sábado, 23 de julho de 2016

NÃO HÁ COINCIDÊNCIAS


Fez hoje 40 anos, Soares tomou posse como primeiro-ministro do I Governo Constitucional. A efeméride foi assinalada a partir das 18:30 com uma cerimónia informal nos jardins do Palácio de São Bento, residência oficial do primeiro-ministro, António Costa, um dos oradores da sessão, juntamente com Rui Vilar e Pinto Balsemão. Comparecerem cerca de 250 personalidades, entre elas o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República, o general Ramalho Eanes, Conselheiros de Estado, deputados, antigos e actuais ministros, Passos Coelho, etc. Internado de urgência, Jorge Sampaio não pôde comparecer. Embora convidado, Sócrates não apareceu.

Também hoje, um grupo de amigos decidiu homenagear Cavaco Silva, organizando um almoço para 80 comensais. A coincidência das datas (a homenagem a Cavaco podia ser feita em qualquer altura) fala por si. Cavaco foi convidado para a homenagem a Soares, tendo declinado com o argumento do seu próprio almoço. Marcelo passou pelo local, mas não participou no repasto. E lembrou a data de Soares. Ter tido educação em casa faz toda a diferença.

A foto é de António Cotrim, para a Lusa. Clique na imagem.

TREINO?

Quem ontem à noite passou — eu estive lá das 21:55 às 22:05 — na Praça de Alvalade, a do Santo António com o Menino ao colo, encontrou o quarteirão do McDonald’s e da ADSE cercados e interditos pela polícia. Quatro viaturas e uma dúzia de agentes à vista. O McDonald’s estava cheio e, na rua, praticamente em cima do cordão da polícia, grupos de adolescentes, à falta de caça mais suculenta, caçavam pokémons. Perguntei a um agente o que estava a acontecer: «Não podemos adiantar nada.» Tenho de tirar o chapéu ao blasé das famílias do McDonald’s e de outros restaurantes da área (cinco, num raio de menos de cem metros, sem contar com os do centro comercial do outro lado da praça). Achei aquilo muito estranho, mas devo ser eu que gosto de tudo bem explicado.

MUNIQUE


Nove mortos e 21 feridos (alguns em estado muito grave) confirmados no ataque de Munique. O atacante, David S., tinha 18 anos e dupla nacionalidade: alemã e iraniana. Através do Facebook, que utilizava com nome feminino num perfil falso, escreveu que o McDonald’s da Hanauerstraße ofereceria nessa tarde refeições grátis. Depois do ataque ao restaurante, correu para o Olympia, o maior centro comercial da cidade, situado no outro lado da rua. Antes de suicidar-se, gritou: «Allahu Akbar. Eu sou alemão.» Aparentemente terá agido sozinho, não se confirmando a existência de três atiradores.

Depois de amanhã, dia 25, começa o Festival de Bayreuth, com a estreia de Parsifal, de Wagner, numa versão de Uwe Eric Laufenberg considerada insultuosa pelo Irão.

Em poucos dias, é a segunda vez que a Baviera sofre um ataque terrorista.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

WILLIAM BOYD


Hoje na Sábado escrevo sobre Doce Carícia, de William Boyd (n. 1952). Glosando Flaubert com inteira propriedade, o autor pode afirmar: Amory Clay sou eu. Tudo começou com uma fotografia encontrada por acaso. Aquela que vemos no frontispício, uma mulher a chapinhar na água em 1928. A partir daí, Boyd construiu a intriga que dá consistência ao seu livro mais recente. De certo modo, repete o que fez com Nat Tate: An American Artist 1928-1960, biografia imaginária de um pintor abstracto. Em 1998, quando foi publicado, o livro desconcertou o milieu artístico anglo-americano. Desta vez, apesar do virtuosismo, ninguém tem dúvidas sobre o carácter ficcional da história. Criação do autor, Amory Clay, nascida em 1908, impôs-se como fotógrafa num mundo dominado por homens. Boyd criou o equivalente de Martha Gellhorn, famosa correspondente de guerra nascida no mesmo ano que a sua personagem. É impossível não sentir, no backstage, a presença de Martha Gellhorn, uma das mais notáveis e aclamadas fotógrafas do século XX. Boyd não se esqueceu dela, e de mais uma dúzia, nos agradecimentos. As fotos que intercalam a narrativa não foram creditadas, são imagens avulsas cuja função é ilustrar as memórias de Amory, uma mulher que atravessou duas guerras mundiais e viu o pai (um escritor obscuro) morrer louco. Doce Carícia é uma revisão do século: o desmoronar do mundo anterior à Primeira Grande Guerra, os intrépidos anos 1920 (os bas-fond de Berlim e Londres), os equívocos dos thirties, a Segunda Grande Guerra observada a partir da França ocupada, a hegemonia americana, a Guerra do Vietname, os sobressaltos de uma repórter na frente de combate. Extractos do diário de Amory introduzem os recuos do tempo. Boyd faz um patchwork minucioso: a informação flui com naturalidade, mas o essencial é Amory. Recorrente, o sexo é descrito com as palavras adequadas, sem nunca cair na vulgaridade ou beliscar a elegância da prosa, como demonstrado na cena em que Amory perde a virgindade: para facilitar o acto, o parceiro usa banha de porco como lubrificante. Oriunda de uma família com pretensões aristocráticas, Amory está à-vontade em todo o tipo de meio, seja o lumpemproletariado ou as classes altas. Deveras interessante. Quatro estrelas.

Escrevo ainda sobre A Rota da Porcelana, de Edmund de Waal (n. 1964). O que define um autor de excepção? Quando de Waal publicou o primeiro livro, centrado nos Ephrussi, uma família de banqueiros judeus, a questão colocou-se. E quem leu A Lebre de Olhos Cor de Âmbar ficou na expectativa de nova obra. Ela chegou agora. A Rota da Porcelana mexe directamente com a profissão do autor, oleiro e professor de cerâmica há duas décadas. Se o livro anterior era sobre os netsuke (mini-esculturas de madeira ou marfim), este é sobre o «ouro branco». A partir da história da porcelana, de Waal escreveu um livro difícil de classificar. Podemos lê-lo como monografia biográfica de Tschirnhaus, o matemático; Böttger, o alquimista que introduziu a porcelana na Europa; Espinoza e Leibniz, os grandes racionalistas do século XVII. Mas também como diário de viagem: de Jingdezhen a Londres, com passagens por Versalhes, Dresden, Plymouth, a Etrúria, a Cornualha e outras partes. Ainda como romance histórico. Uma obra perfeita sob qualquer ângulo, porque de Waal alia erudição com humor, sem nunca descurar uma escrita de indiscutível virtuosismo. Cinco estrelas. Publicou a Sextante.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

TERROR NA BAVIERA

Entretanto, em Würzburg, um rapaz de 17 anos, afegão, atacou com um machado várias pessoas que estavam na estação de comboios da cidade. Há pelo menos 20 feridos. A polícia alemã abateu o agressor.

domingo, 17 de julho de 2016

REALPOLITIK

O apoio de Obama e Merkel a Erdogan traz Nixon à lembrança. Interpelado sobre Pinochet por um jornalista acreditado na West Wing, terá dito: «É ditador? Talvez seja. Mas é o nosso ditador.» São ínvios os caminhos da realpolitik.