terrorismo cibernético, o qual afectaria todos estes sectores.

Aguardar para ver.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

JOGOS DO RIO

Acabaram os jogos do Rio. Não vi. Ocasionais zappings nunca apanhavam as provas que vejo com agrado: ginástica, hipismo, esgrima, salto com vara, natação (o resto não me interessa). Soube hoje que Telma Monteiro conseguiu uma medalha de bronze numa prova de judo. E que uma atleta americana competiu com hijab. Apesar de todas as profecias, o Rio não se portou mal. O sistema de saneamento da Barra da Tijuca está entupido com dezenas de milhares de preservativos, mas isso é moleza.